O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Iapaõ. Iapão 40(1), 92(1), 133(1), 134(2), 200(2), 201(1), 208(1), 211(1), 215(3), 219(2), 220(1).

Nas orações: 489, 1134, 1809, 1826, 1836, 3020, 3049, 3180, 3277, 3372, 3373, 3388, 3446, 3454, 3463.

  1. [489](Cap. 40) Ia quando isto acabou de se cõncluyr era quasi menhã, & fazẽdose então inuẽtayro de toda a presa, se acharaõ trinta & seis mil taeis em prata de Iapão, que da nossa moeda a razão de seis tostoẽs por tael fazem cinquenta & quatro mil cruzados, a fora outra muyta sorte de boas fazendas, a que então se não pós preço por não dar o tempo lugar para auer aly mais detença, por estar ja a terra toda amotinada, & apercebida de muytas Iangadas de fogo, pelo que foy necessario sairse logo Antonio de Faria daly donde estaua, & fazerse à vella, & partirse com muyta pressa.
  2. [1134](Cap. 92) Este, sendo algũas vezes requerido pelos principaes do reyno ou senhorio que então era, que se casasse, se escusou sempre, dando por desculpa algũas razoẽs que os seus lhe não aceitarão, antes incitados & estimulados pela mãy, não desistindo do requerimento, apertarão tanto com elle, que elle por se escusar de fazer o que não era sua vontade, com tẽção de legitimar o filho mais velho que tinha da Nancaa, & deixarlhe o reyno, se meteo em religião em hum templo que se chamaua Gizom, que segundo parece foy idolo & seita que tiuerão os Romanos, o qual oje em dia ha neste imperio da China, na ilha do Iapão, na Cauchenchina, em Camboja, & em Sião, do qual nestas terras eu vy muytas casas, & declarando no seu testamento que era esta sua vltima vontade, a Raynha sua mãy que naquelle tempo era viuua, & de idade de cinquenta annos, o não consentio, dizendo, que ja que seu filho queria morrer na religião que tinha professado, & deixar o reyno sem legitimo erdeyro, ella queria dar remedio a este tamanho desmancho; & logo se casou com hum seu sacerdote por nome Silau, de idade de vinte & seis annos, & o fez a pesar de muytos jurar por Rey.
  3. [1809](Cap. 133) E chamando então para jũto de sy hũa molher Lequia que era a interprete por quẽ se entendia co capitão Chim senhor do junco, lhe disse, pregunta ao Necodà, onde achou estes homẽs, ou com que titulo os traz comsigo a esta nossa terra de Iapão?
  4. [1826](Cap. 134) Nòs os tres Portugueses como não tinhamos veniaga em que nos occupassemos, gastauamos o tempo em pescar & caçar, & ver templos dos seus pagodes que erão de muyta magestade & riqueza, nos quais os bonzos, que saõ os seus sacerdotes, nos fazião muyto gasalhado, porque toda esta gente de Iapão he naturẽlmente muyto bem inclinada & conuersauel.
  5. [1836](Cap. 134) E fazendo eu disto grande espanto, por me parecer que não era possiuel que esta cousa fosse em tanta multiplicação, me disseraõ algũs mercadores homens nobres & de respeito, & mo affirmaraõ com muytas palauras, que em toda a ilha do Iapão auia mais de trezentas mil espingardas, & que elles sómente tinhão leuado de veniaga para os Lequios em seys vezes que là tinhaõ ido, vinte & cinco mil.
  6. [3020](Cap. 200) Eu cõ outros 26. cõpanheyros nos fomos para Malaca, õde despois que chegamos, me detiue eu hũ més sòmẽte, & me torney a embarcar para Iapão cõ hũ Iorge Aluarez natural de Freixo de espada cinta, que em hũa nao de Simão de Mello capitaõ da fortaleza hia para là de veniaga, & auendo ja 26. dias que vellejauamos por nossa derrota com mouçaõ tendente de ventos bonanças, ouuemos vista de hũa ilha que se dezia Tanixumaa noue legoas ao Sul da primeira põta da terra Iapão, & põdo a proa nella, fomos ao outro dia surgir no meyo da angra, que he o surgidouro da cidade Guanxiroo, onde o Nautaquim principe della por sua curiosidade, & por ver cousa noua que nũca aly vira, se veyo logo a nosso bordo, & espãtado do aparato & do vellame da nao, por ser a primeyra que fora a aquella terra, mostrou que folgaua muito cõ a nossa vinda, & nos pedio por algũas vezes que quisessemos ahy fazer fazẽda cõ elle, de que o Iorge Aluarez & os mercadores se escusaraõ por causa de não ser o porto seguro para a nao, se lhe sobreuiesse qualquer tẽporal.
  7. [3049](Cap. 201) E paraque isto se entenda milhor, hase de saber que por ley ou custume antigo deste reyno Iapão, todo o morador de qualquer lugar que seja, do mayor até o mais pequeno, he obrigado a ter em sua casa hum buzio, o qual so grauissimas penas, nenhum tocará senão só em hũa de quatro cousas, as quais saõ, arroido de brigas, fogo, ladroẽs, & caso de traiçaõ: & logo no tocar do buzio se sabe o paraque se toca, porque para brigas se toca hũa vez somente, para fogo se toca duas, para ladroẽs tres, & para caso de traição se toca quatro vezes.
  8. [3180](Cap. 208) Como o padre mestre Francisco foy de Malaca para Iapão, & do que lá passou.
  9. [3277](Cap. 211) & se tambem Iapão não ha mais de seiscentos annos que he pouoado, como todos publicamente pregais, como pode ser auer mil & quinhentos annos que eras mercador em Frenojama, que naquelle tempo, segundo parece, deuia de ser terra deserta?
  10. [3372](Cap. 215) Correndo nos daquy desta paragem, onde Deos nosso Senhor por sua misericordia, & pelas oraçoẽs deste bemauenturado padre nos quis fazer esta tão milagrosa merce, em treze dias de nossa viagem lhe aprouue que chegassemos ao reyno da China, & surtos no porto de Sanchão, onde naquelle tempo se fazia o nosso trato, jâ quando ahy chegamos, por causa de ser muyto tarde não achamos mais que hũa só nao, de que era capitão Diogo Pereyra, & esta jâ de verga dalto para se partir ao outro dia para Malaca, na qual o padre se embarcou, porque a de Duarte da Gama em que viera de Iapão lhe era necessario yr inuernar a Sião, por vir aberta pela roda de proa do grande trabalho que passara na tormenta que atras tenho contado, & là se concertar & prouer de muytas cousas de que tinha necessidade.
  11. [3373](Cap. 215) Nesta viagem que o padre fez da China para Malaca em companhia de Diogo Pereyra que era muyto seu amigo, lhe deu conta dos termos em que ficauão as cousas da Christandade em Iapão, & quão importante lhe era a elle trabalhar todo o possiuel por ver se podia ter entrada na China, assi para lá diuulgar, & dar noticia a aquella gentilidade da ley de Christo nosso Senhor, como por acabar de tomar conclusaõ cos bonzos do reyno de Omanguche, os quais vendose confundidos com as praticas & disputas que tiuera com elles acerca da Fê, lhe responderaõ já por derradeyro, que como da China lhe vieraõ aquellas leys que elles pregauão, & que auia seiscentos annos que tinhaõ aprouadas por boas, se não desdiriaõ por nenhum caso se não quando soubessem que elle conuencera os Chins com as proprias razoẽs com que a elles lhes fizera confessar ser esta ley boa & verdadeyra, & ser para ouuir o que elle pregaua.
  12. [3388](Cap. 215) E em verdade affirmo que quando me ponho a cuydar no que vy por meus olhos das grandes honras que el Rey do Bungo, sendo Gentio, fez em Iapão a este padre, só por lhe dizerem que era homem que daua noticia da ley de Deos, como atras fica dito, & o que despois vy em Malaca, fico pasmado, & assi creyo que o ficara todo o homem Christão que vira hum & o outro.
  13. [3446](Cap. 219) Como o padre mestre Belchior partio da India para Iapão, & a causa porque não passou de Malaca, & do que nella socedeo neste tempo.
  14. [3454](Cap. 219) Estas reuoltas & excessos da justiça, com que a terra andaua toda amotinada, foraõ causa que o padre mestre Belchior com os mais da sua companhia não pudesse aquelle anno passar a Iapão como tinha determinado, pelo qual lhe foy forçado inuernar aquy em Malaca até o Abril seguinte de 1555. que foraõ dez meses.
  15. [3463](Cap. 220) E chegando a ella ao outro dia, prouue a nosso Senhor que a achamos liure daquelle trabalho, mas com fazer muyta agoa pela roda de proa, que despois se lhe tomou em Patane onde chegamos daly a sete dias, & eu cõ outros dous desembarquey em terra, & fuy ver el Rey, & darlhe hũa carta do capitaõ de Malaca, o qual nos recebeo com muyto gasalhado, & lendo a carta do capitão, por ella entendeo que a tençaõ com que aly vinhamos, era para comprarmos mantimẽtos, & nos prouermos de algũas cousas que não traziamos de Malaca, & proseguirmos nossa viagem â China, & dahy a Iapão, para o padre com os mais que leuaua comsigo pregarem lá a ley Christam a aquelles Gentios; pelo qual el Rey, despois de estar hũ pouco pensatiuo, sorrindose para os seus lhes disse, quanto milhor fora a estes, ja que se auenturaõ a tantos trabalhos, irem â China fazerse ricos, que pregarem patranhas a reynos estranhos.

Iapaõ 21(1), 26(1), 60(1), 66(1), 107(1), 112(1), 132(1), 136(1), 137(1), 143(3), 161(1), 171(1), 181(1), 201(1), 202(5), 203(5), 208(3), 210(1), 211(1), 212(1), 213(1), 214(1), 218(2), 220(2), 221(2), 222(1), 223(2), 225(1), 226(2).

Nas orações: 241, 302, 737, 804, 1402, 1500, 1801, 1862, 1889, 1984, 1985, 1991, 2312, 2577, 2686, 3048, 3058, 3069, 3071, 3075, 3076, 3077, 3078, 3181, 3183, 3191, 3243, 3248, 3302, 3338, 3346, 3438, 3443, 3459, 3468, 3475, 3498, 3500, 3518, 3534, 3583, 3588, 3589.

  1. [241](Cap. 21) E porque esta nossa lhe importa a elle mais que todas as outras para este seu danado proposito, nola manda agora tomar, a fim de continuar neste estreito com suas armadas, atè que de todo (como os seus publicamente ja dizem) vos tolha o comercio da droga de Banda, & Maluco, & o trato da nauegaçaõ dos mares da China, Sunda, Borneo, Timor, & Iapaõ, como temos sabido pelo cõtrato que agora nouamente tem feito co Turco, por meyo do Baxà do Cayro, que para isto tomou por seu valedor, o qual lhe tem dado grandes esperanças de ajuda, como pelas cartas que eu trouxe tereis ja sabido.
  2. [302](Cap. 26) Porem antes que trate de outra cousa me pareceo necessario dar relaçaõ do fim que teue esta guerra dos Achẽs, & em que parou o aparato da sua armada, paraque fique entendida a razão do pronostico, & do receyo em que tantas vezes cõ gemidos & suspiros tenho apontado por parte da nossa Malaca, tão importãte ao estado da India, quanto (ao que parece) esquecida daquelles de quẽ com razão diuera ser mais lẽbrada, porque entẽdo que por via de razão, de duas ha de ser hũa, ou destruyrse este Achẽ, ou por seu respeito virmos nos a perder toda a banda do Sul, como he Malaca, Banda, Maluco, Çunda, Borneo, & Timor, a fora no Norte, a China, Iapaõ, Lequios, & outras muytas terras & portos em que a nação Portuguesa, por seus tratos & comercios tem mais importante & mais certo remedio de vida que em todas as outras quantas saõ descubertas do cabo de boa esperança para diante, cuja grandeza he tamanha que se estende a terra por costa em distãcia de mais de tres mil legoas, como se poderâ ver nos mapas & cartas que disso tratão, se sua graduação estiuer na verdade.
  3. [737](Cap. 60) Apos isto se fez inuentayro da fazenda que liquidamente se achou, tirando a que se deu aos Portugueses, & foy aualiada em cento & trinta mil taeis em prata de Iapaõ, & fazendas limpas, como foraõ, citins, damascos, seda, retròs, tafetàs, almizcre, & porcelanas de barça muyto finas, porque então se não fez receita do mais que este Cossayro tinha roubado por toda aquella costa de Sumbor atè o Fucheo, onde auia passante de hum anno que continuaua.
  4. [804](Cap. 66) Concluyda assi esta briga, se fez inuentayro do que o junco dos inimigos trazia, & foy aualiada a presa em oitenta mil taeis, de que a mayor parte era prata de Iapaõ que o cossayro tinha tomado em tres jũcos de mercadores que vinhão de Firando para o Chincheo; de modo que só nesta embarcaçaõ trazia este cossayro cẽto & vinte mil cruzados, & no jũco que se foy ao fũdo disseraõ que trazia quasi outro tanto, de que muytos dos nossos ficaraõ bem magoados.
  5. [1402](Cap. 107) Esta cidade do Pequim de que promety dar mais algũa informaçaõ da que tenho dada, he de tal maneyra, & tais saõ todas as cousas della, que quasi me arrependo do que tenho prometido, porque realmente não sey por onde comece a cumprir minha promessa, porque se não ha de imaginar que he ella hũa Roma, hũa Constantinopla, hũa Veneza, hum Paris, hum Londres, hũa Seuilha, hũa Lisboa, nem nenhũa de quantas cidades insignes ha na Europa por mais famosas & populosas que sejão, nem fora da Europa se ha de imaginar que he como o Cairo no Egypto, Taurys na Persia, Amadabad em Cambaya, Bisnagà em Narsinga, o Gouro em Bẽgala, o Auaa no Chaleu, Timplaõ no Calaminhan, Martauão & Bagou em Pegù, ou Guimpel & Tinlau no Siammon, Odiaa no Sornau, Passaruão & Demaa na ilha da Iaoa, Pangor no Lequîo, Vzanguee no graõ Cauchim, Lançame na Tartaria, & Miocoo em Iapaõ, as quais cidades todas saõ metropolis de grandes reynos, porque ousarey a affirmar que todas estas se não podem comparar com a mais pequena cousa deste grãde Pequim, quanto mais com toda a grandeza & sumptuosidade que tem em todas as suas cousas, como saõ soberbos edificios, infinita riqueza, sobejissima fartura & abastança de todas as cousas necessarias, gente, trato, & embarcaçoẽs sem conto, justiça, gouerno, corte pacífica, estado de Tutoẽs, Chaẽs, Anchacys, Aytaos, Puchancys, & Bracaloẽs, porque todos estes gouernão reynos & prouincias muyto grandes, & cõ ordenados grossissimos, os quais residem continuamente nesta cidade, ou outros em seu nome, quando por casos que soccedem se mandão pelo reyno a negocios de importancia.
  6. [1500](Cap. 112) E esta seita com todas as mais que se achão neste barbarismo da China, que, segundo eu soube delles, & ja disse algũas vezes, saõ trinta & duas, vieraõ do reyno de Pegù ter a Sião, & daly por sacerdotes & cabizondos se espalharaõ por toda a terra firme de Cãboja, Champaa, Laos, Gucos, Pafuas, Chiammay, imperio de Vzanguee, & Cauchenchina, & pelo arcipelago das ilhas de Ainão, Lequios, & Iapaõ, ate os confins do Miacoo & Bandou, de maneyra que a peçonha destes erpes corrõpeo tamanha parte do mũdo como a maldita seita de Mafamede.
  7. [1801](Cap. 132) E surgindo nòs no rosto da ilha em setenta braças, nos sayraão da terra duas almadias pequenas em que vinhaõ seis homẽs, os quais chegando a bordo, dospois de fazerem suas saluas & cortesias a seu modo, nos preguntarão donde vinha o junco, a que se respondeo que da China com mercadarias para fazer ahy veniaga com elles, se para isso nos dessem licença, hum dos seys nos respõdeo, que a licença o Nautoquim senhor daquella ilha Tanixumaa a daria de boa vontade se lhe pagassemos os direytos que se custumauão pagar em Iapaõ, que era aquella grande terra que defronte de nos apparecia.
  8. [1862](Cap. 136) Vinte dias continuos despois que cheguey a esta cidade Fucheo, passey muyto a meu gosto, ora em responder a varias preguntas que el Rey, a Raynha, o Principe, & os senhores me fazião, como gente que naõ tinha noticia de auer mais mundo que Iapaõ, & não me detenho em dar relação do que me elles pregũtauão, & eu respõdia, porque como tudo erão cousas de pouca sustãcia, pareceme que não seruirâ de mais que de encher papel cõ cousas que dera mais fastio que gosto: ora em ver as suas festas, as suas casas de oraçaõ, os seus exercicios de guerra, os seus nauios darmada, & as suas pescarias & caças a que saõ muyto affeiçoados, principalmente âs de altenaria com falcoens & açores ao nosso modo, & algũas vezes passaua tambem o tempo com a minha espingarda, matando muytas rolas, & pombos, & codornizes, de que a terra era bem abastada.
  9. [1889](Cap. 137) Aquy nos detiuemos mais quinze dias, em que o junco de todo acabou de se fazer prestes, & nos partimos para Liampoo, hum porto de mar do reyno da China, de que atras fiz larga menção, onde os Portugueses naquelle tempo tinhão seu trato, & vellejando por nossa derrota, prouue a Deos que chegamos a elle a saluamento, onde dos moradores da terra fomos muyto bẽ recebidos, os quais auendo por cousa noua virmos nòs daquella maneyra entregues á pouca verdade dos Chins, nos perguntarão de que terra vinhamos, & onde nos embarcaramos com elles, a que respõdemos conforme â verdade do que passaua, & lhe demos conta de toda a nossa viagem, & da noua terra de Iapaõ que tinhamos descuberto, & da grande quantidade de prata que nella auia, & do muyto proueito que se fizera nas fazendas da China, de que todos ficarão taõ contentes que não cabião em sy de prazer, & logo ordenarão hũa deuota procissaõ para darem graças a nosso Senhor por tamanha merce, & nella foraõ da igreija mayor que era de nossa Senhora da Conceição, até outra de Santiago, que estaua no cabo da pouoação, onde ouue Missa & pregação.
  10. [1984](Cap. 143) A terra em sy he quasi do teor do Iapaõ, algum tanto em partes montanhosa, mas no interior do sertão he mais plana, & fertil, & viçosa de muytos campos regados de rios dagoa doce, com infinidade de mantimentos, principalmente de trigo & arroz.
  11. [1985](Cap. 143) Tem serras de que se tira muyta quãtidade de cobre, o qual por ser muyto, vai entre esta gẽte tão barato, que de veniaga carregão juncos delle para todos os portos da China, & Lamau, Sumbor, Chabaquee, Tosa, Miacoo, & Iapaõ, com todas as mais ilhas que estão para a parte do Sul, de Sesirau, Goto, Fucanxi, & Pollem.
  12. [1991](Cap. 143) Iaz mais ao Nornoroeste desta terra Lequia hum grande arcipelago de ilhas pequenas, donde se traz muyto grande quantidade de prata, as quais, segundo parece, & eu sempre sospeitey pelo que vy em Maluco nos requerimentos que Ruy Lopez de Vilhalobos general dos Castelhanos fez a dõ Iorge de Castro capitaõ que entaõ era da nossa fortaleza Ternate, deuẽ de ser as de que esta gente tem algũa noticia, as quais nomeauão por islas platarias; ainda que não sey com quãta razão, porque segundo o que temos visto & lido, assi em Ptolomeu como nos mais que escreueraõ da geografia, nenhum destes ouue que passasse do reyno de Sião & da ilha Çamatra, senão sós os nossos Cosmographos, os quais do tempo de Afonso Dalbuquerque para câ passaraõ hum pouco mais adiante, & tratarão ja dos Selebres, Papuaas, Mindanaos, Champaas, China, & Iapaõ, mas não ainda dos Lequios, nẽ dos mais arcipelagos que na grandeza deste mar estão ainda por descubrir.
  13. [2312](Cap. 161) Hũs doze que estauão logo â entrada nas primeyras lapas, tinhão as vestiduras pretas ao modo dos bonzos de Iapaõ, & seguirão a ley de hũ idolo que fora hum homem que se chamou Situmpor micay, que deixou por preceito aos seus sequazes, que em quanto estiuessem vestidos na podridão destes ossos passassem seus dias em muyta aspereza de vida, por que lhes affirmaua que só no castigo da carne estaua o merecimento do ceo muyto mais que em outra cousa nenhũa, & que quanto mais sem piedade se matassem por sy, tanto mais largamente lhe auia Deos de dar todos os beẽs que sempre lhe pedissẽ.
  14. [2577](Cap. 171) E com isto me torney logo naquella mouçaõ a embarcar para a banda do Sul, & tornar de nouo a tentar a fortuna pelas partes da China & de Iapaõ, para ver se onde tantas vezes perdera a capa, me poderia desta vez melhorar noutra menos çafada que a que então sobre mim trazia.
  15. [2686](Cap. 181) E auendo pouco mais de hum mês que estaua nesta cidade esperando pela monção da China para me yr para Iapaõ em companhia de outros seis ou sete Portugueses que para là hião, com cem cruzados de emprego, que os dous com que viera de Çunda me tinhão emprestado, chegou noua certa a el Rey de Siaõ, que então estaua nesta cidade de Odiaa com toda sua corte, que o Rey do Chiammay confederado cos Timocouhós, cos Laos, &cos Gueos, (que saõ quatro naçoẽs de gentes que contra o Nordeste senhoreaõ a mayor parte deste sertão, por cima do Capimper, & Passiloco, & saõ todos senhores absolutos sem darem obediencia a ninguem, muyto ricos & poderosos, & de grandes estados) tinhão posto cerco â cidade de Quitiruão, & morto o Oyaa Capimper fronteyro mór daquella arraya cõ mais de trinta mil homẽs.
  16. [3048](Cap. 201) Ao principe pareceo bem este conselho, & despois de prouer no mais necessario conforme ao tempo em que estaua, mãdou tocar o buzio â chara Iapaõ, com todos os mais que tinha aly comsigo, com que a terra toda foy tão reuolta que faltão palauras para o encarecer.
  17. [3058](Cap. 202) Acabada esta reuolta cõ tanto custo de todas as partes, como a terra ficou toda assolada, & os mercadores eraõ todos fugidos, & el Rey estaua com determinação de se sayr da cidade, nós os poucos Portugueses que ainda ahy estauamos (porque como o tẽpo nos deu lugar nos tornamos a surgir no porto da cidade) desconfiados de podermos ahy estar seguros, & de termos quem nos comprasse nossas fazendas, nos fizemos á vella, & nos passamos a outro porto daly nouẽta legoas, que se chamaua Hiamãgoo, na bahia de Canguexumaa, onde estiuemos dous meses & meyo sem podermos vender cousa nenhũa, porque toda a terra estaua taõ cheya de mercadarias da China, que se perdia do proprio mais das duas partes, porque não auia porto, nem enseada, nẽ angra em toda esta ilha de Iapaõ, onde não estiuessem surtos trinta quarenta juncos, & em algũas partes mais de cento, como foy em Minatoo, Tanoraa, Fiunguaa, Facataa, Angunee, Vbra, & Canguexumaa, de maneyra que naquelle anno foraõ da China a Iapaõ de veniaga passante de duas mil embarcaçoẽs, & era a fazenda tãta & tão barata, que o pico de seda que naquelle tempo se compraua na China por cem taeis, se vendia em Iapaõ por vinte & cinco, vinte & oito, & o mais a trinta, & ainda com muyta aderencia, & todas as mais sortes de fazendas tinhaõ nos seus preços esta mesma baixa, pelo qual ficamos de todo perdidos sem nos sabermos determinar o que fizessemos de nós.
  18. [3069](Cap. 202) Eu arreceoso do que podia ser, me afastey para o mar hum bom tiro de besta, & de lá lhes preguntey o que querião, & elles me responderaõ, se leuares esse Iapaõ (sem fazerem conta do seu cõpaanheyro) sabe que mil cabeças de outros tais como ty haõ de pagar o que agora fazes.
  19. [3071](Cap. 202) E se me eu detiue agora em particularizar as miudezas destes trabalhos, foy pelo successo que elles tiueraõ, de que espero tratar là adiante, paraque claramente se vejão os meyos por onde nosso Senhor ordena ser louuado, & a sua santa Fè exalçada, como adiante se verá, por este homem Iapaõ, cujo nome era Angiroo.
  20. [3075](Cap. 203) O qual tendo nouas deste Iapaõ que traziamos cõ nosco, nos foy logo buscar a Iorge Aluarez & a mim a casa de hum Cosmo Rodriguez ahy casado, onde ambos pousauamos.
  21. [3076](Cap. 203) E despois que gastou com nosco hum pedaço do dia em preguntas curiosas, fundadas todas num viuo zelo da hõra de Deos, & tomar de nós as informaçoẽs do que pretẽdia, ou do que mostraua que desejaua saber de nós, lhe dissemos, sem sabermos das nouas que elle já tinha disto, que aly na não traziamos dous Iapoẽs, hum dos quais, que parecia ser homem de conta, era muito discreto, & muito entendido nas leys & seitas de todo o Iapaõ, que sua reuerẽcia folgaria de ouuir.
  22. [3077](Cap. 203) Elle mostrou aluoroçarse tanto com isto, que nos, por isto que nelle vimos, nos fomos à nao, & trouxemos o Iapaõ ao esprital onde elle pousaua; o qual o recolheo então comsigo, & o leuou daly para a India para onde estaua de caminho, & despois que chegou a Goa o fez lá Christaõ, & lhe pós nome Paulo de santa Fé, o qual em pouco tempo soube ler & escreuer, & toda a doutrina Christã conforme á determinação deste bemauenturado padre, que era, tanto que viesse aquella moução de Abril, yr denunciar ao barbarismo desta ilha Iapaõ Christo Filho de Deos viuo posto na Cruz por peccadores, como elle custumaua dizer, & leuar este homem comsigo para seu interprete, como despois leuou & ao seu companheyro que tambem com elle juntamente se fez Christão, a que o padre pós nome Ioanne, os quais ambos lhe foraõ lâ despois muyto fieis em tudo o que cumprio ao seruiço de Deos, & por cuja causa o Paulo de santa Fè despois foy desterrado para a China, onde foy morto por hũs ladroẽs, como adiãte declararey quando fallar deste desterro.
  23. [3078](Cap. 203) Partido este santo padre daquy de Malaca, para na India effeituar com o Gouernador esta ida a Iapaõ, Simão de Mello, que então, como já disse, era capitão da fortaleza, escreueo delle o que naquellas partes de Maluco fizera por augmentação da nossa santa Fé, & as marauilhas que Deos nosso Senhor por elle obrara.
  24. [3181](Cap. 208) Despois de passada esta gloriosa batalha em que Deos nosso Senhor quiz acreditar este seu bemauenturado seruo assi co que na armada primeyro fez, como co que della despois disse, para confusaõ & arrependimẽto dos maldizentes, por meyo dos quais o inimigo infernal tanto trabalhou pelo desacreditar, elle se partio desta cidade de Malaca para a India naquelle Dezembro seguinte do mesmo anno de 1547. com determinação de pòr em effeito a sua ida ao Iapaõ, & leuou comsigo o Angiroo que despois de Christaõ se chamou Paulo de santa fé, como ja disse, onde aquelle anno se não pode auiar para o effeito do que desejaua, por causa das obrigaçoẽs do seu officio, que era Reitor vniuersal dos collegios da India da cõpanhia de Iesu, & pela morte do Visorrey dom Ioão de Castro que falleceo em Goa o Iunho seguinte do anno de 1548. porem Garcia de Saa que lhe socedeo na gouernança, o despachou o Abril do outro anno de 1549 com prouisoẽs para dom Pedro da Sylua que entaõ era capitaõ de Malaca, lhe dar lá embarcação para onde o Deos encaminhasse.
  25. [3183](Cap. 208) O padre chegou em dia da Assumpçaõ de nossa Senhora, que he a quinze dias do més de Agosto ao porto de Canguexumaa em Iapaõ, que era a patria deste Paulo de santa Fee, onde foy bem recebido de todo o pouo, & muyto milhor do Rey, porque este lhe fez muyto mais festas que todos, acompanhadas de muytas & grandes honras, & mostrou que leuaua muyto gosto do bom proposito com que entraua no seu reyno.
  26. [3191](Cap. 208) A este padre Cosme de Torres deixou agora o padre mestre Francisco neste reyno & cidade de Firando, & acompanhado destoutro padre Ioaõ Fernandez se partio para a cidade do Miocoo, que he no mais oriental de toda a ilha Iapaõ, porque foy informado que ahy residia dassento o seu Cubumcamaa que he o supremo no seu sacerdocio, & com elle outras tres dignidades que se intitulão em Reys, das quais cada hũa por sy distintamente entende no gouerno da justiça, & da guerra, & no bem da Republica, no qual caminho passou muytos & muyto grãdes trabalhos pela aspereza assi das serranias como do tempo em que foy que era já no inuerno, & em clima de quarẽta graos, onde os frios, as chuuas, & os ventos saõ de maneyra que não ha quẽ os possa sofrer, & elle hia muyto falto do que era necessario, assi para isto, como para sustentar a vida, & em alguns passos que estauão pelos caminhos, em que os estrangeyros não podião passar sem pagarem hum certo tributo, elle porque não leuaua cõ que o pagasse passaua por homẽ de pè de algum homem nobre que no caminho se lhe offerecia, pelo qual lhe era necessario, para poder passar em saluo, aturar o andar da caualgadura daquelle a quem acompanhaua.
  27. [3243](Cap. 210) Apos isto, porque eraõ já horas, lhe trouxeraõ de comer, & pedio ao padre que quisesse jantar com elle, de que elle se escusou por tres vezes com muyta cortesia, dizendo que não tinha necessidade, a que el Rey respondeo, muyto bem sey que naõ deues de ter fome, pois dizes que não tẽs necessidade de comer, mas tambem entendo que jâ saberâs (se és Iapaõ como nós) que he este offerecimento entre os Reys o mais certo sinal de amor que se lhe pode mostrar, & porque te eu tenho nessa conta, me ey por muyto honrado em te conuidar.
  28. [3248](Cap. 211) Quarẽta & seis dias eraõ passados despois que este bemauenturado padre entrou nesta cidade Fucheo, metropoli, como ja disse, do reyno do Bũgo na ilha Iapaõ, nos quais sempre entendeo tanto de proposito na conuersaõ das almas, sem tratar doutra nenhũa cousa, que de marauilha Portuguez nenhum podia ter delle hũa só hora, senão se era ás noites em praticas espirituais, & nas menhãs nas confissoẽs.
  29. [3302](Cap. 212) Quando o padre entrou da maneyra que disse, na casa onde el Rey estaua, acompanhado de muytos senhores & gente nobre, elle o agasalhou junto de sy, com honras auentajadas de todos os outros, & quasi iguais âs que fazia a seu irmão, & despois de ter com elle algũa pratica, & fazer quietar a casa, disse ao Fucarãdono que dissesse por parte dos bonzos que razão tinhaõ para se naõ receberem em Iapaõ aquella noua ley que aquelle padre estrangeyro vinha pregar aos moradores daquella cidade?
  30. [3338](Cap. 213) & para que se entenda dõde naceo a este dizer isto, se ha de saber que na lingoa do Iapaõ se chama a mẽtira diusa, & porque o padre quãdo pregaua dezia que aquella ley que elle vinha denũciar era a verdadeyra ley de Deos, o qual nome elles pela grossaria da sua lingoa não podião pronũciar taõ claro como nos & por dizerẽ Deos dezião diùs, daquy veyo que estes seruos do diabo tomaraõ motiuo de dizerẽ aos seus que o padre era demonio em carne que vinha infamar a Deos põdolhe nome de mentiroso: mas cõ a reposta que o padre lhe deu ao este argumento, ficarão os ouuintes muyto satisfeitos, & disseraõ todos a hũa voz, sitaa, sitaa, que quer dizer, jà, já, já, como que dezião, ja caymos no que dizes.
  31. [3346](Cap. 214) Da grande tormenta que passamos indo de Iapaõ para a China, & como fomos liures della por oraçoẽs deste seruo de Deos.
  32. [3438](Cap. 218) Neste mesmo dia á tarde chegou a esta cidade de GoaPortuguez por nome Antonio Ferreyra casado em Malaca, cõ hũ presente de peças ricas para o Visorrey, que lhe mãdaua de Iapaõ el Rey do Bungo, com hũa carta que dezia assi.
  33. [3443](Cap. 218) Esta carta mostrou o Visorrey dõ Afonso ao padre Reitor mestre Belchior, & lhe disse que qual era causa porque se não partia logo para Iapaõ a effeituar hũa cousa de tanto seruiço de Deos, & leuaua cõsigo todo o collegio de S. Paulo de Goa?
  34. [3459](Cap. 220) Como partimos de Malaca para Iapaõ, & do que passamos atê chegarmos à ilha de Champeyloo na Cauchenchina, & do que nella vimos.
  35. [3468](Cap. 220) O padre mestre Belchior praticou logo cos capitaens dellas sobre o que faria de sy, & por parecer de todos foy assentado que mandasse a carauella em que vinha para Malaca por naõ ser embarcação sufficiente para taõ lõga viagem como era daly a Iapaõ, o qual se fez assi, & o padre se embarcou com hũ Francisco Toscano homem rico & honrado, que lhe fez o gasto em toda a viagem, & muyta parte do tempo que esteue na China a elle & a toda a companhia que leuaua comsigo.
  36. [3475](Cap. 221) Ao outro dia pela menham nos partimos desta ilha de Sanchaõ, & ao sol posto chegamos a outra ilha que estâ mais adiante seis legoas para o Norte chamada Lampacau, onde naquelle tempo os Portugueses fazião sua veniaga cos Chins, & ahy se fez sempre ate o anno de 1557. que os Mandarins de Cantaõ a requerimento dos mercadores da terra nos deraõ este porto de Macao onde agora se faz, no qual sendo antes ilha deserta, fizeraõ os nossos hũa nobre pouoaçaõ de casas de tres quatro mil cruzados, & com igreija matriz em que ha Vigayro & beneficiados, & tem capitão & ouuidor & officiais de justiça, & taõ confiados & seguros estão nella com cuydarem que he nossa, como se ella estiuera situada na mais segura parte de Portugal, mas quererâ nosso Senhor pela sua infinita bondade & misericordia que esta sua segurãça seja mais certa & de mais dura do que foy a de Liampoo, que foy outra de Portugueses de que atras já fiz larga mençaõ, auante desta duzentas legoas para o Norte, a qual pelo desmancho de hum Portuguez em muyto breue espaço de tempo foy de todo destruyda & posta por terra, na qual desauẽtura me eu achey presente, & nella ouue hũa inestimauel perda assi de gente como de fazenda, porque tinha esta pouoação tres mil vezinhos, de que os mil & duzentos eraõ Portugueses, & os mais gente Christam de diuersas naçoẽs, & segũdo se affirmou por dito de muytos que bem o sabião, passaua o trato dos Portugueses de tres contos douro, de que a mayor parte era em prata de Iapaõ que auia dous annos que se descubrira, & que se dobraua o dinheyro tres & quatro vezes em qualquer fazenda que para là se leuaua.
  37. [3498](Cap. 221) E porque as fazendas da terra não corrião então como antes custumauão, não ouue naquella moução nao algũa que fosse para Iapaõ, pelo que foy forçado inuernarmos outro anno aquy neste porto, com determinação de no Mayo seguinte, que era daly a dez meses, seguirmos nossa viagem como leuauamos determinado.
  38. [3500](Cap. 222) Entendẽdo o padre mestre Belchior que já aquelle anno não podia passar a Iapaõ, assi por ser gastada a moução, como por outros algũs inconuenientes que para isso auia, ordenou logo fazer em terra hum recolhimento em que se agasalhasse com a mais cõpanhia que leuaua comsigo, & tambem hum modo de igreija em que se pudessem celebrar os officios diuinos, & frequentarense os Sacramentos necessarios á saluação dos homẽs, o que logo se pos por obra.
  39. [3518](Cap. 223) Surtos nos pela misericordia de Deos na bahia da cidade Fucheo de que jà atras fiz menção muytas vezes, que he a metropoly do reyno do Bungo, & onde agora florece a principal Christandade de todo o Iapaõ, se assentou, por parecer dos mais que fosse eu à fortaleza de Osquy, onde tiuemos por nouas que el Rey então estaua, & ainda que eu algum tanto arreceaua esta ida, porque a terra a este tẽpo estaua aleuantada, todauia me foy forçado aceitala, por mo pedirem todos geralmente com muyta efficacia, & fazendome logo prestes com mais quatro cõpanheyros que leuey comigo, despois que receby hum presente que dom Francisco capitão da nao mandaua a el Rey que valeria quinhentos cruzados, me party da nao, & desẽbarcãdo no caiz da cidade me fuy a casa do Quansio andono almirãte do mar, & capitão de Canafama, o qual me recebeo cõ mostras de muyto gasalhado, que algũ tanto me desaliuou do receyo que leuaua.
  40. [3534](Cap. 223) Poderoso Rey & senhor, ainda que este meu atreuimento seja digno de grãde castigo pela desigualdade que Deos quis que ouuesse entre vossa alteza & minha baixeza, a necessidade em que me vejo me faz uso pòr diante este inconueniente de que me pudera temer, porque como eu sou já velho, & tenho muytos filhos de quatro molheres com que fuy casado, & em minha quantidade muyto pobre, desejando como pay que sou de os deixar empatados, pedy por meus amigos que me ajudassem com seus emprestimos, que algũs me concederaõ, & fazendo eu emprego nũa certa fazẽda que por meus peccados não pude vẽder em todo Iapaõ, determiney de a trocar por qualquer cousa que me dessem por ella.
  41. [3583](Cap. 225) Eu vendo na cidade Fucheo andar o negocio dos padres nestes termos, & o padre mestre Belchior já quasi embarcado de todo na nao, me fuy a Osquy ver com el Rey, & lhe pedy a reposta da carta que lhe trouxera do Visorrey, a qual me elle logo deu, porque a tinha ja feita, & por retorno do presente lhe mandou hũas armas ricas, & dous treçados douro, & cem auanos Lequios, a qual carta, que era feita por elle dezia assi Senhor Visorey da magestade honrosa, assentado no trono dos que fazẽ justiça por poderio de cetro, eu Yaretandono Rey do Bungo lhe faço saber, que a esta minha cidade Fucheo veyo a mim de seu mandado Fernão Mendez Pinto com hũa carta de sua real senhoria, & hum presente de armas & de outras peças muyto agradaueis a minha tenção, que muyto estimey por serem da terra do cabo do mũdo por nome Chenchicogim, onde por poderio de armadas muyto grossas, & exercitos de gentes de diuersas naçoẽs reyna o lião coroado do grande Portugal, por cujo seruidor & vassallo me dou de oje por diante com lealdade de amigo taõ verdadeyro & doce como o cantar da serea na tormenta do mar, pelo que lhe peço por merce que em quanto o sol não discrepar do effeito paraque Deos o criou, nem a agoa do mar deixar de subir & decer pelas prayas da terra, se não esqueça desta meuagem que por elle mando fazer ao seu Rey & irmão meu mais velho, por cujo respeito esta minha obediencia fique honrosa, como confio que sempre serâ, & essas armas que là lhe mando, tomarâ por sinal & prenda de minha verdade, como entre nós os Reys de Iapaõ se custuma.
  42. [3588](Cap. 226) Deste porto de Lampacau, partimos a primeyra oitaua do Natal, & chegamos a Goa aos dezassete de Feuereyro, onde logo dey conta a Francisco Barreto da carta que lhe trazia do Rey de Iapaõ, & elle me mandou que lha leuasse ao outro dia, & eu lha leuey com as armas, & treçados, & com as mais peças do presente que leuaua.
  43. [3589](Cap. 226) Elle despois que esteue vendo tudo muyto deuagar, me disse, certeficouos em toda a verdade que tanto prezo estas armas & peças que me agora trouxestes como a propria gouernança da India, porque com ellas, & com esta carta de el Rey de Iapaõ espero de agradar tanto a el Rey nosso senhor que despois de Deos ellas me liurem do castello de Lisboa, onde os mais dos que gouernamos este estado himos desembarcar por nossos peccados.

Iapoa 208(1), 212(1), 213(1).

Nas orações: 3192, 3313, 3340.

  1. [3192](Cap. 208) Chegado em fim a esta insigne cidade Miocoo, metropoli de toda aquella Monarchia da nação Iapoa; se não vio como quisera com este Cubumcamaa, por lhe pedirem por isso cem mil caixas, que eraõ seiscẽtos cruzados, de que se elle por algũas vezes mostrou muyto magoado de os não ter para effeituar isto que tanto desejaua.
  2. [3313](Cap. 212) E ainda que me tenhão ouuido dizer algũas vezes que esta nação Iapoa he a mais sojeita á razão que todos os outros Gentios daquellas partes, todauia os seus bõzos, por hũa natural oufania & presumção que tem de saberem mais que os outros, tomão muyto em caso de honra desdizeremse do que hũa vez disseraõ, nem concederem em argumentos que toquẽ em seu credito, inda que por isso auenturem mil vezes as vidas.
  3. [3340](Cap. 213) E porque tambem este vocablo santi na lingoa Iapoa he torpe & infame, daquy veyo arguyr este ao padre que punha maos nomes aos Sãtos, mas logo lhe declarou a verdade do que naquillo passaua, que el Rey gostou muyto de entender, & daly por diãte mãdou o padre que se naõ dissesse mais sancte, senaõ beate Petre, beate Paule, & assi aos outros Santos, porque já dantes tinhaõ os bonzos todos perante el Rey feito peçonha disto.

Iapoẽs 119(1), 134(2), 135(3), 159(1), 166(1), 178(1), 179(1), 200(1), 203(1), 208(1), 209(1), 211(1), 223(1).

Nas orações: 1609, 1829, 1835, 1840, 1844, 1848, 2261, 2462, 2653, 2667, 3038, 3076, 3201, 3203, 3282, 3520.

  1. [1609](Cap. 119) E subindo logo nas costas destes tres Portugueses todos os Tartaros que estauão ao pé das escadas, o que tambem fizeraõ com muyto esforço, assi por terem seu Capitão diante, como por serem de sua natureza quasi tão determinados como os Iapoẽs, em muyto breue espaço foraõ encima do muro mais de cinco mil dos da nossa parte, os quais com o impeto que leuauão fizeraõ retirar os Chins, & a briga se trauou entre hũs & os outros tão braua, & tanto sem piedade, que em pouco mais de meya hora o negocio ficou logo concluydo, & o castello tomado cõ morte de dous mil Chins & Mogores que estauão dentro nelle, & dos Tartaros não mais que até cento & vinte.
  2. [1829](Cap. 134) Os Iapoẽs vendo aquelle nouo modo de tiros que nunca ate então tinhão visto, derão rebate disso ao Nautaquim que neste tempo estaua vendo correr hũs cauallos que lhe tinhão trazido de fora, o qual espantado desta nouidade, mandou logo chamar o Zeimoto ao paul onde andaua caçando, & quando o vio vir com a espingarda âs costas, & dous Chins carregados de caça, fez disto tamanho caso, que em todas as cousas se lhe enxergaua o gosto do que via, porque como até então naquella terra nunca se tinha visto tiro de fogo, não se sabião determinar co que aquillo era, nem entendião o segredo da poluora, & assentarão todos que era feitiçaria.
  3. [1835](Cap. 134) E despois a derradeyra vez que me là mandou o Visorrey dõ Afonso de Noronha com hum presente para o Rey do Bungo, que foy no anno de 1556. me affirmaraõ os Iapoẽs, que naquella cidade do Fucheo, que he a metropoly deste reyno, auia mais de trinta mil.
  4. [1840](Cap. 135) Avendo jâ vinte & tres dias que estauamos nesta ilha de Tanixumaa descançados & contẽtes, passando o tempo em muytos desenfadamentos de pescarias & caças a que estes Iapoẽs comummente saõ muyto inclinados, chegou a este porto hũa nao do reyno do Bungo, em que vinhão muytos mercadores, os quais desembarcando em terra foraõ logo visitar o Nautoquim com seus presentes, como tem por custume.
  5. [1844](Cap. 135) Olho direyto do meu rosto, assentado igual de mim como cada hũ dos meus amados, Hyascarão goxo Nautoquim de Tanixumaa, eu Oregemdoo vosso pay no amor verdadeyro de minhas entranhas, como aquelle de quem tomastes o nome & o ser de vossa pessoa, Rey do Bũgo & Facataa, senhor da grande casa da Fiancima, & Tosa, & Bandou, cabeça suprema dos Reys pequenos das ilhas do Goto & Xamanaxeque, vos faço saber filho meu pelas palauras de minha boca ditas a vossa pessoa, que os dias passados me certificarão homens que vierão dessa terra que tinheis nessa vossa cidade hũs tres Chenchicogins do cabo do mũdo, gente muyto apropriada aos Iapoẽs, & que vestem seda & cingem espadas, não como mercadores que fazem fazenda, senão como homẽs amigos de honra, & que pretendẽ por ella dourar seus nomes, & que de todas as cousas do mundo que lâ vão por fora vos tem dado grãdes informaçoẽs, nas quais afirmão em sua verdade que ha outra terra muyto mayor que esta nossa, & de gẽtes pretas & baças, cousas increiueis ao nosso juizo, pelo que vos peço muyto como a filho igual aos meus, que por Fingeandono, por quẽ mando visitar minha filha, me queirais mandar mostrar hum desses tres que me lá dizem que tendes pois, como sabeis, mo está pedindo a minha prolongada doença & má disposição, cercada de dores, & de muyta tristeza, & de grãde fastio, & se tiuerem nisto algũ pejo, os segurareis na vossa & na minha verdade, que logo sem falta o tornarey a mãdar em saluo, & como filho que deseja agradar a seu pay, fazey que me alegre cõ sua vista, & que me cũpra este desejo, & o mais que nesta deixo de vos dizer, vos dirâ Fingeandono, pelo qual vos peço que liberalmente partais comigo de boas nouas de vossa pessoa & de minha filha, pois sabeis que he ella a sobrancelha do meu olho direyto, com cuja vista se alegra meu rosto.
  6. [1848](Cap. 135) Nòs os dous, Christouão Borralho & eu, lhe respõdemos, que beijauamos as mãos a sua alteza pela merce que nos fazia em se querer seruir de nòs, & jâ que nisso mostraua gosto, ordenasse qual de nòs queria que fosse, porque se iria logo fazer prestes, a que elle despois de estar hum pouco pensatiuo na deliberação da escolha, apontando para mim respondeo, este, que he mais alegre & menos sesudo, porque agrade mais nos Iapoẽs, & desmalenconize o enfermo, porque grauidade pesada como a destoutro, entre doentes não serue de mais que de causar tristeza, & melanconia, & acrecentar o fastio a quẽ o tiuer.
  7. [2261](Cap. 159) Hum destes se fez no dia da Lũa noua de Dezẽbro, que foy aos noue do mes, & he o dia em que esta gentilidade custuma a celebrar hũa festa a que a gente desta terra chama Massunteriuoo, & os Iapoẽs lhe chamão Forioo, & os Chins Manejoo, & os Lequios Chãpàs, & os Cauchins Ampatilor, & os Siames, Bramás, Pafuâs, & Çacotais lhe chamão Sansaporau de maneyra que ainda que pela diuersidade das lingoas os nomes em sy saõ differentes, todos na nossa lingoagem querem dizer hũa mesma cousa, que he memoria de todos os mortos.
  8. [2462](Cap. 166) Falamos aquy mais com outros homẽs brãcos, que se dezião Pauileus, muyto frecheyros, & grandes caualgadores, vestidos de queimoẽs de seda como Iapoẽs, & comião cõ paos como Chins.
  9. [2653](Cap. 178) Neste mesmo dia se tratou logo de fazerem Pangueyraõ, que, como já algũas vezes tenho dito, he dignidade imperial sobre todos os Pates & Reys daquelle grande arcipelago, a que os escritores Chins, Tartaros, Iapoẽs, & Lequios nomeão por Rate na quem dau, que quer dizer, pestana do mundo, como se pode ver num mapa, se for verdadeyro na graduaçaõ das alturas.
  10. [2667](Cap. 179) Chegados todos os cinco nauios que partimos da Çunda ao porto do Chincheo, onde naquelle tempo os Portugueses fazião seus tratos, estiuemos nelle tres meses & meyo cõ assaz de trabalho & risco de nossas pessoas, por andar a terra então toda reuolta, & os pouos amutinados, & cõ grãdes armadas por toda a costa, por causa dos muytos roubos que os Iapoẽs cossayros tinhão feito nella, de maneyra que não auia quietação para se poder fazer fazenda, nem os mercadores ousauão a sayr de suas casas, pelo que constrangidos nós da necessidade nos passamos ao porto de Chabaquee, onde achamos surtos na barra cento & vinte jũcos, os quais despois que tiueraõ com nosco algũa briga, nos tomarão dos cinco nauios os tres, em que morreraõ quatrocentas pessoas Christãs, de que os oitenta & dous foraõ Portugueses.
  11. [3038](Cap. 200) E como estes Iapoẽs saõ muyto mais ambiciosos de honra que todas as outras naçoens do mundo, determinou este de leuar em tudo ao cabo seu intento, sem pór diante inconueniente nenhum que se lhe offerecesse.
  12. [3076](Cap. 203) E despois que gastou com nosco hum pedaço do dia em preguntas curiosas, fundadas todas num viuo zelo da hõra de Deos, & tomar de nós as informaçoẽs do que pretẽdia, ou do que mostraua que desejaua saber de nós, lhe dissemos, sem sabermos das nouas que elle já tinha disto, que aly na não traziamos dous Iapoẽs, hum dos quais, que parecia ser homem de conta, era muito discreto, & muito entendido nas leys & seitas de todo o Iapaõ, que sua reuerẽcia folgaria de ouuir.
  13. [3201](Cap. 208) Cõ esta reposta despidiraõ logo o Christão que lhes trouxe a carta, o qual hia bẽ contẽte pelo muyto que lhe deraõ, & pelo bõ gasalhado cõ que foy tratado os dias que aly esteue, & em cinco dias de caminho chegou à cidade de Omanguche, onde o padre pela certeza da nao, & pelas cartas que lhe trouxe o recebeo cõ grande aluoroço, & daly a tres dias se partio para a cidade do Fucheo, que he a metropoly do reyno do Bungo, onde nesta nao que tenho dito, que era de Duarte da Gama, estauamos então trinta Portugueses, fazendo nossas fazendas, & hũ sabado chegaraõ a nòs tres Iapoẽs Christaõs que vinhão em sua cõpanhia, pelos quais o capitão Duarte da Gama soube que o padre ficaua daly duas legoas em hũ lugar que se dezia Pimlaxau com dòr de cabeça, & os peis inchados das 60. legoas de caminho que até ly tinha andado, & que lhe parecia, segũdo vinha mal desposto, que auia mister algũs dias para se curar, & poder acabar o caminho, ou hũa caualgadura em que viesse se a quisesse aceytar.
  14. [3203](Cap. 209) Sabẽdo Duarte da Gama capitão da nao que o padre estaua naquella aldea de Pinlaxau tão mal desposto como os tres Iapoẽs lhe tinhão dito, mandou logo recado aos Portugueses que então estauão dassento na cidade vendẽdo suas fazendas, que era hũa legoa do porto õde a nao estaua surta, os quais vierão logo com grande aluoroço, & praticando no que sobre isto fariaõ, se assentou que o fossem buscar ao lugar onde ficara doente, o que logo puseraõ por obra.
  15. [3282](Cap. 211) E correndo adiante por seus argumentos, por mostrar a el Rey & aos outros ouuintes quaõ douto era nas cousas das suas leys, & sustentãdo por parte dos bonzos o que o padre lhe contradizia, lhe preguntou, fazendo disto grãde caso, porque tolhia o vso nefando aos Iapoẽs?
  16. [3520](Cap. 223) Partido eu da cidade, cheguey o outro dia âs noue horas a hũ lugar que se dezia Fingau que seria hũ quarto de legoa da fortaleza de Osquy, donde por hũ dos Iapoẽs que leuaua comigo mandey dizer ao Osquim dono capitão della como eu era aly chegado, & que trazia hũa embaixada do Visorrey da India para sua alteza, pelo que lhe pedia me mandasse dizer quando queria que lhe fallasse; a que me elle respondeo logo por hũ seu filho, que a minha vinda cõ a de todos os meus cõpanheyros fosse muyto boa, & que jâ tinha mandado recado a el Rey à ilha do Xeque para onde fora ante menham cõ muyta gente a matar hũ grãde peixe, a que se não sabia o nome, que do centro do mar aly viera ter com outra grande soma de peixes pequenos, & que pelo ter cercado já num esteyro lhe parecia que não poderia vir senão de noite, mas que do que sua alteza lhe respondesse me mandaria logo recado, mas que entre tanto descançasse noutras casas milhores em que me mãdaua apousentar, onde seria prouido de tudo o necessario, porque toda aquella terra era tanto del Rey de Portugal como Malaca, Cochim, & Goa.

Japão 132(1).

Nas orações: 1788.

  1. [1788](Cap. 132) Como nos partimos desta cidade de Huzamguee, & do que nos aconteceo atè chegarmos â ilha de Tanixumaa que he a primeyra terra do Japão.

Japaõ 200(1).

Nas orações: 3014.

  1. [3014](Cap. 200) Como deste reyno Pégû me embarquey para Malaca, & dahy para Japaõ, & de hum estranho caso que ahy soccedeo.

(2) Objecto geográfico interpretado

Reino (terra, ilha). Parte de: Asia Oriental.

Referente contemporâneo: Japan, Japan (AS). Lat. 35.685360, long. 139.753090.

Ilha, archipélago, gentílico.

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