O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Iaoa. Iaoa 20(1), 26(1), 33(1), 36(1), 38(1), 39(1), 107(1), 144(1), 172(1), 173(2), 176(1), 177(1), 179(2), 180(1), 189(1).

Nas orações: 225, 307, 386, 415, 446, 465, 1402, 1997, 2582, 2592, 2593, 2631, 2643, 2662, 2668, 2680, 2826.

  1. [225](Cap. 20) E tambem o informey do surgidouro da bahia de Pullo Botum, onde antigamente estiuera a nao Biscainha, que dizião que fora do Magalhaẽs, que despois se perdeo no boqueyraõ da çunda, querendo atrauessar a ilha da Iaoa.
  2. [307](Cap. 26) Este conselho pareceo taõ bõ a el Rey, que aprouandoo pelo milhor & mais acertado, mãdou aperceber hũa frota de cento & sessenta vellas, de que a mayor parte eraõ lãcharas, & galeotas de remo, cõ algũs calaluzes da Iaoa, & quinze nauios dalto bordo, cõ mãtimentos & moniçoẽs, & nestas embarcaçoẽs meteo dezassete mil homẽs, os doze mil de peleja, & os mais, gastadores & chuzma: & nos de peleja entrauão quatro mil estrangeiros, Turcos, Abexins, Malauares, Guzarates, & Lusoẽs da ilha Borneo, & por general do campo hia hum Heredim Mafamede, cunhado do mesmo Rey, casado com hũa sua irmam, & Gouernador do reyno de Baarrós.
  3. [386](Cap. 33) E despois de serem recolhidos & agasalhados o milhor que então foy possiuel, lhe perguntamos pela causa da sua desauentura: a que hum delles respondeo com assaz de lagrimas, Senhores, a mim me chamão Fernão Gil Porcalho, & este olho que me vedes menos, me quebraraõ os Achẽs na tranqueyra de Malaca, quãdo da segunda vez vieraõ sobre dom Esteuão da Gama, o qual desejando de me fazer merce, por me ver tão pobre como era naquelle tẽpo, me deu licença que fosse a Maluco, onde prouuera a Deos que não fora, ja que tal successo auia de ter a minha yda, porque despois que party do porto de Talãgame, que he o surgidouro da nossa fortaleza Ternate, auendo ja vinte & tres dias que nauegamos com tempos bonãças, & bem cõtentes de nòs, em hum junco que trazia mil bares de crauo, que valiaõ mais de cem mil cruzados, quiz a minha triste vẽtura por muytos peccados que contra Deos comety, que sendo Noroeste sueste com a ponta de Surobaya, na ilha da Iaoa, nos deu hum tempo de Norte tão rijo, que com a vaga dos mares cruzados, & co grande escarceo que o mar leuãtou, nos abrio o junco pela roda de proa; pelo qual nos foy forçado alijar o conuès, & corrẽdo assi aquella noite a aruore seca, sem mostrar ao vento hum só palmo de vella, por serem insofriueis as refegas que a miude o tempo de sy lançaua, viemos com assaz de trabalho atê meyo quarto dalua rendido, em que supitamente se nos foy o junco fundo, sem delle se saluarem mais que estas vinte & tres pessoas que nos aquy vedes, de cento & quarẽta & sete que nelle vinhamos.
  4. [415](Cap. 36) Este Antonio de Faria trazia hũs dez ou doze mil cruzados em roupas da India que em Malaca lhe emprestaraõ, as quais eraõ de tão mà digestaõ naquella terra, que não auia pessoa que lhe prometesse nada por ellas, pelo que vendose elle de todo desesperado de as poder gastar, determinou de inuernar aly até lhe buscar espediente por qualquer via que fosse possiuel; & foy acõselhado por algũs homẽs mais antiguos na terra que a mandasse a Lugor, que era hũa cidade do reyno Sião mais abaixo para o norte cem legoas, por ser porto rico, & de grande escala, em que auia grande soma de jũcos da ilha da Iaoa, dos portos de Laue, Tanjampura, Iapara, Demaa, Panaruca, Sidayo, Passaruaõ, Solor, & Borneo, que a troco de pedraria & ouro costumauão a comprar bem aquellas fazendas.
  5. [446](Cap. 38) Esta molher era viuua, & da geração honrada; & segundo despois soubemos, fora molher do Xabandar de Preuedim, que o Pate de Lasaparà Rey de Quaijuão na ilha da Iaoa matara na cidade de Banchâ no anno de 1538. & ao tempo que nos achou da maneyra que tenho cõtado, vinha de hum junco seu que estaua na barra carregado de sal, & por ser grande, & não poder passar o banco, o descarregaua pouco a pouco naquella barcaça.
  6. [465](Cap. 39) E que tambem em outra daquellas pouoaçoẽs por nome Buaquirim auia ũa pedreyra de que se tirauão muytos diamantes naifes, de roca velha, de muyto mòr preço que os de Laue, & de Tanjampura na ilha de Iaoa.
  7. [1402](Cap. 107) Esta cidade do Pequim de que promety dar mais algũa informaçaõ da que tenho dada, he de tal maneyra, & tais saõ todas as cousas della, que quasi me arrependo do que tenho prometido, porque realmente não sey por onde comece a cumprir minha promessa, porque se não ha de imaginar que he ella hũa Roma, hũa Constantinopla, hũa Veneza, hum Paris, hum Londres, hũa Seuilha, hũa Lisboa, nem nenhũa de quantas cidades insignes ha na Europa por mais famosas & populosas que sejão, nem fora da Europa se ha de imaginar que he como o Cairo no Egypto, Taurys na Persia, Amadabad em Cambaya, Bisnagà em Narsinga, o Gouro em Bẽgala, o Auaa no Chaleu, Timplaõ no Calaminhan, Martauão & Bagou em Pegù, ou Guimpel & Tinlau no Siammon, Odiaa no Sornau, Passaruão & Demaa na ilha da Iaoa, Pangor no Lequîo, Vzanguee no graõ Cauchim, Lançame na Tartaria, & Miocoo em Iapaõ, as quais cidades todas saõ metropolis de grandes reynos, porque ousarey a affirmar que todas estas se não podem comparar com a mais pequena cousa deste grãde Pequim, quanto mais com toda a grandeza & sumptuosidade que tem em todas as suas cousas, como saõ soberbos edificios, infinita riqueza, sobejissima fartura & abastança de todas as cousas necessarias, gente, trato, & embarcaçoẽs sem conto, justiça, gouerno, corte pacífica, estado de Tutoẽs, Chaẽs, Anchacys, Aytaos, Puchancys, & Bracaloẽs, porque todos estes gouernão reynos & prouincias muyto grandes, & cõ ordenados grossissimos, os quais residem continuamente nesta cidade, ou outros em seu nome, quando por casos que soccedem se mandão pelo reyno a negocios de importancia.
  8. [1997](Cap. 144) Esta nao chegou a saluamento a Malaca, onde achey ainda a Pero de Faria por capitão da fortaleza, o qual desejando de me aproueitar antes que acabasse o seu tempo, me cometeo com a viagem de Martauão, de que então se tiraua proueito, em hũ junco de hum Mouro por nome Necodá Mamude, o qual ahy na terra tinha molher & filhos, & que a minha yda auia de ser assi para assentar pazes co Chaubainhaa Rey de Martauão, como para por via de comercio virẽ os seus juncos com mantimentos â fortaleza, que neste tẽpo estaua muyto falta delles pelo successo das guerras da Iaoa.
  9. [2582](Cap. 172) E auendo já quasi dous meses que estauamos neste porto fazendo pacificamente nossas mercancias na terra, veyo ter a ella por mandado del Rey de Demaa, Emperador de toda a ilha da Iaoa, Angenia, Bale, & Madura, cõ todas as mais ilhas deste arcipelago, hũa molher que se chamaua Nhay Pombaya; dona viuua de quasi sessenta annos de idade, a qual vinha de sua parte dar recado ao Tagaril Rey da Çunda, que tambem era seu vassallo como os mais Reys desta monarchia, paraque pessoalmẽte, em termo de més & meyo fosse ter com elle â cidade de Iapara onde então se fazia prestes para yr sobre o reyno de Passeruão.
  10. [2592](Cap. 173) Como o Pangueyrão de Pate Emperador da Iaoa foy com hũ grosso exercito contra o Rey de Passaruão, & do que se fez despois que lâ chegou.
  11. [2593](Cap. 173) Partido este Rey da Çunda deste porto de Banta a cinco dias do més de Ianeyro do anno de 1546. chegou aos dezanoue à cidade de Iapara, onde o Rey de Demaa Emperador desta ilha Iaoa então se estaua fazendo prestes com hum exercito de oitocentos mil homẽs, o qual sabendo da vinda deste Rey da Çunda, que era seu cunhado & seu vassallo, o mandou receber á embarcação por el Rey de Panaruca Almirante da frota, o qual leuou comsigo cento & sessenta calaluzes de remo, & nouenta lancharas de Lusoẽs da ilha Borneo, & com toda esta companhia o trouxe onde el Rey estaua, do qual foy muyto bem recebido, & com honras muyto auãtajadas de todos os outros.
  12. [2631](Cap. 176) E elle despois que de todo acabou de entrar em sy, chorando muyta quantidade de lagrimas nos disse: Eu senhores & irmãos meus, sou Christão, inda que no trajo volo não pareça, & Portuguez de pay & mãy, natural de Penamacor, & chamaõme Nuno Rodriguez Taborda, & vim do reyno na armada do Marichal no anno de 1513. na nao S. Ioaõ, de que era capitão Ruy Diaz Pereyra, & por eu ser hum homẽ hõrado, & que de mim dey sempre mostras disso, Afonso d’Albuquerque que Deos tenha na gloria me fez merce da capitania de hũ bargãtim de quatro que inda sómente auia na India naquelle tẽpo, & me achey cõ elle na tomada de Goa, & de Malaca, & lhe ajudey a fazer Calecut, & Ormuz, & me achey presẽte em todos os feitos hõrosos que se fizersõ assi em seu tẽpo, como no de Lopo Soarez, & no de Diogo Lopez de Siqueyra, & dos outros gouernadores ate dõ Anrique de Meneses, que socedeo por morte do Visorrey dõ Vasco da Gama, que no principio da sua gouernação proueo a Frãcisco de Sá de hũa armada de doze vellas, em que leuaua 300. homẽs para fazer fortaleza em Çunda, pelo receyo que então se tinha dos Castelhanos que naquelle tẽpo cõtinuauão Maluco pela noua viagem que o Magalhẽs descubrira, na qual armada eu vim por capitão em hum bargantim que se dezia S. Iorge com vinte & seis homẽs muyto esforçados, que partimos da barra de Bintão quando Pero Mascarenhas o destruyo, & sendo tanto auante como a ilha de Lingua, nos deu hũ tempo tão forte que não o podẽdo payrar, nos foy forçado arribarmos â Iaoa, onde dos sete nauios de remo que eramos se perderaõ os seys, dos quais foy hũ o meu por meus peccados, porque vim dar â costa aquy nesta terra em que agora estamos, ha ja vinte & tres annos, sem de todos os que vinhamos no bargantim escaparem mais que sós très companheyros, dos quais eu só agora sou viuo, & prouuera a Deos nosso Senhor que antes fora morto, porque sẽdo eu por muytas vezes cometido por estes Gẽtios que quisesse seguir suas opinioẽs, o não quiz fazer muyto tẽpo; mas como a carne he fraca, & a fome era grãde, & a pobreza muyto mayor, & a esperãça da liberdade era perdida, a distancia do mesmo tẽpo, & meus peccados foraõ causa de cõdecender a seus rogos, por onde o pay deste Rey me fauoreceo sẽpre, & porque eu ontẽ fuy chamado de hũ lugar em que viuia para vir curar dous homẽs nobres dos principais desta terra, quiz N. Senhor que me tomassem estes perros, para o eu ficar sendo menos, pelo que N. Señor seja bẽdito para todo sẽpre.
  13. [2643](Cap. 177) O moço foy logo preso & metido a tormento por algũas sospeitas que se tiueraõ, porem elle não confessou nada, nem disse mais senão que fizera aquillo, porque lhe viera â vontade, pelo có que el Rey lhe dera na cabeça em seu desprezo, como se fazia a qualquer cão que ladraua de noite pela rua, sendo elle filho do Pate Pandor senhor de Surobayaa, porem o moço foy espetado viuo em hum caluete de arrezoada grossura, que lhe meterão pelo sesso, & lhe sahio pelo toutiço, & o mesmo se fez tambem a seu pay, & a tres irmãos seus, & a sessenta & dous seus parentes, de maneyra que de toda sua geração não ficou pessoa a que se desse vida; a qual justiça tão sobejamente cruel & rigurosa, foy causa de auer muyto grandes aleuantamentos em toda a Iaoa, & ilhas de Bale, Timor, & Madura, que saõ estados muyto grãdes, em que ha Visorreys que distinctamente os gouernão com poder de mero & misto imperio, pela ordem antiga de seus gentilicos custumes.
  14. [2662](Cap. 179) Pelo qual ajuntandose esses poucos senhores que ainda auia, assentaraõ de se passarem á cidade de Iapara, cinco legoas daly para a costa do mar mediterraneo, & logo o puseraõ por obra, onde passados despois de se sossegar o tumulto da gẽte plebeya, que ainda então era sem conto, se concluyo no eleger do Pangueyraõ, o qual vocablo propriamente quer dizer Emperador, & logo foy eleito hum Pate Sidayo principe de Surubayaa, que não foy nenhum dos oito poentes, porque assi pareceo necessario para o bẽ comũ, & quietação da terra, de que o pouo todo ficou muyto satisfeito, & logo o mandaraõ buscar pelo Panaruca a hum lugar daly doze legoas onde elle entaõ estaua, que se dezia Pisammanes, o qual veyo daly a noue dias acompanhado de mais de duzentos mil homens, embarcados em mil & quinhentos calaluzes, & jurupangos, onde foy recebido de todo o pouo, com mostras de muyta alegria, & foy logo coroado com todas as cerimonias custumadas por Pangueyrão de toda a Iaoa, & Bale, & Madura, que he hũa muyto grande monarchia de gente, poder, & riqueza.
  15. [2668](Cap. 179) Os outros dous nauios que milagrosamente lhe escapamos, nos fizemos na volta do mar, & não podendo mais ferrar a terra por causa dos ventos Lestes que todo aquelle mès nos cursaraõ, nos foy forçado irmos demandar a costa da Iaoa bem contra nossa vontade.
  16. [2680](Cap. 180) E como esta nação Iaoa he grandissimamente cobiçosa, como lhe tratamos de seu interesse, conhecendo tambem em nós a nossa miseria & desesperação, nos foraõ dando de sy mais algũa cousa, com outras palauras ja milhor concertadas, mais fauoraueis, & de mais esperança para nòs de nos fazerem o que lhe pediamos, porem isto foy até que tomaraõ a embarcaçaõ que tinhão deixado, porque tanto que se virão dentro nella, se puseraõ de largo, & dando mostras de se quererem partir sem nos tomarem, nos disseraõ que para elles serem certos de ser verdade o que lhe deziamos, era necessario que primeyro que tudo lhe entregassemos as armas que tinhamos, porque doutra maneyra nos não auião de tomar inda que nos vissem comer dos lioẽs, pelo que constrangidos da estrema necessidade em que nos viamos, & da desesperaçaõ de termos outro nenhum remedio, nos foy forçado fazerlhe a vontade em tudo quanto quiseraõ; & chegandose cõ a barcaça mais hum pouco a nós, nos disseraõ que hum & hum nos botassemos a nado, pois não tinhão manchua que nos fosse tomar, o que tãmbẽ determinamos de fazer, & dous moços & hum Portuguez se lançaraõ logo a nado para pegarem de hũa corda que nos tinhão lançado por popa da barcaça, mas antes que chegassem a ella foraõ comidos de tres lagartos muyto grãdes, sem de todos tres aparecer mais que somente o sangue, de que todo o rio ficou tinto, do qual successo os oito que estauamos à borda do rio ficamos tão pasmados de medo, que por hum grande espaço nenhuna de nòs tornou em seu acordo, de que os perros não ouuerão nenhum dó de nòs, mas antes batendo as palmas, dezião gritando com grandes risadas, bemauenturados aquelles tres que sem dor acabarão seus dias.
  17. [2826](Cap. 189) Affirmão algũs que tem dentro em sy quatrocentos mil fogos, dos quais os cem mil saõ de naçoẽs estrãgeyras de muyto diuersas partes do mundo, porque como este reyno he muyto rico em si & de grãdissimo trato para todas as prouincias & ilhas da Iaoa, Baile, Madura, Angenio, Borneo, & Solor, não ha anno que não naueguẽ de mil jũcos para cima, a fora outros nauios pequenos de que todos os rios & portos estão sempre occupados.

Iaos 48(1), 57(1), 59(1), 145(1), 149(1), 177(1), 180(1), 185(1), 186(1).

Nas orações: 588, 694, 715, 2027, 2111, 2641, 2678, 2772, 2787.

  1. [588](Cap. 48) Neste tempo começando ja aventar a viração, se fez à vella com muyta festa & regozijo, & as gaueas toldadas de seda, & com sua bandeyra de veniaga à Charachina; paraque os que assi o vissem, entendessem que era elle mercador, & não gente de outra maneyra, & daly a hũa hora surgio no porto defronte do caiz da cidade, & fez sua salua cõ pouco estrondo de artilharia, ao que logo de terra vieraõ dez ou doze almadias com muyto refresco, & com tudo estranhandonos, & vẽdo no nosso trajo & aspeito que não eramos Siames, nẽ Iaos, nem Malayos, nem outras naçoẽs que ja tinhão vistas, disserão, tão proueitosa nos seja a todos a aluorada da fresca menham, quão bem assombrada parece esta tarde na presença do que temos diãte dos olhos.
  2. [694](Cap. 57) E vendoos daquella maneyra lhes perguntou pela causa de sua desauentura, & elles lha contaraõ com mostras de muyto sentimento, dizendo, que auia dezassete dias que tinhaõ partido de Liãpoo para Malaca, com proposito de passarem á India, se lhe a monção não faltasse, & que sendo tanto auante como o ilheo de Çumbor os comerera hum ladraõ Guzarate, por nome Coja Acẽ, com tres juncos & quatro lanteaas, nas quais sete embarcaçoẽs trazia quinhentos homẽs, de que os cento & cinquenta eraõ Mouros Lusoẽs, & Borneos, & Iaos, & Champaas, tudo gente da outra costa do Malayo, & pelejando com elles desde a hũa hora atè as quatro despois do meyo dia, os tomara com morte de oitenta & duas pessoas, em que entraraõ dezoito Portugueses, a fora quasi outras tãtas que leuara catiuas, & que no junco lhes tomara de emprego seu & de partes mais de cem mil taeis.
  3. [715](Cap. 59) Vendo então os Capitaẽs das nossas duas lorchas (os quais se chamauão Gaspar Doliueyra, & Vicente Morosa) o tempo disposto para effeituarẽ o desejo que trazião, & a inueja honrosa de que ambos se picauão, arremeteraõ juntamente a ellas, & lançãdolhe muyta soma de panellas de poluora, se ateou o fogo em ambas de maneyra, que assi juntas como estauão arderão até o lume da agoa, com que a mayor parte da gente dellas se lançou ao mar, & os nossos os acabaraõ aly de matar a todos ás zargunchadas, sem hum só ficar viuo; & somente nestas tres lorchas morreraõ passante de duzentas pessoas; & a outra que leuaua o Capitão morto tão pouco não pode escapar, porque Quiay Panjaõ foy tras ella na sua champana, que era o batel do seu junco, & a foy tomar ja pegada com terra, mas sem gente nenhũa, porque toda se lhe lançou ao mar, de que a mayor parte se perdeo tambem nũs penedos que estauão junto da praya, com a qual vista os inimigos que ainda estauaõ nos juncos, que podião ser até cento & cinquenta, & todos Mouros Lusoẽs, & Borneos, cõ algũa mistura de Iaos, começaraõ a enfraquecer de maneyra, que muytos começauão ja a se lançar ao mar.
  4. [2027](Cap. 145) E mandando surgir o junco junto da ilha, se fez prestes com todos os seus em tres embarcaçoẽs de remo, com hum falcão & cinco berços, & sessẽta homẽs Iaos & Lusoẽs com muyto boas armas, em que auia trinta com espingardas, & os mais com lanças & frechas, & muyta soma de panellas de poluora, & outros artificios de fogo conueniẽtes a nosso proposito.
  5. [2111](Cap. 149) E querendo este Rey Bramaa por grandeza de estado festejar esta entrega do Chaubainhaa, mandou que todos os capitaẽs estrangeyros com sua gente armada & vestida de festa se pusessem em duas fileyras a modo de rua para vir por ella o Chaubainhaa, o que logo foy feito, & esta rua tomaua desda porta da cidade até a sua tenda que seria distancia de dous terços de legoa, na qual rua estauão trinta & seys mil estrangeyros, de quarenta & duas naçoẽs, em que auia Portugueses, Gregos, Venezeanos, Turcos, Ianiçaros, Iudeus, Armenios, Tartaros, Mogores, Abexins, Raizbutos, Nobins, Coraçones, Persas, Tuparaas, Gizares, Tanocos da Arabia Felix, Malauares, Iaos, Achẽs, Moẽs, Siames, Lusoẽs da ilha Borneo, Chacomaas, Arracoẽs, Predins, Papuaas, Selebres, Mindanaos, Pegùs, Bramâs, Chaloẽs, Iaquesaloẽs, Sauadis, Tãgus, Calaminhãs, Chaleus, Andamoens, Bengalas, Guzarates, Andraguirees, Menancabos, & outros muytos mais a que não soube os nomes.
  6. [2641](Cap. 177) Esta nação dos Iaos he a mais opiniatica que todas quantas ha na terra, & sobre tudo muyto atraiçoada & desconfiada, & tem por cume de todas as deshonras & injurias que se lhe podem fazer, tocarẽlhe na cabeça, por onde aquelle moço tanto que el Rey lhe tocou cos dedos da maneyra que disse, auẽdo que era aquillo hũ notauel desprezo cõ que ficaua deshõrado, esteue impando hũ espaço sẽ ninguẽ fazer caso do que el Rey lhe fizera, nem atẽtar por isso, por fim do qual se determinou em se satisfazer daquella injuria que el Rey lhe fizera, & leuando de hũa faquinha que por brinco trazia na cinta, a meteo a el Rey pelo meyo da teta ezquerda, de que logo cahio como morto, sem dizer mais que somente, quita mate, ay que me matou, com a qual nouidade foy tamanha a reuolta dos senhores que estauão presentes, que não me atreuo a podela declarar.
  7. [2678](Cap. 180) E vendo que a terra era deserta de gente, & muyto pouoada de elifantes & de tigres, nos subimos em hũas aruores siluestres, para nellas escaparmos por então à grande multidão destes, & de outros animais que aly tinhamos visto; & quando nos pareceo que podiamos caminhar com menos perigo, nos tornamos a ajuntar, & nos metemos pela espessura do mato andãdo de hũa parte para a outra com muytos gritos & prantos, sem sabermos atinar com cousa que pudesse ser meyo de nossa saluação; porem a diuina misericordia que nũca aparta os olhos dos necessitados & miseraueis da terra, ordenou então que por hum esteyro de agoa doce que de dentro do mato vinha demandar o mar, vissemos vir hũa barcaça carregada de madeyra & de lenha, em que vinhão noue negros Iaos, & Papuas, os quais em nos vendo, parecẽdolhe que eramos diabos (como elles despois nos confessaraõ) se lançarão todos na agoa, & deixaraõ a embarcaçaõ erma sem ficar nella pessoa nenhũa, mas despois que entenderaõ que eramos gẽte perdida, se seguraraõ, & ficarão quietos no sobresalto que primeyro tiueraõ.
  8. [2772](Cap. 185) E pondolhe o Rey Bramaa cerco, lhe deu tres assaltos a escalla vista, cometendoa toda em roda com muytas escadas que ja para isso trazia, & não a podendo entrar daquella vez pela grande resistencia que achou nos de dentro, se veyo retirando para a parte do rio, onde por conselho de Diogo Soarez, que era general do cãpo, & por quẽ se elle gouernaua, a bateo com quarenta peças de artilharia grossas, de que a mayor parte tiraua ferro coado, & derrubandolhe hum lanço de muro de doze braças, a cometeo com dez mil estrangeyros em que entrauão muytos Turcos, Abexins, Mouros Malauares, & os mais Achẽs, Iaos, & Malayos, & trauandose entre huns & outros hũa aspera briga, em espaço de quasi meya hora os de dentro, que erão seis mil Siames, forão todos consumidos, sem nenhum delles se querer entregar, & o Bramaa perdeo dos seus quasi tres mil, de que mostrou sentimento; & para se satisfazer deste dano, mandou meter á espada todas as molheres, que pareceo muito grande crueldade.
  9. [2787](Cap. 186) Sendo os Turcos decidos todos embaixo no terreyro, ordenarão de quebrar as portas com duas vigas ferradas que jâ para isso leuauão, & estando occupados no effeito desta obra, confiados que elles sós auião de ser os que ganhassem as mil biças douro que el Rey tinha prometidas a quem lhe abrisse as portas, deraõ nelles tres mil Iaos amoucos tão determinadamente, que em pouco mais de tres ou quatro credos nem hum só Turco ficou em pé, & não contentes com isto, subindo logo acima ao muro com aquelle feruor com que estauão, como todos hião encarniçados, & cheyos do sangue dos Turcos que deixauão mortos, deraõ na gente do Bramaa que estaua encima tanto sem medo, que nenhum ousou a lhe ter o rosto direito, de maneyra que os que milhor então liuraraõ foraõ os que se arremessaraõ embaixo.

(2) Objecto geográfico interpretado

Ilha. Parte de: Insulíndia.

Referente contemporâneo: Java, Indonesia (AS). Lat. -7.491670, long. 110.004440.

Ilha, império, gentílico.

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