O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Sauady. Sauadijs 153(1).

Nas orações: 2181.

  1. [2181](Cap. 153) E porque ja neste tempo tinha atoardas que o Rey do Auaa, confederado cos Sauadijs, & Chaleus daua entrada ao Siammon (que pelo sertão destes reynos confina a Loeste & a Loesnoroeste co Calaminhan Emperador da força bruta dos elifantes da terra, como adiante declararey quando tratar delle) para que tomasse as fortalezas do reyno Tanguu a este Bramaa, elle como bom capitão & muyto pratico & astuto nas cousas da guerra, mandou logo primeyro que tudo prouer bem de gente & de todo o necessario as principaes quatro forças que tinha, & de que mais se arreceaua.

Sauadis 149(1), 170(2), 194(1), 195(1).

Nas orações: 2111, 2555, 2556, 2924, 2948.

  1. [2111](Cap. 149) E querendo este Rey Bramaa por grandeza de estado festejar esta entrega do Chaubainhaa, mandou que todos os capitaẽs estrangeyros com sua gente armada & vestida de festa se pusessem em duas fileyras a modo de rua para vir por ella o Chaubainhaa, o que logo foy feito, & esta rua tomaua desda porta da cidade até a sua tenda que seria distancia de dous terços de legoa, na qual rua estauão trinta & seys mil estrangeyros, de quarenta & duas naçoẽs, em que auia Portugueses, Gregos, Venezeanos, Turcos, Ianiçaros, Iudeus, Armenios, Tartaros, Mogores, Abexins, Raizbutos, Nobins, Coraçones, Persas, Tuparaas, Gizares, Tanocos da Arabia Felix, Malauares, Iaos, Achẽs, Moẽs, Siames, Lusoẽs da ilha Borneo, Chacomaas, Arracoẽs, Predins, Papuaas, Selebres, Mindanaos, Pegùs, Bramâs, Chaloẽs, Iaquesaloẽs, Sauadis, Tãgus, Calaminhãs, Chaleus, Andamoens, Bengalas, Guzarates, Andraguirees, Menancabos, & outros muytos mais a que não soube os nomes.
  2. [2555](Cap. 170) Pelo que vendose os de dentro tão afrontados, & com tanta perda dos seus, se determinaraõ como homens muyto esforçados a venderẽ bẽ suas vidas a seus inimigos, & saindo hũa antemenhã pelos lanços do muro que a artilharia tinha derrubado, derão nos do cãpo tanto sem medo, que em menos de hũa hora o exercito do Bramas esteue quasi de todo desbaratado, & por ser ja quasi menham clara os Sauadis se recolherão â cidade, deixando mortos oito mil dos inimigos, & em muyto breue tempo repairaraõ os dous lanços do muro caidos com hum contramuro terraplenado de entulho de vigas & terra & faxina que não auia despois artilharia que o pudesse passar.
  3. [2556](Cap. 170) Pelo qual vendo o Chaumigrem quão mal atê então lhe tinha socedido aquelle negocio, determinou de fazer guerra aos lugares comarcãos que estauão mais perto da cidade, & mãdando o Diossaray tisoureyro mór, de quem os oito Portugueses eramos catiuos, por coronel de cinco mil homẽs, lhe disse que fosse sobre hũ lugar que se chamaua Valeutay donde a cidade muytas vezes era prouida de mantimentos, a qual ida lhe socedeo de maneyra, que antes que chegasse ao lugar derão nelle obra de dous mil Sauadis, & em menos de meya hora dos cinco mil nenhum ficou que não fosse morto; & nesta reuolta por ser de noite, quiz nosso Senhor que nòs os oito Portugueses que ahy nos achamos, escapassemos fugindo, porque ouuemos por milhor conselho saluarmos as vidas que ficarmos mortos no campo como os outros.
  4. [2924](Cap. 194) E aos noue dias de Março do anno de 1552. abalou do Tanguu, que era a sua patria, com hum exercito de trezentos mil homẽs, de que os cinquenta mil sómente eraõ Bramaas, & todos os mais eraõ Moẽs, Chaleus, Calaminhás, Sauadis, Pamcrùs, & Auaas: assi que destas seis naçoẽs era a mayor parte de toda esta gente, as quais habitaõ pelos rumos de Leste & Lesnordeste o sertão destes reynos, em distancia de mais de quinhentas legoas, como se pode ver num mapa, se a sua graduação estiuer verdadeyra.
  5. [2948](Cap. 195) Hum mao homem da nação de vosoutros, botando hũa faisca do seu infernal peito, bafejada pela fornalha da maldita discordia, amotinou tres naçoẽs estrangeyras de Chaloẽs, Meleitais, & Sauadis, no cãpo del Rey meu senhor, de que foy causa a maldade & a cubiça do amutinador & dos amotinados, & o mal que daquy resultou chegou a tanto, que o cãpo esteue quasi de todo perdido, cõ morte de tres mil Bramaas, & a pessoa real se vio posta em tanto trabalho & perigo, que lhe foy necessario retirarse para hũ forte, no qual esteue tres dias, & inda agora fica nelle sem ousar de se fiar de nenhũa nação estrangeyra.

Sauady 41(1), 150(2), 164(1), 165(1), 168(1), 170(4), 199(1).

Nas orações: 499, 2118, 2407, 2413, 2500, 2550, 2551, 2552, 2559, 3007.

  1. [499](Cap. 41) E no meyo de toda esta terra, ou reyno, como ja foy antiguamente, està hum grande lago, a que os naturaes da terra chamão Cunebetee, & outros o nomeão por do Chiammay, do qual procede este rio com outros tres mais que regão muyto grande quantidade desta terra, o qual lago, segundo affirmão os que escreueraõ delle, tem em roda sessenta jaõs, de tres legoas cada jão, ao longo do qual ha muytas minas de prata, cobre, estanho, & chumbo, de que continuamente se tira muyta quantidade destes metais que de veniaga leuão mercadores em cafilas de alifantes & badas aos reynos de Sornau, que he o de Sião, Passiloco, Sauady, Tangù, Prom, Calaminhan, & outras prouincias que pelo sertão desta costa de dous & tres meses de caminho estão diuididas em senhorios & reynos de gentes brancas, de baças, & de outras mais pretas.
  2. [2118](Cap. 150) E tras estes dous vinhaõ o Bainhaa Brajaa, & o Chaumalacur, & o Nhay Vagarù, & o Xemim Ansedaa, & o Xemim de Çatão, & o Xemim Guarem filho do Moncamicau Rey do Iangomaa, & o Bainhaa de Laa, & Raja Sauady, & o Bainhaa Chaque, Gouernador do reyno, & o Dambambuu senhor de Merguim, & Raja Sauady, irmão del Rey de Berdio, & o Bainhaa Basoy, & o Coutalanhameydoo, & o Monteo de Negrais, & Chircaa de Coulaam.
  3. [2407](Cap. 164) Ainda que ja isso se certificou nesta terra antigamente pelo dito de hum homem chamado Ioaõ que veyo ter a esta cidade, do qual se escreue que era homem santo, & que fora discipulo doutro que se chamaua Tomè Modeliar, criado de Deos, que os naturais de Dumclee tinhaõ morto, porque pregaua publicamente que Deos se fizera homem, & morrera polos homẽs, cousa que nesta terra fez tamanho abalo em toda a gente, que muytos creraõ ser isto verdade; & outros a maneyra de contrabãdo, por excitação dos grepos da ley do Quiay Figrau deos dos atamos do sol, lhe reprouauão o que dezia, pelo qual foy desterrado desta cidade para o Sauady reyno dos Bramaas, & dahy pelo mesmo caso o foy para a cidade de Digum, onde foy morto, por causa que pregaua disto publicamente, que era certificar que Deos se fizera homem, & se pusera na Cruz pelos homẽs.
  4. [2413](Cap. 165) Braço de caro ruby, nouamente pegado por Deos em meu corpo, cuja carne fica propriamente em mim como a de qualquer irmaõ meu por esta noua liga & amizade que te concedo, eu o Prechau Guimião senhor das vinte & sete coroas dos montes da terra, erdadas por legitima successaõ do senhor que punha seus peis na minha cabeça de vinte & dous meses a esta parte, porque tãtos ha que de mim se apartou para mais me não ver, pela santificaçaõ em que sua alma agora está posta, gostando da suaue quentura dos rayos do Sol, vy a tua carta ás cinco chauecas da oitaua lũa do anno, a que dey credito de verdadeyro irmão, & como a tal aceito em mim o partido que me cometes, & me obrigo a te fazer liures as entradas ambas do Sauady, paraque sem temor da gẽte Siame possas ser Rey do Auaa, como na tua carta me pedes, & quãto âs mais condiçoẽs apõtadas de fora em que o teu Embaixador me tocou, eu respõderey a ellas pelo meu que logo daquy mandarey, para em meu nome concluyr cõ effeito no gosto que mostras de fazeres guerra a teus inimigos.
  5. [2500](Cap. 168) E por esta maneyra disse tantas cousas em fauor dos pequenos, & deu tantos brados, & chorou tantas lagrimas por sua causa, que el Rey estaua como pasmado & fora de sy, & fez isto tanta impressão nelle, que logo aly mandou chamar o Brazagarão gonernador de Pegu, & lhe mandou que fosse logo despidir todos os procuradores dos pouos do reyno que mandara ajuntar na cidade de Cosmim para lhes pedir hũa grande soma de dinheyro para suprimento da guerra do reyno Sauady que nouamente queria fazer, & jurou publicamẽte na cinza do morto, que em quanto reynasse não lançaria peita a nenhum pouo, nem os obrigaria ao seruirem por força, como antes fazia, & que daly por diãte teria muyto particular cuydado de ouuir os pequenos, & fazer justiça dos grandes, conforme ao merecimento de cada hum, & assi prometeo mais outras muytas cousas muyto justas & boas, que para Gentio nos confundio grandemente.
  6. [2550](Cap. 170) Do que este Rey Bramaa fez despois que chegou â cidade de Pegû, & como mãdou sobre a cidade Sauady, & do que ahy nos aconteceo a os noue Portugueses.
  7. [2551](Cap. 170) Passados vinte dias despois que este Rey Bramaa chegou â cidade de Pegù, vendo que na carta que o seu Embaixador lhe trouxera do Calaminhan lhe dezia elle que por seu Embaixador tomaria com elle conclusaõ na liga que ambos querião fazer nouamente contra o Siammõ, & que esta se não podia ja effeituar aquelle verão, pelo muyto que ainda auia que fazer nisso, & que para yr tambem sobre o reyno do Auaa, como desejaua, não era ja tempo, determinou de mandar este seu colaço (a quem, como atras fica dito, tinha dado titulo de seu irmão) sobre a cidade do Sauady, que era daly cento & trinta legoas contra o Nordeste.
  8. [2552](Cap. 170) E ajuntando para isso hum exercito de cento & cinquenta mil homens, em que entrauão trinta mil estrangeiros de diuersas naçoẽs, & cinco mil elifantes, dous mil de peleja, & tres mil da bagage & mantimentos, se partio o Chaumigrem desta cidade, embarcado em hũa frota de mil & trezentas embarcaçoens de remo a cinco dias do més de Março, & aos quatorze chegou â vista do Sauady, & surto ao longo de hum campo que se dezia Guampalaor, esteue ahy seis dias esperando pelos cinco mil elifantes que vinhaõ por terra, os quais chegados, abalou logo para a cidade, & põdolhe cerco a cometeo tres vezes a escalla vista, & de todas se retirou sẽpre com muyta perda dos seus, assi pela resistencia que achou nos de dentro, como por ser o sitio trabalhoso para o aruorar das escadas, porque aquelle lugar sobre que estaua edificado o muro, era todo piçarra.
  9. [2559](Cap. 170) E tanto que anoiteceo seguimos nosso caminho até quasi menhã, que nos achamos junto de hum grande rio, & caminhando ao longo delle por espaço de mais cinco dias, chegamos a outro lago muyto mayor, à borda do qual estaua hum templo pequeno a modo de ermida com hũ ermitão muyto velho que nos fez gasalhado: este nos deixou aquy estar apousentados comsigo dous dias, nos quais lhe preguntamos por muytas cousas que fazião a nosso proposito, a que elle respondeo tudo o que era verdade, & nos disse que aquella terra em que estauamos era ainda do Rey do Sauady, & que aquelle lago se chamaua Oregantor, que quer dizer bocejo da noite, & a ermida Quiay Vogarem, deos do socorro.
  10. [3007](Cap. 199) O Oretanau Chaumigrem teu irmão principe do Sauady & do Tanguu te manda pedir por mim teu escrauo que antes que desta vida te partas lhe queiras perdoar o passado se por isso te deu algum desgosto, & que logo nesta hora mandes tomar posse de todo o reyno, porque elle to larga todo sem auer nelle falta algũa, & que protesta por mym seu vassallo na renunciação que te faz delle não ter encargo de cousa algũa, & as queixas que por isso lá deres delle no Ceo, não serem ouuidas diante de Deos, & que por pena do desgosto que delle tiueste aceita ficar no desterro desta vida por capitão & olheyro deste teu reyno Pégù, do qual te faz menagẽ, cõ juramẽto de fazer sempre na terra o que de lá do Ceo lhe mandares, cõ tanto que do rendimẽto delle lhe faças esmolla para sua sustentaçaõ, porque doutra maneyra bem sabe que o não pode licitamente possuyr, nẽ os menigrepos o cõsintirão, nem na hora da morte o absolueraõ de tamanho peccado.

Souady 128(1).

Nas orações: 1740.

  1. [1740](Cap. 128) O terceyro rio, por nome Pumfileu, corta pela mesma maneyra todo Capimper, & Sacotay, & voltando por cima deste segundo rio, corre todo o imperio do Monginoco, com algũa parte do Meleytay, & Souady, & vay fazer sua entrada no mar pela barra de Cosmim, junto de Arracão, & do quarto rio, que tambem he do teor de cada hum destes, nos não souberaõ dar razão os embaixadores, mas presumese, segũdo a opinião dos mais, que he o Gãges de Sategão no reyno de Bengala.

(2) Objecto geográfico interpretado

Reino (cidade). Parte de: Indico Oriental.

Reino, cidade, gentílico. FMPP (vol. 4, p. 32): Saravati que entendo se refere a Tharawati / Thayawadi em 17º 37′ 37” N, 95º 48′ 36 ” E. Jacques Leider, baseando-se em dados históricos, entende que se trata de uma confusão e prefere uma localização mais ao norte, Salin. GT também conclui que FMP se refere a um ponto mais ao Norte, nos estados Shan austrais. Pinto indica a distância de 130 léguas a Nordeste de Pegu (cap. 170), se consideramos que está a seguir o curso do Irrawadi, entende-se o feito de ficar a Nordeste, pois o rio corre a Norte para depois ir a Leste, e a distância aproxima-nos a uma zona arredor de Ava, referendada ademais pelo contexto: o imperador Bramá quer atacar o reino de Auaa, ao não ter o apoio do Calaminhan, envia o Chaumigrem sobre Sauady (cap. 170); a identificação do reino de Sauady com Auaa aparece de novo ao se referir a uma cidade mítica no reino de Sauady, Ocumchaleu, tomada por um rei chamado Auaa, este último dado histórico leva Jacques Leider (FMPP: vol. 3, p.226) a identificar Sauady com Sagaing. Menos exacto ainda que também orientativo é o feito de que Sauady e Tanguu têm um mesmo príncipe, pelo que é de aguardar sejam limítrofes (cap. 199) e o feito de que se mencione a Saudy junto com Meleytay favorece também uma localização aproximada ao norte (cap. 128). Provável na zona 21º 53’ N, 95º 59’ E.

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