O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Sornau. Sornau 17(1), 36(2), 41(1), 88(1), 95(1), 107(1), 122(1), 124(1), 128(1), 146(4), 148(1), 181(1), 182(1), 184(2), 185(2), 189(1).

Nas orações: 187, 420, 499, 1048, 1176, 1402, 1637, 1677, 1738, 2035, 2037, 2044, 2078, 2685, 2709, 2758, 2759, 2767, 2773, 2814.

  1. [187](Cap. 17) E ficando com isto ambos quietos mais quatro dias, apareceo hũa menham no meyo do rio contra a parte do Penacão hũa armada de oitenta & seis vellas, com grande regozijo de tangeres & estas, & com muytos estendartes & bandeiras de seda, que aos Batas meteo em grande confusaõ, por não saberẽ o que era, porem as suas espias tomaraõ aquella noite cinco pescadores, os quais metidos a tormento confessaraõ que era a armada que o Rey Achem auia dous meses tinha mandado a Tanauçarim, porque tinha guerra co Sornau Rey de Sião, na qual disseraõ que vinhão cinco mil homẽs Lusoẽs, & Borneos, gente toda escolhida, & por Capitão mòr delles hum Turco por nome Hametecão, sobrinho do Baxà do Cayro.
  2. [420](Cap. 36) E paraque se isto milhor entenda, he necessario saberse que em toda esta costa do Malayo, & por dẽtro do sertão domina hum grande Rey, que por titulo famoso sobre todos os outros se chama Prechau Saleu Emperador de todo o Sornau, que he hũa prouincia de treze reynos a que vulgarmẽte chamamos Sião, ao qual saõ sogeitos, & pagaõ pareas cada anno catorze Reys pequenos, os quais por costume antigo eraõ obrigados a irem pessoalmente todos os annos à cidade Odiaa metropoli deste imperio Sornau, & reyno Sião, leuar estas pareas que eraõ obrigados pagar, & fazeremlhe a çumbaya, que era beijaremlhe o treçado que tinha na cinta.
  3. [499](Cap. 41) E no meyo de toda esta terra, ou reyno, como ja foy antiguamente, està hum grande lago, a que os naturaes da terra chamão Cunebetee, & outros o nomeão por do Chiammay, do qual procede este rio com outros tres mais que regão muyto grande quantidade desta terra, o qual lago, segundo affirmão os que escreueraõ delle, tem em roda sessenta jaõs, de tres legoas cada jão, ao longo do qual ha muytas minas de prata, cobre, estanho, & chumbo, de que continuamente se tira muyta quantidade destes metais que de veniaga leuão mercadores em cafilas de alifantes & badas aos reynos de Sornau, que he o de Sião, Passiloco, Sauady, Tangù, Prom, Calaminhan, & outras prouincias que pelo sertão desta costa de dous & tres meses de caminho estão diuididas em senhorios & reynos de gentes brancas, de baças, & de outras mais pretas.
  4. [1048](Cap. 88) O terceyro rio por nome Tauquiday, que quer dizer, mãy das agoas, vem cortãdo ao Oesnoroeste pelo reyno de Nacataas, que he hũa terra dõde antigamente se pouoou a China, como adiãte direy, este tem sua entrada no mar pelo imperio do Sornau, aque o vulgar chama Sião pela barra de Cuy abaixo de Patane cento & trinta legoas.
  5. [1176](Cap. 95) E em todas estas trezẽtas & quinze legoas não ha mais entradas que sós cinco que os rios da Tartaria fazem por estas partes, pelos quais decendo com impetuosa corrente, com que cortão por este sertão espaço de mais de quinhentas legoas, se vão meter no mar da China & da Cauchenchina, & hum destes, porque he mais poderoso que os outros, vay sayr no reyno Sornau (aque o vulgar chama Sião) pela barra de Cuy, & em todas estas cinco entradas o Rey Chim tem hũa força, & o Tartaro outra, em cada hũa das quais o Chim tem sete mil homẽs continuos aque paga muyto grandes soldos, de que os seis mil saõ de pè, & os mil de cauallo, & a mayor parte desta gente he estrangeyra, como saõ Mogores, Pancrùs, Champas, Coraçones, & Gizares da Persia, & outros de outras muytas terras & reynos que pelo amago deste sertão habitão, porque na verdade os Chins não saõ muyto homẽs de guerra, porque alem de serem pouco praticos nella, saõ fracos de animo, & algum tanto carecidos de armas, & de todo faltos de artilharia.
  6. [1402](Cap. 107) Esta cidade do Pequim de que promety dar mais algũa informaçaõ da que tenho dada, he de tal maneyra, & tais saõ todas as cousas della, que quasi me arrependo do que tenho prometido, porque realmente não sey por onde comece a cumprir minha promessa, porque se não ha de imaginar que he ella hũa Roma, hũa Constantinopla, hũa Veneza, hum Paris, hum Londres, hũa Seuilha, hũa Lisboa, nem nenhũa de quantas cidades insignes ha na Europa por mais famosas & populosas que sejão, nem fora da Europa se ha de imaginar que he como o Cairo no Egypto, Taurys na Persia, Amadabad em Cambaya, Bisnagà em Narsinga, o Gouro em Bẽgala, o Auaa no Chaleu, Timplaõ no Calaminhan, Martauão & Bagou em Pegù, ou Guimpel & Tinlau no Siammon, Odiaa no Sornau, Passaruão & Demaa na ilha da Iaoa, Pangor no Lequîo, Vzanguee no graõ Cauchim, Lançame na Tartaria, & Miocoo em Iapaõ, as quais cidades todas saõ metropolis de grandes reynos, porque ousarey a affirmar que todas estas se não podem comparar com a mais pequena cousa deste grãde Pequim, quanto mais com toda a grandeza & sumptuosidade que tem em todas as suas cousas, como saõ soberbos edificios, infinita riqueza, sobejissima fartura & abastança de todas as cousas necessarias, gente, trato, & embarcaçoẽs sem conto, justiça, gouerno, corte pacífica, estado de Tutoẽs, Chaẽs, Anchacys, Aytaos, Puchancys, & Bracaloẽs, porque todos estes gouernão reynos & prouincias muyto grandes, & cõ ordenados grossissimos, os quais residem continuamente nesta cidade, ou outros em seu nome, quando por casos que soccedem se mandão pelo reyno a negocios de importancia.
  7. [1637](Cap. 122) Estes quatro moços & o Mitaquer que era o que nos guiaua, passaraõ daquy por hum corredor armado sobre vinte & seis colunas de bronzo, & delle entramos em hũa grande sala de madeyra como terecena, na qual estaua muyta gente nobre, em que auia alguns estrangeyros Mogores & Persios, Berdios, Calaminhãs, & Bramaas do Sornau Rey de Sião.
  8. [1677](Cap. 124) E despois de a ter toda recolhida, se passou para outra cidade muyto mayor & muyto mais nobre, que se chamaua Tuymicão, onde foy visitado pessoalmente de algũs principes seus comarcãos, & por embaixadores o foy tambem doutros Reys & senhores de mais longe, de que os principaes forão seis assaz grandes & poderosos, quais forão o Xatamaas Rey dos Persas, o Siammom Emperador dos Gueos, que confina por dentro deste sertão co Bramaa do Tanguu, o Calaminhan senhor da força bruta dos elifantes da terra, como ao diante direy quando tratar delle, & do seu senhorio, o Sornau de Odiaa, que se intitula Rey de Sião, cujo senhorio cõfina por distãcia de setecentas legoas de costa, como he de Tanauçarim a Champaa cos Malayos & Berdios & Patanes, & pelo sertaõ, co Passiloco & Capimper, & Chiammay, & Lauhos, & Gueos, de maneyra que este somente tem dezassete reynos em seu senhorio, o qual entre esta gentilidade toda se intitula por grao mais supremo, senhor do elifante branco, outro era o Rey dos Mogores, cujo reyno & senhorio jaz por dentro do sertão entre o Coraçone que he jũto da Persia, & o reyno do Dely & Chitor, & hum Emperador que se chamaua o Carão, cujo senhorio, segũdo aquy soubemos, confina por dentro dos montes de Goncalidau em sessenta graos auante, com hũa gente a que os naturaes da terra chamão Moscoby, da qual gente vimos alguns homens aquy nesta cidade, que saõ ruyuos, & de estatura grande, vestidos de calçoẽs, roupetas & chapeos ao modo que nesta terra vemos vsar os Framengos & os Tudescos, & os mais honrados trazião roupoẽs forrados de pelles, & algũs de boas martas, trazião espadas largas & grandes, & na lingoagem que fallauão lhe notamos algũs vocablos Latinos, & quando espirrauão dezião tres vezes dominus, dominus, dominus.
  9. [1738](Cap. 128) Deste lago de Singapamor, que a natureza por obra admirauel abrio no coração desta terra, saem quatro rios muyto largos & fundos, hũ por nome Ventrau, que corta direyto a Oeste toda a terra do Sornau de Sião, & faz sua entrada no mar pela barra de Chiãtabuu, em vinte & seis graos.
  10. [2035](Cap. 146) Auendo ja quasi oito meses que estes nossos cem homens andando nesta costa embarcados em quatro fustas muyto bem concertadas, em que tinhão tomadas vinte & tres naos de presas muyto ricas, & outros muytos nauios pequenos, as gentes que custumauão a nauegar por aquella costa andauão ja tão assombradas do nome Portuguez, que de todo deixaraõ o comercio de suas viagẽs, & vararaõ os seus nauios em terra, por onde as alfandegas destes portos de Tanauçarim, Iũçalão, Merguim, Vagaruu, & Tauay perdião muyto dos seus rendimentos, pelo que foy forçado a estes pouos darem cõta disso ao Emperador do Sornau Rey de Sião, que he senhor supremo de toda esta terra, paraque prouesse neste mal de que todos geralmente se queixauão, o qual proueo logo da cidade de Odiaa onde então estaua com muyta presteza, mandando vir da frontaria dos Lauhos hum seu capitão Turco por nome Heredim Mafamede, o qual no anno de 1538. viera de Suez na armada de Soleimão Baxà Visorrey do Cayro, quando o graõ Turco o mandou sobre a India, & desgarrando este em hũa galé do corpo da armada, veyo ter a esta costa de Tanauçarim, onde aceitou partido deste Sornau Rey de Sião, & o seruio de fronteyro mòr na arraya do reyno dos Lauhos, com doze mil cruzados de soldo por anno.
  11. [2037](Cap. 146) Este soberbo Turco, oufano & cheyo de vaydade cõ as nouas merces & noua promessa que el Rey lhe fizera, se partio para Tanauçarim com muyta pressa, onde chegado fez logo hũa armada de dez vellas para yr pelejar cos nossos, & tão confiado em ter victoria, que em reposta de algũas cartas que o Sornau lhe escreuera da cidade de Odiaa, lhe respondeo elle hũa que dezia estas palauras.
  12. [2044](Cap. 146) As cinco naos dos Guzarates se fizeraõ na volta do mar, & as dez vellas de remo se foraõ direytas à ilha, onde chegarão quasi às Aue Marias, & o Turco mandou logo espiar o porto onde tinha por nouas que os nossos estauão, & se veyo a remo por na boca da angra, por lhe ficar assi a presa mais segura, & com tençaõ de tanto que fosse menham tomar todos os nossos âs mãos, & atados com cordas, como elle dezia, os apresẽtar ao Sornau de Sião, porque isso era o porque lhe tinha prometido o estado de Banchaa, como atras fica dito.
  13. [2078](Cap. 148) Outra vez lhe cometeo o Chaubainhaa que o deixasse sayr em duas naos co seu tisouro & com sua molher & seus filhos, para se passar ao Sornau Rey de Sião, & que lhe largaria a cidade com tudo quanto nella estiuesse, o que tambem lhe não quiz conceder.
  14. [2685](Cap. 181) Partidos nòs daquy, dentro em vinte & seis dias chegamos á cidade de Odiâ que he a metropoly deste imperio Sornau, a que o vulgar daquellas partes chama Sião, onde fomos bem recebidos & agasalhados dos Portugueses que ahy na terra achamos.
  15. [2709](Cap. 182) A ti minino santo de tenra idade, cuja ditosa & alta estrella foy seres agora eleito no ceo para gouernares este imperio Sornau que Deos te manda entregar por mim teu vãsasllo, o entrego agora com juramento de sempre o teres debaixo da obediencia da sua diuina vontade, com guardares igualmente justiça a todos os pouos, sem auer aceitaçaõ de pessoas entre alto nem baixo por onde se diga que não cumpres com o que juraste neste santo auto, porque torcendo tu por respeitos humanos o que a razão justifica diãte do justo Senhor, seràs por isso grauemente punido na concaua funda da casa do fumo, lago ardente de fedor espantoso, onde os maos & danados choraõ continuamente, com tristeza de noite escura em suas entranhas; & porque te obrigues a isto a que este cargo que sobre ti tomaste te estâ obrigãdo, dize xamxaimpom, que he como entre nòs dizer, Amem.
  16. [2758](Cap. 184) E porque a execuçaõ desta justiça foy feita com sobeja pressa, & sem proua nenhũa, foy reprẽdida da mayor parte dos senhores do reyno, trazendolhe â memoria o merecimento dos mortos, & as qualidades de suas pessoas, & a nobreza & antiguidade do seu real sangue, o qual por linha direita decendia dos Reys de Sião; porem ella nenhum caso fez disto, antes fingindo logo ao outro dia que estaua mal disposta, renũciou no conselho a presidencia que ella aly tinha no Vcunchenirat, que era o seu amigo, paraque assi pudesse ficar sendo senhor sobre todos os outros; & destribuyr liuremente as cousas do reyno por aquelles que quisessem ser da sua parte, & assi pudesse mais a seu saluo vsurpar o cetro daquella coroa, & fazerse senhor absoluto do imperio Sornau, que rendia doze contos douro, a fora o que podia dar, que era quasi outro tanto.
  17. [2759](Cap. 184) De maneyra que ella pòs tanto de sua parte por fazer o seu amigo Rey, & casarse com elle, & fazer o filho que auia de entre ambos successor da coroa deste imperio Sornau, que dentro de oito meses que a fortuna lhe foy fauorauel, com as esperanças que tinha de mais ao longe cumprir seu desejo, matou todos os senhores do reyno, & lhes confiscou os estados, & beẽs, & tisouros para sua pessoa, de que fazia merce a outros que nouamente criaua pelos ter da sua parte.
  18. [2767](Cap. 185) Sendo informado o Rey do Bramaa, que neste tempo reynaua tyrannicamente em Pegù, do triste estado em que estaua este imperio Sornau; & como todos os grandes delle eraõ mortos por causa dos successos atrâs contados, & que o nouo Rey era homem religioso, sem ter nenhum conhecimento das cousas da guerra, nem pratica algũa das armas, & de sua natureza pusillanimo, & sobre tudo muyto tyranno & mal quisto do pouo, tomando conselho cos seus na cidade de Anapleu onde entaõ residia, sobre esta taõ importante empresa, lhe disseraõ todos que por nenhum caso a deixasse, visto ser aquelle hum reyno dos milhores do mundo, assi em riqueza como em abundancia de todas as cousas, & o fauor que então tinha do tempo & da conjunção lho estauão prometendo taõ barato, que segundo parecia não lhe podia custar mais tomallo que o rendimẽto de hum anno, por muyto que quisesse despender dos seus tisouros, & que tomandoo, ficaua sendo com elle Monarcha dos Emperadores do mundo, & com a honra daquelle supremo titulo de senhor do elifante branco, pela qual causa necessariamente lhe auião de obedecer todos os dezassete Reys do Capimper que nelle professauão as leys das suas verdades; & por suas terras, & cõ suas ajudas podia passar em dez ou doze dias á China, onde se tinha por certo que estaua aquella grande cidade do Pequim, perola sem preço em todo o mundo, & sobre a qual o grande Tartaro, & o Siammon, & o Calaminhan tantas vezes se tinhaõ posto em campo com grossissimos exercitos.
  19. [2773](Cap. 185) E partindose daquy para a cidade do Sacotay, que estaua daly noue legoas, desejoso de se satisfazer nella mais à sua vontade, chegou à vista della hum sabado quasi sol posto, & se alojou ao longo do rio Leibrau (que he hum dos tres que saem do lago do Chiãmay, do qual ja atras tenho feito menção) cõ proposito de fazer por aquella parte seu caminho para a cidade de Odiaa que he a metropoly do imperio Sornau, onde tinha por nouas que o nouo Rey então estaua, & que se fazia prestes para pelejar com elle no campo, com a qual noua o Rey Bramaa foy aconselhado que por nenhum caso se detiuesse em lugar nenhũ, assi por não gastar o tempo, como por se não desfazer do poder que leuaua, visto estar ja toda a terra amotinada, & as forças que se pretendião tomar tão fortificadas, que seria possiuel deterse tanto nellas, & custaremlhe taõ caro, que ja quando chegasse a Odiaa leuaria a mayor parte da gente consumida, & os mantimentos de todo gastados.
  20. [2814](Cap. 189) Por quanto ategora tratey do successo que teue esta ida do Rey do Bramaa ao reyno de Sião, & do aleuantamẽto do reyno de Pegù, pareceme que não virá fora de proposito tratar aquy, inda que breuemente, do sitio, grandeza, abastança, riqueza, & fertilidade que vy neste reyno de Sião & imperio Sornau, & quanto mais proueitoso nos fora telo antes senhoreado que tudo quanto temos na India, & com muyto menos custo do que ategora nos tem feito.

(2) Objecto geográfico interpretado

Império (reino). Parte de: Indochina.

Referente contemporâneo: Kingdom of Thailand, Thailand (AS). Lat. 15.500000, long. 101.000000.

Reino, império, gentílico. DHDP: o Sião (Tailândia), possivelmente em princípio nome de uma cidade (Ayuthia ou Lopbori). FMPP (vol. 4, p. 34): Ayutthaya, Siam. Em FMP é sinónimo e refere-se ao conjunto do Sião.

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