O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Meleitay. Meleitais 195(1).

Nas orações: 2948.

  1. [2948](Cap. 195) Hum mao homem da nação de vosoutros, botando hũa faisca do seu infernal peito, bafejada pela fornalha da maldita discordia, amotinou tres naçoẽs estrangeyras de Chaloẽs, Meleitais, & Sauadis, no cãpo del Rey meu senhor, de que foy causa a maldade & a cubiça do amutinador & dos amotinados, & o mal que daquy resultou chegou a tanto, que o cãpo esteue quasi de todo perdido, cõ morte de tres mil Bramaas, & a pessoa real se vio posta em tanto trabalho & perigo, que lhe foy necessario retirarse para hũ forte, no qual esteue tres dias, & inda agora fica nelle sem ousar de se fiar de nenhũa nação estrangeyra.

Meleitay 150(1), 155(1), 156(5), 157(1), 194(1).

Nas orações: 2114, 2206, 2218, 2219, 2220, 2221, 2227, 2233, 2926.

  1. [2114](Cap. 150) Sendo ja quasi a hũa hora despois do meyo dia se tirou hũa bombarda, ao qual sinal as portas da cidade foraõ logo abertas, & primeyro que tudo começou a sayr a guarda que el Rey o dia dantes lhe mandara pòr, que erão quatro mil Sioẽs & Bramaas, todos arcabuzeyros, & alabardeyros, & piqueyros, com mais trezẽtos elifantes armados, de que era Capitão hũ Bramaa tio del Rey por nome Mõpocasser, Bainhaa da cidade de Meleitay no reyno do Chaleu.
  2. [2206](Cap. 155) Apos este successo ficou a cousa quieta por espaço de doze dias em que nos de fora não ouue nenhum rebuliço, & neste tempo hum capitão dos quatro principais da cidade por nome Xemim Meleitay, temendo o que geralmente já todos temião, que era não poderem escapar a este inimigo que os tinha cercados, se carteou secretamente com elle, com partido de o deixar liuremente possuyr seu estado, & lhe não tocasse em casa de nenhum seu familiar, & o fizesse no reyno Pegù Xemim de Ansedaa cõ toda a renda que nelle tiuera o Bainhaa de Malacou, que eraõ trinta mil cruzados, & que elle lhe entregaria a cidade dandolhe entrada nella por hũa porta que tinha a seu cargo.
  3. [2218](Cap. 156) Como o Rey do Bramaa foy sobre a cidade de Meleitay onde estaua o principe do Auaa cõ trinta mil homẽs, & do que socedeo nesta yda.
  4. [2219](Cap. 156) Quatorze dias auia ja que estas cousas erão passadas, nos quais o tyranno se occupou sempre em fortificar a cidade cõ grande presteza & cuydado, quando lhe chegou noua certa pelas espias que nisso trazia, que da cidade do Auaa era partida pelo rio de Queitor abaixo hũa armada de quatrocentas vellas de remo, em que vinhão trinta mil homẽs do Siammõ, a fora a chuzma & a gente da mareação, de que vinha por general hum filho do Rey do Auaa irmão da pobre Raynha, o qual sendo auisado da perdição da cidade de Prom, & da morte de sua irmã, & de seu cunhado, se alojara na fortaleza de Meleitay, que era daly dezoito legoas do Prom pelo rio acima, a qual noua fez no tyrãno tamanho abalo, que lhe foy necessario yr logo em pessoa sobre esta gente, antes que lhe viesse o outro socorro que tinha por nouas que se ficaua fazendo prestes em que vinha o Rey do Auaa por general de oitenta mil Moẽs.
  5. [2220](Cap. 156) E com esta determinaçaõ se partio logo este tyranno Bramaa em busca desta gẽte que estaua no Meleitay, & leuou comsigo hũ exercito de trezentos mil homẽs, os duzentos mil por terra ao longo do rio, de que hia por capitão o Chaumigrem seu colaço, & os cẽ mil leuou elle em sua cõpanhia pelo rio em dous mil seroos, & todos huns & outros gente muyto escolhida.
  6. [2221](Cap. 156) E chegando â vista do Meleitay, os Auaas por mostrarẽ quanto mayor impressaõ fazia nelles a determinação com que aly vierão, que o temor que tinhão diante, & arreceando que os inimigos lhe pudessem tomar a sua armada que tinhaõ no rio, que para elles seria hũa muyto grande afronta, lhe puseraõ o fogo, & determinados todos com hũa brutal oufania, de vingarem a offensa que era feita ao seu Rey, sem porem diante aquillo que naturalmente a carne mais arreceya, se puseraõ todos em campo, & se fizeraõ em quatro batalhas, nas tres, que erão de dez mil homẽs cada hũa, hiaõ os trinta mil Moẽs, & na outra, que era hum pouco mais grossa, hia toda a chuzma do remo das quatrocentas vellas que tinhaõ queimado.
  7. [2227](Cap. 156) Esta peleja duraria pouco mais de hum quarto de hora, & não se acabou senão despois que os 800. Moẽs foraõ de todo consumidos, sem auer nenhũ que se quisesse dar a partido, & vendo o tyrãno Bramaa a peleja acabada, & a cousa jà de todo quieta, se tornou a recolher ao campo, & ajuntando outra vez a gẽte, entrou na fortaleza de Meleitay, onde mandou logo cortar a cabeça ao Xemim, dizẽdo que elle fora causa daquelle desastre que lhe acõtecera, porque quem fora tredro ao seu Rey não lhe podia a elle ser muyto leal, & este foy o pago que o tyranno lhe deu por lhe entregar a cidade do Prom, mas bem deuido a quẽ entregou seu Rey & a sua mesma patria em poder de seus inimigos.
  8. [2233](Cap. 157) Pelo qual o Siammon se lhe obrigou de o tomar debaixo do seu emparo, & se pór em pessoa em campo por elle todas as vezes que lhe fosse necessario, & o restituyr no reyno do Prom dentro de hum anno, para o que lhe logo deu cento & trinta mil homẽs, os trinta mil do socorro que o Bramaa tinha morto no Meleitay, & os vinte mil que aquy estauão nesta cidade, & os oitenta mil porque se esperaua, de que o mesmo Rey do Auaa vinha por general.
  9. [2926](Cap. 194) E hũa terça feyra quatro dias de Abril ao meyo dia, sendo auisado que o campo dos inimigos estaua alojado ao lõgo do rio de Meleitay doze legoas daly, se deu tãta pressa que naquelle mesmo dia & noite seguinte toda a gente foy posta em ordenança, porque como já de mais tempo estaua prestes, & exercitada por seus capitaẽs, não ouue muyto que fazer em a ajuntarem, & ao outro dia âs noue horas se abalou todo este poder, & marchando ao som de infinitos estromentos de guerra não muyto apressado, se foy alojar aquella noite daly duas legoas junto do rio de Pontareu, donde não quiz passar mais adiante, & ao outro dia á tarde hũa hora antes do Sol posto, o Bramaa Chaumigrem lhe veyo aly dar vista de sy com hũa ala de gente tão grossa que occupaua quasi legoa & meya, em que auia setenta mil de cauallo, & duzentos & trinta mil de pè, & seis mil elifantes de peleja, a fora quasi outros tantos em que vinha a bagage & os mantimentos.

Meleytay 128(1), 156(1), 157(2).

Nas orações: 1740, 2223, 2231, 2232.

  1. [1740](Cap. 128) O terceyro rio, por nome Pumfileu, corta pela mesma maneyra todo Capimper, & Sacotay, & voltando por cima deste segundo rio, corre todo o imperio do Monginoco, com algũa parte do Meleytay, & Souady, & vay fazer sua entrada no mar pela barra de Cosmim, junto de Arracão, & do quarto rio, que tambem he do teor de cada hum destes, nos não souberaõ dar razão os embaixadores, mas presumese, segũdo a opinião dos mais, que he o Gãges de Sategão no reyno de Bengala.
  2. [2223](Cap. 156) Logo apos isto os trinta mil Moẽs, assi fechados como estauão nas tres batalhas, arremeterão cos inimigos com grandissimo impeto, & como neste tẽpo, por causa da peleja que tiuerão cõ a chuzma os acharão cançados, & muytos delles mortos, & outros muytos feridos, a batalha foy entre elles tão cruel & tão desacustumada, que por me não deter em particularizar cousa em que parece que pode auer duuida, não direy desta mais, senão que dos trinta mil Moẽs não escaparão mais que sós oitocentos, os quais assi feridos & desbaratados se recolherão ao Meleytay, deixando no campo dos duzentos mil do Rey do Bramaa os cento & quinze mil mortos, & os outros quasi todos feridos.
  3. [2231](Cap. 157) E feita ressenha de toda a copia dos mortos de ambas as partes que tinha custado esta vinda ao Meleytay, se achou que da parte do Bramaa erão cento & vinte & oito mil, & da do principe filho do Rey do Auaa quarenta & dous mil em que entrarão todos os trinta mil Moẽs do socorro.
  4. [2232](Cap. 157) Isto feito, o tyranno Bramaa despois de fortalecer a cidade do Prom, & esta fortaleza do Meleytay, & criar de nouo outras duas fortalezas á borda do rio, em lugares importantes à segurança daquelle reyno, se partio em mil seroos ligeyros de remo pelo rio de Queitor acima, nos quais leuou setenta mil homẽs, com determinação de yr em pessoa espiar o reyno do Auaa, & dar de sy hũa mostra à cidade, para ver cos olhos as forças della, & que poder aueria myster para a tomar, & a cabo de vinte & oito dias deste caminho, dentro nos quais passou por lugares muyto nobres do Rey do Chaleu, & Iacuçalão que estauão â borda da agoa, sem tratar de nenhum delles, chegou a esta cidade do Auaa aos treze dias de Outubro deste mesmo anno de 1545. sobre o porto da qual esteue treze dias sem fazer mais dano que somente queimar duas ou tres mil embarcaçoẽs de seruiço que achou no porto, & pòr fogo a algũas aldeas que ao redor estauão, o que lhe não custou tão barato, que não chegasse a despeza destes saltos a oito mil dos seus, em que entraraõ sessenta & dous Portugueses, porque ja neste tempo que aquy chegamos estaua tudo muyto bẽ prouido, & a cidade alẽ de ser forte, assi por sitio como por fortificação, estaua apercebida de vinte mil Moẽs, dos quais se dezia que auia sós cinco dias que erão chegados dos montes de Pondaleu, onde o Rey do Auaa, com licença do do Siammon Emperador desta Monarchia, ficaua fazendo mais oitenta mil homẽs para tornar a ganhar o Prom, porque sendo este Rey do Auaa certificado da deshonra & morte de sua filha & de seu genro, como atras fica dito, & vendo que por sy não era poderoso para se satisfazer das offensas & males que este tyranno lhe tinha feitos, & segurarse dos que temia que ao diante lhe fizesse, que era tomarlhe o reyno, de que algũas vezes o tinha jâ ameaçado, se foy em pessoa com sua molher & seus filhos lançar aos peis deste Siammon, & dandolhe conta dos seus trabalhos & afrontas, & do proposito que leuaua, por hum concerto feito entre ambos se fez seu tributario em seiscentas mil biças cada anno, que da nossa moeda saõ trezentos mil cruzados, & hũa guanta de rubis, que he hũa medida como canada, para hũa joya de sua molher, do qual tributo dizem que lhe fez logo pagamento por dez annos dante mão, a fora outras peitas de pedraria muyto rica, & baixellas & peças que valerião mais de dous contos douro.

(2) Objecto geográfico interpretado

Cidade (fortaleza, rio). Parte de: Chaleu.

Reino, cidade, fortaleza. FMP situ a cidade de Meleitay no reino de Chaleu (cap. 150) que também refere como fortaleza a dezoito léguas do Prom (cap. 156). Segundo Jacques Leider, em FMPP (vol 3, pp.196, 253) Meleitai é Myede (19º 22’N, 95º 13’ E) e supõe ainda uma forma originária Mle-té mais acorde com a pronúncia reflectida por Pinto. O mesmo autor (p. 206) anota, porém, que FMP parece estar a narrar sucessos que se misturam entre Myede e Salin, cidade mais ao Norte. Seguindo FMP, a fortaleza de Meleitai localiza-se ainda 50 km mais ao N de Myede. GT segue esta localização e assim sugere uma identificação com Minhla (19º 57′ N, 95º 07′ E) que prefere (supomos por homofonia) à mais acorde com a distância dada por FMP Sinhaungwe. Parece haver logo uma certa ambiguidade na definição de Meleitai. O próprio FMP dá uma nova referência no cap. 194 para o ‘rio de Meleitay’ que nos leva ao Sul à altura de Pegu, e identifica o nome de Meleitay com o curso do Irrawady mais do que com uma cidade ou povoação específica. Considerando portanto o uso de Meleitay como curso do rio Irrawady, sem prejuíço de que a cidade de Melitai fora Myede, se considere a possibilidade de existir uma fortaleza aproximadamente 50 km a N de Myede ou, como indica Leider (FMPP: vol 3, p. 206), que FMP esteja a misturar sucessos acontecidos em vários pontos do curso do Irrawady (rio de Meleitay) a Norte de Myede.

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