O lugar no contexto

(1) Entidade geográfica mencionada

Bintão. Bintão 22(1), 30(2), 31(1), 32(2), 59(1), 176(1), 207(2).

Nas orações: 256, 339, 348, 357, 372, 374, 722, 2631, 3165, 3172.

  1. [256](Cap. 22) E dandome então conta com assaz de tristeza, como quem desabafaua comigo do grande trabalho em que estaua, & da grandissima afronta em que se via, me disse que tinha ja cinco mil homẽs Aarûs, sem mais socorro doutra gente nenhũa, com quarenta peças de artilharia miuda, antre falcoẽs & berços, em que entraua hũa meya espera de metal, que antigamente lhe vendera hũ Portuguez que fora almoxarife da fortaleza de Paacem, por nome Antonio Garcia, o qual despois Iorge de Albuquerque mandou esquartejar em Malaca, por se cartear com el Rey de Bintão num certo modo de traição que cometia.
  2. [339](Cap. 30) Como esta Raynha de Aarû se partio de Malaca para Bintão, & do que passou com el Rey do Iantana.
  3. [348](Cap. 30) E mãdãdo logo fazer prestes as suas embarcaçoẽs, se partio ao outro dia para Bintão, onde naquelle tempo estaua el Rey do Iantana, o qual, segundo se disse despois em Malaca, lhe fez muyto grandes honras, & ella lhe deu conta do que passara cõ Pero de Faria, & de quão perdidas trazia as esperanças da nossa amizade, & lhe relatou por extẽso todo o processo, & o successo do negocio.
  4. [357](Cap. 31) Siribi Iaya quendou pracamaa de raja, direyto Rey por successaõ de patrimonio da minha catiua Malaca, vsurpada por jugo tyrannico de força de braço na injustiça dos infieis, Rey do Iantana, & de Bintão, & dos subditos Reys de Andraguiree, & de Lingaa, a ty Siry Soltão Alaradim Rey do Achem, & de toda a mais terra de ambos os mares, meu verdadeyro irmão pela antiga amizade de nossos auòs fauorecido por sello dourado da santa casa de Meca por bom & fiel Daroez, como os datos Moulanas que por honra do profeta Noby peregrinaraõ com esteril vida os cansados dias desta miseria.
  5. [372](Cap. 32) As nouas desta frota que el Rey do Iantana fazia nos portos de Bintão & Campar chegaraõ logo ao tyranno Rey Achem, o qual temendo perder o que tinha ganhado, fez logo aparelhar outra de cento & oitenta vellas, fustas, lancharas, & galeotas, & quinze galès de vinte & cinco bancos, na qual fez embarcar quinze mil homẽs, os doze mil de peleja, a que elles chamão de baileu, & os mais chuzma do remo, & por general desta frota mandou o mesmo Heredim Mafamede que antes tomara este reyno, como atras fica dito, pelo ter por homem de grãdes espritos, & bem afortunado na guerra, o qual se partio com toda esta frota, & chegando a hum lugar que se dizia Aapessumhee, quatro legoas do rio de Puneticão, soube por algũs pescadores que ahy tomou, tudo o que na fortaleza, & no reyno era passado, & como Laque Xemena estaua apoderado, assi da terra como do mar esperando por elle, com a qual noua dizem que o Heredim Mafamede ficou muyto embaraçado, porque na verdade nunca lhe pareceo que os inimigos fizessem tanto em tão pouco tempo.
  6. [374](Cap. 32) Porem o Heredim Mafamede foy muyto contra isso, dizendo que antes queria morrer como homem, que viuer em deshonra como molher, porque ja que seu Rey o escolhera para aquelle feito, não quisesse Deos que elle perdesse põto da opinião que todos tinhaõ delle, pelo que prometia & juraua pelos ossos de Mafamede, & por quantas alampadas continuamente ardião na sua capella, de matar por tredor todo o que fosse contra este seu parecer, & o mandar cozer viuo nũa caldeyra de breu, como tambem auia de fazer ao mesmo Laque Xemena: & com este feruor & aluoroço se abalou daly dõde estaua surto, com grandes gritas, & grande vozaria de estromentos, & tambores, & sinos, como em semelhantes tempos costumão, & cometeo á vella & a remo a entrada do rio, & chegando à vista da armada do Laque Xemena, elle que ja a este tẽpo estaua prestes, & reformado de muyta & boa gente que de nouo lhe acudira de Pera, Bintão, Siaca, & de outros lugares ahy comarcãos, abalou logo do lugar onde estaua, & o veyo receber ao meyo do rio, & despois de se fazerem de ambas as partes as saluas acustumadas de artilharia, arremeteraõ de voga arrancada hũs aos outros, & como hião desejosos de se chegarem, a briga se trauou entre elles de maneyra, que por espaço de quasi hora & meya, se não enxergou melhoria em nenhũa das partes, ate que o Heredim Mafamede general dos Achẽs foy morto de hũa bomba de fogo, que lhe deu nos peitos, que logo o fez em dous pedaços, com cuja morte os seus desacoroçoarão de tal maneyra, que querendo voltar para hũa ponta que chamauão Batoquirim, com tenção de ahy feitos todos em hum corpo, se fazerem fortes atè vir a noite, em que determinauão de se acolherem, o não puderão fazer, porque a corrente da agoa, que era muyto grande, os diuidio em muytas partes.
  7. [722](Cap. 59) E estes tambem foraõ feitos em quartos pelos nossos moços, & lançados ao mar, em companhia do perro do Coja Acem seu Capitão & Caciz mayor del Rey de Bintão, & derramador & bebedor do sangue Portuguez, como se elle intitulaua nos começos das suas cartas, & publicamẽte pregaua a todos os Mouros, por respeito do qual, & pelas superstiçoẽs da sua maldita seita era delles muyto venerado.
  8. [2631](Cap. 176) E elle despois que de todo acabou de entrar em sy, chorando muyta quantidade de lagrimas nos disse: Eu senhores & irmãos meus, sou Christão, inda que no trajo volo não pareça, & Portuguez de pay & mãy, natural de Penamacor, & chamaõme Nuno Rodriguez Taborda, & vim do reyno na armada do Marichal no anno de 1513. na nao S. Ioaõ, de que era capitão Ruy Diaz Pereyra, & por eu ser hum homẽ hõrado, & que de mim dey sempre mostras disso, Afonso d’Albuquerque que Deos tenha na gloria me fez merce da capitania de hũ bargãtim de quatro que inda sómente auia na India naquelle tẽpo, & me achey cõ elle na tomada de Goa, & de Malaca, & lhe ajudey a fazer Calecut, & Ormuz, & me achey presẽte em todos os feitos hõrosos que se fizersõ assi em seu tẽpo, como no de Lopo Soarez, & no de Diogo Lopez de Siqueyra, & dos outros gouernadores ate dõ Anrique de Meneses, que socedeo por morte do Visorrey dõ Vasco da Gama, que no principio da sua gouernação proueo a Frãcisco de Sá de hũa armada de doze vellas, em que leuaua 300. homẽs para fazer fortaleza em Çunda, pelo receyo que então se tinha dos Castelhanos que naquelle tẽpo cõtinuauão Maluco pela noua viagem que o Magalhẽs descubrira, na qual armada eu vim por capitão em hum bargantim que se dezia S. Iorge com vinte & seis homẽs muyto esforçados, que partimos da barra de Bintão quando Pero Mascarenhas o destruyo, & sendo tanto auante como a ilha de Lingua, nos deu hũ tempo tão forte que não o podẽdo payrar, nos foy forçado arribarmos â Iaoa, onde dos sete nauios de remo que eramos se perderaõ os seys, dos quais foy hũ o meu por meus peccados, porque vim dar â costa aquy nesta terra em que agora estamos, ha ja vinte & tres annos, sem de todos os que vinhamos no bargantim escaparem mais que sós très companheyros, dos quais eu só agora sou viuo, & prouuera a Deos nosso Senhor que antes fora morto, porque sẽdo eu por muytas vezes cometido por estes Gẽtios que quisesse seguir suas opinioẽs, o não quiz fazer muyto tẽpo; mas como a carne he fraca, & a fome era grãde, & a pobreza muyto mayor, & a esperãça da liberdade era perdida, a distancia do mesmo tẽpo, & meus peccados foraõ causa de cõdecender a seus rogos, por onde o pay deste Rey me fauoreceo sẽpre, & porque eu ontẽ fuy chamado de hũ lugar em que viuia para vir curar dous homẽs nobres dos principais desta terra, quiz N. Senhor que me tomassem estes perros, para o eu ficar sendo menos, pelo que N. Señor seja bẽdito para todo sẽpre.
  9. [3165](Cap. 207) E o que lhes deu ainda mayor motiuo para cuydarem que era isto assi, foy hum rumor de nouas falsas que os Mouros naquelle tempo lançaraõ por toda a terra, dizendo que hũa lanchara que viera de Salangor, fallando com outra que hia para Bintão lhe dissera que hum tal dia junto da barra de Pera, encontrandose os inimigos cos nossos os desbarataraõ, & lhes tomaraõ toda a armada, & sem darem vida a nenhum homem leuaraõ as fustas para o Achem.
  10. [3172](Cap. 207) De maneyra que com estes cumprimentos dissimulados de hum & do outro, esteue este inimigo metido aquy em braços com nosco vinte & tres dias, dandonos em todos elles bem em que cuydar, até que vieraõ os seus baloẽs do reyno de Quedaa onde os mandara a saber nouas, os quais o certificarão da vitoria que Deos nos dera, de que ficou tão magoado, que de nojo mandou matar o primeyro que lhe deu a noua, & sem esperar aly mais, se partio logo para Bintão, fingindo que hia mal desposto de febres, pelo qual em Malaca se fizeraõ muytas procissoẽs, dando graças a Deos nosso Senhor por nos querer desafrontar deste inimigo.

Bintaõ 51(1).

Nas orações: 619.

  1. [619](Cap. 51) respondeo, que porque despois que fora Christão, fora sempre muyto desprezado dos Portugueses, porque onde antes, quãdo era Gentio, lhe fallauão todos co barrete na maõ, chamãdolhe Quiay Necodà, que era nomealo senhor capitaõ, despois que se fizera Christaõ, vieraõ a fazer pouca conta delle, & que se fora fazer Mouro em Bintaõ, onde despois de o ser, el Rey do Iantana, que se achara presente, o tratara sempre com muyta honra, & os Mandarins todos lhe chamauão irmaõ, pelo que prometera, & assi o jurara no liuro das flores, que em quanto viuesse seria inimicissimo da naçaõ Portuguesa, & de todo o mais genero de homem que professasse a ley Christam, o que el Rey & o caciz Moulana lhe louuaraõ muyto, dizendo que se tal fizesse lhe segurauão ser sua alma bemauenturada.

(2) Objecto geográfico interpretado

Reino (porto). Parte de: Insulíndia.

Referente contemporâneo: Pulau Bintan, Indonesia (AS). Lat. 1.107080, long. 104.472800.

Reino. GT s.v. Bintão, ilha de: 1º N, 104º 30′ E.

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