O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Goa. Goa 2(3), 4(1), 7(2), 8(5), 10(1), 11(1), 12(4), 20(1), 26(1), 147(1), 171(1), 172(1), 176(1), 203(1), 208(3), 215(1), 216(1), 217(7), 218(3), 219(1), 223(1), 225(1), 226(1).

Nas orações: 16, 17, 20, 42, 77, 78, 85, 86, 89, 90, 91, 103, 110, 122, 128, 133, 231, 303, 2064, 2575, 2579, 2631, 3077, 3181, 3190, 3200, 3379, 3412, 3413, 3414, 3415, 3417, 3422, 3427, 3438, 3443, 3456, 3520, 3582, 3588.

  1. [16](Cap. 2) Este negocio foy logo posto em conselho, & se determinou por todos que as tres naos que eraõ del Rey fossem a Diu como a prouisaõ mandaua, & as duas de mercadores fossem a Goa, por algũs requerimentos & protestos de encampaçaõ que seus Procuradores sobre este caso ja tinhão feitos.
  2. [17](Cap. 2) Partidas as tres naos del Rey para Diu, & as duas de mercadores para Goa, prouue a nosso Senhor leuallas todas a saluamento.
  3. [20](Cap. 2) As tres naos, despois de venderem aly bem suas fazendas, se foraõ para Goa, com sós os officiaes dellas, & a gente do mar, onde estiuerão mais algũs dias, ate que o Gouernador acabou de as despachar para Cochim, & dahi, tomada a carga, se tornarão todas cinco para o reyno, onde chegaraõ a saluamento, leuando tambem consigo em companhia outra nao noua que se fizera na India, por nome São Pedro, de que veyo por Capitão Manoel de Macedo que trouxe o Basilisco, a que câ chamaraõ o tiro de Diu, por se tomar ahy na morte do Soltão Baudur Rey de Cambaya, com mais outros dous do mesmo teor, os quais foraõ dos quinze que o Rumecaõ Capitão mor da armada do Turco trouxe de Suez no anno de 1534. quando deste reyno foy dom Pedro de Castelbranco nas doze Carauellas do socorro que partirão em Nouembro.
  4. [42](Cap. 4) E sabendo que fora casado em Goa, & que tinha tres filhas moças pequenas, & muyto pobres, lhes mandara de esmolla trezentas oqueas douro, que da nossa moeda tem cada oquea doze cruzados.
  5. [77](Cap. 7) Avendo ja dezaseis dias que eu era chegado a Ormuz, & liure pela misericordia de nosso Senhor dos trabalhos que tenho contado, me embarquey pera a India em hũa nao de hum Iorge Fernandez Taborda, que hia com cauallos pera Goa, & velejando por nossa derrota com vento bonança de moução tendente, em dezasete dias de boa viagem ouuemos vista da fortaleza de Diu, & chegandonos bem a terra com determinação de sabermos ahi algũas nouas, enxergamos de noite por toda a costa hũa grande quantidade de fogos, & de quando em quando tom de artilharia, & lançando nossos juizos sobre o que isto poderia ser, pairamos com pouca vella o que restaua da noite ate que de todo foy menham, em que claramente vimos a fortaleza cercada de hũa grande quantidade de vellas Latinas.
  6. [78](Cap. 7) Embaraçados nos todos com esta nouidade tão desacustumada, ouue sobre ella muytas altercaçoẽs, & diuersidade de pareceres, porque os mais dizião que era o Gouernador que nouamente chegara de Goa a fazer as pazes da morte do Soltão Bandur Rey de Cambaya, que os dias passados elle tinha morto: outros affirmauão com grandes apostas, que era o Iffante dom Luys, irmão del Rey dom Ioão o terceiro, que então chegara deste reyno, & que o grande numero de vellas Latinas que viamos, erão as carauellas em que elle viera, porque assi se tinha então em toda a India por noua certa.
  7. [85](Cap. 8) Do que nos soccedeo na viagem de Chaul para Goa, & do que eu passey depois que cheguey a ella.
  8. [86](Cap. 8) Logo ao outro dia nos partimos daquy de Chaul na volta de Goa, & sendo quasi tanto auante como o rio de Carapatão, encontramos Fernão de Morais Capitão de tres fustas, que por mandado do Visorrey dõ Garcia de Noronha, que então chegara do reyno, hia para Dabul a ver se podia tomar ou queimar hũa nao de Turcos que estaua ahy no porto carregando de mantimentos por mãdado do Baxà.
  9. [89](Cap. 8) Partida a nao para Goa, Fernão de Morais com as suas tres fustas seguio sua viagem na volta do porto de Dabul, onde chegou ao outro dia às noue horas, & tomando nelle hum paguel de Malauares, que no meyo da angra estaua surto, carregado de algodão, & de pimenta, pós logo a tormento o Capitão & o piloto delle, os quais confessaraõ que os dias atras viera aly ter hũa nao do Baxà a buscar mantimentos, & trouxera hum Embaixador que leuaua hũa cabaya muyto rica para o Hidalcão, a qual elle não quisera aceitar, por não ficar vassallo do Turco, visto não ser custume entre os Mouros mandarense estas cabayas, senão do senhor ao vassallo, pola qual desauença a nao se tornara sem mantimẽtos, nem outra cousa algũa.
  10. [90](Cap. 8) E que o Hidalcão respõdera por palaura aos offerecimentos que o Baxà lhe mandara fazer em nome do Turco, que antes queria a amizade del Rey de Portugal, com lhe ter tomada Goa, que a sua, com lhe prometer a restituição della: & que sós dous dias auia que a nao era partida, & que o Capitão della que se chamaua Cide Ale, deixara apregoada guerra co Hidalcão, jurando que como a fortaleza de Diu fosse tomada (o qual não tardaria oito dias, segũdo o estado em que ja ficaua posta) o Hidalcaõ perderia o reyno & a vida, & então conheceria quão pouco lhe podiam aproueitar os Portugueses.
  11. [91](Cap. 8) Fernão de Morais vendo que ja não tinha aly que fazer, se tornou para Goa, a dar conta ao Visorrey do que passaua, onde chegou daly a dous dias, & achamos nella surto Gonçallo Vaz Coutinho, que cõ cinco fustas hia para Onor, a pedir à Raynha da terra hũa Galè das da armada do Soleymão, que com tempo esgarraõ aly fora ter.
  12. [103](Cap. 10) O Capitão mór com tudo se abalou para onde os inimigos estauão, & desembarcou obra de hum tiro de berço afastado delles com oitenta homẽs comsigo, porque o restante da gente que trouxera de Goa para este effeito, que foraõ cem homẽs, deixou no rio em guarda das fustas.
  13. [110](Cap. 11) Do que mais socedeo ate o outro dia, que Gonçallo Vaz se partio para Goa.
  14. [122](Cap. 12) O Capitaõ mór Gonçallo Vaz Coutinho chegou ao outro dia com a sua armada a Goa, onde foy bem recebido do Visorrey, & lhe deu conta de tudo o que lhe socedera na viagem, & do que deixara concertado com a Raynha de Onor, assi de queimar a Galé, como de lançar os Turcos fora do reyno, de que o Visorrey então se ouue por satisfeito.
  15. [128](Cap. 12) Despois de isto assi ordenado, se partio o Visorrey desta barra de Goa hũa quinta feyra pela menham, seys dias do mès de Dezembro, & ao quarto dia de sua viagem surgio em Chaul, onde se deteue tres dias assentando algũas cousas co Inezemaluco importantes ao bem & segurança da fortaleza, & prouendo algũas vellas das que vinhão na armada de algũas cousas de que vinhaõ faltas, principalmente de mantimentos, & de chusma, & partindo daquy para Diu, sendo tanto auante como os picos de Daanuu, na trauessa de meyo golfaõ lhe deu hum temporal taõ rijo, que lhe diuidio a armada em muytas partes, de que se perderaõ algũas vellas, em que entrou a Galè bastarda na barra de Dabul, de que hia por Capitão dom Aluaro de Noronha filho do Visorrey, & Capitão mòr do mar, & no golfaõ, a Galè Espinheyro cujo Capitão era Ioaõ de Sousa que chamauão d’alcunha o Rates, por ser filho do Prior de hum lugar que chamão Rates, da qual Galè dom Christouão da Gama filho do Conde Almirante, que despois os Turcos mataraõ no Preste Ioaõ, saluou a mayor parte da gente, por se achar jũto della no tempo que o mar açoçobrou.
  16. [133](Cap. 12) E porque ja neste tempo erão catorze de Março, & a monção de Malata era ja chegada; se partio Pero de Faria para Goa, onde por prouisoẽs do Visorrey que leuaua, se acabou de prouer de tudo o necessario muyto abastadamente, & se partio de Goa a treze dias de Abril, com hũa frota de oito naos, & quatro fustas, & hũa Galé em que leuaua seiscentos homẽs, & com tempo feyto de boa monçaõ chegou a Malaca a cinco dias de Iunho do mesmo anno de 1539.
  17. [231](Cap. 20) E sendo sua alteza certificado da sua morte, proueo segunda vez na mesma capitania a hum Diogo Cabral da ilha da Madeyra, a quem Martim Afonso de Sousa a tirou por justiça, por se dizer que praguejara delle sendo Gouernador, & a deu a hum Ieronymo de Figueiredo fidalgo do Duque de Bargança, que no anno de 1542. partio de Goa com duas fustas, & hũa carauella em que leuaua oitẽta soldados & officiaes da mareação, & não teue effeito a sua yda, porque parece, segundo o que despois se vio, que desejando elle de ser rico mais depressa do que o esperaua ser pela via que leuaua, se passou à costa de Tanauçarim, onde tomou algũas naos que vinhaõ do estreito de Meca, de Adẽ, de Alcosser, de Iudaa, & de outros lugares da costa da Persia, & por se là dar mal cos soldados, & não partir com elles do que tomara, conforme ao que de direito lhes vinha, se leuãtaraõ contra elle, & depois de outras muytas cousas, que me pareceo razão naõ se escreuerem, o ataraõ de pes & de maõs, & o leuarão à ilha Ceilão, onde o lançaraõ em terra no porto de Gàle, & a carauella & fustas leuaraõ ao Gouernador dom Ioaõ de Castro, que lhes deu perdão do que tinhão feito, por irem d’armada com elle a Diu a socorro de dõ Ioaõ Mascarenhas, que entõa estaua cercado dos Capitaẽs del Rey de Cambaya, & de então pera cà se não tratou mais deste descubrimento, que tão proueitoso parece que serà para o bẽ commum destes reynos, se nosso Senhor fosse seruido que esta ilha se viesse a descobrir.
  18. [303](Cap. 26) E tambem nesta perda (que Deos por sua infinita misericordia nunca permitirà que aja, por mais descuydos & peccados que aja em nòs) se arrisca perderse a alfandega do Mandouim da cidade de Goa, que he a milhor cousa que temos na India, por que nos portos & ilhas atras nomeadas consiste a mayor parte do seu rendimento, a fora a droga de crauo, noz, & maça, que de là se traz para este reyno.
  19. [2064](Cap. 147) Elles me contaraõ que vindo da India nũa nao de Iorge Manhoz casado em Goa para o porto de Ghatigaõ no reyno de Bẽgala se perderaõ nos baixos de Racão por mà vigia que tiueraõ, & saluãdose no batel dezassete pessoas somente de oitenta & tres que vinhão na nao, caminharaõ ao longo da costa cinco dias, com tenção de se irem meter no rio de Cosmim no reyno de Peguu, para dahy se embarcarem para a India na nao do lacre del Rey, ou doutro qualquer mercador que no porto achassem, & vindo com esta determinação lhes dera hum vento Leste de sobola terra tão impetuoso, que nũa noite & num dia a perderaõ de vista.
  20. [2575](Cap. 171) E chegando nós ao porto de Chatigaõ no reyno de Bengala, onde naquelle tẽpo auia muytos Portugueses, me embarquey eu logo nũa fusta de hum Fernão Caldeyra que hia para Goa, onde prouue a nosso Senhor que cheguey a saluamento.
  21. [2579](Cap. 172) Embarcãdome eu aquy em Goa em hum junco de Pero de Faria que de veniaga hia para a Çunda, cheguey a Malaca no dia que falleceo Ruy Vaz Pereyra Marramaque, capitão que então era da fortaleza.
  22. [2631](Cap. 176) E elle despois que de todo acabou de entrar em sy, chorando muyta quantidade de lagrimas nos disse: Eu senhores & irmãos meus, sou Christão, inda que no trajo volo não pareça, & Portuguez de pay & mãy, natural de Penamacor, & chamaõme Nuno Rodriguez Taborda, & vim do reyno na armada do Marichal no anno de 1513. na nao S. Ioaõ, de que era capitão Ruy Diaz Pereyra, & por eu ser hum homẽ hõrado, & que de mim dey sempre mostras disso, Afonso d’Albuquerque que Deos tenha na gloria me fez merce da capitania de hũ bargãtim de quatro que inda sómente auia na India naquelle tẽpo, & me achey cõ elle na tomada de Goa, & de Malaca, & lhe ajudey a fazer Calecut, & Ormuz, & me achey presẽte em todos os feitos hõrosos que se fizersõ assi em seu tẽpo, como no de Lopo Soarez, & no de Diogo Lopez de Siqueyra, & dos outros gouernadores ate dõ Anrique de Meneses, que socedeo por morte do Visorrey dõ Vasco da Gama, que no principio da sua gouernação proueo a Frãcisco de Sá de hũa armada de doze vellas, em que leuaua 300. homẽs para fazer fortaleza em Çunda, pelo receyo que então se tinha dos Castelhanos que naquelle tẽpo cõtinuauão Maluco pela noua viagem que o Magalhẽs descubrira, na qual armada eu vim por capitão em hum bargantim que se dezia S. Iorge com vinte & seis homẽs muyto esforçados, que partimos da barra de Bintão quando Pero Mascarenhas o destruyo, & sendo tanto auante como a ilha de Lingua, nos deu hũ tempo tão forte que não o podẽdo payrar, nos foy forçado arribarmos â Iaoa, onde dos sete nauios de remo que eramos se perderaõ os seys, dos quais foy hũ o meu por meus peccados, porque vim dar â costa aquy nesta terra em que agora estamos, ha ja vinte & tres annos, sem de todos os que vinhamos no bargantim escaparem mais que sós très companheyros, dos quais eu só agora sou viuo, & prouuera a Deos nosso Senhor que antes fora morto, porque sẽdo eu por muytas vezes cometido por estes Gẽtios que quisesse seguir suas opinioẽs, o não quiz fazer muyto tẽpo; mas como a carne he fraca, & a fome era grãde, & a pobreza muyto mayor, & a esperãça da liberdade era perdida, a distancia do mesmo tẽpo, & meus peccados foraõ causa de cõdecender a seus rogos, por onde o pay deste Rey me fauoreceo sẽpre, & porque eu ontẽ fuy chamado de hũ lugar em que viuia para vir curar dous homẽs nobres dos principais desta terra, quiz N. Senhor que me tomassem estes perros, para o eu ficar sendo menos, pelo que N. Señor seja bẽdito para todo sẽpre.
  23. [3077](Cap. 203) Elle mostrou aluoroçarse tanto com isto, que nos, por isto que nelle vimos, nos fomos à nao, & trouxemos o Iapaõ ao esprital onde elle pousaua; o qual o recolheo então comsigo, & o leuou daly para a India para onde estaua de caminho, & despois que chegou a Goa o fez lá Christaõ, & lhe pós nome Paulo de santa Fé, o qual em pouco tempo soube ler & escreuer, & toda a doutrina Christã conforme á determinação deste bemauenturado padre, que era, tanto que viesse aquella moução de Abril, yr denunciar ao barbarismo desta ilha Iapaõ Christo Filho de Deos viuo posto na Cruz por peccadores, como elle custumaua dizer, & leuar este homem comsigo para seu interprete, como despois leuou & ao seu companheyro que tambem com elle juntamente se fez Christão, a que o padre pós nome Ioanne, os quais ambos lhe foraõ lâ despois muyto fieis em tudo o que cumprio ao seruiço de Deos, & por cuja causa o Paulo de santa Fè despois foy desterrado para a China, onde foy morto por hũs ladroẽs, como adiãte declararey quando fallar deste desterro.
  24. [3181](Cap. 208) Despois de passada esta gloriosa batalha em que Deos nosso Senhor quiz acreditar este seu bemauenturado seruo assi co que na armada primeyro fez, como co que della despois disse, para confusaõ & arrependimẽto dos maldizentes, por meyo dos quais o inimigo infernal tanto trabalhou pelo desacreditar, elle se partio desta cidade de Malaca para a India naquelle Dezembro seguinte do mesmo anno de 1547. com determinação de pòr em effeito a sua ida ao Iapaõ, & leuou comsigo o Angiroo que despois de Christaõ se chamou Paulo de santa fé, como ja disse, onde aquelle anno se não pode auiar para o effeito do que desejaua, por causa das obrigaçoẽs do seu officio, que era Reitor vniuersal dos collegios da India da cõpanhia de Iesu, & pela morte do Visorrey dom Ioão de Castro que falleceo em Goa o Iunho seguinte do anno de 1548. porem Garcia de Saa que lhe socedeo na gouernança, o despachou o Abril do outro anno de 1549 com prouisoẽs para dom Pedro da Sylua que entaõ era capitaõ de Malaca, lhe dar lá embarcação para onde o Deos encaminhasse.
  25. [3190](Cap. 208) Tinha elle então comsigo o padre Cosme de Torres Castelhano de nação que pela via de Panamá, sendo soldado, fora ter a Maluco em hũa armada que o Visorrey da noua Espanha lá mãdara no anno de 1544 o qual por incitação & conselho do padre mestre Francisco despois em Goa se meteo na companhia, & despois o leuou por seu companheyro, & a outro irmão leigo tambem Castelhano natural da cidade de Cordoua, que se chamaua Ioaõ Fernandez, homem muyto humilde & muyto virtuoso.
  26. [3200](Cap. 208) O mensageyro cõ esta carta chegou onde nos estauamos, & de todos foy tão bẽ recebido como era razão, & lhe responderaõ logo por seis ou sete vias, assi o capitão como os mercadores, em que lhe derão muitas nouas da India & de Malaca, & que elles determinauão de se partirẽ daly a hũ més para a China cõ a sua nao, onde ficauão tres á carga que em Ianeyro auião de yr para Goa, em hũa das quais estaua seu amigo Diogo Pereyra, com quẽ sua reuerencia iria muyto á sua vontade.
  27. [3379](Cap. 215) Chegado o padre a Goa, deu conta desta sua determinação ao Visorrey dom Afonso de Noronha, o qual lhe louuou muyto este seu bõ & santo proposito, & se lhe offereceo para o ajudar nelle com tudo o que fosse possiuel.
  28. [3412](Cap. 216) Nesta irmida foy enterrado com muyta dòr & sentimento de todos, & ahy esteue mais noue meses, que foy de dezassete dias de Março até onze do Dezembro seguinte de 1553. Neste dia foy desenterrado este corpo, & metido em outra caixa que Diogo Pereyra lhe mandara fazer forrada de damasco, cuberta por cima com hum panno de brocado, & daquy desta irmida de N. Senhora do outeyro foy leuado em procissaõ acõpanhado de muyta gẽte nobre, ate o meterẽ em hũ batel que jâ estaua prestes, bẽ concertado cõ alcatifas ricas, & cõ toldo de seda, no qual foy leuado a hũa nao de hum Lopo de Loronha que estaua para partir para a India, & o embarcaraõ nella, & forão cõ elle dous irmãos da cõpanhia de Iesu, hum chamado Pero Dalcaçoua, & outro Ioão de Tauora que despois esteue no collegio de Euora, os quais o acompanharão até a India, no qual caminho, que he de distancia de quinhẽtas legoas, se viraõ algũs milagres euidentes, segundo todos os que na nao vinhaõ despois testemunharão em Goa ao Visorrey dom Afonso de Noronha, dos quais me escuso dar relação por serem muito notorios a toda a gente, & por não gastar o tempo em escreuer o que sey que outros jâ escreuerão.
  29. [3413](Cap. 217) Como este santo defunto foy desembarcado da nao em que viera de Malaca, & do aparato com que chegou ao caez de Goa.
  30. [3414](Cap. 217) A nao em que hia este santo corpo chegou a Cochim a treze dias de Feuereyro do anno de 1554. & porque ja neste tempo os ventos Noroestes cursauaõ por mouçaõ tendente ao lõgo da costa, & a nao cõ todas as mais que vinhaõ de Malaca em sua cõserua, por o vẽto ser ponteyro, não podião surdir auante mais que somente hũa legoa ou duas por dia, bordejando às voltas cõ muyto trabalho, se assentou por parecer de todos os pilotos que o capitão mandasse recado ao collegio de São Paulo de Goa, paraque os padres prouessem dalgũa erabarcaçaõ de remo em que leuassem aquelle santo corpo, pois a nao não podia yr ter a Goa senão de 25. de Março por diante, que era o tẽpo em que naquelle anno cahia a somana santa, & porque nella celebraua a Igreija sagrada a memoria da paixão do Filho de Deos, não se podia então fazer este recebimento cõ a põpa & aparato que todos requerião.
  31. [3415](Cap. 217) O mesmo Lopo de Loronha capitaõ da nao quis ser o que leuasse este recado, o qual se partio logo, & chegãdo a Goa ao collegio de S. Paulo, deu conta ao padre mestre Belchior, Reitor vniuersal naquellas partes da cõpanhia de Iesu, & se tornou logo para a nao.
  32. [3417](Cap. 217) O padre mestre Belchior com tres irmaõs, & quatro mininos orfaõs dos do collegio se embarcou no catur, & se partio de Goa hũa segũda feira pela menhã, & â quarta logo seguinte encõtrou a nao jũto da barra de Batecala, com mais outros sete que estauão em calmaria á vista hũas das outras, sem poderem surdir auante.
  33. [3422](Cap. 217) Partido o catur daquy da barra de Ancolaa, que era cinco legoas abaixo de Batecalaa para Goa, chegou á quinta feyra âs onze horas da noite a nossa Senhora de Rebandar, que he meya legoa de Goa, onde foy desembarcado este corpo, & leuado â igreja, & posto jũto do altar mór, cõ muytas tochas & cirios acesos, & o padre mestre Belchior, que já então o trazia a seu cargo, o mandou logo fazer a saber ao Visorrey, por lho elle assi ter pedido, & mandou tambem aos padres do seu collegio que tanto que fosse menham o viessem esperar todos ao caiz, porque atè as oito horas seria ahy.
  34. [3427](Cap. 218) Do recebimento que se fez em Goa a este santo defunto, & do mais que ahy socedeo.
  35. [3438](Cap. 218) Neste mesmo dia á tarde chegou a esta cidade de GoaPortuguez por nome Antonio Ferreyra casado em Malaca, cõ hũ presente de peças ricas para o Visorrey, que lhe mãdaua de Iapaõ el Rey do Bungo, com hũa carta que dezia assi.
  36. [3443](Cap. 218) Esta carta mostrou o Visorrey dõ Afonso ao padre Reitor mestre Belchior, & lhe disse que qual era causa porque se não partia logo para Iapaõ a effeituar hũa cousa de tanto seruiço de Deos, & leuaua cõsigo todo o collegio de S. Paulo de Goa?
  37. [3456](Cap. 219) E vinda a moução, assi preso em ferros foy mandado â India com hũa fea deuassa que se tirou delle, a qual os letrados da rolaçaõ de Goa despois anullaraõ, & mandaraõ tirar outra de nouo a Malaca, & ao dom Antonio pelo que fizera mandou o Visorrey dõ Pedro Mascarenhas, que jà a este tẽpo gouernaua o estado da India, vir preso, para estar a juizo co Gaspar Iorge, & dar razão do que lhe fizera.
  38. [3520](Cap. 223) Partido eu da cidade, cheguey o outro dia âs noue horas a hũ lugar que se dezia Fingau que seria hũ quarto de legoa da fortaleza de Osquy, donde por hũ dos Iapoẽs que leuaua comigo mandey dizer ao Osquim dono capitão della como eu era aly chegado, & que trazia hũa embaixada do Visorrey da India para sua alteza, pelo que lhe pedia me mandasse dizer quando queria que lhe fallasse; a que me elle respondeo logo por hũ seu filho, que a minha vinda cõ a de todos os meus cõpanheyros fosse muyto boa, & que jâ tinha mandado recado a el Rey à ilha do Xeque para onde fora ante menham cõ muyta gente a matar hũ grãde peixe, a que se não sabia o nome, que do centro do mar aly viera ter com outra grande soma de peixes pequenos, & que pelo ter cercado já num esteyro lhe parecia que não poderia vir senão de noite, mas que do que sua alteza lhe respondesse me mandaria logo recado, mas que entre tanto descançasse noutras casas milhores em que me mãdaua apousentar, onde seria prouido de tudo o necessario, porque toda aquella terra era tanto del Rey de Portugal como Malaca, Cochim, & Goa.
  39. [3582](Cap. 225) E socedendolhe nesse pouco que ainda lhe ficara do imperio hum seu filho mais velho que se chamaua Dauid, fez Patriarca a hũ Alexandrino que fora seu mestre o qual era cismatico, & taõ contumaz nos seus erros que pregaua publicamente que só elle naquella ley que seguia era o verdadeyro Christaõ, & naõ o Summo Pontifice, & desta maneyra se passaraõ os cinco annos das gouernanças de Francisco Barreto, & de dom Constantino em que nenhũa destas cousas ouue effeito, & os padres irmãos morreraõ ambos hum em Goa & outro em Cochim, sem ategora mais se effeituar cousa que tocasse á saluação dos Abexins, nem creyo que se effeituara se Deos nosso Senhor milagrosamente o não ordenar pelo mao vezinho que temos no Turco naquelle estreito de Meca.
  40. [3588](Cap. 226) Deste porto de Lampacau, partimos a primeyra oitaua do Natal, & chegamos a Goa aos dezassete de Feuereyro, onde logo dey conta a Francisco Barreto da carta que lhe trazia do Rey de Iapaõ, & elle me mandou que lha leuasse ao outro dia, & eu lha leuey com as armas, & treçados, & com as mais peças do presente que leuaua.

(2) Objecto geográfico interpretado

Cidade (barra). Parte de: India.

Referente contemporâneo: Goa, India (AS). Lat. 15.333330, long. 74.083330.

Cidade.

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