O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Moẽs. Moẽs 114(1), 149(1), 153(1), 156(6), 157(2), 162(1), 186(1), 194(1), 195(1).

Nas orações: 1523, 2111, 2184, 2219, 2221, 2223, 2224, 2227, 2231, 2232, 2339, 2781, 2924, 2949.

  1. [1523](Cap. 114) E abaixo destes doze ha quarẽta Chaẽs, que saõ como Visorreys, a fora outras muitas dignidades mais inferiores, que saõ como Regedores, Gouernadores, Veadores da fazenda, Almirantes, Capitaẽs mores, que se nomeão por Anchacys, Aytaos, Põchacys, Lauteaas, & Chũbins, os quais todos ainda que nesta cidade, que he a corte, saõ mais de quinhentos, nenhum traz estado de menos de duzentos homẽs, & os mais delles, para mayor espanto, saõ gentes estrangeyras de diuersas naçoẽs, dos quais a mayor parte saõ Mogores, Persios, Coraçones, Moẽs, Calaminhãs, Tartaros, & Cauchins, & algũs Bramaas, do Chaleu & Tanguu, porque dos naturais não fazem conta por ser gente fraca, & para pouco, inda que muyto habiles & engenhosos em todo o negocio mecanico, & de agriculturas, & arquiteitos de engenho muyto viuo, & inuẽtores de cousas muito sotis & artificiosas.
  2. [2111](Cap. 149) E querendo este Rey Bramaa por grandeza de estado festejar esta entrega do Chaubainhaa, mandou que todos os capitaẽs estrangeyros com sua gente armada & vestida de festa se pusessem em duas fileyras a modo de rua para vir por ella o Chaubainhaa, o que logo foy feito, & esta rua tomaua desda porta da cidade até a sua tenda que seria distancia de dous terços de legoa, na qual rua estauão trinta & seys mil estrangeyros, de quarenta & duas naçoẽs, em que auia Portugueses, Gregos, Venezeanos, Turcos, Ianiçaros, Iudeus, Armenios, Tartaros, Mogores, Abexins, Raizbutos, Nobins, Coraçones, Persas, Tuparaas, Gizares, Tanocos da Arabia Felix, Malauares, Iaos, Achẽs, Moẽs, Siames, Lusoẽs da ilha Borneo, Chacomaas, Arracoẽs, Predins, Papuaas, Selebres, Mindanaos, Pegùs, Bramâs, Chaloẽs, Iaquesaloẽs, Sauadis, Tãgus, Calaminhãs, Chaleus, Andamoens, Bengalas, Guzarates, Andraguirees, Menancabos, & outros muytos mais a que não soube os nomes.
  3. [2184](Cap. 153) E seguindo daquy sua derrota por hum grande rio de agoa doce de mais de hũa legoa em largo, que se dezia Pichau malacou, surgio á vista do Prom a treze de Abril, & por espias que aquella noite se tomaraõ teue por nouas que o Rey era morto, & que por sua morte lhe socedera no reyno hum seu filho moço de treze annos, o qual, seu pay, antes que morresse, casara com hũa sua cunhada irmam de sua molher, & tia do mesmo moço, & filha do Rey do Auaa; & esta sabendo da vinda do Bramaa sobre esta sua cidade do Prom, mandara logo pedir socorro a el Rey seu pay, o qual se affirmaua que mandaua hum seu filho irmão da Raynha, cõ hũa armada em que vinhão sessẽta mil Moẽs, & Tarees, & Chalẽs, gente escolhida, & muyto determinada na guerra, com a qual noua o Rey Bramaa se deu muyta pressa, determinando de tomar a cidade antes que o socorro viesse, & desembarcando em hum campo que se dezia Meigauotau, duas legoas abaixo da cidade, se esteue nelle preparando de tudo o que lhe era necessario por espaço de cinco dias.
  4. [2219](Cap. 156) Quatorze dias auia ja que estas cousas erão passadas, nos quais o tyranno se occupou sempre em fortificar a cidade cõ grande presteza & cuydado, quando lhe chegou noua certa pelas espias que nisso trazia, que da cidade do Auaa era partida pelo rio de Queitor abaixo hũa armada de quatrocentas vellas de remo, em que vinhão trinta mil homẽs do Siammõ, a fora a chuzma & a gente da mareação, de que vinha por general hum filho do Rey do Auaa irmão da pobre Raynha, o qual sendo auisado da perdição da cidade de Prom, & da morte de sua irmã, & de seu cunhado, se alojara na fortaleza de Meleitay, que era daly dezoito legoas do Prom pelo rio acima, a qual noua fez no tyrãno tamanho abalo, que lhe foy necessario yr logo em pessoa sobre esta gente, antes que lhe viesse o outro socorro que tinha por nouas que se ficaua fazendo prestes em que vinha o Rey do Auaa por general de oitenta mil Moẽs.
  5. [2221](Cap. 156) E chegando â vista do Meleitay, os Auaas por mostrarẽ quanto mayor impressaõ fazia nelles a determinação com que aly vierão, que o temor que tinhão diante, & arreceando que os inimigos lhe pudessem tomar a sua armada que tinhaõ no rio, que para elles seria hũa muyto grande afronta, lhe puseraõ o fogo, & determinados todos com hũa brutal oufania, de vingarem a offensa que era feita ao seu Rey, sem porem diante aquillo que naturalmente a carne mais arreceya, se puseraõ todos em campo, & se fizeraõ em quatro batalhas, nas tres, que erão de dez mil homẽs cada hũa, hiaõ os trinta mil Moẽs, & na outra, que era hum pouco mais grossa, hia toda a chuzma do remo das quatrocentas vellas que tinhaõ queimado.
  6. [2223](Cap. 156) Logo apos isto os trinta mil Moẽs, assi fechados como estauão nas tres batalhas, arremeterão cos inimigos com grandissimo impeto, & como neste tẽpo, por causa da peleja que tiuerão cõ a chuzma os acharão cançados, & muytos delles mortos, & outros muytos feridos, a batalha foy entre elles tão cruel & tão desacustumada, que por me não deter em particularizar cousa em que parece que pode auer duuida, não direy desta mais, senão que dos trinta mil Moẽs não escaparão mais que sós oitocentos, os quais assi feridos & desbaratados se recolherão ao Meleytay, deixando no campo dos duzentos mil do Rey do Bramaa os cento & quinze mil mortos, & os outros quasi todos feridos.
  7. [2224](Cap. 156) Neste tẽpo o tyranno Bramaa que vinha pelo rio nos dous mil seroos, chegou ao lugar onde fora a peleja, & vendo o estrago que os Moẽs nos seus tinhaõ feito, ficou como atonito & fora de sy, & desembarcando em terra, pós logo cerco â fortaleza com determinação, como elle dezia, de tomar âs mãos viuos os oitocẽtos que estauão nella.
  8. [2227](Cap. 156) Esta peleja duraria pouco mais de hum quarto de hora, & não se acabou senão despois que os 800. Moẽs foraõ de todo consumidos, sem auer nenhũ que se quisesse dar a partido, & vendo o tyrãno Bramaa a peleja acabada, & a cousa jà de todo quieta, se tornou a recolher ao campo, & ajuntando outra vez a gẽte, entrou na fortaleza de Meleitay, onde mandou logo cortar a cabeça ao Xemim, dizẽdo que elle fora causa daquelle desastre que lhe acõtecera, porque quem fora tredro ao seu Rey não lhe podia a elle ser muyto leal, & este foy o pago que o tyranno lhe deu por lhe entregar a cidade do Prom, mas bem deuido a quẽ entregou seu Rey & a sua mesma patria em poder de seus inimigos.
  9. [2231](Cap. 157) E feita ressenha de toda a copia dos mortos de ambas as partes que tinha custado esta vinda ao Meleytay, se achou que da parte do Bramaa erão cento & vinte & oito mil, & da do principe filho do Rey do Auaa quarenta & dous mil em que entrarão todos os trinta mil Moẽs do socorro.
  10. [2232](Cap. 157) Isto feito, o tyranno Bramaa despois de fortalecer a cidade do Prom, & esta fortaleza do Meleytay, & criar de nouo outras duas fortalezas á borda do rio, em lugares importantes à segurança daquelle reyno, se partio em mil seroos ligeyros de remo pelo rio de Queitor acima, nos quais leuou setenta mil homẽs, com determinação de yr em pessoa espiar o reyno do Auaa, & dar de sy hũa mostra à cidade, para ver cos olhos as forças della, & que poder aueria myster para a tomar, & a cabo de vinte & oito dias deste caminho, dentro nos quais passou por lugares muyto nobres do Rey do Chaleu, & Iacuçalão que estauão â borda da agoa, sem tratar de nenhum delles, chegou a esta cidade do Auaa aos treze dias de Outubro deste mesmo anno de 1545. sobre o porto da qual esteue treze dias sem fazer mais dano que somente queimar duas ou tres mil embarcaçoẽs de seruiço que achou no porto, & pòr fogo a algũas aldeas que ao redor estauão, o que lhe não custou tão barato, que não chegasse a despeza destes saltos a oito mil dos seus, em que entraraõ sessenta & dous Portugueses, porque ja neste tempo que aquy chegamos estaua tudo muyto bẽ prouido, & a cidade alẽ de ser forte, assi por sitio como por fortificação, estaua apercebida de vinte mil Moẽs, dos quais se dezia que auia sós cinco dias que erão chegados dos montes de Pondaleu, onde o Rey do Auaa, com licença do do Siammon Emperador desta Monarchia, ficaua fazendo mais oitenta mil homẽs para tornar a ganhar o Prom, porque sendo este Rey do Auaa certificado da deshonra & morte de sua filha & de seu genro, como atras fica dito, & vendo que por sy não era poderoso para se satisfazer das offensas & males que este tyranno lhe tinha feitos, & segurarse dos que temia que ao diante lhe fizesse, que era tomarlhe o reyno, de que algũas vezes o tinha jâ ameaçado, se foy em pessoa com sua molher & seus filhos lançar aos peis deste Siammon, & dandolhe conta dos seus trabalhos & afrontas, & do proposito que leuaua, por hum concerto feito entre ambos se fez seu tributario em seiscentas mil biças cada anno, que da nossa moeda saõ trezentos mil cruzados, & hũa guanta de rubis, que he hũa medida como canada, para hũa joya de sua molher, do qual tributo dizem que lhe fez logo pagamento por dez annos dante mão, a fora outras peitas de pedraria muyto rica, & baixellas & peças que valerião mais de dous contos douro.
  11. [2339](Cap. 162) Esta batalha se deu aos noue dias da primeyra lũa deste tempo que digo, de sete mil & trezentas & vinte no afamado cãpo vitau, onde lhes apareceo o Quiay Niuandel assentado nũa cadeyra de pao, o qual ficou daquy cõ grao de nome mais hõroso que todos os outros deoses dos Moẽs & Sioẽs celebrado por deos das batalhas, em tãto que quando se jurão cousas increiueis entre as naçoẽs que habitão a terra, para se lhes dar credito a ellas, não se diz outra cousa senão pelo santo Quiay Niuãdel deos das batalhas do cãpo vitau, & em hũa grande cidade que se chamaua Sorocataõ, em que foraõ mortas quinhẽtas mil pessoas, se catiuaraõ todos estes deoses que aquy vedes presos em despeito dos Reys que crião nelles, & dos sacerdotes que lhe ministrauaõ o cheyro suaue de seus sacrificios.
  12. [2781](Cap. 186) El Rey, que a este tẽpo andaua esforçando os seus, vendo o mao successo daquelle cometimento, mandou retirar a estes, & de nouo tornou acometer o muro com a força dos cinco mil elifantes de guerra que trazia, postos em vinte companhias, de duzentos & cinquẽta cada companhia, nos quais hião vinte mil Moẽs, & Chaleus, gente muito escolhida, & que tem as pagas dobradas.
  13. [2924](Cap. 194) E aos noue dias de Março do anno de 1552. abalou do Tanguu, que era a sua patria, com hum exercito de trezentos mil homẽs, de que os cinquenta mil sómente eraõ Bramaas, & todos os mais eraõ Moẽs, Chaleus, Calaminhás, Sauadis, Pamcrùs, & Auaas: assi que destas seis naçoẽs era a mayor parte de toda esta gente, as quais habitaõ pelos rumos de Leste & Lesnordeste o sertão destes reynos, em distancia de mais de quinhentas legoas, como se pode ver num mapa, se a sua graduação estiuer verdadeyra.
  14. [2949](Cap. 195) E para remedio desta desinquietação quiz Deos, que he pay da santa concordia, espirar no peito del Rey que sofresse este mal como prudente, paraque assi se pacificasse o tumulto & a reuolta destas tres inquietas naçoẽs que habitão no agro das serras dos Moẽs, aos quais Deos maldiga entre todas as gentes, & para effeito desta paz & quietação se fez hum concerto entre el Rey & os capitaẽs dos amotinados, jurado de ambas as partes, que el Rey por liurar esta cidade do saco que era prometido aos soldados lhes daria de sua fazenda, o que seis homẽs, juizes deputados para esta causa, determinassem por sua sentença, dos quais os quatro jà la estão, & para a copia dos seis ser cheya não faltão mais que tu & outro Portuguez que el Rey escolheo por sua parte, cujo nome vem escrito nesta carta; pela qual serâs certo disto que te digo, & logo lhe meteo na mão hũa carta que trazia do Rey Bramaa, a qual Gonçallo Pacheco tomou em joelhos, & a pós na cabeça com hũas cerimonias exteriores de tãta cortesia que o Bramaa ficou muyto satisfeito, & disse, bem sabia el Rey meu senhor quem tu és, pois te escolheo por juiz da sua honra, & da sua fazenda.

(2) Objecto geográfico interpretado

Nação. Parte de: Indico Oriental.

Referente contemporâneo: Bago, Myanmar [Burma] (AS). Lat. 17.335210, long. 96.481350.

Gentílico. GT s.v. Moenes, reino dos: Reino do Pegu. FMPP (vol. 4, p. 75): Mons.

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