O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Lisboa. Lisboa 1(3), 2(1), 66(1), 67(1), 89(1), 107(1), 108(1), 226(2).

Nas orações: 4, 5, 7, 13, 807, 814, 1080, 1402, 1440, 3589, 3592.

  1. [4](Cap. 1) E tomãdo por principio desta minha peregrinação o que passey neste Reyno, digo que despois que passei a vida atê idade de dez ou doze annos na miseria & estreiteza da pobre casa de meu pay na villa de Montemór o velho, hum tio meu, parece que desejoso de me encaminhar para milhor fortuna, me trouxe a cidade de Lisboa, & me pos no seruiço de hũa senhora de geração assaz nobre, & de parentes assaz illustres, parecẽdolhe que pella valia assi della como delles poderia auer effeito o que elle pretendia para mim.
  2. [5](Cap. 1) E isto era no tempo em que na mesma cidade de Lisboa se quebrarão os escudos pella morte del Rey dom Manoel da gloriosa memoria, que foy em dia de santa Luzia treze dias do mes de Dezẽbro do anno de 1521. de que eu sou bẽ lẽbrado, & doutra cousa mais antigua deste reyno me não lẽbro.
  3. [7](Cap. 1) Era este nauio hũa fermosa nao de hum mercador de Villa de Conde que se chamaua Siluestre Godinho, que outros mercadores de Lisboa trazião fretada de S. Tome, com muytos açucares, & escrauaria, a qual os pobres roubados, que lamentauão sua desauentura, punhão em valia de quarenta mil cruzados.
  4. [13](Cap. 2) Aos onze dias do mès de Março do Anno de mil & quinhentos & trinta & sete party deste reyno em hũa armada de cinco naos, em que não foy Capitão mór, senão somente os Capitaẽs particulares das naos, os quais erão, na nao Raynha, dom Pedro da Sylua, que d’alcunha se chamaua o Gallo, filho do Conde Almirante dõ Vasco da Gama, na qual trouxe a ossada de seu pay, que el Rey dõ Ioão que então estaua em Lisboa, mandou receber co mòr aparato & pompa funebre que ate oje se recebeo nenhũa que não fosse de Rey: & na nao S. Roque dom Fernando de Lima filho de Diogo Lopez de Lima Alcaide mòr de Guimaraẽs, que logo no anno seguinte de 1538, falleceo em Ormuz sendo Capitão da fortaleza; & na nao santa Barbora, seu primo Iorge de Lima, que hia prouido em Capitão de Chaul; & na nao frol de la mar, Lopo Vaz Vogado Capitão ordinario de viagem; & na nao Galega que foy a em que se perdeo despois Pero Lopez de Sousa; hum Martim de Freiras natural da ilha da Madeyra, que aquelle anno mataraõ em Damaõ com mais trinta & cinco homẽs que leuaua comsigo.
  5. [807](Cap. 66) E nauegando nòs desta maneyra, chegando daly a seis dias às portas de Liampoo, que saõ duas ilhas tres legoas donde naquelle tempo os Portugueses fazião o trato de sua fazenda, que era hũa pouoação que elles tinhaõ feita em terra de mais de mil casas, com gouernança de vereadores, & ouuidor, & alcaides, & outras seis ou sete varas de justiça & officiais da Republica, onde os escriuaẽs no fim das escrituras publicas que fazião punhaõ, E eu foaõ, publico tabalião das notas & judicial nesta cidade de Liampoo por el Rey nosso Senhor, como se ella estiuera situada entre Santarem & Lisboa, & isto com tanta confiança & oufania, que auia ja casas de tres & quatro mil cruzados de custo, as quais todas, assi grandes como pequenas, por nossos peccados foraõ despois de todo destruydas & postas por terra pelos Chins, sem ficar dellas Cousa em que se pudesse pór olhos, como mais largamente contarey em seu lugar.
  6. [814](Cap. 67) E que quanto a se temer de inuernar aly pelo que fizera em Nouday, estiuesse nisso muyto descançado, porque não andaua a terra ao presente tão quieta, que isso pudesse lembrar para nada, assi pela morte do Rey da China, como pelas dissensoẽs que auia em todo o reyno em treze oppositores que pretẽdião o cetro delle, os quais todos estauão ja postos em armas com seus exercitos em campo, para com a força aueriguarẽ o que se não podia determinar por justiça; & que o tutão Nay, que era a suprema pessoa despois do Rey em todo o gouerno com mero & mistico imperio da magestade real, estaua cercado na cidade de Quoansy pelo Prechau Muão Emperador dos Cauchins, em cujo fauor se tinha por certo que vinha o Rey da Tartaria cõ hũ exercito de 900. mil homẽs: assi que a cousa andaua tão baralhada & diuidida entre elles, que ainda que sua merce assolara a cidade de Cantão, se não fizera caso disso, quãto mais a cidade de Nouday que na China em cõparaçaõ de outras muytas era muyto menos do que em Portugal pode ser OeyrasLisboa.
  7. [1080](Cap. 89) Das portas para fora de toda esta casa (que seria quasi do tamanho da igreija de Saõ Domingos de Lisboa) em seis fileyras muyto compridas que a fechauão toda em roda, estaua hũa muyto grande soma de estatuas de gigantes de quinze palmos cada hũa muyto bem proporcionados, as quais erão todas de bronzo fundidas, & tinhão suas alabardas & maças do mesmo nas mãos, & algũas dellas cõ machadinhas âs costas, a qual maquina assi toda por junto representaua hũ tamanho aparato & grandiosidade que a vista se não fartaua de se empregar nella.
  8. [1402](Cap. 107) Esta cidade do Pequim de que promety dar mais algũa informaçaõ da que tenho dada, he de tal maneyra, & tais saõ todas as cousas della, que quasi me arrependo do que tenho prometido, porque realmente não sey por onde comece a cumprir minha promessa, porque se não ha de imaginar que he ella hũa Roma, hũa Constantinopla, hũa Veneza, hum Paris, hum Londres, hũa Seuilha, hũa Lisboa, nem nenhũa de quantas cidades insignes ha na Europa por mais famosas & populosas que sejão, nem fora da Europa se ha de imaginar que he como o Cairo no Egypto, Taurys na Persia, Amadabad em Cambaya, Bisnagà em Narsinga, o Gouro em Bẽgala, o Auaa no Chaleu, Timplaõ no Calaminhan, Martauão & Bagou em Pegù, ou Guimpel & Tinlau no Siammon, Odiaa no Sornau, Passaruão & Demaa na ilha da Iaoa, Pangor no Lequîo, Vzanguee no graõ Cauchim, Lançame na Tartaria, & Miocoo em Iapaõ, as quais cidades todas saõ metropolis de grandes reynos, porque ousarey a affirmar que todas estas se não podem comparar com a mais pequena cousa deste grãde Pequim, quanto mais com toda a grandeza & sumptuosidade que tem em todas as suas cousas, como saõ soberbos edificios, infinita riqueza, sobejissima fartura & abastança de todas as cousas necessarias, gente, trato, & embarcaçoẽs sem conto, justiça, gouerno, corte pacífica, estado de Tutoẽs, Chaẽs, Anchacys, Aytaos, Puchancys, & Bracaloẽs, porque todos estes gouernão reynos & prouincias muyto grandes, & cõ ordenados grossissimos, os quais residem continuamente nesta cidade, ou outros em seu nome, quando por casos que soccedem se mandão pelo reyno a negocios de importancia.
  9. [1440](Cap. 108) Das principaes duas pouoaçoens destas atrauessaõ duas ruas de mais de tiro de falcão cada hũa, que chegão até os aposentos do Chaem, todas com arcos de pedraria cubertos por cima como os do esprital de Lisboa, senão quanto lhe fazem ainda muyta ventagem, nos quais se vendem continuamente quantas cousas se possaõ pedir, assi de mantimentos como de mercadarias muyto ricas, onde ha todas as ouriuizarias douro & de prata, & logeas de mercadores muyto grossos, a quẽ suas riquezas não aproueitão para deixarem de yr comprir seus degredos quando lhe couber por sua successaõ.
  10. [3589](Cap. 226) Elle despois que esteue vendo tudo muyto deuagar, me disse, certeficouos em toda a verdade que tanto prezo estas armas & peças que me agora trouxestes como a propria gouernança da India, porque com ellas, & com esta carta de el Rey de Iapaõ espero de agradar tanto a el Rey nosso senhor que despois de Deos ellas me liurem do castello de Lisboa, onde os mais dos que gouernamos este estado himos desembarcar por nossos peccados.
  11. [3592](Cap. 226) Prouue a nosso Senhor que cheguey a saluamento â cidade de Lisboa aos vinte & dous de Setembro do anno de 1558. gouernãdo então este reyno a Raynha dona Caterina nossa Senhora que santa gloria aja, a quem dey a carta que lhe trazia do Gouernador da India, & lhe relatey por palaura tudo o que me pareceo que fazia ao bẽ do meu negocio: ella me remeteo ao official que então tinha a cargo tratar destes negocios, o qual com boas palauras & milhores esperanças, que eu então tinha por muyto certas, pelo que me elle dezia, me teue os tristes papeis quatro annos & meyo, no fim dos quais não tirey outro fruito senão os trabalhos & pesadumes que passey no requerimento, que não sey se diga que me foraõ mais pesados que quantos passey no discurso do tempo atras.

(2) Objecto geográfico interpretado

Cidade (metrópole). Parte de: Portugal.

Referente contemporâneo: Lisbon, Portugal (EU). Lat. 38.716670, long. -9.133330.

Cidade.38°43′ N 9°8′ W.

Voltar ao índice de entidades