O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Aarù. Aarù 14(1), 18(1), 21(3), 22(1), 23(1), 24(1), 26(3), 27(1), 28(2), 31(4), 32(3).

Nas orações: 156, 200, 233, 240, 249, 257, 265, 276, 301, 306, 308, 322, 324, 326, 355, 358, 362, 368, 378.

  1. [156](Cap. 14) E atrauessando o Piloto daquy de Malaca ao porto de Surotilau, que be na costa do reyno de Aarù, velejou ao longo da ilha Çamatra por esta parte do mar mediterraneo, atè hum rio que se dizia Hicanduré, & nauegando mais cinco dias por esta derrota, chegou a hũa fermosa bahia noue legoas do reyno Peedir em altura de onze graos, por nome Minhatoley, daquy cortou toda a trauessa da terra (a qual ja aquy nesta paragem não he de mais largura que de sós vinte & tres legoas) atè vermos o mar da outra banda do Oceano, & nauegando por elle quatro dias com tempos bonanças, foy surgir num rio pequeno de sete braças de fundo, que se dizia Guateamgim, pelo qual vellejou seis ou sete legoas adiante, vendo por entre o aruoredo do mato muyto grande quantidade de cobras, & de bichos de tão admiraueis grandezas & feiçoẽs, que he muyto para se arrecear contalo, ao menos a gente que vio pouco do mũdo, porque esta como vio pouco, tambem custuma a dar pouco credito ao muyto que outros viraõ.
  2. [200](Cap. 18) E partidos deste porto de Panaajù, chegamos cõ duas horas de noite a hũ ilheo, que se dizia Apefingau, obra de hũa legoa & meya da barra, pouoado de gẽte pobre, que viue pela pescaria dos saueis, de que, por falta de sal, não aproueitão mais que sòs as ouas das femeas, como nos rios de Aarù, & Siaca, nestoutra costa do mar mediterraneo.
  3. [233](Cap. 21) Avendo sòs vinte & seis dias que eu era chegado a Malaca com esta reposta do Rey dos Batas de que tenho tratado, sendo ainda neste tempo dõ Esteuão da Gama Capitão da fortaleza, chegou a ella hum Embaixador do Rey de Aarù, que he nesta ilha Çamatra, & o negocio aque vinha, era pedir socorro de gente, & algũas muniçoẽs de pilouros & poluora, pera se defender de hũa grossa frota que o Rey do Achem mandaua sobre elle para lhe tomar o reyno, a fim de ficar mais nosso vezinho, & dahy cõtinuar com suas armadas sobre Malaca, por lhe serem chegados nouamente trezentos Turcos do estreyto de Meca.
  4. [240](Cap. 21) E mandandouos agora pedir que lhe valhais nesta afronta, como verdadeyros amigos, vos escusais de o fazerdes com rezoẽs de muyto pouca força, não montando mais o cabedal deste socorro todo, para satisfaçaõ de nosso desejo, & segurança de nos estes inimigos não tomarem o reyno, que sò atè quarenta ou cinquenta Portugueses com suas espingardas & armas, para nos ensinarem, & nos animarem em nossos trabalhos, & quatro jarras de poluora, com duzentos pilouros de berço, & com este pouco, que he bem pouco em comparação do muyto que vos fica, nos aueremos por muyto satisfeitos da vossa amizade, & o nosso Rey vos ficarà por isso muyto obrigado, paraque sempre com muyta lealdade sirua como escrauo catiuo ao Principe do grande Portugal, vosso & nosso senhor & Rey, da parte do qual, & em nome do meu vos requeiro senhores a ambos hũa & duas & cem vezes, que não deixeis de cũprir co que deueis, pois a importancia disto que aquy publicamente vos peço, he terdes o reyno de Aarù por vosso, & esta fortaleza de Malaca segura para a não senhorear este inimigo Achem, como determina fazer, pelos meyos que ja para isso tẽ procurado, com se valer de muytas naçoẽs de gentes estranhas, que continuamente recolhe em sua terra para este effeito.
  5. [249](Cap. 21) E embarcandome hũa terça feyra pela menham cinco dias de Outubro do anno de 1539. continuey meu caminho até o Domingo seguinte que cheguey ao rio de Puneticão, onde està situada a cidade de Aarù.
  6. [257](Cap. 22) Disseme tambẽ que tinha quarenta espingardas, & vinte & seis Alifantes, & cinquenta de cauallo para guardarem a terra, & dez ou doze milheyros de paos tostados, que elles chamão Saligues, eruados com peçonha, & obra de cinquenta lanças, & hũa boa quantidade de padeses almagrados, para defensaõ dos que pelejassem na tranqueyra, & mil panellas de cal virgẽ em pò, para no abalroar lhe seruirẽ em lugar de alcanzias de fogo, & obra de tres ou quatro bateis de calhao, & outras miserias & pobrezas tanto atras do que conuinha para remedio daquelle aperto em que estaua, que por ellas mesmas, em as eu vendo, logo entendi quão pouco trabalho os inimigos terião em lhe tomarem o reyno: & perguntandome o que me parecia desta abundancia de moniçoẽs que tinha naquelles almazẽs, & se bastauão para receber aquelles hospedes que esperaua, lhe respondi eu, que sobejamente tinha cõ que os bãquetear, a que elle, despois de estar hum pouco pensatiuo, bulindo com a cabeça, me disse: Certo que se o Rey de vos outros Portugueses agora soubesse quanto ganhaua em me eu não perder, ou quanto perdia em os Achẽs me tomarem Aarù, elle castigaria o antigo descuydo de seus Capitaẽs, que cegos, & atolados em suas cubiças & interesses, deixaraõ criar a este inimigo tanta força, & tãto poder, que temo que ja quando quiser refrealo, não possa, & se puder que ha de ser com lhe custar muyto do seu.
  7. [265](Cap. 23) Despidido eu de todo del Rey, me embarquey logo, & me parti ja quasi Sol posto, & me vim a remo pelo rio abaixo, ate hũa aldea que estâ junto da barra, que terâ obra de quinze ou vinte casas de palha, & de gente muyto pobre que naquella terra se não sustenta de outra cousa se não de matar lagartos, & fazer dos figados delles peçonha para eruar as frechas com que pelejão, & a peçonha deste reyno de Aarù, & principalmente a deste lugar, que se chama Pocausilim, tem elles que he a milhor de todas aquellas partes, porque nenhum remedio nem defensiuo se acha que aproueite para os feridos dellas.
  8. [276](Cap. 24) Os que vinhaõ na barcaça, em nos vẽdo leuaraõ remo, & despois de estarẽ hũ pouco quedos, vendo o triste & miserauel estado em que estauamos, & entendendo que eramos gente perdida no mar, se chegaraõ mais perto, & nos perguntaraõ o que queriamos, nos lhe respondemos que eramos Christaõs naturaes de Malaca, & que vindo de Aarù nos perderamos auia ja noue dias, pelo que lhe pediamos pelo amor de Deos que nos quisessem leuar consigo para onde quer que fossem.
  9. [301](Cap. 26) Passado este tempo da minha infirmidade, Pero de Faria me mandou logo chamar á fortaleza, & me perguntou pelo que passara com el Rey de Aarù, & como, & onde me perdera, & eu lhe relatey por extenso todo o sucesso da minha viagem & perdiçaõ, de que elle ficou assaz espantado.
  10. [306](Cap. 26) Este tyrãno Rey Achem foy aconselhado pelos seus, que se queria tomar Malaca, por nenhũa maneyra o poderia fazer cometendoa de mar em fora, como ja por seis vezes tinha tentado no tẽpo de dom Esteuão da Gama, & de outros Capitaẽs atras passados, senão com se fazer primeyro senhor deste reyno de Aarù, & se fortificar no rio de Paneticão, donde as suas armadas podiaõ continuar de mais perto a guerra que lhe pretendia fazer, porque então ficaua muyto pouco custoso fechar os estreitos de Cincapura & de Sabaom, & tolher que as nossas naos passassẽ ao mar da China, & Çũda, & Bãda, & Maluco, por cujo respeito poderia tambem facilmente auer á mão toda a drogaria daquelle arcipelago, para ficar assi effeituado o nouo contrato que por meyo do Baxà do Cayro tinha assẽtado co Turco.
  11. [308](Cap. 26) Esta frota chegou toda a saluamẽto ao rio de Puneticão, onde então el Rey de Aarù estaua fortificando a tranqueyra, de que ja atras fiz mençaõ, na qual tinha cõsigo seis mil homẽs Aarùs, sem mais outra mistura de gẽte, assi por elle ser muyto pobre, como por a terra não ter mantimẽtos, de que se pudessem sustentar.
  12. [322](Cap. 27) E desta maneyra, que assi passou realmente na verdade, se perdeo este reyno de Aarù com morte deste pobre Rey tanto nosso amigo, ao qual me parece que puderamos valer com muyto pouco custo & cabedal que puseramos de nossa parte, se no principio desta guerra, lhe acudiraõ co que elle pidio pelo seu Embaixador, mas de quẽ teue a culpa disto (se ahy ouue algũa) não quero eu ser juiz, sejao aquem lhe pertence por direyto.
  13. [324](Cap. 28) Morto este desauenturado Rey de Aarù da maneyra que tenho dito, & toda a sua gente desbaratada, logo a cidade & o reyno todo foy tomado muyto facilmente, & o Heredim Mafamede general da frota, repairou, & fortificou a tranqueira de todo o necessario á segurança do mais que tinha ganhado.
  14. [326](Cap. 28) A Raynha de Aarù (que todo este tempo estiuera metida no mato daly sete legoas, para onde se recolhera, como atras fica dito) sendo daly a algũs dias certificada da morte del Rey seu marido, & de tudo o mais que socedera neste triste caso, se quisera logo aly queimar, porque assi lho tinha prometido em vida, & confirmado cõ juramento, porem os seus lho não consentiraõ, persuadindolhe com muytas rezoẽs que o não fizesse, ao que ella, despois de conceder no que lhe pedião, respondeo, affirmouos em ley de verdade, que nem essas razoẽs que me dais, nem o que com ellas me põdes diante, nem essas boas palauras com que enfeitais esse bom zelo de leais vassallos, puderaõ ser bastantes para me desuiarem de tão santo proposito como este que a meu Rey & senhor tinha prometido, se Deos nesta alma me não dera a sentir que cõ minha vida auia de vingar a sua morte, pelo sangue do qual juro diante de todos vosoutros, que em quanto eu for viua buscarey sempre todos os meyos possiueis para o fazer, & por esta causa chegarey a tanto estremo, que mil vezes me farey Christam se for necessario para alcançar em minha vida isto que tanto desejo.
  15. [355](Cap. 31) E a vltima resoluçaõ que se tomou nelle, por parecer de todos os seus, foy, que antes de entender em cousa algũa, mandasse notificar ao Rey do Achem o direito que tinha nouamente no reyno de Aarù, por parte do casamento com a Raynha delle, sua noua molher, & que segundo lhe elle respondesse, assi se determinaria.
  16. [358](Cap. 31) Eu teu cõjunto na carne & sangue te faço saber por meu Embaixador, que os dias passados da setima Lũa deste nouo anno em que agora viuemos, veyo a mym com grande afronta & trabalho a nobre viuua Anchesiny Raynha de Aarù, & com rosto triste, & olhos chorosos, prostrada por terra me disse, rasgando as faces com suas vnhas, que teus Capitaẽs lhe tinhão tomado seu reyno, com ambos os rios de Laue, & Paneticão, & morto Alibomcar seu marido, com mais cinco mil Amborrajas, & Ouroballoẽs, gente principal que comsigo tinha, & catiuas tres mil crianças que nunca peccarão, as quais cingidas com cordas, & com as mãos atadas continuamente açoutauão muyto sem piedade, como que foraõ filhos de mãys infieis, pelo qual mouido eu teu irmão á proximidade, que o santo Alcoraõ nos ensina & nos obriga, a recebi debaixo do emparo de minha verdade, para assi mais seguro me poder informar da rezão ou justiça que para isso podias ter, & achando eu em seu juramento não teres nenhũa, a receby por molher, paraque assi liuremente lhe possa allegar com direyto sua aução diante de Deos.
  17. [362](Cap. 31) Eu o Soltão Alaradim Rey do Achem, de Baarròs, de Peedir, de Paacem, & dos senhorios de Dayaa, & Batas, principe de toda a terra de ambos os mares Mediterraneo & Oceano, & das minas de Menamcabo, & do nouo reyno de Aarù, com justa causa agora tomado, a ty Rey cheyo de festa com desejo de duuidosa herança, vy tua carta escrita em mesa de voda, & pelas inconsideradas palauras della conhecy a bebedice dos teus conselheyros, â qual não quisera responder, se mo não pediraõ os meus, pelo que te digo que me não desculpes diante de ty, que te confesso que tal louuor não quero, & quanto ao reyno de Aarù não falles nelle, se queres ter vida, basta mandalo eu tomar, & ser meu, como muyto cedo serâ esse teu.
  18. [368](Cap. 32) E tornando outra vez a auer conselho sobre a determinaçaõ deste negocio, se assentou que por rodas as vias lhe fizesse guerra como a inimigo capital, & se entendesse logo primeyro que tudo em se tomar o reyno de Aarù, & a fortaleza de Puneticão, antes que o Achem o fortificasse mais.
  19. [378](Cap. 32) E desta maneyra que tenho contado, & que puntualmente assi passou na verdade, ficou o reyno de Aarù liure deste tyranno Achem, & em poder do Rey do Iantana, atè o anno de mil & quinhentos sessenta & quatro, que o mesmo Achem com hũa frota de duzentas vellas, fingindo yr sobre Patane, deu manhosamente hũa noite no Iantana, onde o Rey então estaua, & o tomou às mãos com suas molheres & filhos, & outra muyta gente, & os leuou catiuos para sua terra, onde de todos, sem perdoar a nenhum, mandou fazer crueys justiças, & ao Rey com hum pao muyto grosso fez botar os miolos fora, & tornou de nouo a senhorear o reyno de Aarù, de que logo intitulou por Rey o seu filho mais velho, que foy o que despois mataraõ em Malaca vindoa elle cercar, sendo Capitão da fortaleza dom Lionis Pereyra filho do Cõde da Feira, que lha defendeo com tanto esforço, que pareceo mais milagre que obra natural, por ser então tamanho o poder deste inimigo, & os nossos tão poucos em sua comparação, que bem se pudera dizer com verdade que eraõ duzentos Mouros para cada Christão.

Aarû 21(1), 22(1), 23(1), 26(2), 27(1), 28(1), 29(1), 30(1), 31(1).

Nas orações: 232, 250, 264, 300, 311, 313, 323, 329, 339, 353.

  1. [232](Cap. 21) Como chegou â fortaleza de Malaca hum Embaixador del Rey de Aarû, & do que passou nella.
  2. [250](Cap. 22) Como me fuy ver com el Rey de Aarû & darlhe o que Pero de Faria lhe mandaua, & do que passey com elles.
  3. [264](Cap. 23) Do que me aconteceo despois que me party deste reyno de Aarû.
  4. [300](Cap. 26) Da armada que o Achem mandou contra el Rey de Aarû, & do que lhe socedeo chegando ao rio de Paneticão.
  5. [311](Cap. 26) El Rey de Aarû, animando então os seus com palauras, & promessas, quais naquelle tempo se requerião, elles com impeto determinado derão nos inimigos, & se tornaraõ a senhorear do baluarte, com morte do Capitaõ Abexim, & de todos os mais que ja estauão dentro.
  6. [313](Cap. 27) Da morte del Rey de Aarû, & da cruel justiça que se fez delle despois de morto.
  7. [323](Cap. 28) Do que passou no reyno de Aarû despois da morte del Rey, & de como a Raynha foy a Malaca.
  8. [329](Cap. 29) Do recebimento que em Malaca se fez â Raynha de Aarû, & do que passou com Pero de Faria Capitaõ da fortaleza.
  9. [339](Cap. 30) Como esta Raynha de Aarû se partio de Malaca para Bintão, & do que passou com el Rey do Iantana.
  10. [353](Cap. 31) Da notificaçaõ que el Rey do Iantana mandou fazer ao Rey do Achem sobre o reyno de Aarû, & do que lhe elle respondeo.

Aarùs 26(1), 27(1).

Nas orações: 308, 317.

  1. [308](Cap. 26) Esta frota chegou toda a saluamẽto ao rio de Puneticão, onde então el Rey de Aarù estaua fortificando a tranqueyra, de que ja atras fiz mençaõ, na qual tinha cõsigo seis mil homẽs Aarùs, sem mais outra mistura de gẽte, assi por elle ser muyto pobre, como por a terra não ter mantimẽtos, de que se pudessem sustentar.
  2. [317](Cap. 27) E dos Aarùs morreraõ sós quatrocentos.

Aarûs 22(1).

Nas orações: 256.

  1. [256](Cap. 22) E dandome então conta com assaz de tristeza, como quem desabafaua comigo do grande trabalho em que estaua, & da grandissima afronta em que se via, me disse que tinha ja cinco mil homẽs Aarûs, sem mais socorro doutra gente nenhũa, com quarenta peças de artilharia miuda, antre falcoẽs & berços, em que entraua hũa meya espera de metal, que antigamente lhe vendera hũ Portuguez que fora almoxarife da fortaleza de Paacem, por nome Antonio Garcia, o qual despois Iorge de Albuquerque mandou esquartejar em Malaca, por se cartear com el Rey de Bintão num certo modo de traição que cometia.

(2) Objecto geográfico interpretado

Reino (cidade, costa). Parte de: Çamatra.

Referente contemporâneo: Teluk Aru, Indonesia (AS). Lat. 4.000000, long. 98.210200.

Reino, cidade e rio. FMP situa a cidade de par do rio Paneticão identificado em GT 04º05’N, 98º08’E Em 51ii FMP diz que a cidade de Aaru está situada junto ao rio Puneticão, identificado no GT como “possivelmente, o rio Tungkam” em 04º05’N, 98º08’E; mas GT s.v. Aru, rio de, cita Armando Cortesão que o identifica como o rio Deli (mais ao S em 3° 35′ 0″ N, 98° 40′ 0″ E).GT s.v. Aarum, reino de: Antigo reino da Sumatra que abrangia parte da costa oriental da ilha e a baia de Aru, em 4º 10′ N 98º 08′ E. s.v. Aru, restinga da banda de: nos Pyramid Shoals. s.v. Aru, rio de: Deli river.

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