O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Pão. Pão 33(3), 34(2), 35(3).

Nas orações: 379, 381, 382, 388, 391, 398, 400, 410.

  1. [379](Cap. 33) Como indo eu de Malaca para o reyno de Pão achey vinte & tres Christãos perdidos no mar.
  2. [381](Cap. 33) Sendo eu, como ja atras tenho dito, cõualecido da doẽça que trouxe do catiueyro de Siaca, Pero de Faria desejando de me abrir algũ caminho por onde eu viesse a ter algũa cousa de meu, me mandou em hũa lanchara de remo ao reyno de Pão, cõ dez mil cruzados de sua fazẽda, para os entregar a hũ seu feitor que là residia, por nome Tomé Lobo, & dahy me passar a Patane, que era outras cem legoas auante, cõ hũa carta & hũ presente para o Rey, & tratar cõ elle a liberdade de hũs cinco Portugueses que no reyno de Sião estauão catiuos do Monteo de Banchà seu cunhado.
  3. [382](Cap. 33) Partindo eu de Malaca cõ este dessenho, aos sete dias da minha viagem, sendo hũa noite tanto auante como a ilha de Pullo Timão, que pode ser nouenta legoas de Malaca, & dez ou doze da barra de Pão, quasi meyo quarto dalua passado, ouuimos por duas vezes hũa grande grita no mar, & não vẽdo nada por causa do grande escuro que ainda fazia, ficamos todos muyto suspensos, porque não sabiamos atinar co que aquillo seria, & mareando as vellas, fomos guinando para onde tinhamos ouuido o tom da grita, vigiando todos cos rostos baixos, para vermos se podiamos deuisar o que aquillo fosse.
  4. [388](Cap. 34) Como cheguey ao reyno de Pão com estes perdidos, & do mais que ahy passey.
  5. [391](Cap. 34) Daquy desta paragem nos fomos demandar a barra de Pão, onde chegamos quasi à meya noite que surgimos na boca da barra defronte de hũa pouoação pequena que se dizia Campalarau, & como a menham foy clara, nos fomos a remo pelo rio acima até a cidade, que seria daly pouco mais de hũa legoa, onde achamos o Tomè Lobo, que, como disse, ahy residia por feitor do Capitão de Malaca, a quẽ entreguey a fazenda que leuaua.
  6. [398](Cap. 35) Como el Rey de Pão foy morto, & quem o matou, & a razão porque, & do que então nos socedeo a Tomê Lobo & a mim.
  7. [400](Cap. 35) E tendo ja quasi tudo arrecadado, com tenção de nos embarcarmos ao outro dia, ordenou o demonio que aquella noite logo seguinte acontecesse hum caso assaz espantoso, o qual foy que hum Coja Geinal Embaixador del Rey de Borneo que auia ja tres ou quatro annos que residia na corte del Rey de Pão, & era homẽ muyto rico, matou a el Rey, pelo achar cõ sua molher, pelaqual causa foy tamanha a reuolta na cidade, & em todo o pouo, que não parecia cousa de homẽs, se não de todo o inferno junto; vendo então algũs vadios & gente ociosa, desejosa de tais successos como aquelles, que o tempo & a occasiaõ era então muyto accommodada para fazerem o que antes co temor do Rey não ousauão, se ajuntaraõ nũa grande companhia quasi quinhentos ou seiscẽtos destes, & em tres quadrilhas se vieraõ à feitoria onde pousaua o Tome Lobo, & abalroando as casas por seis ou sete partes, nolas entraraõ por força, por mais que as nòs defendemos, & na defensaõ dellas foraõ mortas da nossa parte onze pessoas, entre as quais foraõ os tres Portugueses que eu trouxera comigo de Malaca, & o Tome Lobo escapou com seis cutiladas, de hũa das quais lhe derrubaraõ a face direita atè o pescoço, de que esteue à morte, pelo que a ambos nos foy forçado largarmoslhe a pousada cõ toda a fazenda que nella auia, & recolhermonos à lãchara, na qual prouue a Deos que escapamos com mais cinco moços, & oyto marinheyros, porem da fazenda não escapou nada, a qual só em ouro & pedraria passaua de cinquenta mil cruzados.
  8. [410](Cap. 35) E com quanto erão de pazes & se dauão por nossos amigos, todauia trabalharaõ quanto foy possiuel, com peitas que deraõ aos regedores, & aos priuados de el Rey, para que fizessem com elle que nos acoimasse o feito, & nos lançasse fora da terra, o que el Rey não quiz fazer, dizendo, que por nenhum caso auia de quebrar as pazes que seus antepassados tinhão feitas com Malaca, mas querẽdose fazer terceiro, & meter a mão entre nos & os tomados, nos pidio que satisfazendo os tres Necodàs senhorios dos juncos o que em Pão se tomara ao Capitão de Malaca, lhes largassem liuremente as suas embarcaçoẽs, o que o Ioão Fernandez Dabreu, & os mais Portugueses outorgaraõ pelo muyto desejo que virão que el Rey tinha disso, de que se elle mostrou muyto contente, & lhes agardeceo aquella boa vontade com muytas palauras.

Paõ 35(3), 51(1).

Nas orações: 402, 403, 404, 620.

  1. [402](Cap. 35) E partindonos logo daly, dentro de seis dias chegamos a Patane, onde fomos bem recebidos dos Portugueses que auia na terra, aos quais demos conta de tudo o que acontecera em Paõ, & do mao estado em que ficaua a miserauel cidade, de que todos mostraraõ pesarhes muyto, & querendo fazer sobre isto algũa cousa, mouidos somente do zelo de bõs Portugueses, se foraõ todos a casa del Rey, & se lhe queixaraõ muyto da sem razão que se fizera ao Capitão de Malaca, & lhe pediraõ licença para se entregarem da fazenda que lhe era tomada, o que el Rey lhes concedeo leuemente, dizendo: Razão he que façais como vos fazem, & que roubeis quem vos rouba, quãto mais ao Capitão de Malaca, a quem todos sois tão obrigados.
  2. [403](Cap. 35) Os Portugueses todos lhe deraõ muytas graças por aquella merce; & tornandose para suas casas, assentaraõ que se fizesse represa em toda a cousa que achassem ser do reyno de Paõ, ate que de todo se satisfizesse aquella perda.
  3. [404](Cap. 35) E daly a noue dias sendo auisados que no rio de Calantão, que era daly dezoito legoas, estauão tres juncos da China muyto ricos, de mercadores Mouros naturais do reyno de Paõ, que cõ tempo contrario se vieraõ aly meter, ordenaraõ logo de armarem sobre elles.
  4. [620](Cap. 51) E perguntado quanto tempo auia que se leuantara, & que nauios de Portugueses tinha tomado, & quantos homẽs mortos, & que fazenda roubada; disse que de sete annos a esta parte, o primeyro nauio que tomara fora o junco de Luys de Pauia no rio de Liampoo, com quatrocentos bares de pimenta sem droga nenhũa, onde matara dezoito Portugueses, a fora os seus escrauos, de que não fazia caso, por não serem gente que o satisfizesse no que tinha jurado, mas que despois por conjunçoẽs de acertos que achara no mar, tomara mais quatro embarcaçoẽs, nas quais matara perto de trezentas pessoas, mas que Portugueses não serião mais que setenta, & que lhe parecia que podia chegar o que tinha tomado de mil & quinhentos atè mil & seiscentos bares de pimenta, & outra fazenda, da qual el Rey de Paõ lhe tomara logo mais de a metade pelo recolher em sua terra, & segurar dos Portugueses, dandolhe para isso aquelles cem homẽs que andauão com elle, & lhe obedecessem como a Rey.

(2) Objecto geográfico interpretado

Reino. Parte de: Insulíndia.

Referente contemporâneo: Pahang, Malaysia (AS). Lat. 3.500000, long. 102.750000.

Reino. GT: porto e reino. Thomaz (2002: 446): Pahang em 3º 30’ N, 103º 25’ E.

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