O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Liampoo. Lãpoo 45(1).

Nas orações: 544.

  1. [544](Cap. 45) Antonio de Faria despois de lhe dar graças por quanto a proposito lhe respondera a suas preguntas, lhe rogou muyto que lhe dissesse em que porto lhe aconselhaua que fosse vender aquella fazenda, que fosse mais seguro, & de milhor gente, pois não tinha moução para passar a Lãpoo?

Liampoo 40(1), 44(1), 51(1), 52(1), 55(4), 56(2), 57(3), 60(4), 61(2), 66(5), 67(2), 68(2), 70(2), 71(3), 76(1), 81(1), 85(1), 86(1), 91(1), 100(1), 137(1), 143(2), 144(1), 208(1), 221(2).

Nas orações: 487, 527, 620, 632, 654, 663, 669, 674, 679, 684, 689, 690, 691, 723, 730, 733, 736, 738, 739, 796, 799, 807, 809, 816, 818, 826, 841, 842, 851, 858, 863, 923, 971, 1022, 1026, 1110, 1281, 1889, 1978, 1981, 1994, 3187, 3475, 3478.

  1. [487](Cap. 40) E despois de fazer dar a morte ao Similau & aos outros seus cõpanheyros, que foy cõ lhes mandar lançar os miolos fora cõ hũa tranca, assi como elle fizera em Liampoo a Gaspar de Mello & aos outros Portugueses, se embarcou logo cõ trinta soldados no batel & nas mãchuas em que os inimigos vierão, & com conjunção de marè & de bom vẽto, em menos de hũa hora chegou ao jũco que estaua surto dentro no rio hũa legoa adiante donde nos estauamos, & arremetẽdo a elle sem estrõdo de grita nenhũa se senhoreou do chapiteo de popa, dõde cõ sòs quatro panellas de poluora que lhe lançou no conués, onde a canalha estaua deitada, os fez lançar todos ao mar, de que morreraõ dez ou doze, & os mais por andarem bradando na agoa que se afogauão, mãdou Antonio de Faria que os recolhessem, por serem necessarios para a mareação do junco que era muyto grãde, & muyto alteroso.
  2. [527](Cap. 44) E concluydo por fim de todos estes varios pareceres, no milhor & mais seguro, mandou leuantar bandeyra de veniaga ao custume da China, pelo que logo vierão da terra duas lanteaas, que saõ como fustas com muyto refresco, & os que vinhão nellas, despois de fazerẽ suas saluas, entraraõ dentro no junco grande em que vinha Antonio de Faria, porem vendo nelle gente que atê então nunca aly tinhão visto, ficarão muyto espantados, & perguntãdo que homẽs eramos, ou que queriamos, lhes foy respõdido que eramos mercadores naturais do reyno de Sião, & que vinhamos aly a fazer fazenda cõ elles, se para isso nos dessem licença, a que hum homem velho que parecia de mais autoridade, respondeo que sy, mas que aquelle lugar onde estauamos não era o onde ella se fazia, se não outro porto mais adiante que se chamaua Guamboy, porque nelle estaua a casa do contrato da gente estrangeyra que a elle vinha, como em Cantão, & no Chincheo, & Lamau, & Comhay, & Sumbor, & Liampoo, & outras cidades que estauão ao longo do mar para desembarcaçaõ dos nauegantes que vinhão de fora, pelo qual lhe aconselhauão como a cabeça dos membros que trazia debaixo do seu gouerno, que logo se fosse daly, porque como aquelle lugar não seruia de mais que de pescaria de perolas para o tisouro da casa do filho do Sol, na qual por regimento do Tutão de Comhay, que era o supremo Gouernador de toda aquella Cauchenchina, não podião andar mais que sós aquellas barcaças que para isso estauão determinadas, todo o outro nauio que se achaua aly mais, era logo por pena de justiça queimado com toda a gente que nelle vinha.
  3. [620](Cap. 51) E perguntado quanto tempo auia que se leuantara, & que nauios de Portugueses tinha tomado, & quantos homẽs mortos, & que fazenda roubada; disse que de sete annos a esta parte, o primeyro nauio que tomara fora o junco de Luys de Pauia no rio de Liampoo, com quatrocentos bares de pimenta sem droga nenhũa, onde matara dezoito Portugueses, a fora os seus escrauos, de que não fazia caso, por não serem gente que o satisfizesse no que tinha jurado, mas que despois por conjunçoẽs de acertos que achara no mar, tomara mais quatro embarcaçoẽs, nas quais matara perto de trezentas pessoas, mas que Portugueses não serião mais que setenta, & que lhe parecia que podia chegar o que tinha tomado de mil & quinhentos atè mil & seiscentos bares de pimenta, & outra fazenda, da qual el Rey de Paõ lhe tomara logo mais de a metade pelo recolher em sua terra, & segurar dos Portugueses, dandolhe para isso aquelles cem homẽs que andauão com elle, & lhe obedecessem como a Rey.
  4. [632](Cap. 52) E daquy ficou taõ temido por toda esta costa, que o proprio Chaem desta ilha de Ainão, que he o proprio Visorrey della; pelo que tinha ouuido delle, o mandou visitar cõ hum rico presente de perolas & peças douro, & lhe escreueo hũa carta em que lhe dezia que leuaria muyto gosto de elle querer aceitar partido co filho do Sol, para o seruir de seu Capitão mór da costa de Lamau atè Liampoo com dez mil taeis de ordenado cada anno, & que se o seruisse bem conforme à fama que delle corria, lhe seguraua acabando os tres annos, ser acrecentado em titulo de hum dos quarenta Chaẽs do gouerno, com mãdo supremo em toda a justiça, & que lhe lembraua que daquy vinhão os homẽs como elle, se eraõ leais, a ser dos doze Tutoẽs do gouerno, aos quais o filho do Sol, lião coroado no trono do mundo, se communicaua de cama & mesa como membros vindos por honra & mando ao seu corpo, & com partido de cem mil taeis.
  5. [654](Cap. 55) Como nos partimos desta ilha dos ladroẽs para o porto de Liampoo, & do que passamos atè chegarmos a hum rio que se dizia Xingrau.
  6. [663](Cap. 55) Tomandose então conselho sobre o caminho que daly se faria, ou que ròta se seguiria, se para o Norte, se para o Sul, ouue sobre isto alguns pareceres bem diferentes, por fim dos quais se assentou que nos fossemos a Liampoo, que era hum porto adiante daly para o Norte duzentas & sessenta legoas, porque poderia ser que ao longo da costa nos melhorariamos doutra embarcaçaõ mayor & mais acomodada a nosso proposito, porque aquella era muyto pequena para taõ comprida viagem, & cõ receyos de tantas tempestades quantas causaõ as lũas nouas na costa da China, onde cõtinuamente se perdião muytos nauios.
  7. [669](Cap. 55) E vendo Antonio de Faria que a lanteaa em que vinhamos não era embarcaçaõ sufficiẽte para irmos daly a Liampoo, onde tinhamos determinado de yr inuernar, assentou com parecer dos mais companheyros & soldados de se prouer de outro milhor; & ainda que naquelle tẽpo não estauamos para cometer cousa algũa, todauia a necessidade nos obrigou a fazermos mais do que nossas forças requerião.
  8. [674](Cap. 55) Nisto gastamos, como ja disse, quinze dias nesta ilha, nos quais os enfermos cõualeceraõ de todo, & nos partimos na via do reyno de Liampoo, onde tinhamos por nouas que auia muyta gente Portuguesa, que ahy era vinda de Malaca, de Çunda, de Sião, & de Patane, a qual toda naquelle tempo aly custumaua de vir inuernar.
  9. [679](Cap. 56) E indo assi com proposito determinado de chegar ao cabo com tudo o que a fortuna lhe offerecesse, quiz nosso Senhor que lhe enxergamos na quadra hũa grande bandeyra de Cruz, & no chapiteo muyta gente com barretes vermelhos, que os nossos naquelle tẽpo custumauão muyto de trazer quando andauão pelo que assentamos que eraõ Portugueses que podião vir de Liampoo, & yr para Malaca, como naquella monção sempre custumauão, & dandolhe nós tambẽ sinal de nós, para ver se nos conhecião, tanto que enxergaraõ que eramos Portugueses, deraõ todos hũa grande grita, & amainando ambos os traquetes de romania em sinal de obediencia, despidiraõ logo hum balão muyto esquipado com dous Portugueses a ver que gente eramos, & donde vinhamos, os quais tanto que nos reconheceraõ, & se affirmaraõ na verdade de quem eramos, se vieraõ mais afoutos a nós, & despois de fazerem sua salua, a que nos tambem respondemos, subiraõ acima.
  10. [684](Cap. 56) Antonio de Faria lhes veyo a dar conta de todo o successo da sua perdição, & de todos os mais infortunios da sua viagem, & da determinaçaõ da sua derrota para Liampoo, com proposito de lá se reformar de gente & nauios de remo, para tornar de nouo a correr a costa de Ainão, & yr pela enseada da Cauchenchina dentro às minas de Quoanjaparù, onde tinha por nouas que auia seis casas muyto grandes cheyas de prata, a fora outra mòr soma que nas fundiçoẽs se lauraua â borda da agoa, onde sem risco nenhum se podião todos fazer muyto ricos.
  11. [689](Cap. 57) Partidos nos deste rio de Anay muyto bem apercebidos de tudo o necessario para a viagem que estaua determinado fazerse, pareceo bem a Antonio de Faria por conselho do Quiay Panjão, de que sempre fez muyto caso, pelo conseruar em sua amizade, yr surgir no porto do Chincheo, para ahy se informar pelos Portugueses que eraõ vindos da Çunda, de Malaca, de Timor, & de Patane, de algũas cousas necessarias a seu proposito, & se tinhão nouas de Liampoo, porque se soaua então pela terra que era la ida hũa armada de quatrocentos juncos, em que hião cem mil homẽs por mandado del Rey da China a prender os nossos que là residião dassẽto, & queimarlhe as naos, & as pouoaçoẽs, porque os não queria em sua terra, por ser informado nouamente que não eraõ elles gente taõ fiel & pacifica como antes lhe tinhaõ dito.
  12. [690](Cap. 57) Chegados nòs ao porto do Chincheo achamos ahy cinco naos de Portugueses que auia ja hũ mès que eraõ chegadas destas partes que disse, dos quais fomos muyto bem recebidos & agasalhados com muyta festa & contentamento, & despois que nos deraõ nouas da terra, & da mercancia, & da paz & quietaçaõ do porto, nos disseraõ que de Liampoo nao sabião nada, mais que dizeremlhe os Chins, que auia là muytos Portugueses de inuernada, & outros vindos nouamente de Malaca, da Çunda, de Sião, & de Patane, & que fazião na terra suas fazendas pacificamente, & que a armada grossa de que nos temiamos, não era là, mas que se presumia que era ida âs ilhas do Goto em socorro do Sucão de Pontir, aquẽ se dezia que hum seu cunhado tyrannicamente tinha tomado o reyno, & porque este Sucão se fizera nouamẽte subdito do Rey da China, com tributo de cem mil taeis cada anno lhe dera aquella armada dos quatrocẽtos juncos, em que se affirmaua que hião cem mil homẽs para o meterẽ de posse do reyno ou senhorio que lhe tinhão tomado; com a qual noua todos ficamos descançados, & demos por isso muytas graças a nosso Senhor.
  13. [691](Cap. 57) Despois que neste porto do Chincheo estiuemos noue dias nos saimos delle, leuando ja em nossa cõpanhia trinta & cinco soldados mais, destas cinco naos, a que Antonio de Faria fez bom partido, & seguimos nosso caminho na via do reyno de Liampoo.
  14. [723](Cap. 60) Do mais que Antonio de Faria fez despois que ouue esta vitoria, & da liberalidade que aquy vsou cos Portugueses de Liampoo.
  15. [730](Cap. 60) Acabada esta crueza, tornandose Antonio de Faria á praya onde estaua o junco que Coja acem tomara auia vinte & seis dias aos Portugueses de Liampoo, entendeo logo em o lançar ao mar, porque ja neste tempo estaua concertado, & despois de ser na agoa o entregou a seus donos, que eraõ Mem Taborda, & Antonio Anriquez, como atras fiz menção.
  16. [733](Cap. 60) Os dous começaraõ logo a entender em cobrarem sua fazenda, & se foraõ por toda a ilha com obra de cinquenta ou sessenta moços que os senhores delles lhe emprestaraõ, a recolher a seda molhada que ainda estaua a enxugar, de que todas as aruores estauão cheyas, a fora mais de duas casas em que estaua a enxuta, & a milhor acondicionada, que, como elles tinhão dito, eraõ cem mil taeis de emprego, no qual tinhaõ parte mais de cem homẽs, assi dos que ficauão em Liampoo, como de outros que estauão em Malaca, a quem se ella là mãdaua.
  17. [736](Cap. 60) E fazendo logo vir perante sy todos os escrauos, catiuos, assi saõs como feridos que trazia em sua companhia, mandou tambem chamar os senhores delles, & a todos lhes fez hũa falla de homem bom Christão, como na verdade o era, em que lhes pedio que pelo amor de Deos tiuessem todos por bem de lhes darem liberdade da maneyra que lho elle tinha prometido antes da peleja, porque elle da sua fazenda lho satisfaria muyto à sua vontade, a que todos responderaõ que pois sua merce assi o auia por bem, elles eraõ muyto contentes, & os auião por forros & liures daquelle dia para sempre; & disto se fez logo hum assento, em que todos assinaraõ, porque por então se não pode fazer mais; & despois em Liampoo lhes deraõ a todos suas cartas de alforria.
  18. [738](Cap. 61) Como Antonio de Faria se partio deste rio Tinlau para Liampoo, & dum desauenturado successo que teue na viagem.
  19. [739](Cap. 61) Despois de auer ja vinte & quatro dias que Antonio de Faria estaua neste rio de Tinlau, dentro nos quais os feridos todos conualeceraõ, se partio para Liampoo, onde leuaua determinado de inuernar, para dahy na entrada do veraõ cometer a viagẽ das minas de Quãogeparu, como tinha assentado co Quiay Panjão que leuaua em sua cõpanhia: & sendo tanto auãte como a ponta de Micuy, que estâ em altura de vinte & seis graos, lhe deu hum rijo contraste de Noroeste, o qual, por conselho dos Pilotos pairou à trinca, por não perder do caminho que tinha andado, este tempo carregou sobola tarde, com chuueiros & mares tão grossos, que as duas lanteaas de remo, pelo não poderem sofrer, se fizeraõ ja quasi noite na volta da terra, com proposito de se meterẽ no rio de Xilendau, que estaua daly hũa legoa & meya.
  20. [796](Cap. 66) Do mais que Antonio de Faria passou atè chegar às portas de Liampoo.
  21. [799](Cap. 66) E com isto se determinou com parecer & conselho de todos, de yr inuernar os tres meses que lhe faltauão para poder fazer sua viagem, a hũa ilha deserta que estaua ao mar de Liampoo quinze legoas, que se chamaua Pullo Hinhor, de boa agoada, & bom surgidouro, por lhe parecer que indo a Liampoo poderia prejudicar à mercancia dos Portugueses que lá inuernauão quietamente com suas fazendas, a qual determinaçaõ & bom proposito todos lhe louuaraõ muyto.
  22. [807](Cap. 66) E nauegando nòs desta maneyra, chegando daly a seis dias às portas de Liampoo, que saõ duas ilhas tres legoas donde naquelle tempo os Portugueses fazião o trato de sua fazenda, que era hũa pouoação que elles tinhaõ feita em terra de mais de mil casas, com gouernança de vereadores, & ouuidor, & alcaides, & outras seis ou sete varas de justiça & officiais da Republica, onde os escriuaẽs no fim das escrituras publicas que fazião punhaõ, E eu foaõ, publico tabalião das notas & judicial nesta cidade de Liampoo por el Rey nosso Senhor, como se ella estiuera situada entre Santarem & Lisboa, & isto com tanta confiança & oufania, que auia ja casas de tres & quatro mil cruzados de custo, as quais todas, assi grandes como pequenas, por nossos peccados foraõ despois de todo destruydas & postas por terra pelos Chins, sem ficar dellas Cousa em que se pudesse pór olhos, como mais largamente contarey em seu lugar.
  23. [809](Cap. 67) Do que fez Antonio de Faria chegando âs portas de Liampoo, & das nouas que ahy teue do que passaua no reyno da China.
  24. [816](Cap. 67) E nas duas lanteaas que lhe trouxeraõ o refresco mãdou os feridos & os doẽtes que auia na armada, os quais os de Liampoo agasalharaõ cõ muyta caridade, & os repartiraõ pelas casas dos mais abastados, onde foraõ curados & prouidos de todo o necessario muyto cũpridamente sem lhes faltar nada.
  25. [818](Cap. 68) Do recebimento que os Portugueses fizerão a Antonio de Faria na pouoação de Liampoo.
  26. [826](Cap. 68) Encima no toldo desta embarcação vinha armada sobre seis perchas huma rica tribuna forrada de brocado com huma cadeyra de prata, & ao redor della seis moças de doze atè quinze annos muyto fermosas tangendo em seus instrumentos musicos, & cantando com muyto boas falas, que por dinheyro se trouxerão da cidade de Liampoo, que era daly sete legoas, porque isto, & muytas outras cousas se achão alugadas por dinheyro cada vez que se ouuerem mister, em tanto que muytos mercadores são ricos só dos alugueres destas cousas, de que elles là vsão muyto para seus passatempos & recreações.
  27. [841](Cap. 70) Acabada a Missa, sem chegaraõ a Antonio de Faria os quatro principaes do gouerno daquella pouoaçaõ ou cidade de Liampoo, como os nossos lhe chamauaõ, que eraõ Mateus de Brito, Lançarote Pereyra, Ieronymo do Rego, & Tristão de Gaa, & tomandoo entre sy, acompanhado de toda a gente Portuguesa; que seriaõ mais de mil homẽs, o leuaraõ a hum grande terreyro que estaua na frontaria das suas casas, todo cercado de hum espesso bosque de castanheyros assi como vieraõ do mato carregado de ouriços, ornado por cima de muytos estendartes & bandeyras de seda, & por baixo juncado de muyta espadana, ortelam, & rosas vermelhas & brancas, de que na China ha grandissima quantidade.
  28. [842](Cap. 70) Neste bosque estauaõ postas tres mesas muyto cõpridas ao longo de hũas latadas de murta, com que todo o terreiro estaua cerrado, onde auia muytos esguichos de agoa que por cantimprosas corria de hũs aos outros, por hũs modos & inuençoẽs, que os Chins ordenaraõ, taõ sotis & artificiosas, que nũca ninguem pode entender o segredo delles, porque com a furia do asopro de hum folle, como de orgão, a que todos tinhão sua correspondẽcia, esguichauão tão alto, que quando tornaua a agoa a cair para baixo, vinha tão miuda, que não molhaua mais que sò como orualho, de maneira que cõ hum só pote de agoa se borrifaua todo o terreiro, que era como hũa grande praça: defronte destas tres mesas estauão tres aparadores da mesma maneira, com grande soma de porcelanas muito finas, & seis gomis de ouro muito grandes, que os mercadores Chins trouxerão da cidade de Liampoo, que la pedirão emprestados aos Mandarins, porque todo o seruiço destes he com baixellas douro, porque a prata he de gente mais baixa & de menos qualidade, & trouxerão mais outras muitas peças, como forão pratos grandes, saleiros, & copos tambẽ de ouro, com que a vista se deleitaua muito, se de quando em quando lhe não causara inueja.
  29. [851](Cap. 71) Como Antonio de Faria se partio de Liampoo em busca da ilha de Calempluy.
  30. [858](Cap. 71) E por Antonio de Faria se temer de poder ser sentido, & lhe certificarem que se o fosse não poderia saluarse por nenhum modo, assentou de se tornar daly; porem o Similau contrariou este parecer de todos, & lhe disse, não me pode vossa merce inda agora arguyr de peccado, nẽ nenhum outro de quantos vaõ na cõpanhia, porque em Liampoo vos disse publicamente na consulta geral que se fez na igreja perante mais de cem Portugueses o grandissimo risco em que todos nos punhamos, & eu, por ser Chim & Piloto, muyto mais que todos, porque a vossas merces não lhes farião mais que darlhe hũa morte, mas a mym duas mil, se tantas se pudessem dar, pelo que està claro que me he necessario & muyto forçado não vos ser tredro, mas muyto leal, como sou & serey sempre, assi nesta viagem como em tudo o mais, a pesar dos murmuradores que com vossa merce me tem mexiricado.
  31. [863](Cap. 71) E quanto a te dizerem que te faço agora esta viagem mais comprida do que em Liampoo te promety, tu sabes a rezão porque o fiz, a qual, no tempo que ta dey, te não pareceo mal; & pois então to não pareceo, quietese agora teu coraçaõ, & não tornes atras do que tẽs assentado, & tu veràs quão proueitoso fruito tiras deste trabalho.
  32. [923](Cap. 76) Caminhando Antonio de Faria para a irmida que tinha diante, co mayor silencio que podia, & não sem algum receyo, por não saber atè então o em que se tinha metido, leuando todos o nome de Iesu na boca, & no coraçaõ, chegamos a hum terreyro pequeno que estaua diante da porta, & inda ate quy não ouuemos vista de pessoa nenhũa, & Antonio de Faria, que hia sempre diante com hum montante nas mãos, apalpou a porta, & a sintio fechada por dentro, & mãdando a hũ dos Chins que estaua junto com elle, que batesse, elle o fez por duas vezes, & de dentro lhe foy respondido, seja louuado o Criador que esmaltou a fermosura dos Ceos, rodee por fora, & saberey o que quer: o Chim rodeou a irmida, & entrou nella por hũa porta trauessa, & abrindo a em que estaua Autonio de Faria, elle com toda a gente entrou dentro na irmida, & achou dentro nella hum homem velho, que ao parecer seria mais de cẽ annos, com hũa vestidura de damasco roxo muyto comprida, o que no seu aspeito parecia ser homẽ nobre, como despois soubemos que era, o qual em vendo o tropel da gente, ficou tão fora de sy que cahio de focinhos no chão, & tremendo de peis & de maõs, não pode por então fallar palaura nenhũa, porem passado hum grande espaço em que a alteraçaõ deste sobresalto ficou quieta, & elle tornou sobre sy, pondo os olhos em todos, com rosto alegre & palauras seueras, preguntou que gente eramos, ou que queriamos; o interprete lhe respondeo por mandado de Antonio de Faria, que elle era hum Capitão daquella gente estrangeyra natural do reyno de Sião, & que vindo de veniaga num junco seu com muyta fazenda para o porto de Liampoo, se perdera no mar, do qual se saluara milagrosamente com todos aquelles homẽs que aly trazia comsigo, & que porque prometera de vir em romaria a aquella terra santa a dar louuores a Deos pelo saluar do grande perigo em que se vira, vinha agora a cũprir sua promessa, & juntamente lhe vinha pedir a elle algũa cousa de esmola com que se tornasse a restaurar de sua pobreza, & que elle lhe protestaua que daly a tres annos lhe tornaria dobrado tudo o que agora tomasse.
  33. [971](Cap. 81) E como ao outro dia foy menham nos preguntarão que gẽte eramos, ou como vinhamos daquella maneyra, a que respondemos que eramos estrangeyros naturais do reyno de Sião, & que vindo do porto de Liampoo para a pescaria do Nanquim, nos perderamos com hũa grande tormenta auia quinze dias, sem saluarmos mais que aquellas miseraueis carnes assi chagadas & nuas como as vião.
  34. [1022](Cap. 85) Passados os noue dias que aquy estiuemos presos nos tornarão a embarcar, & nauegando por hum muyto grande rio acima, em sete dias chegamos â cidade do Nanquim, que alem de ser a segunda de toda esta Monarchia, he tambem metropoli dos tres reynos de Liampoo, Fanjùs, & Sumbor, na prisaõ da qual estiuemos hũ mès & meyo com assaz de trabalho & pobreza, porque chegamos a tamanho estremo de miseria que visiuelmẽte morriamos ao desemparo, sem termos mais que chorar, & olhar para o Ceo, porque na primeyra noite que chegamos fomos logo roubados de quanto leuauamos, sem nos deixarem nem hũa camisa, porque como a casa da prisaõ era muyto grãde, & muyta a gente que estaua nella (porque segundo nos affirmarão passauão de quatro mil presos) não auia onde hũa pessoa se pudesse assentar que logo não fosse roubado & cuberto de piolhos.
  35. [1026](Cap. 86) Despois de sermos açoutados da maneyra que tenho dito, nos leuarão a hũa casa que estaua dentro na prisaõ a modo de enfermaria, onde jazião muytos doentes, & feridos, hũs em leitos, & outros pelo chão, na qual fomos logo curados com muytas cõfeiçoẽs & lauatorios, & espremidos & apertados, com pós por cima das chagas, cõ que algum tanto se nos mitigou a dor dos açoutes, a qual cura nos fizeraõ homẽs honrados, que saõ como entre nós irmaõs da misericordia que seruem aquy aos meses pelo amor de Deos com muyta caridade, & prouem os enfermos de tudo o necessario com muyta abastança & limpeza: & auẽdo ja onze dias que aquy estauamos em cura, & ja começauamos de nos achar algũ tanto milhor, mas lamentando o cortar dos dedos conforme ao rigor da sentença que era dada, quiz Deos que a caso entrarão hũa menham dous homẽs vestidos em hũas vestiduras de citim roxo muyto compridas, & hũas varas brãcas nas maõs a maneyra de cetros, cõ cuja entrada os enfermos todos da casa deraõ hũa grande grita dizendo, pitau hinacur macuto chendoo, que quer dizer, venhaõ com Deos os ministros de suas obras, ao que elles erguendo as varas, respõderaõ, & a vos todos de paciencia em vossos trabalhos & aduersidades: estes, começando a prouer com dinheyro & vestido algũs dos que estauaõ mais perto delles, chegarão tambem a nós, & despois de nos saudarem afabelmente, & com mostras de terẽ piedade de nossas lagrimas, nos preguntaraõ que homẽs eramos, de que terra, ou de que naçaõ, & porque caso estauamos presos, aque respondemos com muytas lagrimas que eramos estrangeyros naturaes do reyno de Sião, de hũa terra que se chamaua Malaca, & que sendo mercadores abastados dos bẽs do mundo, vindo com nossas fazendas para o porto de Liampoo, nos perderamos com hũa grande tormẽta defronte dos ilheos de Lamau, onde perderamos quanto leuauamos, sem saluarmos mais que aquellas miseraueis carnes da maneyra que as viaõ, & que chegando assi a hum lugar que se chamaua Taipor, o Chumbim da justiça nos prendera sem causa nenhũa, dizendo que eramos ladroẽs vagabundos, que por naõ trabalharmos andauamos calaceando de porta em porta, comendo indiuidamẽte as esmollas que nos dauão, & fazẽdo disto hum auto como quisera, nos mandara em ferros a aquella prisaõ, na qual auia ja quarenta & dous dias que padeciamos immẽsos trabalhos de doenças & fomes, sem nos quererẽ ouuir de nossa justiça, assi por naõ termos que peitar, como por não sabermos falar, & foramos condenados sem causa nenhũa a pena de açoutes, & a nos cortarem os dedos como ladroẽs, de que logo se executàra em nòs a pena dos crueis açoutes cõ tanto rigor & sobegidaõ de crueldade quanto seus olhos veriaõ nas nossas tristes carnes, pelo qual lhe pediamos pelo officio que tinhão de seruir a Deos, que nos naõ desemparassem, porque por nossa muyta pobreza eramos auorrecidos de todos, & tratados com grandissimas afrontas.
  36. [1110](Cap. 91) aque respondiamos conforme ao que ja tinhamos dito muytas vezes, que eramos naturais do reyno de Sião, & que nos perderamos no mar com hũs tormẽta indo de Liampoo para a enseada do Nanquim, & que eramos mercadores que ja foramos ricos, & tiueramos muyto de nosso, inda que nos vião daquella maneyra.
  37. [1281](Cap. 100) Nos lhe respõdemos que eramos estrangeyros naturais do reyno de Sião, & que vindo para o porto de Liampoo com nossas fazẽdas, nos perderamos no mar com hũa grande tormenta, de que nos saluaramos nùs & descalços sem cousa algũa sobre nossas carnes, & que assi nos foramos pedindo de porta em porta, até chegarmos ao lugar de Taipor, onde o Chumbim que ahy residia nos prendera sem causa, & nos mandara á cidade do Nanquim, na qual por seu dito foramos cõdenados a açoutes, & a nos cortarem os dedos, sem nos ouuirem de nossa justiça, pelo que postos os olhos no Ceo, pediramos com lagrimas aos vinte & quatro da austera vida, que por zelo de Deos ouuessem dò de nosso desemparo, porque eramos pobres & sẽ valia nenhũa, ao que elles logo, com zelo santo acudirão com muyta presteza, fazendo auocar a causa a aquelle juizo a que eramos trazidos, pelo que lhe pediamos que por seruiço de Deos visse bem nosso desemparo, & quanta sem razão nos era feita por não termos valia na terra, nem quem por nós fallasse hũa só palaura.
  38. [1889](Cap. 137) Aquy nos detiuemos mais quinze dias, em que o junco de todo acabou de se fazer prestes, & nos partimos para Liampoo, hum porto de mar do reyno da China, de que atras fiz larga menção, onde os Portugueses naquelle tempo tinhão seu trato, & vellejando por nossa derrota, prouue a Deos que chegamos a elle a saluamento, onde dos moradores da terra fomos muyto bẽ recebidos, os quais auendo por cousa noua virmos nòs daquella maneyra entregues á pouca verdade dos Chins, nos perguntarão de que terra vinhamos, & onde nos embarcaramos com elles, a que respõdemos conforme â verdade do que passaua, & lhe demos conta de toda a nossa viagem, & da noua terra de Iapaõ que tinhamos descuberto, & da grande quantidade de prata que nella auia, & do muyto proueito que se fizera nas fazendas da China, de que todos ficarão taõ contentes que não cabião em sy de prazer, & logo ordenarão hũa deuota procissaõ para darem graças a nosso Senhor por tamanha merce, & nella foraõ da igreija mayor que era de nossa Senhora da Conceição, até outra de Santiago, que estaua no cabo da pouoação, onde ouue Missa & pregação.
  39. [1978](Cap. 143) Do que mais passamos atè chegarmos a Liampoo, & da informação desta ilha Lequia.
  40. [1981](Cap. 143) Passados com bem de descanço nosso estes quarẽta & seis dias, sendo ja chegado tempo da monção, o Broquem nos mandou dar embarcação num junco de Chins que hia para o porto de Liampoo, no reyno da China, conforme ao que el Rey lhe tinha mandado, & ao Capitão do junco se tomarão grandes fianças a cerca da segurança de nossas pessoas, porque nos não fizesse traição no caminho.
  41. [1994](Cap. 144) Como de Liampoo me party para Malaca, donde o Capitão da fortaleza me mandou a Martauão ao Chaubainhaa.
  42. [3187](Cap. 208) E na companhia de oitocentas almas que com a sua doutrina aly conuertera, deixou o Paulo de santa fee, o qual perseuerou em as doutrinar por espaço de mais cinco meses que aly esteue cõ elles, no fim dos quais, por se ver muyto afrontado dos bonzos, se embarcou para a China, onde foy morto por hũs ladroẽs que no reyno de Liampoo andauão ao salto.
  43. [3475](Cap. 221) Ao outro dia pela menham nos partimos desta ilha de Sanchaõ, & ao sol posto chegamos a outra ilha que estâ mais adiante seis legoas para o Norte chamada Lampacau, onde naquelle tempo os Portugueses fazião sua veniaga cos Chins, & ahy se fez sempre ate o anno de 1557. que os Mandarins de Cantaõ a requerimento dos mercadores da terra nos deraõ este porto de Macao onde agora se faz, no qual sendo antes ilha deserta, fizeraõ os nossos hũa nobre pouoaçaõ de casas de tres quatro mil cruzados, & com igreija matriz em que ha Vigayro & beneficiados, & tem capitão & ouuidor & officiais de justiça, & taõ confiados & seguros estão nella com cuydarem que he nossa, como se ella estiuera situada na mais segura parte de Portugal, mas quererâ nosso Senhor pela sua infinita bondade & misericordia que esta sua segurãça seja mais certa & de mais dura do que foy a de Liampoo, que foy outra de Portugueses de que atras já fiz larga mençaõ, auante desta duzentas legoas para o Norte, a qual pelo desmancho de hum Portuguez em muyto breue espaço de tempo foy de todo destruyda & posta por terra, na qual desauẽtura me eu achey presente, & nella ouue hũa inestimauel perda assi de gente como de fazenda, porque tinha esta pouoação tres mil vezinhos, de que os mil & duzentos eraõ Portugueses, & os mais gente Christam de diuersas naçoẽs, & segũdo se affirmou por dito de muytos que bem o sabião, passaua o trato dos Portugueses de tres contos douro, de que a mayor parte era em prata de Iapaõ que auia dous annos que se descubrira, & que se dobraua o dinheyro tres & quatro vezes em qualquer fazenda que para là se leuaua.
  44. [3478](Cap. 221) De maneyra que se dezia geralmente que era a mais nobre, rica, & abastada pouoaçaõ de quantas auia em toda a India, & do seu tamanho em toda a Asia, & quando os escriuaẽs passauão algũs precatorios para Malaca, ou os taballiaẽs fazião algũas escrituras dezião, nesta muyto nobre & sempre leal cidade de Liampoo por el Rey nosso senhor.

Liãpoo 40(1), 46(1), 57(1), 60(1), 64(1), 67(1), 68(1), 71(1), 74(1), 137(1), 140(1), 144(1), 221(1).

Nas orações: 483, 561, 694, 731, 768, 810, 819, 862, 902, 1876, 1918, 1995, 3485.

  1. [483](Cap. 40) A mim senhor me chamão Bastião, & fuy catiuo de Gaspar de Mello, que esse perro que ahy está atado matou agora faz dous annos em Liãpoo cõ mais vinte & seis Portugueses que elle trazia comsigo na sua nao.
  2. [561](Cap. 46) E partido daly se fora ao porto de Liãpoo, onde aquelle anno fizera fazenda, & receoso de yr a Patane por causa dos Portugueses que lâ residiaõ, se fora inuernar a Siaõ, & o anno seguinte se tornara ao porto do Chincheo, onde tomara hum junco pequeno cõ dez Portugueses, que vinha da Çunda, & os matara a todos.
  3. [694](Cap. 57) E vendoos daquella maneyra lhes perguntou pela causa de sua desauentura, & elles lha contaraõ com mostras de muyto sentimento, dizendo, que auia dezassete dias que tinhaõ partido de Liãpoo para Malaca, com proposito de passarem á India, se lhe a monção não faltasse, & que sendo tanto auante como o ilheo de Çumbor os comerera hum ladraõ Guzarate, por nome Coja Acẽ, com tres juncos & quatro lanteaas, nas quais sete embarcaçoẽs trazia quinhentos homẽs, de que os cento & cinquenta eraõ Mouros Lusoẽs, & Borneos, & Iaos, & Champaas, tudo gente da outra costa do Malayo, & pelejando com elles desde a hũa hora atè as quatro despois do meyo dia, os tomara com morte de oitenta & duas pessoas, em que entraraõ dezoito Portugueses, a fora quasi outras tãtas que leuara catiuas, & que no junco lhes tomara de emprego seu & de partes mais de cem mil taeis.
  4. [731](Cap. 60) E fazẽdoos pór a mão a ambos num liuro de rezar que tinha na mão, lhes disse: Eu em nome destes meus irmãos & cõpanheyros assi viuos como mortos, aquem este vosso junco tem custado tantas vidas & tanto sangue quanto oje vistes, vos faço esmola como Christão de tudo, porque Deos nosso Senhor nela receba por essa no seu santo reyno, & nos queira dar nesta vida perdão de nossos peccados, & na outra a sua gloria, como confio que dará a estes nossos irmãos que oje morreraõ como bõs & fieis Christaõs por sua santa fê Catholica; porem vos peço & encomendo muyto, & vos amoesto por este juramento que vos dou que não tomeis mais que a vossa fazenda somente, digo toda a que trazieis de Liãpoo, assi vossa como de partes neste vosso junco, porque nem eu vos dou mais, nem he rezão que vós a tomeis, porque faremos ambos nisso o que não deuemos, eu em vola dar, & vós em a tomardes.
  5. [768](Cap. 64) Porem antes que vá mais por diante quero dizer sòs dous pontos do que hia na carta, que foraõ causa de este negocio se danar de todo, dos quais hum foy dizerlhe Antonio de Faria que elle era hum mercador estrangeyro Portuguez de nação, que hia de veniaga para o porto de Liãpoo, onde auia muytos mercadores estantes na terra com suas fazendas que pagauão seus direytos custumados, sem nũca fazerem nella roubos nem males como elle dezia.
  6. [810](Cap. 67) Por entre estas duas ilhas a que os naturaes da terra, & os que nauegão aquella costa, chamão as portas de Liãpoo, vay hũ canal de pouco mais de dous tiros de espingarda de largo, cõ fundo de vinte atè vinte & cinco braças, & em partes tem angras de bom surgidouro, & ribeyras frescas de agoa doce, que decem do cume da serra, por entre bosques de aruoredo muyto basto de cedros, carualhos, & pinheyros mansos & brauos, de que muytos nauios se prouem de vergas, mastos, taboado, & outras madeyras sem lhe custarem nada.
  7. [819](Cap. 68) Todos estes seis dias que Antonio de Faria aquy se deteue; como lhe tinhão pedido os de Liãpoo, esteue surto nestas ilhas, no fim do qual tempo hũ Domingo antemenham, que era o tẽpo aprazado para entrar no porto, lhe deraõ hũa boa aluorada com hũa musica de muyto excellentes fallas, ao som de muytos instrumentos suaues, que daua muyto gosto a quem a ouuia, & no cabo, por desfeita Portuguesa, veyo hũa folia dobrada de tambores & padeyros & sestros, que por ser natural, pareceo muyto bem.
  8. [862](Cap. 71) Aquy nesta angra tornou a praticar perante todos co Similau sobre esta nauegaçaõ que se fazia tanto âs cegas: & elle lhe respondeo, Eu, senhor Capitão, se te pudera empenhar outra joya de mayor preço que minha cabeça, crè de mim que o fizera muyto leuemente, porque vou tão certo nesta via que leuo, que não receara darte mil filhos em refẽs do que em Liãpoo te prometi, & ainda agora te torno a dizer que se te arrependes ou receas passar auante pelo que os teus te dizem de mim continuamente à orelha, como eu muyto bem tenho visto & ouuido, manda o que quiseres, porque prestes estou para em tudo te fazer a vontade.
  9. [902](Cap. 74) E tornãdo nos a embarcar bẽ prouidos cõ este mantimẽto, cõtinuamos nossa viagẽ mais sete dias, que fazia ja dous meses & meyo que tinhamos partido de Liãpoo; & ja neste tẽpo hia Antonio de Faria desconfiado do que o Similau lhe dissera, & muyto arrependido de ter cometido aquella viagem, & assi o cõfessou a todos publicamente, porem como naquillo não auia ja que fazer senão encomendarse a Deos, & prouer com prudencia no que tinha por diante, assi o fez sempre cõ muyto esforço.
  10. [1876](Cap. 137) Do que mais passey no negocio deste moço, & como me embarquey para Tanixumâ, & dahy para Liãpoo, & do que me aconteceo despois que ahy cheguey.
  11. [1918](Cap. 140) & nos lhe respondemos, que por sermos mercadores, & termos por officio tratar cõ nossas fazendas, nos embarcaramos no reyno da China do porto de Liãpoo para Tanixumaa, onde jâ tinhamos ido algũas vezes, & que sendo tanto auãte como a ilha do fogo nos dera hũa tamanha tormenta que não podendo pairar o mar, nos fora forçado correr em popa ao som do vẽto tres dias com suas noites, no fim dos quais vararamos co junco por cima da restinga de Taidacão, onde de nouenta & duas pessoas que eramos se afogaraõ logo as sessenta & oito, & nòs os vinte & quatro que aly via diante de sy, nos saluara Deos milagrosamente, sem outra cousa mais que sós aquellas chagas que via nos nossos corpos.
  12. [1995](Cap. 144) Chegando nòs a saluamẽto ao porto de Liãpoo fomos todos bem recebidos & agasalhados dos Portugueses que então aly estauão.
  13. [3485](Cap. 221) Logo dahy a dous annos, querendo os Portugueses tornar a fazer sua habitaçaõ em outro porto que se chamaua Chincheo no mesmo reyno da China cẽ legoas abaixo deste de Liãpoo, para terem nelle seus tratos & mercancias, os mercadores da terra pelo muyto proueito que disso lhes vinha, acabaraõ cos Mandarins, por peitas muyto grossas que por isso lhes deraõ, que dissimuladamente o consentissem.

(2) Objecto geográfico interpretado

Cidade (porto, mar). Parte de: China.

Referente contemporâneo: Ningbo, China (AS). Lat. 29.878190, long. 121.549450.

Porto, cidade, reino. FMPP (vol. 4, p.27): Ningbo. GT: na Peregrinação este topónimo é usado tanto para o porto fluvial de Ningpó (cidade em 29º 53′ N, 121º 32′ E) e o marítimo de Chin-Hai (29º 57’N, 121º 43′ E) este último o que visitou FMP. FMP refere-se a Liampoo também como reino (caps. 55, 57), no cap. 137 especifica que é parte da China: ‘hum porto de mar do reyno da China’. No cap. 66 situa duas ilhas que chama ‘portas de Liampoo’, segundo GT: Kin Tang (30º 05′ N; 121º 50′ E) e Taping (30º 05′ N, 121º 50′ E). FMPP (vol. 4, p. 24): Ningbo.

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