O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Cayro. Cairo 107(1).

Nas orações: 1402.

  1. [1402](Cap. 107) Esta cidade do Pequim de que promety dar mais algũa informaçaõ da que tenho dada, he de tal maneyra, & tais saõ todas as cousas della, que quasi me arrependo do que tenho prometido, porque realmente não sey por onde comece a cumprir minha promessa, porque se não ha de imaginar que he ella hũa Roma, hũa Constantinopla, hũa Veneza, hum Paris, hum Londres, hũa Seuilha, hũa Lisboa, nem nenhũa de quantas cidades insignes ha na Europa por mais famosas & populosas que sejão, nem fora da Europa se ha de imaginar que he como o Cairo no Egypto, Taurys na Persia, Amadabad em Cambaya, Bisnagà em Narsinga, o Gouro em Bẽgala, o Auaa no Chaleu, Timplaõ no Calaminhan, Martauão & Bagou em Pegù, ou Guimpel & Tinlau no Siammon, Odiaa no Sornau, Passaruão & Demaa na ilha da Iaoa, Pangor no Lequîo, Vzanguee no graõ Cauchim, Lançame na Tartaria, & Miocoo em Iapaõ, as quais cidades todas saõ metropolis de grandes reynos, porque ousarey a affirmar que todas estas se não podem comparar com a mais pequena cousa deste grãde Pequim, quanto mais com toda a grandeza & sumptuosidade que tem em todas as suas cousas, como saõ soberbos edificios, infinita riqueza, sobejissima fartura & abastança de todas as cousas necessarias, gente, trato, & embarcaçoẽs sem conto, justiça, gouerno, corte pacífica, estado de Tutoẽs, Chaẽs, Anchacys, Aytaos, Puchancys, & Bracaloẽs, porque todos estes gouernão reynos & prouincias muyto grandes, & cõ ordenados grossissimos, os quais residem continuamente nesta cidade, ou outros em seu nome, quando por casos que soccedem se mandão pelo reyno a negocios de importancia.

Cayro 3(1), 4(3), 7(1), 17(1), 20(1), 21(1), 26(2), 32(1), 43(1), 146(1).

Nas orações: 31, 37, 41, 83, 187, 227, 241, 306, 309, 370, 519, 2035.

  1. [31](Cap. 3) Assi que de todos os oitenta não escaparão mais que sós cinco muyto feridos, dos quais hum foy o Capitão da nao, o qual metido a tormento confessou que vinha de Iudaa donde era natural, & que a armada do Turco era ja partida de Suez, com tenção de vir tomar Adem, & fazer ahy fortaleza primeyro que cometesse a India, porque assi o trazia o Baxá do Cayro, que nella vinha por Capitão môr, num dos capitolos do seu regimento que o Turco lhe mandara de Constantinopla.
  2. [37](Cap. 4) Daqvy desta paragem nos partimos para Arquîco, terra do Preste Ioaõ, a dar hũa carta que Antonio da Sylueira mandaua a hum Anrique Barbosa feitor seu, que là andaua auia tres annos por mandado do Gouernador Nuno da Cunha, o qual com quarenta homens que trazia comsigo escapara do aleuantamento de Xael, onde catiuaraõ dom Manoel de Meneses, com mais cento & sessenta Portugueses, & tomarão quatrocentos mil cruzados, & seis naos Portuguesas, que forão as que Soleymão Baxá Visorrey do Cayro leuou cos mantimentos & muniçoẽs da sua armada, quando no anno de mil, quinhentos & trinta & oito veyo pór cerco á fortaleza de Diu, por lhas o Rey de Xael mandar ao Cayro com sessenta Portugueses de presente, & dos mais fez esmola ao seu Mafamede, como cuydo que as historias que tratão da gouernança de Nuno da Cunha diraõ largamente.
  3. [41](Cap. 4) E aquelle mesmo dia fomos dormir a hum Mosteyro de officinas nobres & ricas que se dizia Satilgão, & como ao outro dia foy menham, caminhamos ao longo de hum rio mais cinco legoas, até hum lugar que se chamaua Bitonto, no qual nos agasalhamos aquella noite em hum bom Mosteyro de Religiosos que se chamaua Sao Miguel, com muyta festa & gasalhado do Prior & Sacerdotes que nelle estauão, onde nos veyo ver hum filho do Barnagais Gouernador deste imperio de Ethyopia, moço de idade de dezassete annos, & muyto bem desposto, acompanhado de trinta de mulas, & elle somente vinha em hum cauallo ajaezado à Portuguesa, com hum arreyo de veludo roxo franjado douro, que da India lhe mandara o Gouernador Nuno da Cunha auia dous annos, por hum Lopo Chanoca, que despois foy catiuo no Cayro, ao qual este Principe mandaua resgatar por hum mercador Iudeu natural de Azebibe, porem quãdo este lâ chegou, o achou ja morto, de que dizem que mostrou muyto sentimento, & nos affirmou o Vasco Martins, que aly naquelle Mosteyro de São Miguel lhe mandara fazer o mais honrado saymento que elle nunca vira em sua vida, no qual se ajuntarão quatro mil Sacerdotes, a fora outra mór copia de nouiços aque elles chamão Santileus.
  4. [83](Cap. 7) E então lhes disse que auia ja vinte dias que Antonio da Sylueira estaua cercado de hũa grossa armada de Turcos, de que era Capitão mor Soleymão Baxà Visorrey do Cayro, & que a grande quantidade das vellas que tinhamos visto, eraõ cinquenta & oito Galés reays & bastardas, que tirauão cinco peças por proa, & algũas dellas passamuros, & lioẽs, & esperas, & oito naos grossas em que vinhaõ muytos Turcos de sobressalente para refeição dos que morressem.
  5. [187](Cap. 17) E ficando com isto ambos quietos mais quatro dias, apareceo hũa menham no meyo do rio contra a parte do Penacão hũa armada de oitenta & seis vellas, com grande regozijo de tangeres & estas, & com muytos estendartes & bandeiras de seda, que aos Batas meteo em grande confusaõ, por não saberẽ o que era, porem as suas espias tomaraõ aquella noite cinco pescadores, os quais metidos a tormento confessaraõ que era a armada que o Rey Achem auia dous meses tinha mandado a Tanauçarim, porque tinha guerra co Sornau Rey de Sião, na qual disseraõ que vinhão cinco mil homẽs Lusoẽs, & Borneos, gente toda escolhida, & por Capitão mòr delles hum Turco por nome Hametecão, sobrinho do Baxà do Cayro.
  6. [227](Cap. 20) Tambem o informey da pescaria do aljofre, que està entre Pullo Tiquòs, & Pullo Quenim, donde os Batas o leuauão antigamente a Pacem, & Peedir, que os Turcos do estreyto de Meca, & as naos de Iudaa ahy lhes comprauão a troco de outras mercadorias que trazião do Cayro, & dos portos de toda a Arabia Felix.
  7. [241](Cap. 21) E porque esta nossa lhe importa a elle mais que todas as outras para este seu danado proposito, nola manda agora tomar, a fim de continuar neste estreito com suas armadas, atè que de todo (como os seus publicamente ja dizem) vos tolha o comercio da droga de Banda, & Maluco, & o trato da nauegaçaõ dos mares da China, Sunda, Borneo, Timor, & Iapaõ, como temos sabido pelo cõtrato que agora nouamente tem feito co Turco, por meyo do Baxà do Cayro, que para isto tomou por seu valedor, o qual lhe tem dado grandes esperanças de ajuda, como pelas cartas que eu trouxe tereis ja sabido.
  8. [306](Cap. 26) Este tyrãno Rey Achem foy aconselhado pelos seus, que se queria tomar Malaca, por nenhũa maneyra o poderia fazer cometendoa de mar em fora, como ja por seis vezes tinha tentado no tẽpo de dom Esteuão da Gama, & de outros Capitaẽs atras passados, senão com se fazer primeyro senhor deste reyno de Aarù, & se fortificar no rio de Paneticão, donde as suas armadas podiaõ continuar de mais perto a guerra que lhe pretendia fazer, porque então ficaua muyto pouco custoso fechar os estreitos de Cincapura & de Sabaom, & tolher que as nossas naos passassẽ ao mar da China, & Çũda, & Bãda, & Maluco, por cujo respeito poderia tambem facilmente auer á mão toda a drogaria daquelle arcipelago, para ficar assi effeituado o nouo contrato que por meyo do Baxà do Cayro tinha assẽtado co Turco.
  9. [309](Cap. 26) Os Achẽs logo em chegando começaraõ a bater a cidade, & abateraõ por espaço de seis dias com muytas peças de artilharia, porem os de dentro a defenderaõ valerosamente, inda que foy com algum sangue, assi de hũa parte como da outra, pelo que foy forçado ao Heredim Mafamede mandar desembarcar toda a gente em terra, & assestando doze peças grossas de camellos & esperas, lhe deraõ cõ ellas tres batarias muyto grãdes, nas quais lhe derrubaraõ hũ dos dous baluartes que defendião a entrada do rio, & por elle, cõ ballas de algodão que leuauãe diãte, o cometeraõ hũa antemenham, sendo Capitão deste assalto hũ Abexim por nome Mamedecão, que viera de Iudà auia menos de hum mès assentar & jurar a noua liga & contrato que o Baxà do Cayro em nome do Turco tinha assentado co Rey do Achem, no qual lhe elle daua casa de feitoria no porto de Paacem.
  10. [370](Cap. 32) O Almirante se partio logo com toda esta frota, & chegando ao rio de Puneticão, onde estaua a fortaleza dos inimigos, acometeo por cinco vezes a escalla vista com trezentas escadas, ajuntando a isto muytas inuençoẽs de artificios de fogo, & não a podendo assi tomar a começou a bater com quarenta peças de artilharia grossa, que nunca cessaraõ de tirar de dia nem de noyte, de maneyra que a cabo de sete dias que continuou a bataria, a mayor parte da fortaleza foy posta por terra, & dando logo os inimigos o assalto, a entraraõ muyto valerosamente, com morte de mil & quatrocentos Achẽs, de que a mayor parte era chegada hum dia antes que esta frota chegasse, com hũ Capitão Turco sobrinho do Baxà do Cayro, por nome Morado Arraiz, o qual tambẽ aly ficou morto com duzentos Turcos que tinha comsigo, sem o Laque Xemena querer que se desse vida a nenhum delles.
  11. [519](Cap. 43) Chegado este homẽ jũto de Antonio de Faria, vendo elle que era brãco como qualquer de nós, lhe perguntou se era Turco ou Parsio, ao que elle respondeo que não, mas que era Christão, natural de monte Sinay, onde estaua o corpo da bemauenturada santa Caterina, a isto lhe replicou Antonio de Faria, que pois era Christão como dezia, como não andaua entre Christãos, a que elle respondeo que era mercador, & de boa progenie, por nome Tome Mostãgue, & que estãdo surto com hũa nao sua no porto de Iudaa no anno de 1538. o Soleimão Baxà Visorrey do Cayro lha mandara tomar, como fizera a mais outras sete, para trazerem mantimẽtos & muniçoẽs para fornimento da armada das sessenta galês em que vinha por mandado do Turco, para restituyr o Soltão Baudur no reyno de Cambaya, de que o Mogor naquelle tempo o tinha desapossado, & lançar os Portugueses fora da India, & que vindo elle na mesma nao para a beneficiar & arrecadar o seu frete que lhe tinhão prometido, os Turcos, alem de lhe mentirem em tudo como sempre costumão, lhe tomarão sua molher, & hũa filha pequena que trazia comsigo, & perante elle as deshonraraõ publicamente, & porque hum filho seu, chorando se lhes queixou deste grande mal, lho lançaraõ viuo ao mar, atado de pees & de mãos, & a elle meteraõ em ferros, & lhe dauão todos os dias muytos açoutes, & lhe tomarão sua fazenda, que eraõ mais de seis mil cruzados, dizẽdo, que não era licito lograr beẽs de Deos, senão os Massoleymoẽs, justos & santos assi como elles; & porque neste meyo tempo lhe faleceraõ a molher & a filha, elle como desesperado se lançara hũa noite ao mar na barra de Diu, com aquelle moço seu filho, donde por terra fora ter a Çurrate, & dahy se viera ter a Malaca em hũa nao de Garcia de Saa Capitão de Baçaim, donde por mandado de dõ Esteuão da Gama fora à China com Christouão Sardinha, que fora feitor de Maluco, o qual estando hũa noite surto em Cincaapura, o Quiay Taijão senhor daquelle junco matara cõ mais vinte & seis Portugueses, & que a elle por ser bombardeyro dera a vida, & o trazia comsigo por seu Cõdestabre.
  12. [2035](Cap. 146) Auendo ja quasi oito meses que estes nossos cem homens andando nesta costa embarcados em quatro fustas muyto bem concertadas, em que tinhão tomadas vinte & tres naos de presas muyto ricas, & outros muytos nauios pequenos, as gentes que custumauão a nauegar por aquella costa andauão ja tão assombradas do nome Portuguez, que de todo deixaraõ o comercio de suas viagẽs, & vararaõ os seus nauios em terra, por onde as alfandegas destes portos de Tanauçarim, Iũçalão, Merguim, Vagaruu, & Tauay perdião muyto dos seus rendimentos, pelo que foy forçado a estes pouos darem cõta disso ao Emperador do Sornau Rey de Sião, que he senhor supremo de toda esta terra, paraque prouesse neste mal de que todos geralmente se queixauão, o qual proueo logo da cidade de Odiaa onde então estaua com muyta presteza, mandando vir da frontaria dos Lauhos hum seu capitão Turco por nome Heredim Mafamede, o qual no anno de 1538. viera de Suez na armada de Soleimão Baxà Visorrey do Cayro, quando o graõ Turco o mandou sobre a India, & desgarrando este em hũa galé do corpo da armada, veyo ter a esta costa de Tanauçarim, onde aceitou partido deste Sornau Rey de Sião, & o seruio de fronteyro mòr na arraya do reyno dos Lauhos, com doze mil cruzados de soldo por anno.

(2) Objecto geográfico interpretado

Cidade (metrópole). Parte de: Egypto.

Referente contemporâneo: Cairo, Egypt (AF). Lat. 30.062630, long. 31.249670.

Cidade do Soleymão ou Baxá.

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