O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Nouday. Nouday 62(1), 63(2), 64(1), 65(1), 66(3), 67(3).

Nas orações: 750, 754, 758, 761, 777, 800, 806, 811, 814.

  1. [750](Cap. 62) Neste tempo chegou tambem hũa das duas lanteaas de que atè então se não sabia parte, & contou tambem de sy assaz de trabalho, & certificou que a outra quebrara as amarras co tempo, & fora dar à costa, & que à sua vista se fizera em pedaços na praya, & que de toda a gente se não saluaraõ mais que sós treze pessoas, cinco Portugueses, & oito moços Christaõs, os quais a gente da terra leuara catiuos para hũ lugar que se chamaua Nouday; de maneyra que nesta desauenturada tormenta se perderaõ dous juncos & hũa lorcha ou lanteaa, em que morreraõ passante de cem pessoas, onde entraraõ onze Portugueses, a fora os catiuos.
  2. [754](Cap. 63) Como aquella braua tormenta acalmou de todo, Antonio de Faria se passou logo ao outro junco grande que tinha tomado a Coja Acem de que então era Capitão Pero da Sylua de Sousa, & dando a vella se partio com toda a mais cõpanhia que eraõ tres juncos & hũa lorcha ou lanteaa como lhe chamão os Chins, & foy surgir na angra de Nouday, para dahy saber nouas dos treze catiuos; & mãdou logo â boca da noite dous baloẽs esquipados a espiar o porto, & sondar o rio, & ver o surgidouro & o sitio da terra, & que nauios estauão dentro, & outras cousas necessarias a sua determinaçaõ, & mandoulhes que trabalhassem por tomarem algũs homẽs naturaes da cidade, para saber delles a certeza do que pretendia, & lhe darem nouas do que era feito dos Portugueses, porque arreceaua que os tiuessem ja leuados pela terra dentro.
  3. [758](Cap. 63) E jurandolhe Antonio de Faria com toda a cerimonia necessaria a seu intento, que elle lhe cumpriria sua palaura, o Chim se ouue por satisfeito, & lhe disse: esses teus homẽs por quem preguntas, eu os vy ha dous dias prender na chifanga de Nouday, & botarlhe ferros nos peis, dando por razão que eraõ ladroẽs que roubauaõ as gentes no mar, de que Antonio de Faria ficou suspenso & assaz enfadado, parecẽdolhe que podia ser aquillo assi: & querendo logo com muyta pressa prouer no remedio da soltura delles, pelo perigo que entendia que podia auer na tardança, lhes mandou hũa carta por hum destes Chins, ficando por elle em refẽs todos os mais, o qual se partio logo pela menham muyto cedo; & como a estes Chins lhes releuaua verẽse fora do em que se vião, este, que era marido de hũa das duas que foraõ tomadas na barca da louça, & então ficauão no junco, se deu tanta pressa, que quando veyo ao meyo dia tornou com a reposta escrita nas costas da carta, & assinada por todos cinco, em que breuemente lhe relatauaõ a cruel prisaõ em que os tinhaõ, & que sem falta nenhũa os auião de matar por justiça, pelo que lhe pedião pelas chagas de nosso Senhor Iesu Christo que os não deixasse aly perecer ao desemparo, & que lhe lembrasse sua fè & verdade, pois, como sabia, por seu respeito vieraõ ter a aquelle triste estado, & outras piedades a este modo, como de homẽs que estauão catiuos em poder de gente cruel & fraca como saõ os Chins.
  4. [761](Cap. 64) Como Antonio de Faria escreueo hũa carta ao Mandarim de Nouday sobre o negocio destes catiuos, & a reposta que teue della & o que elle fez sobre isso.
  5. [777](Cap. 65) Como Antonio de Faria cometeo a cidade de Nouday, & o que lhe socedeo.
  6. [800](Cap. 66) Partidos nòs daquy deste porto de Nouday, auendo ja cinco dias que vellejauamos por entre as ilhas de Comolem & a terra firme, hum sabbado ao meyo dia nos veyo cometer hum ladraõ por nome Prematà Gundel, grandissimo inimigo da naçaõ Portuguesa, & a quem ja por vezes tinha feito muyto dano, assi em Patane, como em Çunda, & Sião, & nas mais partes onde acertaua de os achar a seu proposito, & parecendolhe que eramos Chins, nos cometeo com dous juncos muyto grandes, em que trazia duzentos homẽs de peleja, a fora a esquipação da mareagem das vellas, & aferrando hum delles o junco de Mem Taborda, o teue quasi rendido, porem o Quiay Panjaõ, que hia hum pouco mais ao mar, vendoo daquella maneyra voltou sobre elle, & abalroou o junco do inimigo assi infunado como vinha, & tomãdoo pela quadra destibordo, lhe deu tamanha pancada que ambos aly logo se foraõ ao fundo, com que o Mem Taborda ficou liure do perigo em que estaua; a isto acudiraõ com muyta pressa tres lorchas nossas que Antonio de Faria leuara do porto de Nouday, & quis nosso Senhor que chegando ellas saluaraõ a mayor parte da nossa gente, & os da parte contraria se afogaraõ todos.
  7. [806](Cap. 66) E daly seguimos nossa derrota para onde leuauamos determinado, Antonio de Faria no seu junco grande, & Mem Taborda, & Antonio Anriquez no seu; & Pero da Sylua no pequeno que se tomou em Nouday, & o Quiay Panjão cõ todos os seus no que se tomou ao ladraõ, em satisfapão do que tinha perdido, com mais vinte mil taeis que se lhe deraõ do monte mayor, de que se elle deu por bem pago & satisfeito, & todos os nossos foraõ tambem contentes disso por lho Antonio de Faria pedir cõ grande instancia, & muytas promessas para o diante.
  8. [811](Cap. 67) Surgindo Antonio de Faria nestas ilhas hũa quarta feira pela menham, Mem Taborda & Antonio Anriquez lhe pediraõ licença para irem diante dar recado à pouoação de como elle era chegado, & saber as nouas que auia na terra, & se se dezia ou soaua por là algũa cousa do que elle fizera em Nouday, porque se a sua yda lâ prejudicasse em algũa cousa a segurança & quietaçaõ dos Portugueses, se iria inuernar à ilha de Pullo Hinhor como leuaua determinado; & que de tudo o mandariaõ auisar com muyta breuidade, ao que elle respondeo que lhe parecia muyto bem, & lhes deu a licença que lhe pedião, & escreueo tãbem por elles algũas cartas aos mais honrados que então gouernauão a terra, em que lhes daua relaçaõ de todo o successo de sua viagem, & lhes pedia por merce que o quisessem aconselhar, & lhe mandassem o que querião que fizesse, porque elle estaua muyto prestes para lhes obedecer em tudo, & outras palauras a este modo que sem nenhum custo resultaõ às vezes em muyto proueito.
  9. [814](Cap. 67) E que quanto a se temer de inuernar aly pelo que fizera em Nouday, estiuesse nisso muyto descançado, porque não andaua a terra ao presente tão quieta, que isso pudesse lembrar para nada, assi pela morte do Rey da China, como pelas dissensoẽs que auia em todo o reyno em treze oppositores que pretẽdião o cetro delle, os quais todos estauão ja postos em armas com seus exercitos em campo, para com a força aueriguarẽ o que se não podia determinar por justiça; & que o tutão Nay, que era a suprema pessoa despois do Rey em todo o gouerno com mero & mistico imperio da magestade real, estaua cercado na cidade de Quoansy pelo Prechau Muão Emperador dos Cauchins, em cujo fauor se tinha por certo que vinha o Rey da Tartaria cõ hũ exercito de 900. mil homẽs: assi que a cousa andaua tão baralhada & diuidida entre elles, que ainda que sua merce assolara a cidade de Cantão, se não fizera caso disso, quãto mais a cidade de Nouday que na China em cõparaçaõ de outras muytas era muyto menos do que em Portugal pode ser OeyrasLisboa.

(2) Objecto geográfico interpretado

Cidade (porto, angra, lugar). Parte de: China.

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