O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Patane. Patane 19(2), 32(1), 33(1), 34(2), 35(3), 36(1), 38(4), 39(2), 42(1), 46(1), 47(1), 50(1), 51(1), 55(1), 56(2), 57(2), 66(1), 71(1), 88(1), 132(1), 181(1), 183(1), 204(1), 205(1), 207(1), 220(2).

Nas orações: 204, 212, 378, 381, 393, 397, 401, 402, 409, 414, 444, 447, 448, 456, 459, 507, 561, 569, 604, 622, 674, 676, 685, 689, 690, 800, 853, 1048, 1794, 2684, 2720, 3121, 3135, 3169, 3463, 3466.

  1. [204](Cap. 19) E porque este Mouro Coja Ale que vinha comigo, era de sua natureza solto da lingoa, & muyto atreuido em falar o que lhe vinha à vontade, parecendolhe que por ser estrangeyro, & com nome de feitor do Capitão de Malaca, poderia ter mais liberdade para isso que os naturais, & que o Rey lho não acoimaria a elle como fazia aos seus, sendo hum dia conuidado doutro Mouro que se daua por seu parẽte, mercador estrãgeyro natural de Patane, parece ser segundo me despois contaraõ, que estando elles no meyo do banquete, ja bem fartos, vieraõ os conuidados a falar neste feito tão publicamente, que ao Rey, pelas muytas escutas que nisso trazia, lhe deraõ logo rebate, o qual sabendo o que passaua, mandou cercar a casa dos conuidados, & tomandoos a todos, que eraõ dezassete, lhos trouxeraõ atados.
  2. [212](Cap. 19) E conhecendo elle então que estaua eu ja fora do sobresalto, & que podia responder a proposito, me disse, muyto bem sey Portuguez que ja te diriaõ como os dias passados matara eu meu pay, o qual fiz porque sabia que me queria elle matar a mim, por mexericos que homẽs maos lhe fizeraõ, certificandolhe que minha mãy era prenhe de mim, cousa que eu nunca imaginey; mas ja que com tanta sem razão elle tinha crido isto, & por isso tinha determinado de me dar a morte, quislha eu dar primeiro a elle, & sabe Deos quanto contra minha vontade, porque sempre lhe fuy muyto bom filho, em tãto, que por minha mãy não ficar como ficão outras muytas viuuas, pobres, & desemparadas, a tomey por molher, & engeitey outras muytas com que dantes fuy cometido, assi em Patane, como em Berdio, Tanauçarim, Siaca, Iambè, & Andraguirè, irmãs & filhas de Reys, com que me puderaõ dar muyto dote.
  3. [378](Cap. 32) E desta maneyra que tenho contado, & que puntualmente assi passou na verdade, ficou o reyno de Aarù liure deste tyranno Achem, & em poder do Rey do Iantana, atè o anno de mil & quinhentos sessenta & quatro, que o mesmo Achem com hũa frota de duzentas vellas, fingindo yr sobre Patane, deu manhosamente hũa noite no Iantana, onde o Rey então estaua, & o tomou às mãos com suas molheres & filhos, & outra muyta gente, & os leuou catiuos para sua terra, onde de todos, sem perdoar a nenhum, mandou fazer crueys justiças, & ao Rey com hum pao muyto grosso fez botar os miolos fora, & tornou de nouo a senhorear o reyno de Aarù, de que logo intitulou por Rey o seu filho mais velho, que foy o que despois mataraõ em Malaca vindoa elle cercar, sendo Capitão da fortaleza dom Lionis Pereyra filho do Cõde da Feira, que lha defendeo com tanto esforço, que pareceo mais milagre que obra natural, por ser então tamanho o poder deste inimigo, & os nossos tão poucos em sua comparação, que bem se pudera dizer com verdade que eraõ duzentos Mouros para cada Christão.
  4. [381](Cap. 33) Sendo eu, como ja atras tenho dito, cõualecido da doẽça que trouxe do catiueyro de Siaca, Pero de Faria desejando de me abrir algũ caminho por onde eu viesse a ter algũa cousa de meu, me mandou em hũa lanchara de remo ao reyno de Pão, cõ dez mil cruzados de sua fazẽda, para os entregar a hũ seu feitor que là residia, por nome Tomé Lobo, & dahy me passar a Patane, que era outras cem legoas auante, cõ hũa carta & hũ presente para o Rey, & tratar cõ elle a liberdade de hũs cinco Portugueses que no reyno de Sião estauão catiuos do Monteo de Banchà seu cunhado.
  5. [393](Cap. 34) Daly a algũs dias querẽdo eu seguir minha viagẽ para onde leuaua determinado, que era atè Patane, o Tomè Lobo mo não consintio, pedindome muyto que o não fizesse, porque me afirmaua que se não auia por seguro naquella terra, por lhe dizerem que hum Tuão Xerrafaõ, homem muyto principal nella, tinha jurado de lhe pór o fogo à casa, para o queimar dentro cõ quanta fazenda nella estiuesse, por dizer que em Malaca lhe tomara hum feitor do Capitão cinco mil cruzados em beijoim, & seda, & aguila, a muyto menos preço do que valia, & lhos pagara em roupa podre a como quisera, pelo que dos cinco mil cruzados de emprego, que em Malaca valião mais de dez mil, a fora o retorno de boas fazendas que de lá pudera trazer em que mõtaria quasi outro tanto de ganho, não tirara mais que sòs setecẽtos cruzados.
  6. [397](Cap. 34) Eu, vẽdome assi cõfuso entre o requerimẽto que me elle fazia para ficar, & o perigo que eu corria se ficasse, não me sabia determinar a qual destes dous estremos me inclinasse, pelo qual, despois de lançar minhas cõtas, me foy forçado por melhor remedio, vir a concerto cõ elle por esta maneyra, que se dentro de quinze dias se não auiasse para se embarcar comigo naquella lanchara para Patane, com a fazenda feita em ouro & pedraria, de que então auia na terra muyta quantidade, assi de hũa cousa como de outra, que eu me pudesse yr liuremente para onde leuaua minha derrota, o que elle aceitou, & desta maneyra ficamos ambos bem auindos.
  7. [401](Cap. 35) Na lanchara nos deixamos estar ate que foy menham com assaz de afflição, porem com boa vigia, para vermos o em que paraua a grande vnião que geralmente auia em todo o pouo, & vendo que hia o negocio cada vez para pior, ouuemos por milhor conselho passarmonos daly para Patane, que pormonos a risco de nos acabarem aly de matar, como fizeraõ a mais de quatro mil pessoas.
  8. [402](Cap. 35) E partindonos logo daly, dentro de seis dias chegamos a Patane, onde fomos bem recebidos dos Portugueses que auia na terra, aos quais demos conta de tudo o que acontecera em Paõ, & do mao estado em que ficaua a miserauel cidade, de que todos mostraraõ pesarhes muyto, & querendo fazer sobre isto algũa cousa, mouidos somente do zelo de bõs Portugueses, se foraõ todos a casa del Rey, & se lhe queixaraõ muyto da sem razão que se fizera ao Capitão de Malaca, & lhe pediraõ licença para se entregarem da fazenda que lhe era tomada, o que el Rey lhes concedeo leuemente, dizendo: Razão he que façais como vos fazem, & que roubeis quem vos rouba, quãto mais ao Capitão de Malaca, a quem todos sois tão obrigados.
  9. [409](Cap. 35) Rendidos & tomados os tres juncos, os nossos se fizerão à vella, & se sayrão do rio, leuãdo os juncos comsigo, porque ja neste tẽpo toda a terra estaua amotinada, & nauegando daly para Patane com bom vento, chegarão lâ ao outro dia quasi à vespora, & surtos, saluaraõ o porto com grande festa & estrondo de artilharia, a que os Mouros da terra não tinhão paciencia.
  10. [414](Cap. 36) Avendo ja vinte & seis dias que eu estaua aquy em Patane acabãdo de auiar hũa pouca de fazenda que viera da China para me tornar logo, chegou hũa fusta de Malaca, de que vinha por Capitão hum Antonio de Faria de Sousa, o qual, por mandado de Pero de Faria, vinha a fazer aly certo negocio com el Rey, & assentar com elle de nouo as pazes antiguas que tinha com Malaca, & agradecerlhe o bom tratamento que no seu reyno fazia aos Portugueses, & outras cousas a este modo de boa amizade, importantes ao tempo, & ao interesse da mercancia, que na verdade era o que mais se pretendia que tudo, porem esta tenção vinha rebuçada com hũa carta a modo de embaixada, acompanhada de hum presente de boas peças, mandadas em nome del Rey nosso Senhor, & â custa de sua fazenda, como he custume fazerem os Capitaẽs todos naquellas partes.
  11. [444](Cap. 38) Quem era esta molher com quem hiamos, & como nos mandou para Patane, & do que fez Antonio de Faria sabida a noua da nossa perdição, & da fazẽda que lhe tomarão.
  12. [447](Cap. 38) Passados os vinte & tres dias que disse, em que prouue a nosso Senhor que de todo conualecemos, & nos achamos em disposição para caminhar, nos encomendou ella a hum mercador seu parente que hia para Patane, que era daly oitenta & cinco legoas, o qual nos meteo comsigo num calaluz de remo em que elle mesmo hia.
  13. [448](Cap. 38) E nauegando por hũ grande rio de agoa doce, que se dizia Sumheehitão, chegamos daly a sete dias a Patane.
  14. [456](Cap. 38) Nesta yda foy tambem necessario yr o pobre de mim, por me ver sem hum só vintem de meu, nẽ quem mo desse nem emprestasse, & deuer em Malaca mais de quinhentos cruzados que algũs amigos me tinhaõ emprestado, os quais, cõ mais outros tantos que tinha de meu, todos por meus peccados o perro me leuou na volta dos outros de que tenho contado, sem saluar de tudo quanto tinha de meu mais que a pobre pessoa, cõ tres zargunchadas, & hũa pedrada na cabeça, de que estiue á morte por tres ou quatro vezes, & ainda aquy em Patane me tiraraõ hũ osso antes que acabasse de sarar della.
  15. [459](Cap. 39) Tanto que Antonio de Faria esteue de todo prestes, se partio daquy de Patane hũ Sabado noue de Mayo do anno de 1540. & fez seu caminho ao nornoroeste via do reyno de Champaa, cõ determinaçaõ de descubrir nelle os portos & angras daquella costa, & ahy por qualquer via, de boa pilhagem se reformar dalgũas cousas de que vinha falto, porque como a sua sayda de Patane foy hũ pouco apressada, não vinha tão bem prouido do necessario que não ouuesse myster refazerse de muytas cousas, principalmente de mantimentos, & muniçoẽs, & de poluora.
  16. [507](Cap. 42) E tanto que foy noite, porque a lorcha em que viera de Patane fazia muyta agoa, ordenou por parecer de todos os soldados, que antes de bulir em outra nenhũa cousa se passasse a outra melhor embarcaçaõ, o que logo foy feito.
  17. [561](Cap. 46) E partido daly se fora ao porto de Liãpoo, onde aquelle anno fizera fazenda, & receoso de yr a Patane por causa dos Portugueses que lâ residiaõ, se fora inuernar a Siaõ, & o anno seguinte se tornara ao porto do Chincheo, onde tomara hum junco pequeno cõ dez Portugueses, que vinha da Çunda, & os matara a todos.
  18. [569](Cap. 47) E fazendonos à vella cos tres juncos, & com a lorcha em que vieramos de Patane, costeamos a terra com ventos ponteyros de hũ bordo no outro, atê hum morro que se dezia Tilaumera onde surgimos, porque a corrente da agoa era contra nós.
  19. [604](Cap. 50) Mas como he custume de Deos nosso Senhor de grandes males tirar grandes beẽs, permitio pela inteireza de sua diuina justiça, que do roubo que Coja Acem nos fez na barra de Lugor, como atras fica dito, nacesse a Antonio de Faria determinarse em Patane de o yr buscar, para castigo de outros ladroẽs que tão merecido o tinhão à nação Portuguesa.
  20. [622](Cap. 51) E confiado o Ruy Lobo na amizade antigua que com elle tiuera, lhe pedira em joelhos chorando que o quisesse recolher no seu junco, em que naquelle tempo estaua de caminho para Patane, porque lhe prometia, & assi lho juraua como Christaõ de lhe dar por isso dous mil cruzados, o que elle aceitara, mas que despois de o ter recolhido, fora aconselhado pelos Mouros que se não fiasse em amizade de Christaõ, se naõ queria perder a vida, porque como cobrassem mais forças, lhe auião de tomar o junco com quanta fazenda leuaua, porque assi o custumauão de fazer em todas as partes onde se achauão, pelo qual receoso elle de poder vir a ser o que os Mouros lhe dizião, os matara hũa noite a todos estãdo dormindo, de que despois se arrepẽdera muytas vezes.
  21. [674](Cap. 55) Nisto gastamos, como ja disse, quinze dias nesta ilha, nos quais os enfermos cõualeceraõ de todo, & nos partimos na via do reyno de Liampoo, onde tinhamos por nouas que auia muyta gente Portuguesa, que ahy era vinda de Malaca, de Çunda, de Sião, & de Patane, a qual toda naquelle tempo aly custumaua de vir inuernar.
  22. [676](Cap. 56) Avẽdo ja dous dias que nauegauamos ao lõgo da costa de Lamau, cõ ventos & mares bonãçosos, prouue a nosso Senhor que a caso encontramos hũ junco de Patane que vinha dos Lequios, o qual era de hum cossayro Chim que se chamaua Quiay Panjão muyto amigo da nação Portuguesa, & muyto inclinado a nossos custumes & trajos, ẽ cõpanhia do qual andauão trinta Portugueses, homẽs todos muyto escolhidos que este cossayro trazia a seu soldo, a fora outras muytas ventagẽs que cada hora lhes fazia com que todos andauaõ ricos.
  23. [685](Cap. 56) A que o Panjão respõdeo, eu senhor Capitão, naõ tenho tanto quanto algũs cuydaõ de mim, mas ja em outro tempo tiue muyto, & tambem desastres da fortuna, como esse teu de que agora me deste conta, me leuaraõ a mayor parte da minha riqueza, & por isso receyo de me yr meter em Patane, onde tenho molher & filhos, porque sey certo que me ha el Rey de tomar quanto leuo, porque me vim de là sem sua licença, & ha de fazer disto peçonha, só a fim de me roubar, como ja algũas vezes fez a outros por muyto menos causa que esta, de que me pode arguyr, pelo qual te digo que se quiseres & fores contente que eu te acompanhe nessa viagẽ que queres fazer, com cem homẽs que trago neste meu junco, & quinze peças de artilharia, & trinta espingardas, a fora outras mais de quarenta que trazẽ estes Portugueses que andão comigo, eu o farey de muyto boa vontade, cõ tanto que do que se aquirir se me ha de dar a terça parte, & disso, senhor, se te praz me has de dar hum assinado teu, & jurarme em tua ley de mo cumprires inteyramente.
  24. [689](Cap. 57) Partidos nos deste rio de Anay muyto bem apercebidos de tudo o necessario para a viagem que estaua determinado fazerse, pareceo bem a Antonio de Faria por conselho do Quiay Panjão, de que sempre fez muyto caso, pelo conseruar em sua amizade, yr surgir no porto do Chincheo, para ahy se informar pelos Portugueses que eraõ vindos da Çunda, de Malaca, de Timor, & de Patane, de algũas cousas necessarias a seu proposito, & se tinhão nouas de Liampoo, porque se soaua então pela terra que era la ida hũa armada de quatrocentos juncos, em que hião cem mil homẽs por mandado del Rey da China a prender os nossos que là residião dassẽto, & queimarlhe as naos, & as pouoaçoẽs, porque os não queria em sua terra, por ser informado nouamente que não eraõ elles gente taõ fiel & pacifica como antes lhe tinhaõ dito.
  25. [690](Cap. 57) Chegados nòs ao porto do Chincheo achamos ahy cinco naos de Portugueses que auia ja hũ mès que eraõ chegadas destas partes que disse, dos quais fomos muyto bem recebidos & agasalhados com muyta festa & contentamento, & despois que nos deraõ nouas da terra, & da mercancia, & da paz & quietaçaõ do porto, nos disseraõ que de Liampoo nao sabião nada, mais que dizeremlhe os Chins, que auia là muytos Portugueses de inuernada, & outros vindos nouamente de Malaca, da Çunda, de Sião, & de Patane, & que fazião na terra suas fazendas pacificamente, & que a armada grossa de que nos temiamos, não era là, mas que se presumia que era ida âs ilhas do Goto em socorro do Sucão de Pontir, aquẽ se dezia que hum seu cunhado tyrannicamente tinha tomado o reyno, & porque este Sucão se fizera nouamẽte subdito do Rey da China, com tributo de cem mil taeis cada anno lhe dera aquella armada dos quatrocẽtos juncos, em que se affirmaua que hião cem mil homẽs para o meterẽ de posse do reyno ou senhorio que lhe tinhão tomado; com a qual noua todos ficamos descançados, & demos por isso muytas graças a nosso Senhor.
  26. [800](Cap. 66) Partidos nòs daquy deste porto de Nouday, auendo ja cinco dias que vellejauamos por entre as ilhas de Comolem & a terra firme, hum sabbado ao meyo dia nos veyo cometer hum ladraõ por nome Prematà Gundel, grandissimo inimigo da naçaõ Portuguesa, & a quem ja por vezes tinha feito muyto dano, assi em Patane, como em Çunda, & Sião, & nas mais partes onde acertaua de os achar a seu proposito, & parecendolhe que eramos Chins, nos cometeo com dous juncos muyto grandes, em que trazia duzentos homẽs de peleja, a fora a esquipação da mareagem das vellas, & aferrando hum delles o junco de Mem Taborda, o teue quasi rendido, porem o Quiay Panjaõ, que hia hum pouco mais ao mar, vendoo daquella maneyra voltou sobre elle, & abalroou o junco do inimigo assi infunado como vinha, & tomãdoo pela quadra destibordo, lhe deu tamanha pancada que ambos aly logo se foraõ ao fundo, com que o Mem Taborda ficou liure do perigo em que estaua; a isto acudiraõ com muyta pressa tres lorchas nossas que Antonio de Faria leuara do porto de Nouday, & quis nosso Senhor que chegando ellas saluaraõ a mayor parte da nossa gente, & os da parte contraria se afogaraõ todos.
  27. [853](Cap. 71) Nestas duas embarcaçoẽs hião cinquenta & seis Portugueses, & hum padre Sacerdote de Missa, & hião mais quarenta & oito marinheyros para o remo, & para a mareação das vellas, naturaes de Patane, a que se fez bom partido, por ser esquipação fiel & segura, & a fora estes hião quarenta & dous escrauos nossos, assi que por todos eraõ cento & quarenta & seis pessoas, & não forão mais porque o cossairo Similau, que era o nosso Piloto, não quiz que fossem, nem taõ pouco quiz mais embarcaçoẽs, por arrecear poder ser sentido, porque como auia de atrauessar a enseada do Nanquim, & entrar por rios frequentados de muyta gente, temia muyto acontecerlhe algum desastre dos muytos a que hiamos offerecidos.
  28. [1048](Cap. 88) O terceyro rio por nome Tauquiday, que quer dizer, mãy das agoas, vem cortãdo ao Oesnoroeste pelo reyno de Nacataas, que he hũa terra dõde antigamente se pouoou a China, como adiãte direy, este tem sua entrada no mar pelo imperio do Sornau, aque o vulgar chama Sião pela barra de Cuy abaixo de Patane cento & trinta legoas.
  29. [1794](Cap. 132) Daquy nos partimos hũa terça feyra pela menham, & continuamos por nossa derrota mais treze dias, no fim dos quais chegamos ao porto de Sanchão no reyno da China, que he a ilha onde despois falleceo o bemauenturado padre mestre Francisco, como adiante se dirâ, & não achando aly ja a este tempo nauio de Malaca, por auer noue dias que erão partidos, nos fomos a outro porto mais adiãte sete legoas por nome Lampacau, onde achamos dous juncos da costa do Malayo, hũ de Patane, & outro de Lugor.
  30. [2684](Cap. 181) Avendo quasi hum mès que estauamos neste porto da Çunda bem prouidos dos Portugueses, como então era ja chegada a monção da China, as tres naos se partirão para o Chincheo, sem ahy na terra ficarem mais Portugueses que sós dous, que num junco de Patane se foraõ com suas fazendas para Sião, em cõpanhia dos quais me foy forçado irme eu tambem, porque me quiseraõ elles fazer o gasto da jornada, & me prometeraõ de me fazerem lâ algũ emprestimo, com que de nouo tornasse a tentar a fortuna, a ver se por importunação me podia melhorar com ella.
  31. [2720](Cap. 183) Outra vez, no anno de 1545. sendo Simão de Melo capitão da mesma fortaleza de Malaca, vindo hum Luis de Mõtarroyo da China para Patane, acertou por caso fortuito de vento trauessaõ de dar com hũa nao sua â costa no porto de Chatir, abaixo de Lugor cinco legoas, onde pelo Xabandar da terra lhe foy tomada toda a fazenda que o mar lançou fora, & elle foy preso cõ todos os mais que se saluaraõ, que foraõ vinte & quatro Portugueses, & cinquenta moços & criãças pequenas, que ao todo erão setenta & quatro pessoas Christãs, & a fazenda que se saluou da nao montou quinze mil cruzados.
  32. [3121](Cap. 204) E sendo ja sobola tarde, como todos tinhão os olhos no que elle tinha dito, inda que cõ differẽtes animos, cõforme à fé que cada hũ tinha, hũa hora antes do sol posto pouco mais ou menos, se deu rebate de cima do outeyro de nossa Senhora que para a parte do Norte aparecião duas vellas latinas, com a qual noua foy tamanho o aluoroço no pouo, que era cousa de espanto, o capitão Simão de Mello mandou logo là hũ balão esquipado a saber o que era, o qual trouxe recado que eraõ duas fustas em que hião sessenta Portugueses, de hũa das quais era capitão Diogo Soarez o Galego, & da outra Baltezar Soarez seu filho, as quais ambas vinhaõ de Patane, com determinação de passarem de largo para Pégù, para onde leuauão sua derrota.
  33. [3135](Cap. 205) E como a armada não leuara mantimentos para mais que para hum só mês, & elles tinhão já gastados trinta & seis dias de sua viagẽ, & neste tẽpo ja não tinhão cousa nenhũa para comerẽ, lhes foy forçado iremno buscar a Iunçalão, ou a Tanauçarim, que eraõ portos muyto distãtes daquelle lugar para a costa do reyno Pégù, & cõ esta determinação se abalarão donde estauão, & começarão a fazer seu caminho, indo todos bem enfadados destes successos, mas prouue a nosso Senhor autor de todos os beẽs, que deu o tempo cõ elles na costa de Quedaa, & entrando no rio Parlès com fundamento de fazerem nelle agoada, & seguirem adiãte por sua derrota, viraõ de noite passar hum paraoo de pescadores ao lõgo da terra, & o capitão mòr o mandou buscar para saber delle onde era a agoada; trazido o paraoo a bordo, elle fez gasalhado aos que vinhaõ nelle, de que elles ficaraõ contentes, & preguntados hũ por hũ algũas particularidades necessarias, responderaõ todos que a terra estaua toda deserta, & o Rey era fugido para Patane, por causa de hũa grossa armada que auia més & meyo que aly estaua dassento com cinco mil Achẽs fazendo hũa fortaleza, & esperando as naos dos Portugueses que viessem de Bengala para Malaca, com fundamento, como elles dezião, de a nenhum Christão darem a vida, & tambem descubriraõ outras muytas cousas necessarias a nosso proposito, de que o capitaõ mòr ficou taõ contente, que se vestio de festa, & mandou embandeyrar toda a armada.
  34. [3169](Cap. 207) Esforçado senhor capitão, estando eu na crecẽça da lũa em Andraguiree com esta armada prestes para a mandar sobre el Rey de Patane, por algũas razoẽs que me moueraõ ao castigar, de que tu jà terás algũa noticia, fuy certificado das crueis mortes que os Achẽs deraõ aos teus, de que tiue tanta dór em meu coração como se todos foraõ meus filhos, & porque sempre desejei de mostrar a el Rey de Portugal meu irmão o amor entranhauel que lhe tenho, tãto que soube esta triste noua, esquecendome da vingança que pretendia de meus inimigos, me vim meter aquy neste rio para delle, como bom amigo, te socorrer cõ minhas forças, & gente, & armada, pelo que te peço muyto, & da parte de teu Rey meu irmão te requeyro que me dés licença para em seu fauor & ajuda yr surgir nesse porto, antes que os inimigos a teu despeito o fação, como sou informado que querem fazer.
  35. [3463](Cap. 220) E chegando a ella ao outro dia, prouue a nosso Senhor que a achamos liure daquelle trabalho, mas com fazer muyta agoa pela roda de proa, que despois se lhe tomou em Patane onde chegamos daly a sete dias, & eu cõ outros dous desembarquey em terra, & fuy ver el Rey, & darlhe hũa carta do capitaõ de Malaca, o qual nos recebeo com muyto gasalhado, & lendo a carta do capitão, por ella entendeo que a tençaõ com que aly vinhamos, era para comprarmos mantimẽtos, & nos prouermos de algũas cousas que não traziamos de Malaca, & proseguirmos nossa viagem â China, & dahy a Iapão, para o padre com os mais que leuaua comsigo pregarem lá a ley Christam a aquelles Gentios; pelo qual el Rey, despois de estar hũ pouco pensatiuo, sorrindose para os seus lhes disse, quanto milhor fora a estes, ja que se auenturaõ a tantos trabalhos, irem â China fazerse ricos, que pregarem patranhas a reynos estranhos.
  36. [3466](Cap. 220) E partidos deste porto de Patane corremos dous dias cõ ventos Suestes de moução tendente ao lõgo da costa de Lúgor & Sião, & atrauessando da barra de Cuy para yrmos demandar Pullo Cambim, & dahy as ilhas de Cantão, com fundamento de esperarmos ahy a conjunçaõ da lũa noua, nos sobreueyo hum temporal de ventos Oessuduestes (que saõ os que ordinariamente reynão nesta costa o mais do anno) taõ tempestuoso que de todo estiuemos perdidos, pelo que nos foy forçado arribarmos outra vez à costa do Malaya, & chegando a hũa ilha que se chama Pullo timão, tambem nella corremos assaz de perigos assi de tormentas, como de trayçoẽs da gente da terra.

Patanes 124(1).

Nas orações: 1677.

  1. [1677](Cap. 124) E despois de a ter toda recolhida, se passou para outra cidade muyto mayor & muyto mais nobre, que se chamaua Tuymicão, onde foy visitado pessoalmente de algũs principes seus comarcãos, & por embaixadores o foy tambem doutros Reys & senhores de mais longe, de que os principaes forão seis assaz grandes & poderosos, quais forão o Xatamaas Rey dos Persas, o Siammom Emperador dos Gueos, que confina por dentro deste sertão co Bramaa do Tanguu, o Calaminhan senhor da força bruta dos elifantes da terra, como ao diante direy quando tratar delle, & do seu senhorio, o Sornau de Odiaa, que se intitula Rey de Sião, cujo senhorio cõfina por distãcia de setecentas legoas de costa, como he de Tanauçarim a Champaa cos Malayos & Berdios & Patanes, & pelo sertaõ, co Passiloco & Capimper, & Chiammay, & Lauhos, & Gueos, de maneyra que este somente tem dezassete reynos em seu senhorio, o qual entre esta gentilidade toda se intitula por grao mais supremo, senhor do elifante branco, outro era o Rey dos Mogores, cujo reyno & senhorio jaz por dentro do sertão entre o Coraçone que he jũto da Persia, & o reyno do Dely & Chitor, & hum Emperador que se chamaua o Carão, cujo senhorio, segũdo aquy soubemos, confina por dentro dos montes de Goncalidau em sessenta graos auante, com hũa gente a que os naturaes da terra chamão Moscoby, da qual gente vimos alguns homens aquy nesta cidade, que saõ ruyuos, & de estatura grande, vestidos de calçoẽs, roupetas & chapeos ao modo que nesta terra vemos vsar os Framengos & os Tudescos, & os mais honrados trazião roupoẽs forrados de pelles, & algũs de boas martas, trazião espadas largas & grandes, & na lingoagem que fallauão lhe notamos algũs vocablos Latinos, & quando espirrauão dezião tres vezes dominus, dominus, dominus.

(2) Objecto geográfico interpretado

Porto. Parte de: Malayo.

Referente contemporâneo: Pattani, Thailand (AS). Lat. 6.868140, long. 101.250090.

Reino, porto, gentílico. Thomaz (2002:420), Flores (1991: 155): Patani em 6º 20’ N, 101º 18’ E.

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