O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Panaruca. Panaruca 36(1), 173(2), 178(6), 179(2).

Nas orações: 415, 2593, 2595, 2656, 2657, 2658, 2661, 2662.

  1. [415](Cap. 36) Este Antonio de Faria trazia hũs dez ou doze mil cruzados em roupas da India que em Malaca lhe emprestaraõ, as quais eraõ de tão mà digestaõ naquella terra, que não auia pessoa que lhe prometesse nada por ellas, pelo que vendose elle de todo desesperado de as poder gastar, determinou de inuernar aly até lhe buscar espediente por qualquer via que fosse possiuel; & foy acõselhado por algũs homẽs mais antiguos na terra que a mandasse a Lugor, que era hũa cidade do reyno Sião mais abaixo para o norte cem legoas, por ser porto rico, & de grande escala, em que auia grande soma de jũcos da ilha da Iaoa, dos portos de Laue, Tanjampura, Iapara, Demaa, Panaruca, Sidayo, Passaruaõ, Solor, & Borneo, que a troco de pedraria & ouro costumauão a comprar bem aquellas fazendas.
  2. [2593](Cap. 173) Partido este Rey da Çunda deste porto de Banta a cinco dias do més de Ianeyro do anno de 1546. chegou aos dezanoue à cidade de Iapara, onde o Rey de Demaa Emperador desta ilha Iaoa então se estaua fazendo prestes com hum exercito de oitocentos mil homẽs, o qual sabendo da vinda deste Rey da Çunda, que era seu cunhado & seu vassallo, o mandou receber á embarcação por el Rey de Panaruca Almirante da frota, o qual leuou comsigo cento & sessenta calaluzes de remo, & nouenta lancharas de Lusoẽs da ilha Borneo, & com toda esta companhia o trouxe onde el Rey estaua, do qual foy muyto bem recebido, & com honras muyto auãtajadas de todos os outros.
  3. [2595](Cap. 173) E vendo o Rey de Panaruca Almirante da frota que os nauios grossos não podião yr surgir à cidade que estaua daly duas legoas, por respeito dos alfaques, & bancos de area que auia em algũas partes do rio, mandou desembarcar toda a gẽte dos nauios grossos em terra, & os nauios de remo foraõ ancorar no surgidouro da cidade, para queimarem as embarcaçoẽs que encima no porto estiuessem, & assi o fizeraõ, na qual armada foy o Pangueyraõ Emperador em pessoa, acompanhado de todos os grandes do reyno.
  4. [2656](Cap. 178) Pelo qual vendo a gente do pouo & os soldados da armada esta tamanha tardança, parecendolhe que este negocio não teria jâ conclusaõ, nem aueria justiça que os castigasse, se começaraõ a desauergonhar com tamanha soltura & atreuimẽto, & roubar os mercadores que estauão no porto, assi naturais como estrangeyros, que em sós quatro dias se affirmou que tomaraõ cem juncos, onde mataraõ mais de cinco mil homẽs, a que o Rey de Panaruca, & principe de Balambuaõ, que era almirãte do mar daquelle imperio, acudio com muyta pressa, & dos delinquentes que se acharaõ naquelle fragante co farto nas mãos, mandou hũa menham enforcar oitenta ao longo da praya para terror dos que os vissem.
  5. [2657](Cap. 178) O Quiay Ansedaa Pate de Cherbom, que era Gouernador da cidade, & muyto poderoso nella, vẽdo o que o Rey da Panaruca tinha feito, parecendolhe que o fizera em seu desprezo, pois não tiuera respeito ao cargo que elle tinha, o tomou tão mal, & ficou tão desconfiado, que ajuntando logo a sy seis ou sete mil homẽs, deu nas casas onde pousaua o Rey de Panaruca, & o quisera prender por isso, mas o Panaruca lhe resistio com os que então tinha comsigo, & teue com ele, segundo se disse, muytos cumprimentos & justificaçoẽs, que o Quiay Ansedaa não sòmente lhe não quiz aceitar, mas entrandolhe por força em casa, lhe matou trinta ou quarenta dos seus, ao qual roydo se ajuntou tanta gente que era cousa de espanto, porque como ambos eraõ grandes senhores, & muyto aparentados, & hum era almirante da frota, & outro Gouernador da cidade, teceo o demonio esta discordia entre ambos de tal maneyra, que se a noite se não metera no meyo, que fez apartar a briga, por sem duuida tenho que aly ouueraõ de acabar quasi todos.
  6. [2658](Cap. 178) Porẽ não se acabou por aquy a desauentura daquelle negocio, porque vendo a gente da armada (que ainda a este tẽpo serião mais de seiscentos mil homẽs) que o Rey de Panaruca seu almirante fora afrontado pelo Quiay Ansedaa Gouernador da cidade, querendose satisfazer de tamanha injuria, se desembarcaraõ todos em terra naquella mesma noite, sem o Panaruca ser poderoso para lho estoruar, com quanto nisso trabalhou quanto pode, & dando nas casas do Quiay Ansedaa, o mataraõ com mais de dez mil homẽs que tinha comsigo, & não contentes com isto deraõ em toda a cidade por dez ou doze partes, & começando a matar & saquear tudo o que achauão a tratarão de tal maneyra, que em sós tres dias que durou o saco, não ficou nella cousa em que se pudesse pôr olhos, com hũa vnião de gritos & choros tão espantosos, que ao juizo dos homẽs parecia que se fundia a terra, por fim do qual, por não gastar nisto mais palauras, a cousa parou em o fogo a consumir de maneyra, que até os alicerces tudo foy abrasado, em que se affirmou que arderaõ mais de cẽ mil casas, & se meterão â espada trezentas mil pessoas, & se catiuaraõ quasi outras tantas, que se leuaraõ de veniaga para diuersas partes, & se roubou infinidade de fazendas muyto ricas, de que só em prata & ouro se affirmou que passara de quarenta contos douro, de modo que o despojo todo por junto se esmou em cem contos douro, & os mortos & catiuos em quinhentas mil pessoas.
  7. [2661](Cap. 179) Passados os tres dias que durou esta tão cruel & taõ espantosa reuolta, logo tudo ficou pacifico & posto em quietação, temendo entaõ os principais daquelle motim, que tanto que fosse eleito o Pangueyraõ recebessem elles o castigo que merecião por tão graue crime, se fizeraõ logo todos â vella, antes de se verem neste perigo, & se partiraõ na mesma armada em que estauã embarcados, sem o Rey da Panaruca seu almirante ser poderoso para lho tolher, antes esteue por duas vezes em risco de se perder por isso com algũs poucos que tinha da sua parte, & assi em sòs dous dias se despejou o porto de todas as duas mil vellas que nelle estauão, sem ficarem nelle mais que algũs jurupangos de mercadores, ficãdo a terra toda abrasada & consumida.
  8. [2662](Cap. 179) Pelo qual ajuntandose esses poucos senhores que ainda auia, assentaraõ de se passarem á cidade de Iapara, cinco legoas daly para a costa do mar mediterraneo, & logo o puseraõ por obra, onde passados despois de se sossegar o tumulto da gẽte plebeya, que ainda então era sem conto, se concluyo no eleger do Pangueyraõ, o qual vocablo propriamente quer dizer Emperador, & logo foy eleito hum Pate Sidayo principe de Surubayaa, que não foy nenhum dos oito poentes, porque assi pareceo necessario para o bẽ comũ, & quietação da terra, de que o pouo todo ficou muyto satisfeito, & logo o mandaraõ buscar pelo Panaruca a hum lugar daly doze legoas onde elle entaõ estaua, que se dezia Pisammanes, o qual veyo daly a noue dias acompanhado de mais de duzentos mil homens, embarcados em mil & quinhentos calaluzes, & jurupangos, onde foy recebido de todo o pouo, com mostras de muyta alegria, & foy logo coroado com todas as cerimonias custumadas por Pangueyrão de toda a Iaoa, & Bale, & Madura, que he hũa muyto grande monarchia de gente, poder, & riqueza.

(2) Objecto geográfico interpretado

Reino (porto). Parte de: Iaoa.

Referente contemporâneo: Panarukan, Indonesia (AS). Lat. -7.701810, long. 113.918440.

Reino, porto. Thomaz (2002: 448) Panrukan. GT Panarukan, no estreito de Madura, 7º 42’ S, 113º 56’ E. Claude Guillot (FMPP vol. 3, p. 230) por contexto histórico, FMP aparece trocado por Passseruão, e assim, quando na narração no cap. 172 se menciona Passeruão, referir-se-ia a Panaruca e vice-versa no capítulo 173. O contexto oferecido pela Peregrinação permite, como mínimo, considerar Panaruca como possível. Mais do que provável só por homonímia.

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