O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Quangepaarù. Quangepaarù 48(1).

Nas orações: 583.

  1. [583](Cap. 48) E sendo ja menham clara, despois que todos disseraõ hũa Ladainha com muyta deuaçaõ, & prometeraõ boas peças & ricas a nossa Senhora do outeyro de Malaca para ornamentos da casa, Antonio de Faria só por sy, animando primeyro & afagando os dous Mouros, & segurandoos do medo que tinhaõ, lhes perguntou miudamente pelo que pretendia saber, a que elles ambos por hũa boca disseraõ, que quanto ao entrar no rio não auia que temer por ser o milhor de toda aquella enseada, & onde por muytas vezes entrauão & sahião muyto mayores embarcaçoẽs que aquellas que trazião, porque o menos fundo que auia em todo elle, era de quinze atê vinte braças, & que da terra se não arreceasse, porque os moradores della eraõ gẽte por natureza muyto fraca, & que não tinhão armas, & dos estrangeyros que nella estauão, os mais eraõ mercadores que auia noue dias que tinhaõ vindo do reyno de Benão, em duas cafilas de quinhentos bois cada hũa, com muyta prata, & aguila, & seda, & roupas de linho, & marfim, & cera, & lacre, & beijuim, & canfora, & ouro em pô, como o da ilha Çamatra, os quais com estas fazendas vinhão todos a buscar pimenta, & drogas, & perlas da ilha de Ainão, & perguntados se auia por aquella costa algũa armada, disseraõ que não, porque as mais das guerras que o Prechau Emperador dos Cauchins fazia, ou lhe fazião, eraõ por terra, & quando se fazião pelos rios eraõ em embarcaçoẽs pequenas de remo, mas não em nauios grandes como aquelles que trazia, porque não auia fundo para elles, & perguntados se estaua o seu Prechau aly perto, responderaõ que sòs doze dias de caminho na cidade de Quangepaarù onde o mais do tempo residia com sua casa & corte, gouernando em paz & justiça o seu reyno, & perguntados que tisouros & rendas tinha, responderaõ que as minas dos metais reseruados à sua coroa, rendião bem quinze mil picos de prata, de que a metade por ley diuina do Senhor que tudo criara, era dos pobres que cultiuauão as terras, para sustentação de suas familias, mas que por aprazimento & conformidade de todos os pouos lhe largarão liuremente este direyto, paraque daly por diante os não constrangesse a pagarem tributo, nem a cousa que lhes desse opressaõ algũa, pelo qual os antigos Prechaus em cortes lhe tinhão jurado de assi o cumprirem em quanto o Sol desse luz à terra.

Quangeparuu 132(1).

Nas orações: 1790.

  1. [1790](Cap. 132) Chegando nós a hũa cidade muyto nobre que se dezia Quangeparuu, que teria quinze ou vinte mil vezinhos, o Naudelum, que era o que por mandado del Rey nos leuaua, se deteue nella doze dias fazendo sua veniaga cos da terra a troco de prata & de perolas, em que nos confessou que de hum fizera quatorze, mas que se leuara sal, se não cõtentara com dobrar o dinheyro trinta vezes.

Quãogeparu 61(1).

Nas orações: 739.

  1. [739](Cap. 61) Despois de auer ja vinte & quatro dias que Antonio de Faria estaua neste rio de Tinlau, dentro nos quais os feridos todos conualeceraõ, se partio para Liampoo, onde leuaua determinado de inuernar, para dahy na entrada do veraõ cometer a viagẽ das minas de Quãogeparu, como tinha assentado co Quiay Panjão que leuaua em sua cõpanhia: & sendo tanto auãte como a ponta de Micuy, que estâ em altura de vinte & seis graos, lhe deu hum rijo contraste de Noroeste, o qual, por conselho dos Pilotos pairou à trinca, por não perder do caminho que tinha andado, este tempo carregou sobola tarde, com chuueiros & mares tão grossos, que as duas lanteaas de remo, pelo não poderem sofrer, se fizeraõ ja quasi noite na volta da terra, com proposito de se meterẽ no rio de Xilendau, que estaua daly hũa legoa & meya.

Quoangeparù 70(1).

Nas orações: 848.

  1. [848](Cap. 70) No fim do qual tempo se fez Antonio de Faria prestes de embarcaçoẽs & gente para yr às minas de Quoangeparù, & porque neste meyo tempo fallecera Quiay Panjaõ, que elle muyto sentio, foy aconselhado que as não cometesse, porque se soaua por noua certa que andaua là a terra muyto inquieta, por causa das guerras que o Prechau Muhaõ tinha co Rey do Chiammay, & cos Pafuaas, & co Rey do Champaa.

Quoanjaparù 56(1).

Nas orações: 684.

  1. [684](Cap. 56) Antonio de Faria lhes veyo a dar conta de todo o successo da sua perdição, & de todos os mais infortunios da sua viagem, & da determinaçaõ da sua derrota para Liampoo, com proposito de lá se reformar de gente & nauios de remo, para tornar de nouo a correr a costa de Ainão, & yr pela enseada da Cauchenchina dentro às minas de Quoanjaparù, onde tinha por nouas que auia seis casas muyto grandes cheyas de prata, a fora outra mòr soma que nas fundiçoẽs se lauraua â borda da agoa, onde sem risco nenhum se podião todos fazer muyto ricos.

Quangiparù 52(1).

Nas orações: 635.

  1. [635](Cap. 52) E por esta causa, parecendolhe que nesta enseada o poderia achar, se deteue nella mais de seis meses com assaz de trabalho, & risco de sua pessoa, no fim dos quais chegou a hũa cidade muyto nobre, & de edificios & templos assaz ricos que se dezia, Quangiparù, no porto da qual esteue surto aquelle dia, & a noite seguinte com mostras de mercador, comprando pacificamente o que lhe trazião a bordo, & por ser pouo de mais de quinze mil fogos, segundo o esmo dalgũs, tanto que foy menham se fez â vella, sem a gente da terra fazer nenhum caso disso, & tornando na volta do mar, inda que co vento algum tanto ponteyro, em doze dias de nauegaçaõ trabalhosa costeou toda a fralda da terra de ambas as costas de Sul & Norte, sem em todas ellas ver cousa de que se pudesse lançar mão, as quais eraõ pouoadas de lugares pequenos de duzentos até quinhentos vezinhos, algũs dos quais eraõ cercados de tijolo, mas não que bastasse para os defender de quaisquer bõs trinta soldados, por ser a gente toda muyto fraca, & sem armas nenhũas, mais que sòs paos tostados, & algũs treçados curtos, com hũs paueses de taboas de pinho pintados de vermelho & preto, mas o sitio do clima em sy he o milhor & o mais fertil & abastado de todas as cousas que quantos eu nunca vy, com tanta quantidade de gado vacum, que será escusado querello contar, & campinas rasas & grandissimas de trigos, arrozes, ceuadas, milhos, & muytos legumes de muytas maneyras, que a todos nos fazia pasmar, & em partes soutos de castanheyros muyto grandes, & pinhaes, & aruores de angelim como na India, para se poderem fazer infinidade de nauios, & segundo o dito de algũs mercadores de que Antonio de Faria se informou, ha aly tambem muytas minas de cobre, prata, estanho, salitre, & enxofre, com muytos campos desaproueitados de muyto boa terra, & tão perdida naquella fraca naçaõ, que se ella estiuera em nosso poder, quiça que estiueramos mais aproueitados do que hoje estamos na India por nossos peccados.

(2) Objecto geográfico interpretado

Cidade. Parte de: Cauchenchina.

Referente contemporâneo: Quảng Yên, Vietnam (AS). Lat. 20.942100, long. 106.802700.

GT propõe Kwang-Yen no norte do Viet-Name, em 22º 40’ N, 106º 26’ E. Charles Wheeler faz notar que Pinto está no correcto na descrição da actividade comercial para Tonquim e o delta do Rio Vermelho. Aponto as minhas anotações para oferecer uma localização aproximada que possa servir ao investigador com maior conhecimento histórico e geográfico da zona. Fernão Mendes Pinto menciona Quangepaarú em duas viagens com itinerários bem distintos. O primeiro é nas navegações com António de Faria pela costa da Cauchenchina e ilha de Ainão (capítulos 48, 52, 56, 61 e 70). Nesse ponto, é referida como cidade das minas e actividade relacionada com a prata, e também corte onde reside boa parte do ano o imperador dos Cauchins, ainda que Pinto não diz que seja a metrópole da Cauchenchina. No que diz à sua localização, o porto de Mutipinão, aonde se chega com rumo de leste desde o sul, bordeando a costa (cap. 47, 48), com um ilhéu ao sul da foz do rio, é de localização possível (porém não o referencio) no delta do Rio Vermelho, numa das desembocaduras pouco navegáveis. De ali, Quangeparuu fica a doze dias de caminho, num contexto que sugere que está situado terra adentro. Mais adiante (cap. 52) Quangiparù aparece como cidade com porto, uma leitura atenta permite a sua interpretação como um porto fluvial: navegam doce dias (a mesma distância que se indicou no cap. 48 desde um porto da costa cara ao interior) toda a costa da terra de Norte e Sul, porém, se entendemos que Pinto se está a referir à ribeira norte e sul da canle do Rio Vermelho, o tempo empregado parece razoável, não assim se entendemos que se refere a navegar em doce dias toda a terra do golfo de Tonquim e a ilha de Ainão. Mais ainda, ao saírem da cidade, Pinto diz que ‘tornam na volta do mar’ como se tiveram deixado o mar previamente e a paisagem que descreve, agrícola e mineira, coincide mais exactamente com a zona do Rio Vermelho do que com toda a costa da Cauchenchina e Ainão. Esta interpretação aparece reforçada na seguinte ocorrência (cap. 56) ao ir ‘pela enseada da Cauchenchina dentro às minas de Quoanjaparù’. As coincidências entre distâncias assim como as formas verbais parecem sugerir que Quangepaarù é um porto interior, a estructura narrativa parece evidenciar que há omissões (especialmente no capítulo 52), finalmente o feito de que esta cidade apareça relacionada com enorme riqueza (sé real) e actividade prateira (minas e fundições) aumentam a precaução ante a acção a ‘política de sigilo’ e censura editorial para descrições mais precisas. No capítulo 132 FMP volve referir a cidade de Quoangeparú, desta volta com um itinerário totalmente distinto. Procede desde o interior, acompanhando um embaixador tártaro enviado ao imperador da Cauchenchina. Pinto chega à metrópole Cauchim (Huzanguee) e continua o rio até chegar a Quangeparuu para finalmente sair ao mar e chegar a Sanchão em treze dias. Este percorrido situa-nos no rio como o Vermelho, e Quoangeparú teria de ser uma cidade no seu percorrido baixo, no delta, confirmando a localização aproximada que se infere da informação dos capítulos anteriores. Situo como aproximada no delta do Rio Vermelho.

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