O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Calempluy. Calempluy 71(2), 72(1), 74(1), 75(1), 111(1).

Nas orações: 851, 852, 873, 908, 911, 1489.

  1. [851](Cap. 71) Como Antonio de Faria se partio de Liampoo em busca da ilha de Calempluy.
  2. [852](Cap. 71) Sendo ja o tempo chegado, & Antonio de Faria prestes de tudo o que era necessario para esta noua viagem que tinha determinado de fazer, hũa segunda feira quatorze de Mayo do anno de 1542. se partio daquy para a ilha de Calempluy, embarcado em duas panouras, que saõ como Galeotas, inda que hum pouco mais alterosas, porque em juncos de alto bordo foy aconselhado que não fosse, assi por não ser sentido, como por respeito das grandes correntes, & peso das agoas que decem da enseada do Nanquim, que nauios grossos, naquelle tempo em que elle hia não podião romper, nem com todas as vellas dadas, por causa das inuernadas da Tartaria, & de Nixihumflaõ que naquelles meses de Mayo, Iunho, & Iulho correm para aquella parte com grandissimo impeto.
  3. [873](Cap. 72) E aquy nos disse o Similau que pela muyta soma de immundicias de alimarias mortas que com as enchẽtes das inuernadas estes rios aly trazião, vinhão todos os animaes que tinhamos visto, assi na outra bahia como naquella a se ceuaram nellas, o que não era em outras nenhũas de toda a mais costa que atras tinhamos deixado, & perguntandolhe Antonio de Faria de que parte vinhaõ aquelles rios, disse que o não sabia, mas que se era verdade o que delles estaua escrito, que dous delles vinhaõ de hum grande lago que se chamaua Moscumbià, & os outros dous, de hũa prouincia de grandes serranias que todo o anno estauão cubertas de neue, que se dezia Alimania, pela qual causa no veraõ, em que a mayor parte da neue se derretia, vinhaõ aquelles rios tão impetuosos & com tanto poder de agoa quanto tinhamos visto, que era mais que em todo o outro tempo do anno, & que por aquelle rio, em cuja boca estauamos surtos, que se dezia Paatebenam, auiamos co nome do Senhor do ceo de yr cõ a proa a Leste, & a Lessueste demandar outra vez a enseada do Nãquim que atras tinhamos deixado duzentas & sessenta legoas, porque toda esta distancia de caminho tinhamos multiplicado em mòr altura do que era onde nos demoraua a ilha que hiamos buscar; & que ainda que nisso passassemos algum trabalho, pedia muyto a Antonio de Faria que o ouuesse por bem empregado, porque elle o fizera por milhor & mais seguro a vida de todos: & perguntandolhe Antonio de Faria quantos dias poderia por na viagem atè passar aquelle rio por onde o leuaua, disse que quatorze ate quinze somente, & que despois de saydos delle a cinco, lhe prometia de o desembarcar cos seus soldados na ilha de Calempluy, onde bem largamente satisfarião seu desejo, & auerião por bem empregado todo o trabalho de que agora se queixauão.
  4. [908](Cap. 74) Aquella noite seguinte, sendo quasi o quarto da modorra rẽdido, vimos no meyo do rio por nossa proa estar hũa barcaça surta, dentro na qual, pelo grãde aperto & necessidade em que então estauamos, nos foy forçado entrarmos sem tumulto nem rebuliço algum, & nella tomamos cinco homẽs que achamos dormindo, os quais Antonio de Faria inquirio cada hum por sy para ver se concertauão todos nas respostas do que lhes preguntaua, às quais preguntas todos responderaõ que aquella terra & paragem onde estauamos se chamaua Tanquilem, da qual auia sós dez legoas de distancia à ilha de Calempluy.
  5. [911](Cap. 75) Como chegamos a esta ilha de Calempluy, & da maneyra, ordem, sitio, & fabrica della.
  6. [1489](Cap. 111) E preguntando nós aos Chins pela significaçaõ daquellas cousas, nos disseraõ, que despois que Deos alagàra o mundo com a agoa dos rios do Ceo, em que se afogara todo o genero humano, vendo que a terra ficaua deserta, & sem auer nella quem o louuasse, mandara do Ceo da Lũa a deosa Amida camareyra mór da Nacapirau sua molher paraque restaurasse a perda da gente que se afogara, a qual em pondo os peis em hũa terra que ja era desalagada, por nome Calempluy (que he aquella ilha ou lizira que atras disse, que estâ na enseada do Nanquim, onde Antonio de Faria desembarcou em terra) ella se tornara toda em ouro, & aly estãdo em pè & co rosto no Ceo, suara pelos sobacos grande soma de crianças, pelo do braço direyto machos, & pelo do ezquerdo femeas por não ter outro lugar no corpo por onde as pudesse parir, como tem as molheres do mundo que tem peccado, em castigo do qual as sojeitara Deos por ordem da natureza à miseria da corrupção çuja & fedorenta; para mostrar quanto lhe fedia o peccado cometido contra elle.

Calẽpluy 70(1), 74(2), 100(1).

Nas orações: 849, 906, 910, 1287.

  1. [849](Cap. 70) Mas enculcaraõlhe ahy hum cossayro muyto afamado que se chamaua o Similau, de que elle lãçou mão, & ouue logo fala delle, o qual lhe contou muyto grandes cousas de hũa iha por nome Calẽpluy, na qual estauão dezassete jazigos dos Reys da China em hũs presbiterios de ouro, com muyto grande quantidade de idolos do mesmo, em que dizia que não auia mais difficuldade nem trabalho que só em carregar os nauios, & tambem lhe disse outras muytas cousas de tamanha magestade & riqueza, que deixo aquy de as contar, porque temo que fação duuida a quem as lèr.
  2. [906](Cap. 74) E tomandose conselho sobre o que ao diãte se deuia fazer, por hum grande espaço esteue o negocio suspenso, sem se tomar conclusaõ nelle, pela muyta variedade & differença de pareceres que ahy auia, mas em fim se assentou que todauia seguissemos adiãte com nosso intento, & se trabalhasse por tomarmos o mais secretamente que pudesse ser, por não aluoroçarmos a terra, quem nos dissesse a distancia que podia auer daly à ilha de Calẽpluy, & que se pelas informaçoẽs que achassemos vissemos que era taõ facil o cometimẽto della como o Similau nos tinha dito, fossemos adiante, & quando não, então nos tornassemos pelo meyo da corrente do rio abaixo, porque ella nos leuaria ao mar para onde tinha seu curso.
  3. [910](Cap. 74) Estes cinco Chins leuou Antonio de Faria comsigo presos a banco, & seguio por sua derrota mais dous dias & meyo, no fim dos quais prouue a nosso Senhor que dobrando hũa põta da terra que se dezia Guinaytaraõ descubrimos esta ilha de Calẽpluy, a qual auia oitenta & tres dias que andauamos buscando com tanta confusaõ de trabalhos & medos, quantos atras ficão contados.
  4. [1287](Cap. 100) E auẽdo ja sete dias que passauamos este grande tormento, jazendo deitados a hum canto hũs sobre os outros, lamẽtando com assaz de lagrimas nossa desauentura, & com bem grande receyo de padecermos crueis mortes, se por algum caso se viesse a auentar o que tinhamos feito em Calẽpluy, quiz Deos que acertaraõ de vir os quatro Tanigores da casa da misericordia que responde a esta prisaõ, a que na sua lingoa chamão Cofilem guaxy, cõ cuja entrada todos os presos se baquearão, dizendo com voz a modo de entoada, bendito seja este dia em que Deos nos visita por mãos dos seus seruos, aque elles com sembrante graue & modesto responderão, & a sua mão poderosa & diuina que fabricou a fermosura da noite vos tenha em sy como tem aquelles que sempre chorão os males do pouo, & chegãdo a onde nós estauamos nos preguntarão com palauras corteses que homẽs eramos, ou porque causa faziamos mais sentimento por estarmos presos que os outros?

(2) Objecto geográfico interpretado

Ilha. Parte de: China.

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