O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Prom. Prom 41(1), 153(3), 154(1), 155(1), 156(3), 157(4).

Nas orações: 499, 2182, 2184, 2186, 2211, 2219, 2227, 2232, 2233, 2234.

  1. [499](Cap. 41) E no meyo de toda esta terra, ou reyno, como ja foy antiguamente, està hum grande lago, a que os naturaes da terra chamão Cunebetee, & outros o nomeão por do Chiammay, do qual procede este rio com outros tres mais que regão muyto grande quantidade desta terra, o qual lago, segundo affirmão os que escreueraõ delle, tem em roda sessenta jaõs, de tres legoas cada jão, ao longo do qual ha muytas minas de prata, cobre, estanho, & chumbo, de que continuamente se tira muyta quantidade destes metais que de veniaga leuão mercadores em cafilas de alifantes & badas aos reynos de Sornau, que he o de Sião, Passiloco, Sauady, Tangù, Prom, Calaminhan, & outras prouincias que pelo sertão desta costa de dous & tres meses de caminho estão diuididas em senhorios & reynos de gentes brancas, de baças, & de outras mais pretas.
  2. [2182](Cap. 153) E determinando de yr sobre a cidade do Prom, fez deter o exercito que tinha junto, & fez de nouo grandes apercebimentos por todo o reyno, & em cinco meses ajuntou atê nouecentos mil homẽs, com os quais partio da cidade de Bagou, a que o vulgar chama Peguu, embarcados em doze mil embarcaçoens de remo, das quais as duas mil eraõ seroos, laulees, catures, & fustas.
  3. [2184](Cap. 153) E seguindo daquy sua derrota por hum grande rio de agoa doce de mais de hũa legoa em largo, que se dezia Pichau malacou, surgio á vista do Prom a treze de Abril, & por espias que aquella noite se tomaraõ teue por nouas que o Rey era morto, & que por sua morte lhe socedera no reyno hum seu filho moço de treze annos, o qual, seu pay, antes que morresse, casara com hũa sua cunhada irmam de sua molher, & tia do mesmo moço, & filha do Rey do Auaa; & esta sabendo da vinda do Bramaa sobre esta sua cidade do Prom, mandara logo pedir socorro a el Rey seu pay, o qual se affirmaua que mandaua hum seu filho irmão da Raynha, cõ hũa armada em que vinhão sessẽta mil Moẽs, & Tarees, & Chalẽs, gente escolhida, & muyto determinada na guerra, com a qual noua o Rey Bramaa se deu muyta pressa, determinando de tomar a cidade antes que o socorro viesse, & desembarcando em hum campo que se dezia Meigauotau, duas legoas abaixo da cidade, se esteue nelle preparando de tudo o que lhe era necessario por espaço de cinco dias.
  4. [2186](Cap. 154) Do que passou entre a Raynha do Prom, & o Rey Bramaa, & do primeyro assalto que se deu à cidade, & o successo delle.
  5. [2211](Cap. 155) Acabada a cruel & sanguinolẽta destruyção desta triste cidade, o tyranno, a modo de triũpho, com muyto grande pompa & estado entrou dentro nella por hum lanço de muro que mandou derrubar, & chegando às casas que forão do pobre Rey minino se coroou nellas por Rey do Prom, tendoo sempre em quanto durarão estas cerimonias posto de joelhos com as mãos leuantadas, como quem adora a Deos, & de quando em quando lhe fazião abaixar a cabeça até o chão, & beijarlhe os peis, de que o tyranno fingia que se não daua por achado.
  6. [2219](Cap. 156) Quatorze dias auia ja que estas cousas erão passadas, nos quais o tyranno se occupou sempre em fortificar a cidade cõ grande presteza & cuydado, quando lhe chegou noua certa pelas espias que nisso trazia, que da cidade do Auaa era partida pelo rio de Queitor abaixo hũa armada de quatrocentas vellas de remo, em que vinhão trinta mil homẽs do Siammõ, a fora a chuzma & a gente da mareação, de que vinha por general hum filho do Rey do Auaa irmão da pobre Raynha, o qual sendo auisado da perdição da cidade de Prom, & da morte de sua irmã, & de seu cunhado, se alojara na fortaleza de Meleitay, que era daly dezoito legoas do Prom pelo rio acima, a qual noua fez no tyrãno tamanho abalo, que lhe foy necessario yr logo em pessoa sobre esta gente, antes que lhe viesse o outro socorro que tinha por nouas que se ficaua fazendo prestes em que vinha o Rey do Auaa por general de oitenta mil Moẽs.
  7. [2227](Cap. 156) Esta peleja duraria pouco mais de hum quarto de hora, & não se acabou senão despois que os 800. Moẽs foraõ de todo consumidos, sem auer nenhũ que se quisesse dar a partido, & vendo o tyrãno Bramaa a peleja acabada, & a cousa jà de todo quieta, se tornou a recolher ao campo, & ajuntando outra vez a gẽte, entrou na fortaleza de Meleitay, onde mandou logo cortar a cabeça ao Xemim, dizẽdo que elle fora causa daquelle desastre que lhe acõtecera, porque quem fora tredro ao seu Rey não lhe podia a elle ser muyto leal, & este foy o pago que o tyranno lhe deu por lhe entregar a cidade do Prom, mas bem deuido a quẽ entregou seu Rey & a sua mesma patria em poder de seus inimigos.
  8. [2232](Cap. 157) Isto feito, o tyranno Bramaa despois de fortalecer a cidade do Prom, & esta fortaleza do Meleytay, & criar de nouo outras duas fortalezas á borda do rio, em lugares importantes à segurança daquelle reyno, se partio em mil seroos ligeyros de remo pelo rio de Queitor acima, nos quais leuou setenta mil homẽs, com determinação de yr em pessoa espiar o reyno do Auaa, & dar de sy hũa mostra à cidade, para ver cos olhos as forças della, & que poder aueria myster para a tomar, & a cabo de vinte & oito dias deste caminho, dentro nos quais passou por lugares muyto nobres do Rey do Chaleu, & Iacuçalão que estauão â borda da agoa, sem tratar de nenhum delles, chegou a esta cidade do Auaa aos treze dias de Outubro deste mesmo anno de 1545. sobre o porto da qual esteue treze dias sem fazer mais dano que somente queimar duas ou tres mil embarcaçoẽs de seruiço que achou no porto, & pòr fogo a algũas aldeas que ao redor estauão, o que lhe não custou tão barato, que não chegasse a despeza destes saltos a oito mil dos seus, em que entraraõ sessenta & dous Portugueses, porque ja neste tempo que aquy chegamos estaua tudo muyto bẽ prouido, & a cidade alẽ de ser forte, assi por sitio como por fortificação, estaua apercebida de vinte mil Moẽs, dos quais se dezia que auia sós cinco dias que erão chegados dos montes de Pondaleu, onde o Rey do Auaa, com licença do do Siammon Emperador desta Monarchia, ficaua fazendo mais oitenta mil homẽs para tornar a ganhar o Prom, porque sendo este Rey do Auaa certificado da deshonra & morte de sua filha & de seu genro, como atras fica dito, & vendo que por sy não era poderoso para se satisfazer das offensas & males que este tyranno lhe tinha feitos, & segurarse dos que temia que ao diante lhe fizesse, que era tomarlhe o reyno, de que algũas vezes o tinha jâ ameaçado, se foy em pessoa com sua molher & seus filhos lançar aos peis deste Siammon, & dandolhe conta dos seus trabalhos & afrontas, & do proposito que leuaua, por hum concerto feito entre ambos se fez seu tributario em seiscentas mil biças cada anno, que da nossa moeda saõ trezentos mil cruzados, & hũa guanta de rubis, que he hũa medida como canada, para hũa joya de sua molher, do qual tributo dizem que lhe fez logo pagamento por dez annos dante mão, a fora outras peitas de pedraria muyto rica, & baixellas & peças que valerião mais de dous contos douro.
  9. [2233](Cap. 157) Pelo qual o Siammon se lhe obrigou de o tomar debaixo do seu emparo, & se pór em pessoa em campo por elle todas as vezes que lhe fosse necessario, & o restituyr no reyno do Prom dentro de hum anno, para o que lhe logo deu cento & trinta mil homẽs, os trinta mil do socorro que o Bramaa tinha morto no Meleitay, & os vinte mil que aquy estauão nesta cidade, & os oitenta mil porque se esperaua, de que o mesmo Rey do Auaa vinha por general.
  10. [2234](Cap. 157) Pelo que sendo este tyranno auisado de todas estas cousas, temendo poder ser esta â mais certa occasião de se perder que todas as outras de que se podia arrecear, se tornou logo a fortificar o Prom com muyto mayor instancia do que até então tinha feito, porem antes que se partisse daquelle rio onde estaua surto, que seria hũa legoa desta cidade do Auaa, mandou o Bramaa seu tisoureyro por nome Dio soray (em cujo poder eu atras jâ disse que estauamos os oito Portugueses catiuos) por embaixador ao Calaminhan, que he hũ principe de grãde poder que habita no amago deste sertão em muyta distancia de terra, do qual adiante tratarey hum pouco quando vier a dar informaçaõ delle, paraque por liga & contrato de noua amizade se fizesse seu irmão em armas, offerecendolhe por isso certa quantidade douro & pedraria, & rendimentos de algũas terras comarcãs ao seu reyno, paraque este Calaminhan entretiuesse com guerra ao Siammon o verão seguinte, com que não pudesse soccorrer o Rey do Auaa, & lhe ficasse a elle mais facil poder tomar esta cidade, sem receyo deste socorro de que se temia.

(2) Objecto geográfico interpretado

Reino (cidade). Parte de: Indico Oriental.

Referente contemporâneo: Pyay, Myanmar [Burma] (AS). Lat. 18.824640, long. 95.222160.

Reino, cidade. GT: reino, actual distrito de Prome em 18º 40′ N, 95º 20′ E. FMPP (vol. 4, p. 30): Pyay. Jacques Leider (FMPP: vol. 3: 194) dá Predins (FMP: cap. 149) como um possível gentílico de Prom.

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