O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Lamau. Lamau 44(1), 51(1), 52(1), 56(2), 62(1), 86(1), 115(1), 132(1), 140(1), 143(1), 203(1).

Nas orações: 527, 621, 632, 675, 676, 752, 1026, 1540, 1798, 1943, 1985, 3074.

  1. [527](Cap. 44) E concluydo por fim de todos estes varios pareceres, no milhor & mais seguro, mandou leuantar bandeyra de veniaga ao custume da China, pelo que logo vierão da terra duas lanteaas, que saõ como fustas com muyto refresco, & os que vinhão nellas, despois de fazerẽ suas saluas, entraraõ dentro no junco grande em que vinha Antonio de Faria, porem vendo nelle gente que atê então nunca aly tinhão visto, ficarão muyto espantados, & perguntãdo que homẽs eramos, ou que queriamos, lhes foy respõdido que eramos mercadores naturais do reyno de Sião, & que vinhamos aly a fazer fazenda cõ elles, se para isso nos dessem licença, a que hum homem velho que parecia de mais autoridade, respondeo que sy, mas que aquelle lugar onde estauamos não era o onde ella se fazia, se não outro porto mais adiante que se chamaua Guamboy, porque nelle estaua a casa do contrato da gente estrangeyra que a elle vinha, como em Cantão, & no Chincheo, & Lamau, & Comhay, & Sumbor, & Liampoo, & outras cidades que estauão ao longo do mar para desembarcaçaõ dos nauegantes que vinhão de fora, pelo qual lhe aconselhauão como a cabeça dos membros que trazia debaixo do seu gouerno, que logo se fosse daly, porque como aquelle lugar não seruia de mais que de pescaria de perolas para o tisouro da casa do filho do Sol, na qual por regimento do Tutão de Comhay, que era o supremo Gouernador de toda aquella Cauchenchina, não podião andar mais que sós aquellas barcaças que para isso estauão determinadas, todo o outro nauio que se achaua aly mais, era logo por pena de justiça queimado com toda a gente que nelle vinha.
  2. [621](Cap. 51) E perguntado se matara mais Portugueses, ou dera fauor para isso, respondeo que não, mas que estando auia dous annos no rio do Choaboquec na costa da China, fora ahy ter hum junco grande com muytos Portugueses, de que era Capitaõ hum homem muyto seu amigo que se chamaua Ruy Lobo, que dõ Esteuão da Gama Capitaõ de Malaca mandara de veniaga, o qual despeis de ter feita sua fazenda se sayra do porto embandeirado por yr muyto rico, & que auendo ja cinco dias que era partido, lhe abrira o junco hũa agoa muyto grossa, & não a podendo vencer, lhe fora forçado tornar a demandar o porto donde partira, & vindo com vento rijo infunado com todas as vellas, por chegar mais depressa, se lhe fora supitamẽte ao fundo, de que se saluara o Ruy Lobo cõ dezassete Portugueses, & algũs escrauos, & viera ter na Champana ao ilheo de Lamau sem vella, nem agoa, nem mantimento algum.
  3. [632](Cap. 52) E daquy ficou taõ temido por toda esta costa, que o proprio Chaem desta ilha de Ainão, que he o proprio Visorrey della; pelo que tinha ouuido delle, o mandou visitar cõ hum rico presente de perolas & peças douro, & lhe escreueo hũa carta em que lhe dezia que leuaria muyto gosto de elle querer aceitar partido co filho do Sol, para o seruir de seu Capitão mór da costa de Lamau atè Liampoo com dez mil taeis de ordenado cada anno, & que se o seruisse bem conforme à fama que delle corria, lhe seguraua acabando os tres annos, ser acrecentado em titulo de hum dos quarenta Chaẽs do gouerno, com mãdo supremo em toda a justiça, & que lhe lembraua que daquy vinhão os homẽs como elle, se eraõ leais, a ser dos doze Tutoẽs do gouerno, aos quais o filho do Sol, lião coroado no trono do mundo, se communicaua de cama & mesa como membros vindos por honra & mando ao seu corpo, & com partido de cem mil taeis.
  4. [675](Cap. 56) Como indo nós ao longo da costa de Lamau, encontramos hum cossayro Chim muyto amigo de Portugueses, & do pacto que Antonio de Faria fez com elle.
  5. [676](Cap. 56) Avẽdo ja dous dias que nauegauamos ao lõgo da costa de Lamau, cõ ventos & mares bonãçosos, prouue a nosso Senhor que a caso encontramos hũ junco de Patane que vinha dos Lequios, o qual era de hum cossayro Chim que se chamaua Quiay Panjão muyto amigo da nação Portuguesa, & muyto inclinado a nossos custumes & trajos, ẽ cõpanhia do qual andauão trinta Portugueses, homẽs todos muyto escolhidos que este cossayro trazia a seu soldo, a fora outras muytas ventagẽs que cada hora lhes fazia com que todos andauaõ ricos.
  6. [752](Cap. 62) E estas pancadas tais tem esta costa da China mais que todas as das outras terras, pelo que ninguem pode nauegar seguro nella hũ só anno que lhe não aconteção desastres, se com as conjunçoẽs das lũas cheyas se não meter nas colheitas dos portos que tem muytos & muyto bõs, onde sem nenhum receyo se pode entrar, porque toda he limpa, tirãdo somente Lamau & Sumbor, que tem hũs baixos obra de meya legoa das barras da parte do Sul.
  7. [1026](Cap. 86) Despois de sermos açoutados da maneyra que tenho dito, nos leuarão a hũa casa que estaua dentro na prisaõ a modo de enfermaria, onde jazião muytos doentes, & feridos, hũs em leitos, & outros pelo chão, na qual fomos logo curados com muytas cõfeiçoẽs & lauatorios, & espremidos & apertados, com pós por cima das chagas, cõ que algum tanto se nos mitigou a dor dos açoutes, a qual cura nos fizeraõ homẽs honrados, que saõ como entre nós irmaõs da misericordia que seruem aquy aos meses pelo amor de Deos com muyta caridade, & prouem os enfermos de tudo o necessario com muyta abastança & limpeza: & auẽdo ja onze dias que aquy estauamos em cura, & ja começauamos de nos achar algũ tanto milhor, mas lamentando o cortar dos dedos conforme ao rigor da sentença que era dada, quiz Deos que a caso entrarão hũa menham dous homẽs vestidos em hũas vestiduras de citim roxo muyto compridas, & hũas varas brãcas nas maõs a maneyra de cetros, cõ cuja entrada os enfermos todos da casa deraõ hũa grande grita dizendo, pitau hinacur macuto chendoo, que quer dizer, venhaõ com Deos os ministros de suas obras, ao que elles erguendo as varas, respõderaõ, & a vos todos de paciencia em vossos trabalhos & aduersidades: estes, começando a prouer com dinheyro & vestido algũs dos que estauaõ mais perto delles, chegarão tambem a nós, & despois de nos saudarem afabelmente, & com mostras de terẽ piedade de nossas lagrimas, nos preguntaraõ que homẽs eramos, de que terra, ou de que naçaõ, & porque caso estauamos presos, aque respondemos com muytas lagrimas que eramos estrangeyros naturaes do reyno de Sião, de hũa terra que se chamaua Malaca, & que sendo mercadores abastados dos bẽs do mundo, vindo com nossas fazendas para o porto de Liampoo, nos perderamos com hũa grande tormẽta defronte dos ilheos de Lamau, onde perderamos quanto leuauamos, sem saluarmos mais que aquellas miseraueis carnes da maneyra que as viaõ, & que chegando assi a hum lugar que se chamaua Taipor, o Chumbim da justiça nos prendera sem causa nenhũa, dizendo que eramos ladroẽs vagabundos, que por naõ trabalharmos andauamos calaceando de porta em porta, comendo indiuidamẽte as esmollas que nos dauão, & fazẽdo disto hum auto como quisera, nos mandara em ferros a aquella prisaõ, na qual auia ja quarenta & dous dias que padeciamos immẽsos trabalhos de doenças & fomes, sem nos quererẽ ouuir de nossa justiça, assi por naõ termos que peitar, como por não sabermos falar, & foramos condenados sem causa nenhũa a pena de açoutes, & a nos cortarem os dedos como ladroẽs, de que logo se executàra em nòs a pena dos crueis açoutes cõ tanto rigor & sobegidaõ de crueldade quanto seus olhos veriaõ nas nossas tristes carnes, pelo qual lhe pediamos pelo officio que tinhão de seruir a Deos, que nos naõ desemparassem, porque por nossa muyta pobreza eramos auorrecidos de todos, & tratados com grandissimas afrontas.
  8. [1540](Cap. 115) Este nosso negocio se pós logo na mão do prometor da justiça, o qual veyo logo com libello contra nós, & num dos artigos delle, o qual prouou com dezasseis testemunhas, veyo dizendo que nòs eramos gente sem temor nem conhecimẽto de Deos, nem tinhamos mais que confessalo com a boca, como podia fazer qualquer animal bruto se soubesse fallar, porque de crer era que homẽs de hũa nação, de hum sangue, de hũa carne, de hũa terra, de hũ reyno, de hũa lingoa, & de hũa ley, que se ferião & matauão tãto sem piedade, sem auer causa nem razão para isso, não era senão por sermos seruos da serpe tragadora da casa do fumo, o que se via claramente em nossas obras, pois eraõ tais como as que ella sempre custumaua de fazer, pelo qual cõforme á ley do terceyro liuro das brochas douro da vontade do filho do Sol por nome Nileterau, nos deuião de desterrar de toda a communicação da gente, como praga contagiosa & peçonhenta, & que nossa habitação fosse nos mõtes de Chabaqué, ou Sumbor, ou Lamau, para onde se custumauão de desterrar os tais como nòs, para que lâ ouuissemos bramir de noite as feras siluestres, que eraõ da nossa mesma progenie, & vil natureza.
  9. [1798](Cap. 132) Passados estes vinte dias em que os feridos guareceraõ sem em todo este tẽpo auer entre nos reconciliaçaõ da desauença passada, nos embarcamos ainda assi malauindos com este cossayro, os tres no jũco em que elle hia, & os cinco no outro de que era Capitão hum seu sobrinho, & partidos daquy para hum porto que se chamaua Lailoo, auante do Chincheo sete legoas, & desta ilha oitenta, seguimos por nossa derrota com ventos bonanças ao longo da costa de Lamau, espaço de noue dias, & sendo hũa menham quasi Noroeste sueste co rio do sal, que estâ abaixo do Chabaquee cinco legoas, nos cometeo hum ladraõ com sete jũcos muyto alterosos, & pelejando com nosco das seis horas da menham até as dez, em que tiuemos hũa briga assaz trauada de muytos arremessos assi de lanças como de fogo, em fim se queimarão tres vellas, as duas do ladrão, & hũa das nossas, que foy o junco em que hião os cinco Portugueses, a que por nenhũa via pudemos ser bõs, por ja a este tempo termos a mayor parte da gente ferida.
  10. [1943](Cap. 140) E tendo jâ determinado de nos mandar soltar, assi pelo que este homem lhe tinha dito, como pelo que o Broquem lhe escreuera, chegou ao porto hum Chim cossayro com quatro jũcos, a que el Rey daua colheyta em sua terra, por lhe dar a metade das presas que trouxesse da China, & por esta causa era muyto valido com elle & com todos os grandes da terra, o qual por nossos peccados era o mayor inimigo que os Portugueses tinhão naquelle tempo, por hũa briga que os nossos tiuerão cõ elle o anno dantes no porto de Lamau, na qual foy capitão hum Lançarote Pereyra natural de Ponte de Lima, em que lhe queimaraõ tres juncos, & lhe mataraõ duzentos homẽs.
  11. [1985](Cap. 143) Tem serras de que se tira muyta quãtidade de cobre, o qual por ser muyto, vai entre esta gẽte tão barato, que de veniaga carregão juncos delle para todos os portos da China, & Lamau, Sumbor, Chabaquee, Tosa, Miacoo, & Iapaõ, com todas as mais ilhas que estão para a parte do Sul, de Sesirau, Goto, Fucanxi, & Pollem.
  12. [3074](Cap. 203) E temendo nos então cometer a entrada do rio, porque estaua por todas as partes tomado por este cossayro, corremos auante até Lamau, onde nos prouemos de algũs mantimentos que nos bastaraõ ate chegarmos a Malaca, onde achamos o padre mestre Francisco Xauier Reitor vniuersal da cõpanhia de Iesu nas partes da India, que auia poucos dias que chegara de Maluco, com grande nome de santo na voz de todo o pouo por milagres que lhe lâ viraõ fazer, ou, para mais acertado, que Deos nosso Senhor por elle fizera.

(2) Objecto geográfico interpretado

Porto (costa, ilhéus). Parte de: China.

Referente contemporâneo: Nan’ao Dao, China (AS). Lat. 23.440430, long. 117.084640.

Ilhéu, ilhéus, porto, costa. GT: Lamock 23º 16’ 7 N, 117º 19’ E. FMPP (vol 4, pp. 23, 27; vol 3. P. 88): Nan’ao, ilha ao sudeste da cidade de Shen’ao, perto do límite da província de Guandong com Fujian. GT s.v. Lamau, costa de: Desde cabo Boa Esperança (23º 12’ N e 116º 48’ E) à ponta Jokako (23º 35’ N, 117º 26’ E).

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