O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Lequios. Elequios 1(1).

Nas orações: 3.

  1. [3](Cap. 1) Mas por outra parte quãdo vejo que do meyo de todos estes perigos & trabalhos me quis Deos tirar sempre em saluo, & porme em seguro, acho que não tenho tanta razão de me queixar por todos os males passados, quãta de lhe dar graças por este só bẽ presente, pois me quis conseruar a vida, paraque eu pudesse fazer esta rude & tosca escritura, que por erança deixo a meus filhos (porque só para elles he minha tenção escreuella) paraque elles vejão nella estes meus trabalhos, & perigos da vida que passei no discurso de vinte & hũ ãnos em que fuy treze vezes catiuo, & dezasete vendido, nas partes da India, Etiopia, Arabia felix, China, Tartaria, Macassar, Samatra, & outras muitas prouincias daquelle oriental arcipelago, dos confins da Asia, a que os escritores Chins, Siames, Gueos, Elequios nomeão nas suas geografias por pestana do mũdo, como ao diante espero tratar muito particular, & muito diffusamente, & daqui por hũa parte tomem os homẽs motiuo de se não desanimarem cos trabalhos da vida para deixarem de fazer o que deuem, porque não ha nenhũs, por grandes que sejão, com que não possa a natureza humana, ajudada do fauor diuino & por outra me ajudem a dar graças ao Senhor omnipotente por vsar comigo da sua infinita misericordia, a pesar de todos meus peccados, porque eu entendo & cõfesso que delles me nacerão todos os males que por mim passarão, & della as forças, & o animo para os poder passar, & escapar delles com vida.

Lequia 133(1), 140(1), 143(6).

Nas orações: 1809, 1915, 1978, 1982, 1983, 1990, 1991, 1992.

  1. [1809](Cap. 133) E chamando então para jũto de sy hũa molher Lequia que era a interprete por quẽ se entendia co capitão Chim senhor do junco, lhe disse, pregunta ao Necodà, onde achou estes homẽs, ou com que titulo os traz comsigo a esta nossa terra de Iapão?
  2. [1915](Cap. 140) O Broquem mandou logo vir diãte de sy quatro escriuaens, & os dous peretãdas da corte; que saõ como corregedores, como ja disse, & outros dez ou doze ministros da justiça, & leuantandose em pe com sembrante colerico, & hum treçado nù na mão, nos começou a preguntar com voz isenta & hum pouco alta paraque todos o ouuissem, dizendo, Eu o Pinachilau Broquem desta cidade de Põgor por vontade daquelle que todos temos por cabellos das nossas cabeças Rey da nação Lequia, & de toda esta terra dambos os mares, onde as agoas doces & salgadas diuidem as minas dos seus tisouros, vos amoesto & mando co rigor & força da minha palaura, que me digais com coração limpo & claro que gente sois ou de que nação, & qual he a vossa terra & como se chama?
  3. [1978](Cap. 143) Do que mais passamos atè chegarmos a Liampoo, & da informação desta ilha Lequia.
  4. [1982](Cap. 143) E desta maneyra nos partimos desta cidade de Pongor, metropoly desta ilha Lequia, da qual aquy breuemente quiz dar algũa informação, como custumey de fazer nas outras terras de que atras tenho tratado, para que se em algum tẽpo Deos nosso Senhor for seruido de inspirar na nação Portuguesa, que primeyra & principalmente pela exaltação & acrecentamento da sua santa fé Catholica, & apos isso pelo muyto proueito que dahy pode tirar, queyra intentar a cõquista desta ilha, saiba por onde ha de pór os peis, & o muyto que pode ganhar no descobrimento della, & quão facil lhe será conquistala.
  5. [1983](Cap. 143) Esta ilha Lequia jaz situada em vinte & noue graos, tem duzentas legoas em roda, sessenta de cõprido, & trinta de largo.
  6. [1990](Cap. 143) São muyto comedores, & dados às delicias da carne, pouco inclinados às armas, & muyto faltos dellas, por onde parece que será muyto facil conquistallos, em tanto que no anno de 1556. chegou a MalacaPortuguez por nome Pero Gomez Dalmeyda, criado do mestre de Santiago, com hum grande presente & cartas do Nautoquim principe da ilha Tanixumaa para el Rey dom Ioaõ o terceyro que santa gloria aja, & toda a sustancia do seu requerimento vinha fundada em lhe pedir quinhentos homẽs para cõ elles & com a sua gente conquistar esta ilha Lequia, & ficarlhe por isso tributario em cinco mil quintaes de cobre, & mil de latão em cada hum anno, a qual embaixada não ouue effeito por vir este recado a este reyno no Galeão em que se perdeo Manoel de Sousa de Sepulueda.
  7. [1991](Cap. 143) Iaz mais ao Nornoroeste desta terra Lequia hum grande arcipelago de ilhas pequenas, donde se traz muyto grande quantidade de prata, as quais, segundo parece, & eu sempre sospeitey pelo que vy em Maluco nos requerimentos que Ruy Lopez de Vilhalobos general dos Castelhanos fez a dõ Iorge de Castro capitaõ que entaõ era da nossa fortaleza Ternate, deuẽ de ser as de que esta gente tem algũa noticia, as quais nomeauão por islas platarias; ainda que não sey com quãta razão, porque segundo o que temos visto & lido, assi em Ptolomeu como nos mais que escreueraõ da geografia, nenhum destes ouue que passasse do reyno de Sião & da ilha Çamatra, senão sós os nossos Cosmographos, os quais do tempo de Afonso Dalbuquerque para câ passaraõ hum pouco mais adiante, & tratarão ja dos Selebres, Papuaas, Mindanaos, Champaas, China, & Iapaõ, mas não ainda dos Lequios, nẽ dos mais arcipelagos que na grandeza deste mar estão ainda por descubrir.
  8. [1992](Cap. 143) Desta breue informação que tenho dado destes Lequios se pode entẽder, & assi o cuydo eu pelo que vy, que com quaisquer dous mil homẽs se tomara, & senhoreara esta ilha com todas as mais destes arcipelagos, donde resultará muyto mayor proueito que o que se tira da India, & com muyto menos custo, assi de gente como de tudo o mais, porque somente do trato nos afirmarão mercadores com que fallamos, que rendião as tres alfandegas desta ilha Lequia hum conto & meyo douro, a fora a massa de todo o reyno, & as minas de prata, cobre, latão, ferro, aço, chumbo, & estanho, que rendião ainda muyto mais que as alfandegas.

Lequias 143(1).

Nas orações: 1979.

  1. [1979](Cap. 143) O Broquem mandou logo aly trazer duas canastras cheyas de vestidos ja feitos, & os repartio por nòs conforme á falta que via em cada hum, & daly nos leuou comsigo para sua casa, onde sua molher & todas as mais senhoras Lequias nos vierão logo ver, & alem de mostratem contentamento pelo bom successo da nossa soltura, nos consolaraõ com muyto boas palauras, & isto lhes nace de serem as molheres desta terra, naturalmente bem inclinadas.

Lequîo 107(1).

Nas orações: 1402.

  1. [1402](Cap. 107) Esta cidade do Pequim de que promety dar mais algũa informaçaõ da que tenho dada, he de tal maneyra, & tais saõ todas as cousas della, que quasi me arrependo do que tenho prometido, porque realmente não sey por onde comece a cumprir minha promessa, porque se não ha de imaginar que he ella hũa Roma, hũa Constantinopla, hũa Veneza, hum Paris, hum Londres, hũa Seuilha, hũa Lisboa, nem nenhũa de quantas cidades insignes ha na Europa por mais famosas & populosas que sejão, nem fora da Europa se ha de imaginar que he como o Cairo no Egypto, Taurys na Persia, Amadabad em Cambaya, Bisnagà em Narsinga, o Gouro em Bẽgala, o Auaa no Chaleu, Timplaõ no Calaminhan, Martauão & Bagou em Pegù, ou Guimpel & Tinlau no Siammon, Odiaa no Sornau, Passaruão & Demaa na ilha da Iaoa, Pangor no Lequîo, Vzanguee no graõ Cauchim, Lançame na Tartaria, & Miocoo em Iapaõ, as quais cidades todas saõ metropolis de grandes reynos, porque ousarey a affirmar que todas estas se não podem comparar com a mais pequena cousa deste grãde Pequim, quanto mais com toda a grandeza & sumptuosidade que tem em todas as suas cousas, como saõ soberbos edificios, infinita riqueza, sobejissima fartura & abastança de todas as cousas necessarias, gente, trato, & embarcaçoẽs sem conto, justiça, gouerno, corte pacífica, estado de Tutoẽs, Chaẽs, Anchacys, Aytaos, Puchancys, & Bracaloẽs, porque todos estes gouernão reynos & prouincias muyto grandes, & cõ ordenados grossissimos, os quais residem continuamente nesta cidade, ou outros em seu nome, quando por casos que soccedem se mandão pelo reyno a negocios de importancia.

Lequio 143(1).

Nas orações: 1986.

  1. [1986](Cap. 143) Tem mais toda esta terra do Lequio muyto ferro, aço, chumbo, estanho, pedrahume, salitre, enxofre, mel, cera, açucar, & grande quantidade de gengiure muyto milhor & mais perfeito que o da India.

Lequios 26(1), 39(1), 41(1), 56(1), 68(1), 112(1), 132(1), 133(1), 134(1), 137(1), 138(1), 141(1), 143(2), 151(1), 159(1), 178(1), 184(1), 189(1), 224(1), 225(1).

Nas orações: 302, 460, 495, 676, 827, 1500, 1800, 1819, 1836, 1893, 1900, 1952, 1991, 1992, 2141, 2261, 2653, 2755, 2820, 3556, 3583.

  1. [302](Cap. 26) Porem antes que trate de outra cousa me pareceo necessario dar relaçaõ do fim que teue esta guerra dos Achẽs, & em que parou o aparato da sua armada, paraque fique entendida a razão do pronostico, & do receyo em que tantas vezes cõ gemidos & suspiros tenho apontado por parte da nossa Malaca, tão importãte ao estado da India, quanto (ao que parece) esquecida daquelles de quẽ com razão diuera ser mais lẽbrada, porque entẽdo que por via de razão, de duas ha de ser hũa, ou destruyrse este Achẽ, ou por seu respeito virmos nos a perder toda a banda do Sul, como he Malaca, Banda, Maluco, Çunda, Borneo, & Timor, a fora no Norte, a China, Iapaõ, Lequios, & outras muytas terras & portos em que a nação Portuguesa, por seus tratos & comercios tem mais importante & mais certo remedio de vida que em todas as outras quantas saõ descubertas do cabo de boa esperança para diante, cuja grandeza he tamanha que se estende a terra por costa em distãcia de mais de tres mil legoas, como se poderâ ver nos mapas & cartas que disso tratão, se sua graduação estiuer na verdade.
  2. [460](Cap. 39) E auendo ja sete dias que velejauamos por nossa derrota, ouuemos vista de hũa ilha que se dizia Pullo Condor em altura de oito graos & hum terço da parte do norte, & quasi noroeste sueste com a barra de Camboja, & rodeandoa por todas as partes, descubrimos ao rumo de leste hum bom surgidouro que se chamaua Bralapisaõ, que demoraua da terra firme pouco mais de seis legoas, no qual achamos hũ junco de Lequios que hia para o reyno de Sião, com hum Embaixador do Nautaquim de Lindau, Principe da ilha da Tosa, em altura de trinta & seis graos, o qual em nos vendo se fez logo a vella.
  3. [495](Cap. 41) E perguntandolhe elles donde era, ou o que queria, lhe disse elle, que era do reyno de Sião do bairro dos estrãgeyros de Tanauçarim, & que hia de veniaga como mercador que era para a ilha dos Lequios a fazer sua fazenda, & que não entrara aly a mais que a saber de hũ mercador seu amigo que se chamaua Coja Acem que tambem para là hia, se era ja passado adiante, pelo que logo se queria tornar, assi por não perder a moução, como por tambem ter entendido que não podia aly vẽder o que leuaua.
  4. [676](Cap. 56) Avẽdo ja dous dias que nauegauamos ao lõgo da costa de Lamau, cõ ventos & mares bonãçosos, prouue a nosso Senhor que a caso encontramos hũ junco de Patane que vinha dos Lequios, o qual era de hum cossayro Chim que se chamaua Quiay Panjão muyto amigo da nação Portuguesa, & muyto inclinado a nossos custumes & trajos, ẽ cõpanhia do qual andauão trinta Portugueses, homẽs todos muyto escolhidos que este cossayro trazia a seu soldo, a fora outras muytas ventagẽs que cada hora lhes fazia com que todos andauaõ ricos.
  5. [827](Cap. 68) Nesta lanteaa se embarcou Antonio de Faria, & chegando ao caiz com grande estrondo de trombetas, charamellas, ataballes, pifaros, atambores, & outros muytos tangeres de Chins, Malayos, Champaas, Siames, Borneos, Lequios, & outras nações que aly no porto estauão à sombra dos Portugueses, por medo dos cossayros de que o mar andaua cheyo, o desembarcarão della em huma rica cadeyra de estado, como Chaem do gouerno dos vinte & quatro supremos que ha neste imperio, a qual leuauão oito homens vestidos de telilha, com doze porteyros de maças de prata & sessenta albardeyros com panouras & alabardas atauxiadas de ouro, que tambem vierão alugadas da cidade, & oito homens a cauallo com bandeyras de damasco branco, & outros tantos com sombreiros de citim verde, & cramesim, que de quando em quando bradauão â Charachina, paraque a gente se afastasse das ruas.
  6. [1500](Cap. 112) E esta seita com todas as mais que se achão neste barbarismo da China, que, segundo eu soube delles, & ja disse algũas vezes, saõ trinta & duas, vieraõ do reyno de Pegù ter a Sião, & daly por sacerdotes & cabizondos se espalharaõ por toda a terra firme de Cãboja, Champaa, Laos, Gucos, Pafuas, Chiammay, imperio de Vzanguee, & Cauchenchina, & pelo arcipelago das ilhas de Ainão, Lequios, & Iapaõ, ate os confins do Miacoo & Bandou, de maneyra que a peçonha destes erpes corrõpeo tamanha parte do mũdo como a maldita seita de Mafamede.
  7. [1800](Cap. 132) E continuando nossa viagem assi destroçados como hiamos mais tres dias, nos deu hũ temporal de vento esgarraõ por cima da terra tão impetuoso que naquella mesma noite a perdemos de vista, & como então ja a não podiamos tornar a tomar, nos foy forçado arribarmos em popa â ilha dos Lequios onde este cossayro era muyto conhecido, assi do Rey como da outra gente da terra, & nauegando nòs com esta determinaçaõ por este arcipelago de ilhas adiante, como neste tempo naõ leuauamos piloto, por nos ser morto na briga passada, & os ventos Nordestes nos eraõ ponteyros, & as agoas corrião muyto contra nòs, bordejamos às voltas de hum rumo no outro vinte & tres dias com assaz de trabalho, no fim dos quais prouue a nosso Senhor que vimos terra, & chegandonos bem a ella para vermos se daua de sy algũa mostra de angra ou porto de bom surgidouro, lhe enxergamos da parte do Sul quasi ao Orizonte do mar hum grande fogo, por onde imaginamos que deuia de ser pouoada de algũa gente que por nosso dinheyro nos prouesse de agoa de que vinhamos faltos.
  8. [1819](Cap. 133) A primeyra foy dizernos que lhe tinhão dito os Chins & Lequios, que Portugal era muyto mayor em quantidade assi de terra como de riqueza, que todo o imperio da China, ò que nòs lhe concedemos.
  9. [1836](Cap. 134) E fazendo eu disto grande espanto, por me parecer que não era possiuel que esta cousa fosse em tanta multiplicação, me disseraõ algũs mercadores homens nobres & de respeito, & mo affirmaraõ com muytas palauras, que em toda a ilha do Iapão auia mais de trezentas mil espingardas, & que elles sómente tinhão leuado de veniaga para os Lequios em seys vezes que là tinhaõ ido, vinte & cinco mil.
  10. [1893](Cap. 137) Os dous juncos que escapamos milagrosamente, seguimos por nossa derrota, & ambos em hũa conserua fomos até tanto auante como a ilha dos Lequios, & aly com a conjunçaõ da Lũa nos deu tamanho contraste de vẽto Nordeste, que nunca nos mais vimos hum ao outro, & là quasi sobola tarde nos saltou o vento ao Oesnoroeste, com que os mares ficaraõ tão cauados, & com escarceo & vagas taõ altas que era cousa espantosissima de ver.
  11. [1900](Cap. 138) E estando assi todos neste trabalhoso trance, chegaraõ a nós seis de cauallo, & vendonos assi nùs, & sem armas, & cos joelhos em terra, & duas molheres mortas diante de nòs, ouuerão tamanha piedade, que voltando os quatro delles para a gente de pè que vinha atras, os fizeraõ ter a todos, sem consentirem que nenhũ nos fizesse mal, & tomaraõ logo trazendo comsigo seis daquelles de pè que pareciaõ ser ministros de justiça, ou ao menos daquella que então cuydauamos que Deos queria que se fizesse de nòs, & estes, por mãdado dos de cauallo, nos ataraõ a todos de tres em tres, & com mostras de piedade nos disseraõ que naõ ouuessemos medo, porque el Rey dos Lequios era homem muyto temente a Deos, & inclinado por natureza aos pobres, aos quais fazia sempre grandes esmollas, pelo que nos affirmauão em verdade, & jurauaõ por sua ley que nos naõ auia de fazer nenhum mal, as quais consolaçoẽs, inda que nas mostras de fora nos pareceraõ algum tanto piadosas, com tudo naõ nos satisfizeraõ nada, porque jâ a este tempo estauamos tão desconfiados da vida, que ainda que nolas disseraõ pessoas de que tiueramos muyta confiança, piadosamente lho creramos, quanto mais Gentios crueys, & tyrannos, & sem ley nem conhecimento de Deos.
  12. [1952](Cap. 141) Esta carta hia assinada por mais de cem molheres das principais de toda a cidade, & foy mandada por hũa donzella filha do Mandarim Comanilau Gouernador da ilha de Banchaa, que jaz ao Sul desta dos Lequios, a qual donzella partio o mesmo dia que chegou a sentença, ja com duas horas de noite, por ser assi necessario, acompanhada de dous irmãos seus, & de outros dez ou doze parentes, todos gente muyto nobre & dos principais da cidade.
  13. [1991](Cap. 143) Iaz mais ao Nornoroeste desta terra Lequia hum grande arcipelago de ilhas pequenas, donde se traz muyto grande quantidade de prata, as quais, segundo parece, & eu sempre sospeitey pelo que vy em Maluco nos requerimentos que Ruy Lopez de Vilhalobos general dos Castelhanos fez a dõ Iorge de Castro capitaõ que entaõ era da nossa fortaleza Ternate, deuẽ de ser as de que esta gente tem algũa noticia, as quais nomeauão por islas platarias; ainda que não sey com quãta razão, porque segundo o que temos visto & lido, assi em Ptolomeu como nos mais que escreueraõ da geografia, nenhum destes ouue que passasse do reyno de Sião & da ilha Çamatra, senão sós os nossos Cosmographos, os quais do tempo de Afonso Dalbuquerque para câ passaraõ hum pouco mais adiante, & tratarão ja dos Selebres, Papuaas, Mindanaos, Champaas, China, & Iapaõ, mas não ainda dos Lequios, nẽ dos mais arcipelagos que na grandeza deste mar estão ainda por descubrir.
  14. [1992](Cap. 143) Desta breue informação que tenho dado destes Lequios se pode entẽder, & assi o cuydo eu pelo que vy, que com quaisquer dous mil homẽs se tomara, & senhoreara esta ilha com todas as mais destes arcipelagos, donde resultará muyto mayor proueito que o que se tira da India, & com muyto menos custo, assi de gente como de tudo o mais, porque somente do trato nos afirmarão mercadores com que fallamos, que rendião as tres alfandegas desta ilha Lequia hum conto & meyo douro, a fora a massa de todo o reyno, & as minas de prata, cobre, latão, ferro, aço, chumbo, & estanho, que rendião ainda muyto mais que as alfandegas.
  15. [2141](Cap. 151) E feita assi a esmo a aualiaçaõ & a lista desta desauenturada vingãça, se disse que morreraõ a fome, & a ferro cento & sessenta mil pessoas, a fora quasi outras tantas catiuas, & foraõ queimadas cento & quarenta mil casas, & mil & seiscẽtos templos, nos quais dizem que arderão sessenta mil estatuas de idolos, a mayor parte dellas cozidas em ouro, & tres mil elifãtes que se comeraõ no cerco, & seys mil peças de artilharia de ferro & de brõzo, & cem mil quintais de pimenta, & quasi outros tantos de drogas, sandalo, beijoim, lacre, pucho, roçamalha, aguila, canfora, seda, & outras muytas sortes de fazendas muyto ricas, & sobre tudo infinidade de roupas que de todas as partes da India aly tinhão vindo em mais de cem naos de Cambaya, Aachem, Melinde, Ceilão, & de todo o estreyto de Meca, Lequios, & China.
  16. [2261](Cap. 159) Hum destes se fez no dia da Lũa noua de Dezẽbro, que foy aos noue do mes, & he o dia em que esta gentilidade custuma a celebrar hũa festa a que a gente desta terra chama Massunteriuoo, & os Iapoẽs lhe chamão Forioo, & os Chins Manejoo, & os Lequios Chãpàs, & os Cauchins Ampatilor, & os Siames, Bramás, Pafuâs, & Çacotais lhe chamão Sansaporau de maneyra que ainda que pela diuersidade das lingoas os nomes em sy saõ differentes, todos na nossa lingoagem querem dizer hũa mesma cousa, que he memoria de todos os mortos.
  17. [2653](Cap. 178) Neste mesmo dia se tratou logo de fazerem Pangueyraõ, que, como já algũas vezes tenho dito, he dignidade imperial sobre todos os Pates & Reys daquelle grande arcipelago, a que os escritores Chins, Tartaros, Iapoẽs, & Lequios nomeão por Rate na quem dau, que quer dizer, pestana do mundo, como se pode ver num mapa, se for verdadeyro na graduaçaõ das alturas.
  18. [2755](Cap. 184) A Raynha vendo que lhe hia socedendo bem o seu dessenho, buscou logo para isto a gente mais conueniente ao seu danado proposito, & em quem ella tinha mais confiança, & fez hũa guarda de dous mil homẽs de pé, & de quinhentos de cauallo, a fora a ordinaria da casa, que era de seiscentos Cauchins, & Lequios, da qual fez capitão a hum primo daquelle de que tinha parido, chamado Tileubacùs, para co fauor deste ficar mais senhora do que pretendia, & poder milhor effeituar seu desejo.
  19. [2820](Cap. 189) Nos matos da costa tem muito brasil, & pao preto, de que todos os annos se carregão mais de cem jũcos para a China, Ainão, Lequios, Camboja, & Chãpá, & tẽ mais muita cera, mel, & açucar.
  20. [3556](Cap. 224) Chegando nos ao primeyro terreyro do paço, achamos nelle a el Rey que estaua em hũ baileu, ou cadafalso que para isso se mãdara fazer, acompanhado de todos os nobres do reyno, & entre elles tres embaixadores de reynos estranhos, hum de el Rey dos Lequios, outro do Cauchim & ilha da Tosa, & outro do Cubucamá Emperador do Miocoo.
  21. [3583](Cap. 225) Eu vendo na cidade Fucheo andar o negocio dos padres nestes termos, & o padre mestre Belchior já quasi embarcado de todo na nao, me fuy a Osquy ver com el Rey, & lhe pedy a reposta da carta que lhe trouxera do Visorrey, a qual me elle logo deu, porque a tinha ja feita, & por retorno do presente lhe mandou hũas armas ricas, & dous treçados douro, & cem auanos Lequios, a qual carta, que era feita por elle dezia assi Senhor Visorey da magestade honrosa, assentado no trono dos que fazẽ justiça por poderio de cetro, eu Yaretandono Rey do Bungo lhe faço saber, que a esta minha cidade Fucheo veyo a mim de seu mandado Fernão Mendez Pinto com hũa carta de sua real senhoria, & hum presente de armas & de outras peças muyto agradaueis a minha tenção, que muyto estimey por serem da terra do cabo do mũdo por nome Chenchicogim, onde por poderio de armadas muyto grossas, & exercitos de gentes de diuersas naçoẽs reyna o lião coroado do grande Portugal, por cujo seruidor & vassallo me dou de oje por diante com lealdade de amigo taõ verdadeyro & doce como o cantar da serea na tormenta do mar, pelo que lhe peço por merce que em quanto o sol não discrepar do effeito paraque Deos o criou, nem a agoa do mar deixar de subir & decer pelas prayas da terra, se não esqueça desta meuagem que por elle mando fazer ao seu Rey & irmão meu mais velho, por cujo respeito esta minha obediencia fique honrosa, como confio que sempre serâ, & essas armas que là lhe mando, tomarâ por sinal & prenda de minha verdade, como entre nós os Reys de Iapaõ se custuma.

Lequio grande 138(1).

Nas orações: 1899.

  1. [1899](Cap. 138) Os poucos que escapamos deste miserauel naufragio, que naõ forão mais que vinte & quatro, a fora algũas molheres, tanto que a menham foy clara conhecemos que a terra em que estauamos era do Lequio grande, pelas mostras da ilha do fogo & a serra de Taydacão, & ajuntandonos todos assi feridos como estauamos de muytas cutiladas das ostras & das pedras que auia na restinga, encomendandonos a nosso Senhor com muytas lagrimas, começamos a caminhar metidos na agoa até os peitos, & alguns lugares atrauessamos a nado, & desta maneyra caminhamos cinco dias cõtinuos com tanto trabalho quanto a mesma cousa dâ a entender, sem em todos elles acharmos cousa que comessemos senão algũs limos do mar, & no fim destes dias prouue a nosso Senhor que chegamos a terra, & caminhando pelo mato, nos deparou a diuina prouidencia o mantimento de hũas eruas que nesta nossa terra se chamão azedas, de que comemos tres dias que ali estiuemos, até que fomos vistos de hum moço que andaua guardando gado, o qual tãto que nos vio, corrẽdo pela serra acima foy dar rebate de nòs a hũa aldea que estaua daly hum quarto de legoa, o que sabido pelos moradores della, apellidarão logo toda a comarca com grande vozaria de tambores, & buzios, de maneyra que em espaço de tres ou quatro horas se ajũtaraõ passante de duzentas pessoas, de que os quatorze eraõ de cauallo, & tanto que ouueraõ vista de nós se diuidirão em dous magotes, & se vierão direytos a nós, o nosso capitão vendo este triste & miserauel estado em que a desauentura nos tinha posto, se assentou em joelhos & com muytas palauras nos começou a animar, & lembramos que nenhũa cousa se mouia sem a vontade diuina, pelo que como Christãos deuiamos de entender que nosso Senhor se auia por seruido de ser aquella a nossa hora derradeyra, & que pois assi era, nos conformassemos todos com a sua vontade, tomando com muyta paciencia da sua mão aquella tão desestrada morte, pedindolhe de todo nosso coração & com muyta efficacia perdão dos peccados da vida passada, porque elle confiaua em sua misericordia, que gemendo nós todos, como a sua santa ley nos obrigaua, se não lembraria delles naquella hora, & leuantando com isto as mãos & a voz ao ceo, disse por tres vezes, com muytas lagrimas, Senhor Deos misericordia, com as quais vozes se leuantou em todos hũa tamanha grita de hum Christaõ & deuoto pranto, que com verdade posso affirmar que o que então menos se sentia era aquillo que naturalmente mais se teme.

(2) Objecto geográfico interpretado

Reino (ilha). Parte de: Asia Oriental.

Referente contemporâneo: Taiwan, Taiwan (AS). Lat. 26.500000, long. 128.000000.

Gentílico, ilha, reino. A forma Lequios (do Chinês Liu-Kiu, equivalente ao Japonês Ryukyu segundo DHDP s.v. Léquios) não é só plural do gentílico mas também usada como topónimo (cap. 189) para se referir a uma ilha e um arquipélago (cap. 112). Por ‘léquios’ Jaime Cortesão (1985: 1192) reconhece a Formosa e Riukiu. Segundo DHDP os léquios eram referidos também pelo termo ‘gores’ para designar os habitantes do arquipélago Riukiu com a Formosa. GT s.v. Gores, ilhas dos indica que os Portugueses dos quinhentos chamam assim ao arquipélago de Riukiu com inclusão do grupo Meiaco-Sima e Formosa. A terra do Léquio grande (cap. 138) ou ilha Léquia é descrita por FMP (cap. 143): ‘duzentas legoas em roda, sessenta de cõprido, & trinta de largo’. GT s.v. Léquia, ilha identifica com a Formosa usando a Peregrinação como fonte. Assim, o termo léquio como gentílico entendemos abrange a ilha Formosa com todo o arquipélago Ryukyu; o mesmo espaço geográfico lhe corresponde como topónimo ao referir-se a um grupo de ilhas. Quando FMP fala de uma ilha em particular, a maior dos léquios, reconhece-se a Formosa.

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