O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

India. India 1(4), 2(4), 3(4), 4(5), 6(1), 7(3), 12(1), 14(1), 15(2), 16(2), 18(2), 20(2), 21(1), 22(1), 26(2), 30(1), 32(1), 36(1), 41(1), 43(1), 52(2), 53(1), 57(1), 65(1), 75(1), 96(2), 131(1), 137(1), 143(2), 146(1), 147(3), 148(2), 151(1), 158(1), 162(1), 172(1), 176(1), 183(1), 185(1), 189(2), 196(1), 200(2), 203(4), 208(4), 215(5), 216(3), 218(2), 219(7), 221(2), 223(1), 224(1), 225(1), 226(5).

Nas orações: 1, 2, 3, 11, 12, 14, 15, 20, 22, 24, 31, 41, 43, 49, 52, 53, 75, 76, 77, 78, 127, 152, 166, 168, 171, 172, 194, 196, 220, 230, 238, 253, 302, 303, 340, 369, 415, 502, 519, 635, 637, 694, 787, 915, 1188, 1787, 1886, 1986, 1992, 2035, 2061, 2064, 2082, 2089, 2141, 2242, 2335, 2578, 2631, 2716, 2768, 2814, 2824, 2963, 3016, 3019, 3072, 3074, 3077, 3078, 3181, 3198, 3200, 3374, 3375, 3376, 3378, 3381, 3406, 3412, 3428, 3439, 3446, 3447, 3449, 3455, 3456, 3457, 3478, 3484, 3520, 3550, 3580, 3586, 3587, 3589, 3592.

  1. [1](Cap. 1) Do que passey em minha mocidade neste Reyno ate que me embarquey para a India.
  2. [2](Cap. 1) Qvando às vezes ponho diante dos olhos os muitos & grãdes trabalhos & infortunios que por mim passarão, começados no principio da minha primeira idade, & continuados pella mayor parte, & milhor tẽpo da minha vida, acho que com muita razão me posso queixar da vẽtura que parece que tomou por particular tenção & empreza sua perseguirme, & maltratarme, como se isso lhe ouuera de ser materia de grande nome, & de grande gloria, porque vejo que não contente de me por na minha patria logo no começo da minha mocidade, em tal estado que nella viui sempre em miserias, & em pobreza, & não sem alguns sobresaltos & perigos da vida me quis tambẽ leuar às partes da India, onde em lugar do remedio que eu hia buscar a ellas, me forão crecendo com a idade os trabalhos, & os perigos.
  3. [3](Cap. 1) Mas por outra parte quãdo vejo que do meyo de todos estes perigos & trabalhos me quis Deos tirar sempre em saluo, & porme em seguro, acho que não tenho tanta razão de me queixar por todos os males passados, quãta de lhe dar graças por este só bẽ presente, pois me quis conseruar a vida, paraque eu pudesse fazer esta rude & tosca escritura, que por erança deixo a meus filhos (porque só para elles he minha tenção escreuella) paraque elles vejão nella estes meus trabalhos, & perigos da vida que passei no discurso de vinte & hũ ãnos em que fuy treze vezes catiuo, & dezasete vendido, nas partes da India, Etiopia, Arabia felix, China, Tartaria, Macassar, Samatra, & outras muitas prouincias daquelle oriental arcipelago, dos confins da Asia, a que os escritores Chins, Siames, Gueos, Elequios nomeão nas suas geografias por pestana do mũdo, como ao diante espero tratar muito particular, & muito diffusamente, & daqui por hũa parte tomem os homẽs motiuo de se não desanimarem cos trabalhos da vida para deixarem de fazer o que deuem, porque não ha nenhũs, por grandes que sejão, com que não possa a natureza humana, ajudada do fauor diuino & por outra me ajudem a dar graças ao Senhor omnipotente por vsar comigo da sua infinita misericordia, a pesar de todos meus peccados, porque eu entendo & cõfesso que delles me nacerão todos os males que por mim passarão, & della as forças, & o animo para os poder passar, & escapar delles com vida.
  4. [11](Cap. 1) E porque a moradia que então era custume darse nas casas dos Principes, me não bastaua para minha sustentação, determiney embarcarme para a India, inda que com pouco remedio, ja offerecido a toda ventura ou má ou boa, que me soccedesse.
  5. [12](Cap. 2) Como deste reyno me party para a India, & do successo que teue a armada em que fuy.
  6. [14](Cap. 2) E velejando todas estas naos por sua derrota prouue a nosso Senhor que chegarão a saluamento a Moçambique, onde achamos de inuernada a nao São Miguel de que era Capitão & senhorio hum armador que se chamaua Duarte Tristaõ, a qual partindo despois para o reyno muyto rica, desapareceo, sem ate oje se saberem nouas della, como por nossos peccados a outras algũas tem acontecido nesta carreyra da India.
  7. [15](Cap. 2) Despois de estas cinco naos serem todas auiadas & prestes para se partirem de Moçambique, o Capitão da fortaleza, que era Vicente Pegado, apresentou aos Capitaẽs dellas hũa prouisaõ do Gouernador Nuno da Cunha, em que mandaua que todas as naos que aquelle anno deste reyno aly fossem ter, fossem a Diu, & deixassem a gente na fortaleza, pela sospeita que se tinha da armada do Turco, porque se então esperaua na India, por causa da morte do Soltão Bandur Rey de Cambaya, que o Gouernador tinha morto o veraõ passado.
  8. [20](Cap. 2) As tres naos, despois de venderem aly bem suas fazendas, se foraõ para Goa, com sós os officiaes dellas, & a gente do mar, onde estiuerão mais algũs dias, ate que o Gouernador acabou de as despachar para Cochim, & dahi, tomada a carga, se tornarão todas cinco para o reyno, onde chegaraõ a saluamento, leuando tambem consigo em companhia outra nao noua que se fizera na India, por nome São Pedro, de que veyo por Capitão Manoel de Macedo que trouxe o Basilisco, a que câ chamaraõ o tiro de Diu, por se tomar ahy na morte do Soltão Baudur Rey de Cambaya, com mais outros dous do mesmo teor, os quais foraõ dos quinze que o Rumecaõ Capitão mor da armada do Turco trouxe de Suez no anno de 1534. quando deste reyno foy dom Pedro de Castelbranco nas doze Carauellas do socorro que partirão em Nouembro.
  9. [22](Cap. 3) Avendo sós dezassete dias que eu era chegado a esta fortaleza de Diu, fazendose nella prestes duas fustas para irem ao estreyto de Meca, a saberem a certeza da armada dos Turcos, de que ja na India auia algum receyo, me embarquey em hũa dellas de que hia por Capitão hum meu amigo, por me elle fazer grandes encarecimentos da sua amizade naquella viagem, fazendome muyto facil sayr eu della muyto rico em pouco tempo, que era o que eu então mais pretendia que tudo.
  10. [24](Cap. 3) Partidas ambas estas fustas desta fortaleza de Diu, & nauegando juntas em hũa conserua com tempo assaz forte, na despidida do inuerno, com grandes chuueyros, & contra monção, ouuemos vista das ilhas de Curia, Muria, & Abedalcuria, nas quais estiuemos de todo perdidos, sem nenhũa esperança de vida; & tornandonos, por não auer outro remedio, na volta do sudueste, prouue a nosso Senhor que ferramos a ponta da ilha Çacotorà, hũa legoa abaixo donde esteue a nossa fortaleza que dom Francisco d’Almeida, primeyro Visorrey da India fez, quando no anno de 1507. foy deste reyno, & aly fizemos nossa agoada, & ouuemos algum refresco, que por nosso resgate compramos aos Christãos da terra, que decendem daquelles que antiguamente o Apostolo São Tomè conuerteo nas partes da India, & Choromandel.
  11. [31](Cap. 3) Assi que de todos os oitenta não escaparão mais que sós cinco muyto feridos, dos quais hum foy o Capitão da nao, o qual metido a tormento confessou que vinha de Iudaa donde era natural, & que a armada do Turco era ja partida de Suez, com tenção de vir tomar Adem, & fazer ahy fortaleza primeyro que cometesse a India, porque assi o trazia o Baxá do Cayro, que nella vinha por Capitão môr, num dos capitolos do seu regimento que o Turco lhe mandara de Constantinopla.
  12. [41](Cap. 4) E aquelle mesmo dia fomos dormir a hum Mosteyro de officinas nobres & ricas que se dizia Satilgão, & como ao outro dia foy menham, caminhamos ao longo de hum rio mais cinco legoas, até hum lugar que se chamaua Bitonto, no qual nos agasalhamos aquella noite em hum bom Mosteyro de Religiosos que se chamaua Sao Miguel, com muyta festa & gasalhado do Prior & Sacerdotes que nelle estauão, onde nos veyo ver hum filho do Barnagais Gouernador deste imperio de Ethyopia, moço de idade de dezassete annos, & muyto bem desposto, acompanhado de trinta de mulas, & elle somente vinha em hum cauallo ajaezado à Portuguesa, com hum arreyo de veludo roxo franjado douro, que da India lhe mandara o Gouernador Nuno da Cunha auia dous annos, por hum Lopo Chanoca, que despois foy catiuo no Cayro, ao qual este Principe mandaua resgatar por hum mercador Iudeu natural de Azebibe, porem quãdo este lâ chegou, o achou ja morto, de que dizem que mostrou muyto sentimento, & nos affirmou o Vasco Martins, que aly naquelle Mosteyro de São Miguel lhe mandara fazer o mais honrado saymento que elle nunca vira em sua vida, no qual se ajuntarão quatro mil Sacerdotes, a fora outra mór copia de nouiços aque elles chamão Santileus.
  13. [43](Cap. 4) Ao outro dia nos partimos deste Mosteyro em boas caualgaduras que este Principe nos mandou dar, com quatro homens seus que nos acompanhassem, os quais nos foraõ agasalhando por todo o caminho esplendidissimamente, & fomos dormir a hũas casas grandes que se dizião Betenigus, que quer dizer casas de Rey, cercadas em distancia de mais de tres legoas de aruoredo muyto alto de aciprestes, & cedros, & palmeyras de datiles & cocos como na India.
  14. [49](Cap. 4) E mandandonos assentar em hũas esteyras, quatro ou cinco passos afastados de sy, nos esteue perguntando com a boca cheya de riso, por algũas cousas nouas & curiosas, a que dizião que sempre fora muyto inclinada, pelo Papa, como se chamaua, quantos Reys auia na Christandade, se fora ja algum de nos à casa Santa, & porque se descuydauão tãto os Principes Christaõs na destruyção do Turco, & o poder que el Rey de Portugal tinha na India se era grande, & quantas fortalezas auia nella, & em que terras estauão, & outras muytas cousas desta maneyra.
  15. [52](Cap. 4) E despois de auer ja noue dias que aquy estauamos, nos fomos despidir della, & beijandolhe a mão nos disse: certo que me pesa de vos yrdes tão cedo, mas ja que he forçado ser assi, ydeuos muyto embora, & seja em tão boa hora a vossa tornada à India, que quando là chegardes vos recebão os vossos como o antigo Salamão recebeo a nossa Raynha Sabaa na casa admirauel de sua grandeza.
  16. [53](Cap. 4) A todos quatro nos mandou dar vinte oqueaas douro, que saõ duzentos & quarẽta cruzados, & mãdou tambem hum Naique com vinte Abexins que nos veyo guardando dos ladroẽs, & prouendonos de mãtimẽto & caualgaduras ate o porto de Arquico onde as nossas Fustas estauão & o Vasco Martins de Seixas trouxe hum presente rico de muytas peças de ouro para o Gouernador da India, o qual se perdeo no caminho, como logo se dirá.
  17. [75](Cap. 6) No cabo dos tres meses prouue a nosso Senhor que receoso elle que por ser insofriuel perdesse o que dera por mim, como algũs seus vizinhos lhe tinhão ja dito, me vendeo a troco de tamaras por preço de doze mil reis a hum Iudeu por nome Abrão Muça, natural da cidade do Toro, duas legoas & meya do monte Sinay, o qual em hũa Cafila de mercadores que partio de Babylonia para Cayxem me leuou a Ormuz, & me apresentou a dom Fernando de Lima que então ahi estaua por Capitão da fortaleza, & ao Doutor Pero Fernandez Ouuidor geral da India, que de poucos dias ahi era vindo por mandado do Gouernador Nuno da Cunha a fazer algũas cousas de seruiço del Rey, & elles ambos por esmolas que tirarão pola terra, & polo que tambem derão de suas casas, ajuntarão duzentos pardaos, que derão por mim ao Iudeu; com que se elle ouue por muyto bem pago.
  18. [76](Cap. 7) Do que passey depois que me embarquey em Ormuz ate chegar a India.
  19. [77](Cap. 7) Avendo ja dezaseis dias que eu era chegado a Ormuz, & liure pela misericordia de nosso Senhor dos trabalhos que tenho contado, me embarquey pera a India em hũa nao de hum Iorge Fernandez Taborda, que hia com cauallos pera Goa, & velejando por nossa derrota com vento bonança de moução tendente, em dezasete dias de boa viagem ouuemos vista da fortaleza de Diu, & chegandonos bem a terra com determinação de sabermos ahi algũas nouas, enxergamos de noite por toda a costa hũa grande quantidade de fogos, & de quando em quando tom de artilharia, & lançando nossos juizos sobre o que isto poderia ser, pairamos com pouca vella o que restaua da noite ate que de todo foy menham, em que claramente vimos a fortaleza cercada de hũa grande quantidade de vellas Latinas.
  20. [78](Cap. 7) Embaraçados nos todos com esta nouidade tão desacustumada, ouue sobre ella muytas altercaçoẽs, & diuersidade de pareceres, porque os mais dizião que era o Gouernador que nouamente chegara de Goa a fazer as pazes da morte do Soltão Bandur Rey de Cambaya, que os dias passados elle tinha morto: outros affirmauão com grandes apostas, que era o Iffante dom Luys, irmão del Rey dom Ioão o terceiro, que então chegara deste reyno, & que o grande numero de vellas Latinas que viamos, erão as carauellas em que elle viera, porque assi se tinha então em toda a India por noua certa.
  21. [127](Cap. 12) E detendose inda o Visorrey aqui mais outros cinco dias prouendo algũas cousas necessarias ao estado da India, despidio daly donde estaua surto duas naos para o reyno, das quais eraõ Capitaẽs Martim Afonso de Sousa, & Vicente Pegado, & mandou nellas o Doutor Fernão Rodriguez de Castelbrãco Veador da fazenda, para lhes fazer em Cochim a carga da pimenta, & auiar o Gouernador passado Nuno da Cunha; que ja lá estaua auia dias na nao santa Cruz, mal desposto, & algum tanto descontente por se lhe não ter o respeito que elle esperaua, & que tinha para si que merecia por seus seruiços.
  22. [152](Cap. 14) Vinte dias despois da partida deste Embaixador, cubiçando Pero de Faria o muyto proueito que alguns Mouros lhe diziaõ que naquelle reyno podia fazerse em fazendas da India se as lâ mãdasse, & o muyto mais que poderia tirar do retorno dellas, armou hũa embarcação das que naquella terra se chamão Iurupangos, que saõ do tamanho de hũa carauella pequena, em que por então não quiz arriscar mais que sôs dez mil cruzados de emprego, com os quais mandou hum Mouro natural dahy de Malaca para os beneficiar.
  23. [166](Cap. 15) Esta velha me acenou com a mão como que me mandaua que entrasse, & com aspeito graue & seuero me disse, tua vinda, homem de Malaca, a esta terra del Rey meu senhor, he tão agradauel a sua vontade, como a chuua em tẽpo seco na lauoura de nossos arrozes, entra seguro & sem receyo de nada, por que ja todos, pola bondade de Deos, somos como vosoutros, & assi esperamos nelle que seja atè o derradeyro bocejo do mundo, & metendome dentro na casa onde el Rey estaua, lhe fiz meu acatamento, pondo tres vezes o joelho no chão, & assi lhe dey a carta & o presente que leuaua, com que elle mostrou que folgaua muyto, & me perguntou aque vinha, a que respondi conforme ao regimẽto que leuaua, dizendo, que a seruir sua alteza naquella jornada, & ver pelos olhos a cidade do Achem, & a fortificação della, & que braças de fundo tinha o rio, para saber se podião entrar nelle naos grossas & galeoẽs, porque o Capitão de Malaca tinha determinado, tanto que a gente viesse da India, vir ajudar sua alteza, para lhe entregar aquelle inimigo Achem em sua mão, o que o pobre Rey, por quão conforme isto era ao seu desejo, creo muyto de verdade, & erguendose do baileu, que era a tribuna em que estaua assentado, se pos em joelhos diante de hũa caueyra de vaca, que nũa cousa como prateleyro ou cantareyra estaua posta muyto enramada de muytas eruas cheyrosas, cos cornos ambos dourados, & leuantando as maõs para ella, disse quasi chorando.
  24. [168](Cap. 15) E ficando logo todos em hum silencio triste, se virou el Rey para mim, & alimpando os olhos das lagrimas que a efficacia da oração que fizera, lhe tinha feito derramar, me esteue perguntando por algũas particularidades da India, & de Malaca, em que gastou hum pequeno espaço até que me despidio com boas palauras, & promessa de boa veniaga à fazenda que o Mouro trazia do Capitão, que era o que eu então mais pretendia que tudo.
  25. [171](Cap. 16) Logo ao outro dia partio el Rey deste lugar de Turbaõ para o Achem, que eraõ dezoito legoas, & leuaua em sua companhia quinze mil homẽs, de que sós os oito mil eraõ Batas, & os mais Menãcabos, Lusoẽs, Andraguires, Iambes, & Borneos, que os Principes destas naçoẽs lhe mandaraõ de socorro, & quarenta Alifantes, & doze carretas de artilharia miuda de falcoẽs & berços, em que entrauão dous camellos, & hũa meya espera de brõzo com as armas de França, que se ouue de hũa nao que no anno de 1526. gouernando o estado da India Lopo Vaz de Sampayo, foy aly ter com Franceses, de que era Capitão & Piloto hum Portuguez natural de villa de Conde, que se chamaua o Rosado.
  26. [172](Cap. 16) Caminhando este Rey Bata por suas jornadas ordinarias de cinco legoas por dia, chegou a hum rio que se dizia Quilem, onde por algũas espias do Achem que ahy se tomaraõ soube que o Rey o esperaua em Tõdacur, duas legoas da cidade, para ahy se ver no campo com elle, & que tinha muyta gente forasteyra, em que entrauão algũs Turcos & Guzarates, & Malauares da costa da India.
  27. [194](Cap. 18) E elle me tornou dizendo, folgo de ser assi, & ja que não tẽs mais que fazer, rezão serà que te vás, & que não percas tempo, assi por ser ja fim da monção, como pelas calmarias que podes achar no golfaõ, que muytas vezes saõ causa de alguns nauios irem ter a Paacem, donde te Deos guarde, porque te affirmo que se por mofina lá fosses ter, que viuo te comessem os Achẽs aos bocados, & o proprio Rey mais que todos, porque a honra de que agora mais se preza, & que traz por timbre de todos os seus titulos, he bebedor do turuo sangue estrangeiro dos malditos cafres, sem ley, do cabo do mundo, vsurpadores, por summo grao de tyrannia, de reynos alheyos nas terras da India, & ilhas do mar, de que os seus todos fazẽ grande caso.
  28. [196](Cap. 18) E assi te digo que digas de minha parte ao Capitão de Malaca, inda que ja lho tenho escrito, que se vigie continuamente deste inimigo Achem, porque em nenhũa outra cousa imagina, se não em como vos ha de lançar fora da India, & meter nella o Turco, de quem dizem que para isso pretende grande socorro, mas Deos por quem he prouerà de maneyra, que todas as suas maliciosas astucias soccedeo muyto ao reuès de seus pensamentos.
  29. [220](Cap. 20) Partido eu com a pressa que digo deste rio Parlês, hum Sabado quasi Sol posto, cõtinuey por minha derrota atè a terça feyra ao meyo dia, em que prouue a nosso Senhor que cheguey às ilhas de Pullo Çambilão, primeira terra da costa do Malayo, onde achey tres naos Portuguesas, duas que vinhaõ de Bengala, & hũa de Pegù, de que era Capitão & senhorio hum Trisão de Gaa, ayo que fora de dom Lourenço filho do Visorrey dom Francisco de Almeida, que Miroocem matou na barra de Chaul, de que as historias do descubrimento da India fazem larga menção.
  30. [230](Cap. 20) E desta informação, de que Pero de Faria foy certificado, assi pelo que lhe eu disse, como pelo que o Rey dos Batas lhe escreueo por mim, deu aquelle anno conta a el Rey dom Ioaõ o terceyro que santa gloria aja: o qual logo no outro anno seguinte proueo na capitania do descobrimento della a hum Francisco Dalmeida, caualeyro de sua casa, homem de muytas partes, & bem sufficiente para aquelle cargo, & que ja de muytos dias o pedia, em satisfaçaõ de muytos seruiços que tinha feytos nas ilhas de Banda, Maluco, Ternate, & Geilolo, o qual Francisco Dalmeida indo da India para lâ falleceo de febres nas ilhas de Nicubar.
  31. [238](Cap. 21) E magoado desta tamanha sem rezão que lhe parecia que com seu Rey se vsara, hũa menham querendose embarcar, estando estes Capitaẽs ambos à porta da fortaleza, lhes disse publicamente quasi chorando: o Deos que viue reynando por poderio & magestade suprema no mais alto Ceo de todos os Ceos tomo, com suspiros arrancados do interior da minha alma, por Iuiz neste caso, da rezão & justiça que tenho em fazer a vossas merces ambos senhores Capitaẽs este requerimento em nome do meu Rey, vassallo leal por menagem jurada, que seus antepassados fizerão nas mãos do antigo Albuquerque, lião do bramido espantoso nas ondas do mar, ao poderoso Rey das naçoẽs & pouos da India, & terra do graõ Portugal, o qual então nos prometeo que não quebrando os Reys deste reyno esta menagem de leais vassallos, se lhes obrigaua aos defender a todos de seus inimigos como senhor poderoso que era.
  32. [253](Cap. 22) E despois de me pergũtar algũas cousas que quiz saber, assi da India como deste reyno, encomendando aos seus a obra que hia fazendo da fortificação da tranqueira, em que todos cõ muyto feruor andauão occupados, me tomou pela mão, & assi a pê, com seis ou sete moços fidalgos dos que aly tinha comsigo, sem outra mais companhia, me leuou à cidade, que estaria daly quasi hum quarto de legoa, onde me banqueteou em sua casa, com mostras de muyto gasalhado, & me mostrou sua molher, que he cousa que naquellas partes muyto raramente se custuma, & me disse com muytas lagrimas, vès aqui Portuguez porque sinto a vinda destes inimigos, que se não fora verme eu preso desta necessidade, & tão penhorado pelo que a honra nisto me obriga que faça, eu te juro a ley de bom Mouro que o que elle agora determina, de me fazer, eu lho fizera primeyro, sem meter nisso mais cabedal que sós os meus com minha pessoa, porque muytos dias ha que sey quem he este falso Achem, & a quanto se estende seu poder, mas val lhe que tem muyto ouro com que encobre a fraqueza dos seus, aquirindo com elle muyta gente estrangeira de que se ajuda.
  33. [302](Cap. 26) Porem antes que trate de outra cousa me pareceo necessario dar relaçaõ do fim que teue esta guerra dos Achẽs, & em que parou o aparato da sua armada, paraque fique entendida a razão do pronostico, & do receyo em que tantas vezes cõ gemidos & suspiros tenho apontado por parte da nossa Malaca, tão importãte ao estado da India, quanto (ao que parece) esquecida daquelles de quẽ com razão diuera ser mais lẽbrada, porque entẽdo que por via de razão, de duas ha de ser hũa, ou destruyrse este Achẽ, ou por seu respeito virmos nos a perder toda a banda do Sul, como he Malaca, Banda, Maluco, Çunda, Borneo, & Timor, a fora no Norte, a China, Iapaõ, Lequios, & outras muytas terras & portos em que a nação Portuguesa, por seus tratos & comercios tem mais importante & mais certo remedio de vida que em todas as outras quantas saõ descubertas do cabo de boa esperança para diante, cuja grandeza he tamanha que se estende a terra por costa em distãcia de mais de tres mil legoas, como se poderâ ver nos mapas & cartas que disso tratão, se sua graduação estiuer na verdade.
  34. [303](Cap. 26) E tambem nesta perda (que Deos por sua infinita misericordia nunca permitirà que aja, por mais descuydos & peccados que aja em nòs) se arrisca perderse a alfandega do Mandouim da cidade de Goa, que he a milhor cousa que temos na India, por que nos portos & ilhas atras nomeadas consiste a mayor parte do seu rendimento, a fora a droga de crauo, noz, & maça, que de là se traz para este reyno.
  35. [340](Cap. 30) Ovuindo Pero de Faria o que esta desconsolada Raynha publicamente lhe disse, a qual lhe trouxe aly tambem à memoria as obrigaçoẽs que tinha para lhe fazer o que lhe pedia, alcançado elle de seu descuydo, & quasi corrido por esta falta em que tinha caydo, lhe respondeo, que em ley de Christaõ, & em sua verdade lhe affirmaua, que ja sobre este caso tinha escrito duas vezes ao Visorrey, & que sem falta nenhũa esperaua aquella monção por gente & armada, se na India não ouuesse trabalho que o estoruasse, pelo que lhe aconselhaua, & pedia muyto por merce, que por em tanto se deixasse estar aly em Malaca, ate que este pouco tempo lhe mostrasse aquella verdade.
  36. [369](Cap. 32) E para effeito disto fez logo el Rey prestes com a mòr presteza que foy possiuel hũa grossa armada de duzentas vellas de remo, de que a mayor parte eraõ lancharas, joangàs, & calaluzes, & quinze juncos dalto bordo, cõ mantimentos & muniçoẽs, & as mais cousas necessarias para esta empresa, & pos nella por Capitão mòr o grande Laque Xemena seu Almirante, de quem as historias da India fazem muytas vezes menção, ao qual deu para ella dez mil homẽs de peleja, & quatro mil de chuzma, gente muyto escolhida & exercitada na guerra.
  37. [415](Cap. 36) Este Antonio de Faria trazia hũs dez ou doze mil cruzados em roupas da India que em Malaca lhe emprestaraõ, as quais eraõ de tão mà digestaõ naquella terra, que não auia pessoa que lhe prometesse nada por ellas, pelo que vendose elle de todo desesperado de as poder gastar, determinou de inuernar aly até lhe buscar espediente por qualquer via que fosse possiuel; & foy acõselhado por algũs homẽs mais antiguos na terra que a mandasse a Lugor, que era hũa cidade do reyno Sião mais abaixo para o norte cem legoas, por ser porto rico, & de grande escala, em que auia grande soma de jũcos da ilha da Iaoa, dos portos de Laue, Tanjampura, Iapara, Demaa, Panaruca, Sidayo, Passaruaõ, Solor, & Borneo, que a troco de pedraria & ouro costumauão a comprar bem aquellas fazendas.
  38. [502](Cap. 41) E apos estas preguntas lhe fez Antonio de Faria outras muytas, a que elles responderão outras muytas cousas daquella terra, assaz merecedoras de qualquer grande esprito desejar de se empregar nellas, & quiça de muyto mór proueito & menos custo, assi de sangue como de tudo o mais, do que he tudo o da India, em que tanto cabedal se tem metido atè gora.
  39. [519](Cap. 43) Chegado este homẽ jũto de Antonio de Faria, vendo elle que era brãco como qualquer de nós, lhe perguntou se era Turco ou Parsio, ao que elle respondeo que não, mas que era Christão, natural de monte Sinay, onde estaua o corpo da bemauenturada santa Caterina, a isto lhe replicou Antonio de Faria, que pois era Christão como dezia, como não andaua entre Christãos, a que elle respondeo que era mercador, & de boa progenie, por nome Tome Mostãgue, & que estãdo surto com hũa nao sua no porto de Iudaa no anno de 1538. o Soleimão Baxà Visorrey do Cayro lha mandara tomar, como fizera a mais outras sete, para trazerem mantimẽtos & muniçoẽs para fornimento da armada das sessenta galês em que vinha por mandado do Turco, para restituyr o Soltão Baudur no reyno de Cambaya, de que o Mogor naquelle tempo o tinha desapossado, & lançar os Portugueses fora da India, & que vindo elle na mesma nao para a beneficiar & arrecadar o seu frete que lhe tinhão prometido, os Turcos, alem de lhe mentirem em tudo como sempre costumão, lhe tomarão sua molher, & hũa filha pequena que trazia comsigo, & perante elle as deshonraraõ publicamente, & porque hum filho seu, chorando se lhes queixou deste grande mal, lho lançaraõ viuo ao mar, atado de pees & de mãos, & a elle meteraõ em ferros, & lhe dauão todos os dias muytos açoutes, & lhe tomarão sua fazenda, que eraõ mais de seis mil cruzados, dizẽdo, que não era licito lograr beẽs de Deos, senão os Massoleymoẽs, justos & santos assi como elles; & porque neste meyo tempo lhe faleceraõ a molher & a filha, elle como desesperado se lançara hũa noite ao mar na barra de Diu, com aquelle moço seu filho, donde por terra fora ter a Çurrate, & dahy se viera ter a Malaca em hũa nao de Garcia de Saa Capitão de Baçaim, donde por mandado de dõ Esteuão da Gama fora à China com Christouão Sardinha, que fora feitor de Maluco, o qual estando hũa noite surto em Cincaapura, o Quiay Taijão senhor daquelle junco matara cõ mais vinte & seis Portugueses, & que a elle por ser bombardeyro dera a vida, & o trazia comsigo por seu Cõdestabre.
  40. [635](Cap. 52) E por esta causa, parecendolhe que nesta enseada o poderia achar, se deteue nella mais de seis meses com assaz de trabalho, & risco de sua pessoa, no fim dos quais chegou a hũa cidade muyto nobre, & de edificios & templos assaz ricos que se dezia, Quangiparù, no porto da qual esteue surto aquelle dia, & a noite seguinte com mostras de mercador, comprando pacificamente o que lhe trazião a bordo, & por ser pouo de mais de quinze mil fogos, segundo o esmo dalgũs, tanto que foy menham se fez â vella, sem a gente da terra fazer nenhum caso disso, & tornando na volta do mar, inda que co vento algum tanto ponteyro, em doze dias de nauegaçaõ trabalhosa costeou toda a fralda da terra de ambas as costas de Sul & Norte, sem em todas ellas ver cousa de que se pudesse lançar mão, as quais eraõ pouoadas de lugares pequenos de duzentos até quinhentos vezinhos, algũs dos quais eraõ cercados de tijolo, mas não que bastasse para os defender de quaisquer bõs trinta soldados, por ser a gente toda muyto fraca, & sem armas nenhũas, mais que sòs paos tostados, & algũs treçados curtos, com hũs paueses de taboas de pinho pintados de vermelho & preto, mas o sitio do clima em sy he o milhor & o mais fertil & abastado de todas as cousas que quantos eu nunca vy, com tanta quantidade de gado vacum, que será escusado querello contar, & campinas rasas & grandissimas de trigos, arrozes, ceuadas, milhos, & muytos legumes de muytas maneyras, que a todos nos fazia pasmar, & em partes soutos de castanheyros muyto grandes, & pinhaes, & aruores de angelim como na India, para se poderem fazer infinidade de nauios, & segundo o dito de algũs mercadores de que Antonio de Faria se informou, ha aly tambem muytas minas de cobre, prata, estanho, salitre, & enxofre, com muytos campos desaproueitados de muyto boa terra, & tão perdida naquella fraca naçaõ, que se ella estiuera em nosso poder, quiça que estiueramos mais aproueitados do que hoje estamos na India por nossos peccados.
  41. [637](Cap. 53) Avendo ja sete meses & meyo que continuauamos nesta enseada de hum bordo no outro, & de rio em rio, assi em ambas as costas de Norte & Sul, como na desta ilha de Ainão, sem Antonio de Faria em todo este tempo poder ter nouas nem recado de Coja Acem, enfadados os soldados deste trabalho em que aulia tanto tempo que continuauão, se ajuntaraõ todos, & lhe requereraõ que do que tinhaõ aquirido lhes desse suas partes conforme a hum assinado que delle tinhaõ, porque com isso se querião yr para a India, ou para onde lhes bem viesse, & sobre isto ouue assaz de desgosto & enfadamentos, por fim dos quais se concertaraõ em irẽ inuernar a Sião, onde se venderia a fazenda que trazião nos juncos, & que despois de ella ser feita em ouro se faria a repartição que requeriaõ, & com este concerto jurado & assinado por todos, se vieraõ surgir a hũa ilha que se dezia dos ladroẽs, por estar mais fora da enseada que todas as outras, para dahy cõ as primeyras bafugẽs da monção fazerem sua viagem, & auendo ja doze dias que aquy estauão, & todos com muyto desejo de darem effeito a isto que tinhaõ assentado, quiz a fortuna que com a conjunçaõ da lũa noua de Oitubro, de que nos sempre tememos, veyo hum tempo tão tempestuoso de chuuas & vẽtos que não se julgou por cousa natural, & como nòs vinhamos faltos de amarras, porque as que tinhamos eraõ quasi todas gastadas, & meyas podres, tanto que o mar começou a se empollar, & o vento Sueste nos tomou em desabrigado, & trauessaõ à costa, fez hum escarceo taõ alto de vagas taõ grossas, que com quanto se buscaraõ todos os meyos possiueis para nos saluarmos, com cortar mastos, desfazer chapiteos & obras mortas de popa & de proa, alijar o conuès, guarnecer bõbas de nouo, baldear fazẽdas ao mar, & ahustar calabretes & viradores para talingar em outras ancoras com a artilharia grossa que se desencarretara dos repairos em que estaua, nada disto nos bastou para nos podermos saluar, porque como o escuro era grãde, o tempo muyto frio, o mar muyto grosso, o vento muyto rijo, as agoas cruzadas, o escarceo muyto alto, & a força da tempestade muyto terriuel, não auia cousa que bastasse a nos dar remedio senão só a misericordia de nosso Senhor, por quem todos com grandes gritos & muytas lagrimas continuamẽte chamauamos, mas como, por nossos peccados, não eramos merecedores de nos elle fazer esta merce, ordenou a sua diuina justiça, que sendo ja passadas as duas horas despois da meya noite nos deu hum pegaõ de vento taõ rijo, que todas as quatro embarcaçoẽs assi como estauão vieraõ à costa, & se fizeraõ em pedaços, onde morreraõ quinhẽtas & oitenta & seis pessoas, em que entraraõ vinte & oito Portugueses, & os mais que nos saluamos pela misericordia de nosso Senhor (que ao todo fomos cinquenta & tres, de que os vinte & dous foraõ Portugueses, & os mais, escrauos & marinheyros) nos fomos assi nùs & feridos meter num charco de agoa; no qual estiuemos atè pela menham, & como o dia foy bem claro, nos tornamos à praya, a qual achamos toda juncada de corpos mortos, cousa taõ lastimosa & espantosa de ver, que não auia homem que só desta vista não caysse pasmado no chaõ, fazendo sobre elles hum tristissimo pranto, acompanhado de muytas bofetadas que hũs & os outros dauão em sy mesmos.
  42. [694](Cap. 57) E vendoos daquella maneyra lhes perguntou pela causa de sua desauentura, & elles lha contaraõ com mostras de muyto sentimento, dizendo, que auia dezassete dias que tinhaõ partido de Liãpoo para Malaca, com proposito de passarem á India, se lhe a monção não faltasse, & que sendo tanto auante como o ilheo de Çumbor os comerera hum ladraõ Guzarate, por nome Coja Acẽ, com tres juncos & quatro lanteaas, nas quais sete embarcaçoẽs trazia quinhentos homẽs, de que os cento & cinquenta eraõ Mouros Lusoẽs, & Borneos, & Iaos, & Champaas, tudo gente da outra costa do Malayo, & pelejando com elles desde a hũa hora atè as quatro despois do meyo dia, os tomara com morte de oitenta & duas pessoas, em que entraraõ dezoito Portugueses, a fora quasi outras tãtas que leuara catiuas, & que no junco lhes tomara de emprego seu & de partes mais de cem mil taeis.
  43. [787](Cap. 65) Nós, co feruor desta vitoria arremetemos logo à porta, & nella achamos o Mandarim com obra de seiscentos homẽs comsigo, o qual estaua encima de hum bom cauallo, com hũas couraças de veludo roxo de crauação dourada do tempo antigo, as quais despois soubemos que foraõ de hum Tomè Pirez que el Rey dom Manoel da gloriosa memoria mandara por Embaixador à China, na nao de Fernão Perez Dandrade, gouernando o estado da India Lopo Soarez Dalbergaria.
  44. [915](Cap. 75) Era esta ilha toda fechada em roda com hum terrapleno de cantaria de jaspe de vinte & seis palmos em alto, feito de lageas tão primas & bem assentadas, que todo o muro parecia hũa só peça, cousa de que todos se espantaraõ muyto, porque atè então não tinhão visto em nenhũa parte, nem da India, nem de fora della, cousa que se parecesse com aquella.
  45. [1188](Cap. 96) O qual edificio fizeraõ antigamente os Chins quando senhorearaõ a India, que foy, segundo parece pela sua conta, desdo anno do Senhor de mil & treze até o de mil & setenta & dous, pela qual conta se ve que a India esteue debaixo do imperio do Chim cinquenta & noue annos somente, porque o Rey successor do que a conquistou, que se chamaua Oxiuagão, alargou por sua vontade, por entẽder quanto sangue dos seus lhe custaua o pouco proueito que tiraua della.
  46. [1787](Cap. 131) Despois de auer quasi hum més que estauamos nesta cidade, vendo muytos jogos & festas notaueis, & outras muytas maneyras de desenfadamentos que os grandes & o pouo continuamente fazião, com banquetes esplendidos todos os dias, o embaixador Tartaro que nos trouxera, fallou a el Rey sobre a nossa yda, a qual lhe elle concedeo muyto leuemente, & nos mandou logo dar embarcação para a costa da China, onde nos pareceo que achassemos nauios nossos em que nos fossemos para Malaca, & dahy para a India, o qual foy logo posto em effeito, & nòs nos fizemos prestes do necessario para a partida.
  47. [1886](Cap. 137) E encomendandome a Deos, & fazendome (como se diz) das tripas coração, por ver que não tinha aly outro remedio, & que se assi o não fizesse me auião de cortar a cabeça, preparey tudo o que era necessario para a cura, & comecey logo pela ferida da mão por me parecer a mais perigosa, & lhe dey nella sete pontos, mas se fora curado por mão de çurujão quiça que muytos menos lhe bastarão, & na ferida da testa, por ser mais pequena, lhe dey cinco somente, & lhe pus encima suas estopadas de ouos, & lhas atey muyto bem como algũas vezes vira fazer na India, & aos cinco dias lhe cortey os pontos, & continuando assi com a minha cura quiz nosso Senhor que dẽtro em vinte dias elle foy saõ, sem lhe ficar mais mal que só hum pequeno esquecimento no dedo polegar, pelo qual el Rey & todos os senhores daly por diãte me fizerão sempre muyto gasalhado, & muyta honra, & o mesmo me fizeraõ a Raynha & suas filhas, as quais me derão muytas peças de vestidos de seda, & os senhores me derão treçados & abanos, & el Rey me deu seiscẽtos taeis, de maneyra que ainda a cura me montou mais de mil & quinhentos cruzados que de lâ trouxe.
  48. [1986](Cap. 143) Tem mais toda esta terra do Lequio muyto ferro, aço, chumbo, estanho, pedrahume, salitre, enxofre, mel, cera, açucar, & grande quantidade de gengiure muyto milhor & mais perfeito que o da India.
  49. [1992](Cap. 143) Desta breue informação que tenho dado destes Lequios se pode entẽder, & assi o cuydo eu pelo que vy, que com quaisquer dous mil homẽs se tomara, & senhoreara esta ilha com todas as mais destes arcipelagos, donde resultará muyto mayor proueito que o que se tira da India, & com muyto menos custo, assi de gente como de tudo o mais, porque somente do trato nos afirmarão mercadores com que fallamos, que rendião as tres alfandegas desta ilha Lequia hum conto & meyo douro, a fora a massa de todo o reyno, & as minas de prata, cobre, latão, ferro, aço, chumbo, & estanho, que rendião ainda muyto mais que as alfandegas.
  50. [2035](Cap. 146) Auendo ja quasi oito meses que estes nossos cem homens andando nesta costa embarcados em quatro fustas muyto bem concertadas, em que tinhão tomadas vinte & tres naos de presas muyto ricas, & outros muytos nauios pequenos, as gentes que custumauão a nauegar por aquella costa andauão ja tão assombradas do nome Portuguez, que de todo deixaraõ o comercio de suas viagẽs, & vararaõ os seus nauios em terra, por onde as alfandegas destes portos de Tanauçarim, Iũçalão, Merguim, Vagaruu, & Tauay perdião muyto dos seus rendimentos, pelo que foy forçado a estes pouos darem cõta disso ao Emperador do Sornau Rey de Sião, que he senhor supremo de toda esta terra, paraque prouesse neste mal de que todos geralmente se queixauão, o qual proueo logo da cidade de Odiaa onde então estaua com muyta presteza, mandando vir da frontaria dos Lauhos hum seu capitão Turco por nome Heredim Mafamede, o qual no anno de 1538. viera de Suez na armada de Soleimão Baxà Visorrey do Cayro, quando o graõ Turco o mandou sobre a India, & desgarrando este em hũa galé do corpo da armada, veyo ter a esta costa de Tanauçarim, onde aceitou partido deste Sornau Rey de Sião, & o seruio de fronteyro mòr na arraya do reyno dos Lauhos, com doze mil cruzados de soldo por anno.
  51. [2061](Cap. 147) Partidos nos, como ja disse atras, desta ilha de Pullo Hinhor continuamos por nossa derrota na via do porto de Tanauçarim, ao negocio que já atras disse algũas vezes, & como foy noite, receoso o Piloto dos muytos baixos que tinha por proa, se fez no bordo do mar com tenção de tanto que fosse menham tornar a demandar a terra cos ventos Oestes, que ja neste tempo cursauão da India por moução tendente.
  52. [2064](Cap. 147) Elles me contaraõ que vindo da India nũa nao de Iorge Manhoz casado em Goa para o porto de Ghatigaõ no reyno de Bẽgala se perderaõ nos baixos de Racão por mà vigia que tiueraõ, & saluãdose no batel dezassete pessoas somente de oitenta & tres que vinhão na nao, caminharaõ ao longo da costa cinco dias, com tenção de se irem meter no rio de Cosmim no reyno de Peguu, para dahy se embarcarem para a India na nao do lacre del Rey, ou doutro qualquer mercador que no porto achassem, & vindo com esta determinação lhes dera hum vento Leste de sobola terra tão impetuoso, que nũa noite & num dia a perderaõ de vista.
  53. [2082](Cap. 148) Esforçado & leal capitão dos Portugueses por merce do grande Rey do cabo do mũdo, leão forte, & de bramido espantoso, com coroa de magestade na casa do Sol, eu o malafortunado Chaubainha principe que fuy, & ja não sou desta mal afortunada & catiua cidade, te faço saber por palauras ditas da minha boca na firmeza fiel de minha verdade, que eu me rendo desta hora para sempre por vassallo & subdito do grande Rey Portuguez, senhor soberano de meus filhos & meu, com reconhecença de parias, & de tributo rico qual ordenar a sua vontade, pelo que te requeyro da sua parte que tanto que Paulo de Seixas te dér esta minha carta, sem fazeres nenhũa detença te venhas logo com essas naos por junto do baluarte do caez da varella, onde me acharàs em pé esperãdo por ty para logo sem mais outro conselho me entregar em tua verdade com todo o tisouro que tenho comigo de pedraria & ouro, & da ametade delle faço liuremente seruiço a el Rey de Portugal, com tanto que me conceda licença que â custa do que me fica, faça no seu reyno ou nas fortalezas da India dous mil Portugueses a que prometo de dar grossos soldos, para com elles me restituyr no que agora me he forçado largar por minha grande desauentara.
  54. [2089](Cap. 148) E mandandoo sayr para fora da tenda se praticou sobre a resolução deste feito, em o qual por peccados nossos se não tomou nenhũa, por auer nesta junta tantas diuersidades de opinioẽs & de pareceres, que Babylonia em seu tempo não lançou de sy mais variedades de lingoas, de que a principal causa, segredo se disse, foy, a inueja de seis ou sete homens que querião presumir de fidalgos que se acharaõ aly presentes, os quais tendo para sy que se Deos permitisse que este negocio socedesse como se esperaua; o Ioão Cayeyro só (a quem os mais não tinhão boa võtade) ficaria daquy cõ tamanho nome & tanta honra, que seria pouco, como elles despois dezião, fazelo el Rey Marquez, ou quando menos, Gouernador da India.
  55. [2141](Cap. 151) E feita assi a esmo a aualiaçaõ & a lista desta desauenturada vingãça, se disse que morreraõ a fome, & a ferro cento & sessenta mil pessoas, a fora quasi outras tantas catiuas, & foraõ queimadas cento & quarenta mil casas, & mil & seiscẽtos templos, nos quais dizem que arderão sessenta mil estatuas de idolos, a mayor parte dellas cozidas em ouro, & tres mil elifãtes que se comeraõ no cerco, & seys mil peças de artilharia de ferro & de brõzo, & cem mil quintais de pimenta, & quasi outros tantos de drogas, sandalo, beijoim, lacre, pucho, roçamalha, aguila, canfora, seda, & outras muytas sortes de fazendas muyto ricas, & sobre tudo infinidade de roupas que de todas as partes da India aly tinhão vindo em mais de cem naos de Cambaya, Aachem, Melinde, Ceilão, & de todo o estreyto de Meca, Lequios, & China.
  56. [2242](Cap. 158) E costeãdo por elle acima espaço de mais sete dias, chegamos a hũa cidade pequena & bem cercada, que se dezia Gumbim, do reyno do Iangomaa, rodeada da parte do sertão em distancia de cinco ou seys legoas de aruoredo de beijoim, & de campinas de lacre, o qual desta cidade se leua de veniaga a Martauão, onde se carregão muytas naos delle para diuersas partes da India, para o estreito de Meca, para Alcocer, & Iudaa.
  57. [2335](Cap. 162) O tẽplo desta hospedaria era hũa casa muyto grande de tres naues, a modo das nossas igreijas, no meyo da qual estaua hũa capella redonda, fechada cõ tres ordẽs de grades de latão muyto grossas cõ seus aldrabẽs nas portas da mesma maneyra, & dentro nella estauão oitenta estatuas de idolos em vultos de homẽs, & de molheres, com outra soma de outros mais pequenos deitados no chão, & os oitẽta sómente, que erão os mayores, estauão em pé, presos todos por cadeas de ferro, & cõ colares grossos do mesmo aos pescoços, & algũs cõ algemas nas mãos, & os pequenos que jazião no chão como filhos destes mayores, estauão cingidos pelas cintas de seis em seis com outras cadeas mais delgadas, & por fora das grades em duas outras fileyras de tres em tres a fileyra, estauão duzentos & quarenta & quatro gigantes de bronzo, de vinte & cinco palmos cada hum, com suas alabardas & maças âs costas, como que guardauão os outros que estauão presos, & em todo cima, em tirantes de ferro que tomauão toda a largura da naue, estaua hũa muyto grãde soma de luminarias a modo de cãdieyros da India de dez torcidas cada hũ, os quais erão inuernizados, como tambem o erão as paredes da casa, & tudo o mais que se via nella, em sinal de tristeza pelo seu catiueyro.
  58. [2578](Cap. 172) Como da India me fuy para a Çunda, & do que lâ passou num inuerno que ahy estiue.
  59. [2631](Cap. 176) E elle despois que de todo acabou de entrar em sy, chorando muyta quantidade de lagrimas nos disse: Eu senhores & irmãos meus, sou Christão, inda que no trajo volo não pareça, & Portuguez de pay & mãy, natural de Penamacor, & chamaõme Nuno Rodriguez Taborda, & vim do reyno na armada do Marichal no anno de 1513. na nao S. Ioaõ, de que era capitão Ruy Diaz Pereyra, & por eu ser hum homẽ hõrado, & que de mim dey sempre mostras disso, Afonso d’Albuquerque que Deos tenha na gloria me fez merce da capitania de hũ bargãtim de quatro que inda sómente auia na India naquelle tẽpo, & me achey cõ elle na tomada de Goa, & de Malaca, & lhe ajudey a fazer Calecut, & Ormuz, & me achey presẽte em todos os feitos hõrosos que se fizersõ assi em seu tẽpo, como no de Lopo Soarez, & no de Diogo Lopez de Siqueyra, & dos outros gouernadores ate dõ Anrique de Meneses, que socedeo por morte do Visorrey dõ Vasco da Gama, que no principio da sua gouernação proueo a Frãcisco de Sá de hũa armada de doze vellas, em que leuaua 300. homẽs para fazer fortaleza em Çunda, pelo receyo que então se tinha dos Castelhanos que naquelle tẽpo cõtinuauão Maluco pela noua viagem que o Magalhẽs descubrira, na qual armada eu vim por capitão em hum bargantim que se dezia S. Iorge com vinte & seis homẽs muyto esforçados, que partimos da barra de Bintão quando Pero Mascarenhas o destruyo, & sendo tanto auante como a ilha de Lingua, nos deu hũ tempo tão forte que não o podẽdo payrar, nos foy forçado arribarmos â Iaoa, onde dos sete nauios de remo que eramos se perderaõ os seys, dos quais foy hũ o meu por meus peccados, porque vim dar â costa aquy nesta terra em que agora estamos, ha ja vinte & tres annos, sem de todos os que vinhamos no bargantim escaparem mais que sós très companheyros, dos quais eu só agora sou viuo, & prouuera a Deos nosso Senhor que antes fora morto, porque sẽdo eu por muytas vezes cometido por estes Gẽtios que quisesse seguir suas opinioẽs, o não quiz fazer muyto tẽpo; mas como a carne he fraca, & a fome era grãde, & a pobreza muyto mayor, & a esperãça da liberdade era perdida, a distancia do mesmo tẽpo, & meus peccados foraõ causa de cõdecender a seus rogos, por onde o pay deste Rey me fauoreceo sẽpre, & porque eu ontẽ fuy chamado de hũ lugar em que viuia para vir curar dous homẽs nobres dos principais desta terra, quiz N. Senhor que me tomassem estes perros, para o eu ficar sendo menos, pelo que N. Señor seja bẽdito para todo sẽpre.
  60. [2716](Cap. 183) A primeira foy que no anno de 1540. sendo Pero de Faria capitão de Malaca lhe escreueo el Rey dom Ioaõ o terceyro da gloriosa memoria hũa carta, em que lhe mandaua & encomẽdaua muito que trabalhasse todo o possiuel por resgatar hũ Domingos de Seixas que estaua catiuo em Sião auia vinte & tres annos, por ser assi muito necessario ao seruiço de Deos & ao seu, por ser informado que delle mais que de outrem ninguẽ poderia saber a verdadeyra certeza das cousas daquelle reyno de que tãtas grãdezas lhe contauão, & que effeituandose o seu resgate o mandasse logo à India ao Visorrey dom Garcia, a quem jà tinha escrito sobre elle, para que nas naos daquelle anno lho mandasse a este reyno.
  61. [2768](Cap. 185) Ouuindo o Rey do Bramaa todas estas razoẽs & outras muytas que os seus lhe deraõ neste conselho, pondolhe sempre em todas diante o interesse, que he hũa força a que ninguem se defende, se determinou em tomar esta empresa que os seus lhe aconselhauão; & para effeito disto se passou a Martauão, onde em tempo de dous meses & meyo ajuntou hum campo de oitocentos mil homẽs, em que auia cem mil estrangeyros, dos quais os mil eraõ Portugueses, de que era capitão Diogo Soarez Dalbergaria que de alcunha se chamaua o Galego, o qual fora deste reyno para a India no anno de 1538. na armada em que foy o Visorrey dom Garcia de Noronha na nao Iunco, de que era capitão Ioaõ de Sepulueda de Euora, que hia prouido em capitão de Çofalla.
  62. [2814](Cap. 189) Por quanto ategora tratey do successo que teue esta ida do Rey do Bramaa ao reyno de Sião, & do aleuantamẽto do reyno de Pegù, pareceme que não virá fora de proposito tratar aquy, inda que breuemente, do sitio, grandeza, abastança, riqueza, & fertilidade que vy neste reyno de Sião & imperio Sornau, & quanto mais proueitoso nos fora telo antes senhoreado que tudo quanto temos na India, & com muyto menos custo do que ategora nos tem feito.
  63. [2824](Cap. 189) A costa deste reyno bebe em ambos os mares de Norte & de Sul, no da India por Iunçalão & Tanauçarim, & no da China por Mõpolocota, Cuy, Lugor, Chintabu, & Berdio.
  64. [2963](Cap. 196) A Gonçallo Pacheco, & á Nuno Fernandez Teixeira, por serem os seus dous Iuizes nesta sentẽça mandou el Rey dar dez biças douro, com que as esportulas, & ò presente que lhe leuarão ficou tudo bem pago, â fora hũa licença escrita de sua letra, para que todos os Portugueses se pudessem yr liuremente para â India cada vez que quisessem sem pagarem direyto ninhum de suas fazendas, ò que elles estimarão mais que quanto dinheyro se lhes pudera dar, porque auia jâ tres annos que à maneyra de reteudos nos detinhão os Reys passados naquella terra, com auexaçoẽs & tiranias muyto grãdes, corrẽdo algũas vezes muyto risco de nossas vidas por causa dos sucessos de que âtras tenho tratado.
  65. [3016](Cap. 200) Porẽ agora não tratarey mais delle, & daquy por diãte direy o que socedeo noutras partes até o tẽpo em que este mesmo Chaumigrẽ Rey Bramà tornou sobre o reyno de Sião cõ hũ taõ grosso exercito de gẽte quãto outro Rey nenhũ nũca ajũtou na India, que foy de hũ cõto & setecẽtos mil homẽs, & dezasseis mil elifantes, noue mil da bagage, & sete mil de peleja.
  66. [3019](Cap. 200) Despois que estas reuoltas que atras disse, foraõ todas quietas, Gõçallo Pacheco se despidio desta cidade Pègù, cõ todos os mais Portugueses que nella estauamos, a quẽ este nouo Rey Bramá tinha libertado, da maneira que atras fica dito, mãdandolhe entregar liuremẽte suas fazedas, & fazendolhe outras muitas merces, assi de honras como de liberdades, & nos embarcamos todos os cento & sessenta Portugueses em cinco naos que neste tẽpo estauão no porto de Cosmim, cidade das principais deste reyno, & nellas nos espalhamos, como peregrinos que somos na India, por diuersas partes, onde a cada hũ lhe parecia que poderia fazer milhor seu proueito.
  67. [3072](Cap. 203) De hũa grossa armada que o Rey do Achem neste tempo mandou sobre Malaca, & do que nisso fez o padre mestre Frãcisco Xauier, reytor da Companhia de Iesu nas partes da India.
  68. [3074](Cap. 203) E temendo nos então cometer a entrada do rio, porque estaua por todas as partes tomado por este cossayro, corremos auante até Lamau, onde nos prouemos de algũs mantimentos que nos bastaraõ ate chegarmos a Malaca, onde achamos o padre mestre Francisco Xauier Reitor vniuersal da cõpanhia de Iesu nas partes da India, que auia poucos dias que chegara de Maluco, com grande nome de santo na voz de todo o pouo por milagres que lhe lâ viraõ fazer, ou, para mais acertado, que Deos nosso Senhor por elle fizera.
  69. [3077](Cap. 203) Elle mostrou aluoroçarse tanto com isto, que nos, por isto que nelle vimos, nos fomos à nao, & trouxemos o Iapaõ ao esprital onde elle pousaua; o qual o recolheo então comsigo, & o leuou daly para a India para onde estaua de caminho, & despois que chegou a Goa o fez lá Christaõ, & lhe pós nome Paulo de santa Fé, o qual em pouco tempo soube ler & escreuer, & toda a doutrina Christã conforme á determinação deste bemauenturado padre, que era, tanto que viesse aquella moução de Abril, yr denunciar ao barbarismo desta ilha Iapaõ Christo Filho de Deos viuo posto na Cruz por peccadores, como elle custumaua dizer, & leuar este homem comsigo para seu interprete, como despois leuou & ao seu companheyro que tambem com elle juntamente se fez Christão, a que o padre pós nome Ioanne, os quais ambos lhe foraõ lâ despois muyto fieis em tudo o que cumprio ao seruiço de Deos, & por cuja causa o Paulo de santa Fè despois foy desterrado para a China, onde foy morto por hũs ladroẽs, como adiãte declararey quando fallar deste desterro.
  70. [3078](Cap. 203) Partido este santo padre daquy de Malaca, para na India effeituar com o Gouernador esta ida a Iapaõ, Simão de Mello, que então, como já disse, era capitão da fortaleza, escreueo delle o que naquellas partes de Maluco fizera por augmentação da nossa santa Fé, & as marauilhas que Deos nosso Senhor por elle obrara.
  71. [3181](Cap. 208) Despois de passada esta gloriosa batalha em que Deos nosso Senhor quiz acreditar este seu bemauenturado seruo assi co que na armada primeyro fez, como co que della despois disse, para confusaõ & arrependimẽto dos maldizentes, por meyo dos quais o inimigo infernal tanto trabalhou pelo desacreditar, elle se partio desta cidade de Malaca para a India naquelle Dezembro seguinte do mesmo anno de 1547. com determinação de pòr em effeito a sua ida ao Iapaõ, & leuou comsigo o Angiroo que despois de Christaõ se chamou Paulo de santa fé, como ja disse, onde aquelle anno se não pode auiar para o effeito do que desejaua, por causa das obrigaçoẽs do seu officio, que era Reitor vniuersal dos collegios da India da cõpanhia de Iesu, & pela morte do Visorrey dom Ioão de Castro que falleceo em Goa o Iunho seguinte do anno de 1548. porem Garcia de Saa que lhe socedeo na gouernança, o despachou o Abril do outro anno de 1549 com prouisoẽs para dom Pedro da Sylua que entaõ era capitaõ de Malaca, lhe dar lá embarcação para onde o Deos encaminhasse.
  72. [3198](Cap. 208) merces, mas porque esta noua me não pareceo tão verdadeyra como em meu coração desejo, determiney de mãdar saber por esse Christão a certeza della, pelo que lhes peço muyto que me mandẽ dizer donde vẽ, & de que porto partiraõ, & em que tẽpo determinão tornar para a China, porque queria, se Deos N. Senhor for disso seruido, trabalhar o possiuel por passar este anno à India, & de sy me escreuão por seus nomes, o da nao, & o do capitão della, & toda a mais certeza da paz & da quietação de Malaca, & se aparelhẽ, cõ furtarẽ aos negocios hũ pedaço de tẽpo, para examinarem suas consciencias, porque esta he a fazẽda em que o ganho està mais certo que na seda da China, por muyto que se nella dobre o dinheyro, porque eu determino, se Deos N. Senhor for seruido, ser lâ logo cõ elles tãto que vir seu recado, Christo Iesu, por quẽ he, nos tenha a todos de sua mão, & nos conserue nesta vida por graça no seu santo seruiço, amen.
  73. [3200](Cap. 208) O mensageyro cõ esta carta chegou onde nos estauamos, & de todos foy tão bẽ recebido como era razão, & lhe responderaõ logo por seis ou sete vias, assi o capitão como os mercadores, em que lhe derão muitas nouas da India & de Malaca, & que elles determinauão de se partirẽ daly a hũ més para a China cõ a sua nao, onde ficauão tres á carga que em Ianeyro auião de yr para Goa, em hũa das quais estaua seu amigo Diogo Pereyra, com quẽ sua reuerencia iria muyto á sua vontade.
  74. [3374](Cap. 215) E por esta razão desejoso este seruo de Deos, pelo grande zelo que tinha da sua honra, & da sua fé, de lhe naõ ficar isto por fazer, assi para acabar de tomar conclusaõ com hũs, como para dar noticia desta verdade aos outros, se partio para a India cõ pensamento de dar conta de todas estas cousas ao Visorrey, & lhe pedir que o ajudasse com todos os meyos possiueis, para o effeito desta sua determinação.
  75. [3375](Cap. 215) Este negocio pos o padre em pratica perante os mais entendidos que hião na nao, & lhe pedio nelle seus pareceres, por serem homens que desta monarchia da China tinhaõ muyto conhecimento & experiencia, & elles lhe responderaõ que por nenhum caso era possiuel ter o padre entrada na China para aquelle effeito, senaõ com o Visorrey da India mandar lâ hum embaixador em nome del Rey nosso Senhor para mais autoridade, & com hum grande presente, offerecendolhe sua amizade noua com palauras formadas ao modo com que se lhe custuma falar.
  76. [3376](Cap. 215) E porque para tamanha cousa como esta auia mister muyta fabrica, & hũ presente de peças muyto ricas, se duuidou querer o Visorrey fazelo, de que o padre mostrou sentimento, por lhe parecer que era aquillo verdade, & porque tambem ponderaua os inconuenientes que o tempo & os trabalhos do estado da India para isso podião trazer.
  77. [3378](Cap. 215) Chegados com esta determinação a Malaca, o padre se embarcou logo daly para a India, & Diogo Pereyra ficou com a nao em Malaca para yr à Çũda carregar de pimenta, & mandou em companhia do padre hum Francisco de Caminha seu feitor com trinta mil cruzados em almizcre & seda para se comprar delles todo o necessario.
  78. [3381](Cap. 215) E trabalhando o padre todo o possiuel por soldar com sua virtude esta quebra, & esta discordia, nunca já mais pode, porque como ella estaua fundada em odio & cubiça, & o demonio era o que atiçaua este fogo, em vinte & seis dias em que sobre isso se fizerão algũas diligencias nunca o capitão quiz conceder no que o padre pedia, nem dar licẽça paraque Diogo Pereyra o leuasse â China, como da India vinha ordenado, com hum grandissimo gasto jâ feito, dando em tudo nouos entendimentos ás prouisoẽs do Visorrey, & dizendo a modo de escarneo que aquelle Diogo Pereyra que sua senhoria dezia era hum fidalgo que ficaua em Portugal, & não aquelle que o padre apresentaua, que fora ontem criado de dõ Gonçallo Coutinho, & não tinha partes para yr por embaixador a hum tamanho monarcha como era o Rey da China.
  79. [3406](Cap. 216) Da maneyra de que foy enterrado este defunto, & trazido a Malaca, & dahy â India.
  80. [3412](Cap. 216) Nesta irmida foy enterrado com muyta dòr & sentimento de todos, & ahy esteue mais noue meses, que foy de dezassete dias de Março até onze do Dezembro seguinte de 1553. Neste dia foy desenterrado este corpo, & metido em outra caixa que Diogo Pereyra lhe mandara fazer forrada de damasco, cuberta por cima com hum panno de brocado, & daquy desta irmida de N. Senhora do outeyro foy leuado em procissaõ acõpanhado de muyta gẽte nobre, ate o meterẽ em hũ batel que jâ estaua prestes, bẽ concertado cõ alcatifas ricas, & cõ toldo de seda, no qual foy leuado a hũa nao de hum Lopo de Loronha que estaua para partir para a India, & o embarcaraõ nella, & forão cõ elle dous irmãos da cõpanhia de Iesu, hum chamado Pero Dalcaçoua, & outro Ioão de Tauora que despois esteue no collegio de Euora, os quais o acompanharão até a India, no qual caminho, que he de distancia de quinhẽtas legoas, se viraõ algũs milagres euidentes, segundo todos os que na nao vinhaõ despois testemunharão em Goa ao Visorrey dom Afonso de Noronha, dos quais me escuso dar relação por serem muito notorios a toda a gente, & por não gastar o tempo em escreuer o que sey que outros jâ escreuerão.
  81. [3428](Cap. 218) Chegado este catur em que vinha este santo corpo ao caiz da cidade onde auia de desembarcar, achou jâ nelle o Visorrey que o estaua esperando com seu estado de porteyros com maças de prata, acompanhado de toda a fidalguia da India, com outra tamanha quantidade de gente do pouo que quatro Alcaides tinhaõ bem que fazer em preparar o caminho.
  82. [3439](Cap. 218) Illustre & de magestade muyto rica senhor Visorrey dos limites da India, leão espantoso nas ondas do mar, por força de naos & de bombardas grossas, eu Yacataa andono Rey do Bungo, de Facataa, de Omanguche, & da terra de ambos os mares, senhor dos Reys pequenos das ilhas da Tosa, Xemenaxeque, Miaygimaa, te faço saber por esta minha carta que ouuindo eu os dias passados o padre Frãcisco Chenchicogim praticar da noua ley do criador de todas as cousas que ás gẽtes de Omanguche andaua pregando lhe promety em segredo fechado em meu coração que tornãdo elle a este meu reyno tomaria de sua mão o nome & a agoa do santo bautismo, inda que a nouidade de tamanho abalo me pusesse em discordia cõ meus vassallos, & elle me prometeo tambẽ que dandolhe Deos vida tornaria muyto cedo, & porque esta sua tardança se estẽdeo mais do que minha esperança cuydaua, quis lâ mandar este homẽ a saber delle & de vossa senhoria a causa que lhe impede a sua vinda.
  83. [3446](Cap. 219) Como o padre mestre Belchior partio da India para Iapão, & a causa porque não passou de Malaca, & do que nella socedeo neste tempo.
  84. [3447](Cap. 219) Passados mais quatorze dias, que foy aos dezasseis de Abril do anno de 1554. o padre reitor mestre Belchior se partio para Maluca em hũa nao em que hia dom Antonio de Noronha filho de dom Garcia de Noronha Visorrey que fora da India, a tomar posse da capitania daquella fortaleza, porque o Visorrey mandaua prender dom Aluaro de Tayde capitão della, por lhe não obedecer a suas prouisoẽs, & por outras culpas que tinha delle, das quais tenho por escusado tratar aquy particularmente, porque não fazem a meu proposito.
  85. [3449](Cap. 219) E despois que sahio da igreija, que seria quasi âs onze horas, o licenciado Gaspar Iorge, Ouuidor geral da India, que hia fazer esta diligencia, mandando tocar hũ sino fez ajuntar o pouo todo, & lhe mostrou as prouisoẽs que leuaua do Visorrey, & apos isso tirando hũs apontamentos que leuaua de fora, fez por elles muytas preguntas a dõ Aluaro, de que se fazia termo por dous escriuaẽs, nos quais ambos assinauão com o ouuidor & capitaõ, em que ouue muyta detença.
  86. [3455](Cap. 219) Neste tempo continuando o Ouuidor Gaspar Iorge pelas rigurosas execuçoẽs que cada dia fazia nũs & noutros, deu motiuo de muyto escandalo em toda a terra, & não contente com isso, confiado nas largas prouisoẽs que o Visorrey lhe dera, se quis entremeter na jurisdiçaõ do capitão dom Antonio, & se apoderou tanto della que ao capitão lhe não ficaua mais que só o nome, & ser hum olheyro da fortaleza, o qual inda que elle o sintia muyto, todauia o começou a yr pairando com muyto sofrimento, porem correndo estas demasias & solturas do ouuidor por mais de quatro meses, em que ouue muytos desgostos, de que aquy naõ trato particularmente por ser processo infinito, vendo hum dia o dom Antonio o tempo disposto para effeituar o que já dantes parece que tinha determinado, o prendeo, hũa sesta na fortaleza, onde por algũs, que já para isso estauão prestes, foy metido em hũa casa, & aly, segundo se disse, foy despido & atado cõ hũa corda de peis & de mãos, & despois de bem açoutado, & pingado com hũas torcidas de azeite, de que esteue para morrer, lhe lãçaraõ hũs grilhoẽs nos peis, & hũas algemas nas mãos, & hum colar no pescoço, & lhe depennarão todas as barbas sem lhe ficar hum sò cabello no rosto, & lhe fizeraõ outras cousas a este modo, segundo se então disse publicamente, de maneyra que o pobre licenciado Gaspar Iorge, que se intitulaua Ouuidor geral da India, prouedor mòr dos defuntos & dos orfaõs, veador da fazenda de Malaca & das partes do Sul por el Rey nosso senhor, foy por dom Antonio tratado desta maneyra, se he verdade o que se disse.
  87. [3456](Cap. 219) E vinda a moução, assi preso em ferros foy mandado â India com hũa fea deuassa que se tirou delle, a qual os letrados da rolaçaõ de Goa despois anullaraõ, & mandaraõ tirar outra de nouo a Malaca, & ao dom Antonio pelo que fizera mandou o Visorrey dõ Pedro Mascarenhas, que jà a este tẽpo gouernaua o estado da India, vir preso, para estar a juizo co Gaspar Iorge, & dar razão do que lhe fizera.
  88. [3457](Cap. 219) O qual dom Antonio se veyo logo à India, onde andandose liurãdo deste feito lhe mandaraõ na rolação que dentro em tres dias contrariasse hum feyo libello com que o Gaspar Iorge veyo contra elle, & porque o dom Antonio naturalmente era contrario destes termos judiciais de replicas & treplicas cõ que se dezia que os desembargadores o querião enfadar, parece (segundo então disseraõ os praguentos, porque eu não o vy, nem o sey de certo) que não quis gastar em respõder ao libello todos os tres dias que lhe foraõ dados de termo, mas dentro de vinte & quatro horas deu co Gaspar Iorge em parte donde nũca mais se leuantou, & segundo tambem se disse, com hum bom bocado que lhe deraõ num banquete, por onde este negocio cessou de todo, & o dom Antonio por sentença foy solto & liure, & que tornasse a seruir a sua capitania, para onde se partio logo daly a hum més, porem chegado a Malaca & metido de posse não durou mais nella que sós dous meses & meyo, no fim dos quais falleceo de camaras de sangue.
  89. [3478](Cap. 221) De maneyra que se dezia geralmente que era a mais nobre, rica, & abastada pouoaçaõ de quantas auia em toda a India, & do seu tamanho em toda a Asia, & quando os escriuaẽs passauão algũs precatorios para Malaca, ou os taballiaẽs fazião algũas escrituras dezião, nesta muyto nobre & sempre leal cidade de Liampoo por el Rey nosso senhor.
  90. [3484](Cap. 221) E isto acõteceo no anno de 1542. gouernando o estado da India Martim Afonso de Sousa, & sendo capitaõ de Malaca Ruy Vaz Pereyra Marramaque.
  91. [3520](Cap. 223) Partido eu da cidade, cheguey o outro dia âs noue horas a hũ lugar que se dezia Fingau que seria hũ quarto de legoa da fortaleza de Osquy, donde por hũ dos Iapoẽs que leuaua comigo mandey dizer ao Osquim dono capitão della como eu era aly chegado, & que trazia hũa embaixada do Visorrey da India para sua alteza, pelo que lhe pedia me mandasse dizer quando queria que lhe fallasse; a que me elle respondeo logo por hũ seu filho, que a minha vinda cõ a de todos os meus cõpanheyros fosse muyto boa, & que jâ tinha mandado recado a el Rey à ilha do Xeque para onde fora ante menham cõ muyta gente a matar hũ grãde peixe, a que se não sabia o nome, que do centro do mar aly viera ter com outra grande soma de peixes pequenos, & que pelo ter cercado já num esteyro lhe parecia que não poderia vir senão de noite, mas que do que sua alteza lhe respondesse me mandaria logo recado, mas que entre tanto descançasse noutras casas milhores em que me mãdaua apousentar, onde seria prouido de tudo o necessario, porque toda aquella terra era tanto del Rey de Portugal como Malaca, Cochim, & Goa.
  92. [3550](Cap. 224) Da maneyra que el Rey do Bungo recebeo a embaixada do Visorrey da India.
  93. [3580](Cap. 225) Passados mais dous meses & meyo em que el Rey neste caso não deu mais de sy que somente algũas esperanças, acompanhadas às vezes de algũas desculpas, que ao padre naõ satisfizeraõ, lhe pareceo bem ao padre tornarse para a India, assi para cumprir com a obrigaçaõ do seu cargo, como por outras razoẽs que para isso o moueraõ.
  94. [3586](Cap. 226) Do que passey despois que partimos deste porto do Xeque atê chegar â India, & dahy a este reyno.
  95. [3587](Cap. 226) Vellejãdo nos deste porto do Xeque por nossa derrota cõ vẽtos Nortes de moução tendẽte, chegamos a Lampacau aos quatro de Dezembro, onde achamos seis naos Portuguesas, de que era capitaõ mòr hum mercador que se chamaua Francisco Martinz, feitura de Francisco Barreto que então gouernaua o estado da India por successaõ de dõ Pedro Mascarenhas, & porque jà a este tempo a monção da India era quasi gastada; não fez aquy o nosso capitão dom Francisco Mascarenhas mais detença que em quanto se proueo de mantimentos para a viagem.
  96. [3589](Cap. 226) Elle despois que esteue vendo tudo muyto deuagar, me disse, certeficouos em toda a verdade que tanto prezo estas armas & peças que me agora trouxestes como a propria gouernança da India, porque com ellas, & com esta carta de el Rey de Iapaõ espero de agradar tanto a el Rey nosso senhor que despois de Deos ellas me liurem do castello de Lisboa, onde os mais dos que gouernamos este estado himos desembarcar por nossos peccados.
  97. [3592](Cap. 226) Prouue a nosso Senhor que cheguey a saluamento â cidade de Lisboa aos vinte & dous de Setembro do anno de 1558. gouernãdo então este reyno a Raynha dona Caterina nossa Senhora que santa gloria aja, a quem dey a carta que lhe trazia do Gouernador da India, & lhe relatey por palaura tudo o que me pareceo que fazia ao bẽ do meu negocio: ella me remeteo ao official que então tinha a cargo tratar destes negocios, o qual com boas palauras & milhores esperanças, que eu então tinha por muyto certas, pelo que me elle dezia, me teue os tristes papeis quatro annos & meyo, no fim dos quais não tirey outro fruito senão os trabalhos & pesadumes que passey no requerimento, que não sey se diga que me foraõ mais pesados que quantos passey no discurso do tempo atras.

(2) Objecto geográfico interpretado

Região. Parte de: Asia.

Referente contemporâneo: Republic of India, India (AS). Lat. 22.000000, long. 79.000000.

Região. FMP usa o termo Índia com o sentido de abrange a região meridional da Ásia, península hindustânica (mais uma região asiática como Arábia Felix, China, Tartária ou Samatra). ‘Estado da Índia’ refere-se aos interesses portugueses na Ásia no seu conjunto.

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